Demons escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 15
Capítulo 14




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/399313/chapter/15

Elas deram voltas e mais voltas até finalmente encontrarem o fim daquele labirinto, e o céu já havia escurecido quando finalmente conseguiram sair do meio das pedras. Mas logo se viram de frente para um lago de águas profundas, onde todas concordaram em não chegar muito perto. Katherine ainda se lembrava da cachoeira do inferno, e de quando Finn a alertou a não tocar naquelas águas. Tinha a impressão de que quando a Besta estava envolvida, o ambiente ao seu redor não era tão diferente do inferno.

Elas descansaram na margem do lago, Rose determinada em não demonstrar o quão preocupada estava, e se ocupando em encontrar gravetos para acender uma fogueira. Katherine divagou por quase toda a expedição da garota loira, que não parecia querer ficar quieta, e quando finalmente acordou de seus devaneios, não encontrou Rose em lugar nenhum. Nancy mexia em um graveto distraída nas chamas de um fogueira que Katherine tinha certeza de que não se encontrava ali segundos atrás.

– Onde está sua irmã?

Nancy não levantou o olhar quando respondeu.

– Foi procurar mais gravetos.

– E te deixou aqui sozinha comigo? - Nancy deu de ombros - Essa aí gosta de confiar em estranhos.

– Você não é uma estranha.

– Vocês me conhecem há praticamente dois dias.

– E do mesmo jeito você decidiu arriscar a sua vida para salvar a de todos nós - ela finalmente levantou o olhar - Por quê?

Katherine quis dizer que era mais qualificada do que todos ali para matar um monstro, que já estava acostumada com situações perigosas e até mesmo pensou em responder que não se importava de matar uma criatura que infernizava muitas outras. Mas o problema é que nada daquilo seria verdade. Fazia praticamente dois meses desde que fora capturada por Finn e Blake, ela certamente não era qualificada o suficiente para sair por aí matando monstros ou qualquer outro tipo de coisa, e bem lá no seu interior, não se sentia confortável fazendo isso.

Mas ela entendia agora o que as bruxas queriam dizer quando tentavam destruir os Filhos do Diabo. O mundo em que viviam era cheio de histórias místicas e fantásticas sobre criaturas maravilhosas e heróis e vilões e todo esse tipo de coisa, e todos sabem como esse tipo de história encanta crianças por todo o mundo, mas na realidade, se qualquer um se deparasse com alguma das criaturas que Katherine se deparou nos últimos tempos, a primeira coisa que sentiriam seria repulsa.

Deixar pessoas como Niah e Finn por aí já era um risco perigoso demais, imagina então se a Besta fosse capaz de sair daquela cidade? Como o mundo reagiria a isso?

Não. Katherine não lutava contra aquelas criaturas porque se sentia superior a elas, ou porque temia pela vida de seus entes queridos. Katherine lutava contra eles para protegê-los de si próprios. A verdadeira razão de estar ali combatendo a Besta era por que tinha medo de que ele pudesse ficar solto no mundo, e do que os seres humanos seriam capazes se o vissem.

– Vocês já sofreram demais por uma vida toda. Só quero acabar com isso tudo de uma vez e ir para casa.

– Mas você não precisava matar a Besta para ir embora.

– Vocês estão presos neste lugar há muito tempo, e por todo esse tempo, a Besta estava solta e a espera de mais uma vítima - esclareceu ela - Se tem uma coisa que eu tenho certeza sobre isso tudo é que ele sabe alguma coisa que todos nós desconhecemos, e ele parecia disposto a conversar comigo.

– Porque você é nova aqui? - sugeriu Nancy.

– Talvez, eu não sei - admitiu ela - Eu não sei o que ele pretende, mas tenho certeza de que não será bom. Mas de qualquer jeito, pode confiar em mim quando digo que vou fazer tudo em meu alcance para desvendar esse mistério todo.

A garotinha assentiu, e não disse mais nada até sua irmã mais velha chegar. Rose não falava muito também, apenas abrindo a boca para sugerir que já estava na hora de Nancy dormir, e rebater os protestos que vinham logo em seguida. Na verdade, Katherine percebeu que ela não estava assim tão preocupada com o sono que Nancy deixava ou não de ter, apenas se via na obrigação de fazer alguma coisa. Mas quando as horas foram passando, e nada de extraordinário aconteceu, Nancy foi vencida pelo cansaço e acabou pegando no sono.

Rose finalmente olhou para Katherine.

– Pode dormir se estiver cansada, eu fico de vigia.

– Não, tudo bem, não estou com tanto sono assim, eu fico acordada com você.

Na verdade ela só não queria ter aquele sonho estranho outra vez, no caixão transparente cheio de água ou pensar no fato de que quando se machuca no sonho, acabava se machucando na vida real. Katherine não comentou nada sobre isso e se sentou de costas para Rose, para que assim todos os lados pudessem ser vigiados.

Elas ficaram um bom tempo em silêncio, Rosely olhando para o nada enquanto ela encarava a natureza sombria que os cercava. Aquele lugar de fato a lembrava muito do inferno, do modo como a copa das árvores pareciam se enroscar umas nas outras e fazendo com que os poucos raios luminosos da lua passassem com dificuldade até formarem sombras surreais no solo seco. A escuridão era tentadora, como se desafiasse cada fibra de seu corpo a explorá-la. E o vento batia vingativo no tronco das árvores, como se risse uma canção cuja melodia só ele conhecia, e as árvores chiavam em protesto enquanto assistiam sua folhas dançarem impotentes no ar até caírem mortas no chão, formando uma espécie de tapete vivo sobre suas raízes, que não queriam nada além de respirar.

Mais tarde, se perguntaria em que ponto exatamente começou a sentir mais falta do inferno, como se pudesse chamar aquele lugar de lar, e se lembraria daquele momento, quando encarava a escuridão e via algo mais nela. E ela quase riu, porque percebia que compreendia a melodia tocada pelo vento, como se fizesse parte dele.

Ficou tanto tempo encarando aquele emaranhado de formas que Rose teve que jogar uma pequena pedrinha em sua cabeça para chamar sua atenção.

– Ei! - protestou ela massageando o topo da cabeça - Qual é o seu problema?

– Olha quem fala - retrucou a outra - A garota que encarava um monte de árvores velhas sem nem ao menos piscar.

– O que você quer?

Rose exibia uma carranca irritada, mas pareceu mais envergonhada do que com raiva quando perguntou sem jeito:

– Em quem a Besta se transformou quando você estava sozinha no labirinto?

– Alguém que eu conheço.

– Você já disse isso. Mas quem?

– Você não o conhece, do que adianta perguntar?

– Seu namorado?

O quê?– ela perguntou em um engasgo - Você... Não, claro que não. Ele é só... - as palavras pareciam presas em sua garganta, e ela teve que pigarrear para continuar - Só alguém que eu conheço de lá de fora.

– Ele definitivamente é seu namorado.

– E se fosse o que você tem a ver com isso?

– Por que você tem medo de admitir?

– Por que você quer tanto saber?

Ela olhou para seus pés, se virando de costas para Katherine de novo.

– Jamie e eu somos quase irmãos - contou ela - Fomos criados juntos desde... Bom, desde sempre - ela hesitou - Nossos pais morreram na mesma expedição, sabe. E desde aquele dia ele me protege como se eu fizesse parte de sua família.

– Mas você não é.

– Não - ela balançou a cabeça - É claro que eu sou. Eu não consigo me ver vivendo sem aquele garoto, mas eu... Eu não sou irmã dele.

Katherine quase sorriu quando entendeu onde a garota queria chegar.

– Entendi - falou ela - Então você gosta dele, mas nunca disse para ele, e além de tudo ele te trata como uma irmã. Então eu cheguei, e você acha que ele gostou de mim e quer saber se eu gosto dele.

Rose não disse nada, mas Katherine conseguia ver como ela mexia com seus dedos nervosa.

– Bom, se isso ajuda, eu não gosto dele - se sentiu estúpida em falar aquilo, como se aquelas palavras fossem desnecessárias. Nunca se sentira confortável falando dos próprios sentimentos - Eu gosto de outro cara. Se é que a palavra gostar se encaixa neste contexto.

– Como assim?

– Er... - ela respirou fundo - É complicado, muito complicado aliás.

– Bom, você tem até o amanhecer para me contar a história toda.

– Não, essa questão não é complicada em um sentido de que eu precise de bastante tempo para contar, ela é simplesmente... Complicada.

– Você já disse isso.

Respirou fundo mais uma vez, e sentiu sua respiração tremer quando soltou o ar.

– Digamos que por alguma razão ele não possa... ele não possa sentir nada por mim.

– E por que não poderia?

– Se um dia sairmos daqui, eu te... - se interrompeu pensando melhor. Estava prestes a dizer eu te mostro, mas então se lembrou que para isso teria que levá-la para o inferno, e resolveu que seria melhor se não fizesse isso. Para seu próprio bem - Eu te conto - disse ao invés.

– Você está me enrolando.

– Estou - confessou com um sorriso - Mas é para o seu próprio bem, acredite.

– Então tá - Rose resmungou para si mesma. E não voltou a puxar conversa.

Permaneceram caladas e sem nem ao menos pegar no sono quando Nancy acordou e o sol nasceu por cima das colinas. Não que elas pudessem ver propriamente o sol, já que a névoa voltou a rondá-las insistentemente. Mas por alguma razão, Katherine não acho estranho, sentia como se a névoa estivesse ali para protegê-la de alguma forma. Protegê-la da verdade.

Caminharam ao redor do lago por tempo suficiente para perceber que era inútil procurar um modo de atravessá-lo, ele estava ali exatamente para impedi-las de atravessar. E Katherine e Rose discutiram por tempo suficiente para deixar Nancy irritada e fazer com que ela começasse a se distanciar das duas, procurando um pouco de paz.

Não foi muito longe, não pretendia se perder mais uma vez no meio daquelas pedras. Ainda conseguiam ver o labirinto, era como se ainda estivessem presas mesmo estando fora dele, dando voltas e mais voltas ao seu redor. Toda a extensão do lago era trilhada pelo labirinto, o que dificultava ainda mais a decisão do que fariam a seguir. Além do lago e do monte confuso de pedras, havia um alto morro cujo pico desaparecia em meio as nuvens, e o ar parecia cada vez mais gélido conforme a garota se aproximava dele.

Se sentia estranha ali perto. Como se o morro fosse uma caveira gigante que ria dela. Nancy quase conseguia ver o buraco do olhos e o contorno de onde a boca deveria estar, mas não via o buraco do nariz, que era coberto por mais névoa. Ficou observando a parte coberta da colina que a lembrava de algodão doce - mesmo que ela não se lembrasse quando tinha sido a última vez que experimentara um - até que viu algo mais.

Não parecia nada de mais, apenas uma pequena deslocação na atmosfera que fez algo dentro da névoa se mexer, como se alguém a estivesse soprando para fora. Mas diferente o suficiente para fazê-la questionar o que podia estar ali dentro.

Ela gritou por Rose, que veio correndo para seu lado envergonhada por ter deixado de observar a irmã.

– Nancy - ela se ajoelhou ao seu lado preocupada, os joelhos ralando na pedras - O que foi? Você viu alguma coisa? Viu a Besta?

– Não - mentiu a garota - Quer dizer, não sei. Não exatamente. Parecia algo mas não tenho certeza do que foi.

– Do que você está falando? - perguntou Katherine se aproximando também.

Ela apontou para cima, para o espaço do nariz na caveira.

– Lá - disse ela - Eu vi algo se mexendo no meio da névoa.

– Pode ter sido só o vento - sugeriu Rose, mas também olhou para cima.

Nancy lambeu a ponta do dedos depois levantou a mão.

– Não tem vento nenhum aqui.

Katherine olhou ao redor e percebeu que a garotinha tinha razão. As três pararam de falar por um minuto, prestando atenção no ambiente. Apesar de estar extremamente frio, e de sentir um leve suspirar na espinha, não havia vento algum. Olhou para a colina. As pedras eram disformes e estreitas, pontiagudas e perigosas. Não parecia uma boa ideia, mas era óbvio que era a última opção.

– Precisamos escalar.

Ela apenas expôs o que todos já sabiam. E elas ficaram um tempo paradas, olhando para sua morte eminente, até criarem coragem o suficiente para se aproximar do morro. Ele parecia perigosamente mais inclinado da li.

– Então - começou Katherine - Alguém já escalou antes?

As duas irmãs negaram com a cabeça, engolindo em seco. Katherine pensou ter visto as mãos de Nancy tremer mas quando olhou para a garotinha ela estava surpreendentemente firme. Já Rose por outro lado parecia apavorada.

– E-eu... - ela engasgou com as palavras - Não gosto muito de a-altura.

– Quer que eu vá até lá em cima e veja o que tem lá em cima por vocês? - perguntou Katherine - Se tiver alguma coisa importante eu grito de volta.

– Não - negou Rose, claramente não gostando da própria resposta - E-eu subo. Pelo Jaime - Katherine olhou para Nancy e Rose entendeu o recado. Se virou para a irmã - E você mocinha, fica aqui em baixo.

O quê?– gritou a irmã já ficando vermelha - Nem pensar! Não vou deixar você subir lá sem mim.

– Isso não é uma questão de você querer ou não. Vai ficar aqui em baixo e ponto final.

– Eu vim até aqui sozinha - ela parecia frustrada, desesperada para provar que merecia subir aquele morro - Não importa, eu vou seguir vocês de qualquer jeito.

– Nancy, não.

Rose segurou no ombro da irmã e a colocou na sua frente.

– A Besta já tem o Jaime - continuou - Se te pegar também ele vai poder fazer de você refém e não teremos chance nenhuma.

– Mas... - tentou a garota.

– Não - foi a vez de Katherine de interromper a garota. Pegou sua adaga presa no cinto e entregou para a garotinha - Aqui, pegue - Nancy hesitou, mas acabou segurando o objeto. Katherine se ajoelhou e a olhou avidamente - Preste atenção. Seja lá quem for a Besta, é um ser horrível, e vai fazer de tudo para nos matar. Eu sei que você é corajosa, Nancy, sei que você é tão merecedora de subir nessa colina quanto a gente, mas... - ela molhou os lábios - Se morrermos lá em cima, você vai ser a única sobrevivente mesmo se não conseguirmos matar a Besta. Você vai ficar aqui em baixo para poder avisar aos outros caso algo acontece. Você é nosso plano B, entendeu?

Ela não disse nada, mas parecia menos decidida a segui-las. Então finalmente assentiu devagar e segurou a adaga com força pelo cabo a envolvendo em suas mãos que mesmo jovens estavam sujas de terra e cheias de marcas e cicatrizes. E por um segundo, Katherine teve um vislumbre de como Niah deveria ter sido quando criança. Espantou a sensação e se distanciou bagunçando seus longos cabelos loiros no processo.

– Boa garota.

– Você não precisa me tratar como um cachorro - resmungou ela de volta.

– É claro que não - Katherine sorriu - E de qualquer forma, foi muito bom te conhecer. E boa sorte, garotinha.

– Não me chame assim.

Katherine riu e se distanciou para que Rose também pudesse falar com ela.

– Me ouça com atenção - disparou Rose para a irmã apontando o dedo ameaçadoramente - Se você ouvir um grito, sentir uma mudança no ambiente ou sentir que está sendo observada, qualquer coisa, me prometa que vai correr.

– Eu prometo.

– E se eu ou Katherine gritarmos para que você corra, você deve obedecer. E nem ao menos pense em nos seguir, ou te mato com minhas próprias mãos, entendeu?

Nancy sorriu.

– Boa sorte para você também - respondeu ironicamente.

– Cala boca e vem aqui, sua teimosa - ela puxou Nancy para um abraço apertado, que logo foi correspondido. Enterrou o rosto no cabelo da irmã - Eu te amo, Nancy - a garotinha parecia surpresa com as palavras, mas não se afastou do abraço.

– Eu também te amo.

– Não vou dizer adeus porque me recuso a fazer isso - mesmo com a voz abafada na curva do pescoço dela, Nancy conseguiu perceber que a irmã se segurava para chorar - Mas também não quero morrer sabendo que não tive a chance de me despedir, como mamãe e papai - Nancy assentiu, ela própria se segurando para chorar, mas não obtendo sucesso e observando suas lágrimas escorrerem e se prenderem no cabelo imundo da irmã - Então adeus - disse por fim - E pelo amor de Deus, garota, não se esqueça de correr.

Elas se separaram, Nancy prendendo a pequena espada junto ao corpo, que tremia enquanto ela soluçava. Rose deu um último beijo em sua testa e se juntou a Katherine.

– Ela não vai ficar sozinha, eu prometo.

Katherine não sabia porque falava isso, só se sentia na obrigação de fazê-la se sentir um pouco melhor.

– Eu espero que não - ela deu um suspiro e subiu na primeira pedra. Então começaram a escalar a colina, sem olhar nem mais uma vez para trás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

OLHA EU AQUI NEM DEMOREI TANTO. Vai gente, sério, considerando as últimas vezes, essa foi bem rápido kkkkk.
Bom, como parece as férias ja estao acabando (droga), mas vou tentar escrever o prox mais rapido. Agr estamos chegando nas partes interessantes, acreditem em mim ainda tem muita coisa para acontecer (ja vou ate pedindo desculpas por isso kkk)
bjs, ninsa



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Demons" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.