Demons escrita por Ninsa Stringfield


Capítulo 10
Capítulo 9




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Eles já tinham andado por pelo menos umas cinco horas antes que Jamie resolvesse falar alguma coisa:

– Mas então - começou ele - Você sabe praticamente tudo sobre a nossa vida, Katherine, mas nós não sabemos nada de você.

Katherine piscou. Ela temia que esse momento chegasse, mas principalmente, temia qual seria a sua resposta.

– Sobre mim? - ela tentou fazer uma voz de descaso - Não tenho nada de especial.

– Nada de especial? - repetiu Rose - Por favor, você disse que um demônio sei lá o que te jogou num buraco negro e por isso você chegou aqui.

– Eu sou uma boa mentirosa.

– Não sei porque sou obrigada a discordar.

– Vamos lá, Kath - interrompeu Jamie - Nós estamos praticamente indo numa missão suicida com você. Você pode nos contar alguma coisa.

Ela parou novamente, só que agora encarava o chão, o olhar duro nas pedras secas debaixo de seus pés. Jamie e Rose pararam também, observando a garota.

– Algo errado? - perguntou a loira cruzando os braços e revirando os olhos.

– Não, é só que... - ela pigarreou e tentou voltar ao normal, ignorando a ardência nos olhos - Quando você me chamou de Kath eu lembrei de alguém.

Jamie assentiu e voltou a andar, as duas garotas o acompanharam. Katherine pensou ter visto um olhar de decepção em seus olhos.

– Alguém especial? - perguntou ele depois de um tempo.

– É - ela disse apenas - Acho que sim.

Eles continuaram a andar sem fazer mais perguntas e Katherine agradeceu a todos os santos que conhecia por isso. Como poderia ela explicar a eles que na verdade ela era a irmã da Filha do Diabo? Ou que na verdade a mãe dela era um bruxa? Mas não apenas uma bruxa, e sim a bruxa mais poderosa de todas?

Bruxas existiam, e esse era o começo e o fim de tudo. Eles nunca acreditariam nela. Nem mesmo Katherine acreditava em si própria. Ela só estava esperando pelo dia que acordaria em sua velha casa com Paim e descobriria que todos aqueles dias não haviam passado de um sonho.

Ela teria que guardar a verdade por mais um tempo. Pelo menos até eles encontrarem a Besta, então provavelmente depois de ver o monstro eles poderiam acreditar nela. Talvez até...

– Aqui é o final da linha - disse a voz de Rose interrompendo seus pensamentos. Katherine levantou o olhar.

Por todo o tempo que eles estavam andando, a paisagem não mudara em nada. Continuava sendo uma planície morta com terra dura, seca e esburacada. O cheiro de algo morto e a neblina que os cercava à distância seguindo-os até ali.

Ali, ou o fim da linha, como Rose o havia chamado, não passava de mais neblina, só que agora uma névoa densa, tão densa que até mesmo o cheiro de algo morto desapareceu.

– Fim da linha? - repetiu Katherine.

– Desde que tudo isso aconteceu, quando a cidade foi destruída, e a Besta apareceu, ninguém nunca passou desse lugar e voltou com vida.

– Convincente - Katherine cruzou os braços - E vocês nunca pensaram em ir até lá em grupo?

– Ela está de brincadeira, certo? - Rose se virou para Jamie.

– Katherine - começou Jamie se esquivando de Rose - Você tem ideia de quantas pessoas nós perdemos quando a Besta apareceu? - Katherine não respondeu - Milhares de pessoas se perderam nessa névoa tentando encontrar uma solução para o nosso problema. Pessoas demais, eu ouso dizer.

– Inclusive nossos pais - murmurou Rose olhando para o chão.

– E mesmo assim vocês vieram - ela disse encarando os dois garotos parados na sua frente com as sobrancelhas erguidas.

– Nós tínhamos que vir - disse ele - Muita gente já morreu, alguém precisa fazer alguma coisa.

Katherine olhou para a frente, para a névoa, e deu um passo em sua direção.

– Vocês não vem? - ela falou sem olhar para trás, dando um passo atrás do outro, com medo de que fosse desistir.

Os dois garotos a acompanharam e logo se viram perdidos dentro da névoa. Tão perdidos e cegos que não chegaram a ver a sombra que os seguia de perto.

***

– Qual é o problema dele? - perguntou Niah no ouvido de Blake.

O garoto olhou para ela. Das sobrancelhas franzidas para os olhos perdidos. Ela realmente não entendia o que estava acontecendo, pensou ele. Nem mesmo ele entendia.

– Acho que ele se acostumou a ter ela por perto.

Niah olhou por cima do ombro, onde Finn andava com as mãos nos bolsos e a cabeça baixa. Aquele não era o Finn Smith que Niah conhecia, o Finn que a salvara anos antes, a salvara do pior pesadelo que ela poderia ter...

Ela cruzou os braços e Blake olhou para ela, estudando-a. Realmente, pensou Blake, ela estava linda. Fazia muito tempo que ele não a via usando jaqueta de couro, e por baixo desta um bustiê que deixava sua barriga exposta, além da saia comprida que descia até seus pés, arrastando no chão atrás dela como uma cauda.

– Então - disse a voz de Finn atrás dos dois, acordando Blake de seu devaneio - Já temos um plano?

– E desde quando eu sigo planos, Finn Smith? - perguntou Niah.

– Desde que sua irmã está envolvida - ele passou o braço pelo pescoço dela - E desde que você decide invadir a Catedral das Bruxas.

– Não quero invadir - discordou a menina - Apenas bater à porta.

– E quais são as chances delas te atenderem?

– Não confio muito em estatísticas.

– Ótimo - interrompeu Blake, andando mais a frente dos dois - Porque não temos mais tempo para isso. Chegamos.

E de fato, eles haviam chegado. Após atravessar o portal que levava até a Basílica, eles foram obrigados a seguir pelo labirinto que se encontrava na frente desta (um desafio para forasteiros, ou uma precaução contra Filhos do Diabo após a último vez que eles haviam ali entrado).

A Basílica se estendia tão majestosa quanto sempre. As vidraças exibindo cenas de milhares de passagens da bíblia cristã, as estátuas e imagens de santos e santas de religiões diferentes que compunham a crença das bruxas. A crença de que não havia um só Deus, mas uma junção de vários deuses. Era nisso que elas acreditavam, e era isso que se agarravam quando se deparavam com pessoas (ou monstros, por assim dizer) como Niah e seus acompanhantes.

– Nunca pensei que voltaria a esse lugar - ela disse mais para si mesma do que para os outros dois parados ao seu lado.

– Pensei que você voltaria aqui logo exigindo respostas - disse Blake.

– Não quero respostas - rugiu ela - Pelo menos não uma que venha da boca daquela víbora.

– Então o que viemos fazer aqui hoje? - perguntou Finn, o rosto já esquentando de raiva.

– Exigir respostas - ela respondeu por fim - Mas não por mim. Pela Katherine.

Minutos mais tarde eles estavam na entrada da catedral, esperando. As portas logo se abriram, revelando uma mulher alta com os olhos violetas, seus cabelos negros caindo sobre os ombros como cascatas.

– Iris - saudou Niah - Quanto tempo, querida.

A bruxa contorceu o rosto em uma careta e saiu do castelo, fechando as grandes portas de bronze atrás de si. Fazia pelo menos dois anos desde a última vez que as duas haviam se encontrada, uma união nada agradável.

– O quê veio fazer aqui, peça imunda?

– É assim que você trata um membro da família, querida tia? - Niah fingiu um sorriso - Não sei se sua irmã já te contou, mas me parece que aquela vaca agora também é minha mãe.

Iris deu um passo para a frente mas Niah não se mexeu. A bruxa fechou as mãos em punhos e prensava suas unhas contra as palmas, quase rasgando a pele. Seu incomodo parecia alegrar a Filha do Diabo imensamente.

– Não sou parente de monstros feito você, Niah - ela rosnou - Ninguém nessa Basílica é.

Mas antes que Niah pudesse responder outra voz se sobrepôs a dela e fez com que todos voltasse o olhar para a porta da catedral.

– Basta - disse a voz de Lane Bloon - Já está na hora de acabar com o show, Niah. Tenho certeza que você não veio para isso. E pelo o que soube, a vida de Katherine depende disso.


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