Uma grande gota de tinta rosa proveniente dos lindos fogos de artifício líquido, caiu rodopiando em um guarda chuva azul claro e escorreu até a margem. Sua dona que se escondia do sol forte de verão, passou o dedo pela tinta que pingava.

Olhou para a gota recolhida com uma cara de nojo, mas quando sentiu o cheiro de açúcar, lambeu constatando o sabor docinho.

Emely, a vampira, sentiu uma sombra passar por cima dela e olhou para cima pensando ser alguma nuvem. Tamanha foi a sua surpresa ao se deparar com o falcão da princesa Jujuba que carregava uma faixa. A pequena vampira começou a ler os dizeres em voz baixa:

-...Oficialmente abertas as inscrições... Novos heróis? - Emy não conhecia Finn e Jake, mal sabia que havia acabado de vê-los há algumas horas dentro da casa de sua irmã mais velha, Marceline, a qual pretendia confrontar. Na ocasião decidiu não incomodar o que parecia ser uma discussão séria. Ainda mais porque ela não sabe lidar com garotos e a presença dos meninos intimidou Emy.

- Você não sabe? - Um pardalzinho pousou em seu guarda chuva e abaixou a cabeça para olhar Emely enquanto falava. - Eles saíram e se perderam, aqueles bobocas, cabeça de abóbora, antas...

- Hey, qual é o seu problema com as antas, panaca? - Gritou uma anta vestida com um macacão enquanto consolava sua filhinha que chorava.

- Ai que ótimo... volta pra casa aberração! - Gritou o pardal. A pequena antinha saiu correndo chorando.

Emy só observava calada, entediada pela situação. Coçou o ouvido com o mindinho e suspirou.

- Então, como eu ia dizendo... - Começou o pardal novamente. - Finn e Jake sumiram e aquela surtada da Princesa Jujuba resolveu botar outros aventureiros no lugar.

Emy não respondeu nada, apenas chacoalhou bruscamente o guarda chuva para tirar o pássaro de cima.

- Ô, sua doente, toma cuidado. - Pardal disse já voando e tomou o maior susto quando viu que Emy mostrava os dentes afiados e tinha os olhos completamente negros.

- Sai. Fora. - Rugiu a vampira pausadamente.

- Eu hein, maluca, dentuça, anta! - o Pardal saiu voando e xingando.

Emy já estava irritada e impaciente, ignorou o pássaro mal educado e se se dirigiu flutuando até o Reino Doce. Ela usava um vestido azul marinho tomara que caia com uma faixa vermelha na cintura e uma sapatilha da mesma cor. A Princesa dos Vampiros viu no cartaz que leu, a chance para sair da sombra da irmã mais velha. Tornaria-se uma aventureira; encontraria os dois heróis e assim poderia passar todo o tempo que quisesse na Terra de Ooo. Dessa forma provaria o seu valor. Ela sabia que levaria uma bronca por isso, mas com novecentos e noventa e nove anos de idade (aparentando 17, claro), ela já não era uma criança, era uma mocinha!

Chegou rapidamente ao castelo, sentindo o delicioso cheiro do rio de leite condensado e se segurando para não morder o bebê brigadeiro que corria ao seu redor, gritando e jogando granulado no vestido da vampira já impaciente.

- Ai, para com isso, que saco. - Emely colocou o pé na frente do brigadeirinho e ele tropeçou, caindo de cara no chão. Levantou-se, olhou para ela, soltou um peidinho e saiu correndo.

- Que nojo! Credo! Eu devia ter te comido, seu pirralho! - Falou em voz alta e percebeu o olhar assustado dos cidadãos ao seu redor que se afastavam lentamente, sussurrando coisas.

- Marceline, o que você está fazendo? - Princesa Jujuba com um espalhafatoso vestido de bolo, perguntou.

- Quê? eu não sou a... - Foi interrompida.

- Você veio aqui pra aprontar? - Inquiriu a Princesa novamente. A garota de chiclete olhou para a menina com curiosidade. - Você tá diferente...

- Isso, Princesa Jujubobona, é porque eu NÃO SOU a Marceline! - Esclareceu irritada.

- É, bem que eu reparei que seus cabelos e olhos são diferentes... Mas por um momento eu pensei que fosse. - Jujû colocou a mão no queixo. - Mas então quem é?

- Meu nome é Emely, sou a Princesa dos Vampiros – Disse com orgulho - Irmã mais nova de Marceline, a Rainha dos Vampiros. - Disse com a voz baixa girando o guarda chuva apoiado nos ombros.

Apesar da semelhança, Emely era muito diferente de Marceline, que fazia o papel da filha rebelde na família. A pequena vampira era mais introvertida, séria e mal falava. Guardava um certo rancor da irmã e um pouco de inveja do favoritismo que o seu pai tinha por Marceline, por ela ser a mais velha e aparentemente mais malvada. Ela se parece muito fisicamente com Marcy, a não ser por ter cabelos azuis e grandes olhos violeta.

- Não sabia que Marceline tinha uma irmã. O que você deseja aqui? - Perguntou a menina de chiclete desconfiada.

- O Pardal me contou que você está procurando por um tal de Finn e Jake, então eu..

- Você sabe onde eles estão? Viu eles por aí? - A Princesa arregalou os olhos e agarrou o guarda chuva, encarando a vampira com uma expressão desesperada. Emy se assustou com a súbita reação e puxou o acessório da mão da Princesa. Com certa irritação, continuou:

- Não. Vim aqui pra ser aventureira.

- Ah, entendo. Bom, então entra naquela fila alí e preenche aquela ficha. Depois aguarde naquele sofá e eu vou te chamar pra uma entrevista pode ser? Fica a vontade aí. - Jujuba disse com descaso, se retirou e saiu arrastando a barra do grande e tosco vestido rosa e branco pelo corredor.

Emely começou a se arrepender de ter ido, mas já que estava lá, decidiu ficar pra ver o que ia rolar. Na fila tinha mais três pessoas: Um duende, uma girafinha de brinquedo com chapéu de festa e um velhinho de chinelos. Emely suspirou ansiosa enquanto o velhinho pedia sopa de ervilha para o atendente que insistia em pedir para o idoso soletrar o seu nome. Depois de algum tempo, resolveu desistir e ir embora, mas quando se virou para sair da fila, bateu nariz na testa de outra pessoa: Um garotinho de cabelos negros usando apetitosas roupas vermelhas (Para Emely, afinal ela se alimenta da cor vermelha, sabe como é).

- Ai! vê se olha por anda anda tampinha. - Ela disse com a mão no nariz antes de perceber quem havia acertado.

- Vê se avisa quando vai virar pra trás, sua esquisita. - Ouvindo a voz de menino, Emy corou um pouco e perdeu as palavras. - E aí, vai ficar na fila ou vai sair? - Ele disse com a mão na testa e quando percebeu que estava falando com uma linda vampirinha, mudou o tom de voz. - Quer dizer... Me desculpe milady, eu estava distraído.

Emy balançou a cabeça positivamente sem nada dizer, não sabia falar com garotos, apenas virou as costas para ele e ficou na fila de novo.

- Então...Como é o seu nome? - O garoto perguntou timidamente, com a voz suave.

- Emely. - A menina disse sem olhar para trás. Se encolhia cada vez mais em seu guarda chuva.

- Olá Emely, o meu nome é Sann. - Ele sorriu.

Emy não respondeu nada, apenas esticou o braço e mostrou o polegar para cima em sinal positivo.

Sann coçou a cabeça algumas vezes e se remexia jogando o peso do corpo de um pé para outro, sorrindo e com o rosto ainda corado. Emely flutuava com as pernas bem dobradas junto ao corpo e com o guarda chuva cobrindo as suas costas por inteiro, apenas as pontas dos cabelos azuis ficavam aparentes. Ela não precisava do guarda chuva já que estava dentro do castelo, mas até esquecia disso, já que gostava muito do acessório.

O velho saiu do palácio saltitando com uma tigela de sopa verde nas mãos e a girafinha de brinquedo com o chapéu de festa foi a próxima da fila. Acontece que ela só falava se desse corda e demorou mais de uma hora para descobrirem isso. No fim ela queria reclamar sobre corvos que estavam comendo a casa de milho dela então a mandaram para a fila de reclamações que era gigantesca. O duende se teleportou jogando glitter sobre ele mesmo quando descobriu que a fila era para novos heróis e não pra comprar batata.

Essa brincadeira toda demorou bastante tempo para acabar e quando chegou na vez de Emy, ela não aguentava mais aquela toda enrolação e já estava ficando com vontade de comer os cidadãos doce que passavam por alí.

- Como você se chama? - Perguntou o atendente tomatinho.

- Emely Abadeer - Respondeu com a voz baixa.

- Como?

- Emely, Emely Abadeer. - Aumentou o tom da voz.

- Ahn... Eu acho que não sei escrever o seu nome... PRÓXIMO! - Um guarda banana puxou Emy para fora da fila e outro deu uma ficha para ela preencher sozinha.

- Tirem as mãos de mim, seus malucos! - Emy brigava e dava bronca, descontando a sua raiva nos guardas bananas que cabisbaixos pediam desculpas.

Enquanto isso, Sann se aproximou do Tomatinho.

- Como é o seu nome?

- Sann.

- Ahn...Você pode soletrar?

- Éssi. A. Eni. Eni - O Tomatinho soltava um "Aham" após cada letra pronunciada

Quando terminou de escrever, mostrou o papel para o garoto que deu risada ao ver um monte de rabiscos ao invés do seu nome.

- Não Tomatinho, não é assim. Me dá. - Então Sann, muito gentil, pegou o lápis e começou a ensiná-lo a escrever o nome. - Viu? É desse jeito. - Tomatinho abraçou Sann que soltou uma gargalhada divertida.

Ao fundo, Emy de braços cruzados, já havia terminado de dar uma bronca nos guardas bananas e parecia estar mais calma com a ficha preenchida em uma das mãos, só aguardando a boa vontade de Jujuba que corria para lá e para cá, ouvindo as centenas de reclamações dos habitantes da Terra de Ooo e sendo seguida por uma vampira flutuante.

Enquanto isso, mais uma aventureira se aproximava do castelo. Ela vinha de longe e deixava uma trilha chamuscada a cada passo que dava. Seus longos cabelos de chama crepitavam e seus olhos vermelhos brilhavam de determinação. Tudo o que queria era encontrar seus amigos e não iria desistir disso.