Skins: A quarta geração escrita por JW


Capítulo 13
Peter


Notas iniciais do capítulo

Aqui foco mais no Peter, que faz parte da geração, mas não teve muito destaque... Aqui a história dele também se encerra.
Quem é fã de Skins sabe que os finais deixam sempre um ''?'', é uma careterisca da série, e eu segui isto.



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–Você precisa de um recomeço começar de novo, esquecer tudo de ruim que aconteceu... - dizia a analista, que me observava, deitado no divã contorcendo as mãos.

''Isso é tão ridículo! Tão sem sentido, eu não preciso de um recomeço, minha vida sempre foi um recomeço, pulando de cidade em cidade com o meu pai, e as coisas sempre dão errado'' - pensei.

–No que você está pensando Peter?

–Em nada - menti, a única coisa que eu queria era que aquela consulta acabasse logo, eu odiava a ir a terapeuta, mas era algo que meu pai me obrigava a fazer toda semana.

–Você e seu pai vão voltar a morar em Londres no fim do mês certo?

–Sim...

–Então está é a oportunidade para você esquecer tudo o que te atormenta aqui em Bristol, principalmente sobre o acidente que você mencionou, não foi sua culpa, foi uma tragédia que você nunca imaginaria que aconteceria... Coisas ruins acontecem o tempo todo, só precisamos aprender a lidar com elas.

Levantei-me do divã, já estava irritado, eu não precisava de uma analista para resolver os meus problemas.

–Peter, a consulta não acabou ainda!

Não dei ouvidos a terapeuta e segui andando.

–Peter, não pare de tomar os remédios! - disse ela atrás de mim.

–Vá se foder! Toda essa merda, vocês todos! - comecei a gritar saindo do consultório batendo a porta com força.

''Hoje, farei o que não tive coragem de fazer durante esses quatro meses'‘.

***

Estava parado na frente do hospital, eu já estava lá, só me faltava coragem para entrar.

–Você vai ficar para sempre ai garoto?

Virei-me para trás, era uma das amigas de Will, Sarah, se eu não me engano, a melhor dele, mesmo estudando na mesma escola que Will, nenhum dos amigos dele sabia da minha existência ou a minha ligação com ele, o único que sabia agora estava morto, Frank.

–Estou criando coragem.

–Quem você veio ver?

Eu hesitei um pouco, sabia que Sarah era pavio curto demais, eu a observava na escola às vezes, sempre de cara fechada ou tendo algum ataque de raiva.

–Hey, você não estuda na mesma escola que eu?

–Sim... Só que somos de turmas diferentes.

Ela cerrou os olhos.

–Que carta é essa?

Ela tinha percebido que eu tinha uma carta em mãos. Mesmo com medo resolvi abrir o jogo era mais fácil.

–É para o Will...

Ela arqueou a sobrancelhas.

–Você o conhece?

–Sim, há algum tempo fora da escola... Eu estou indo embora, quero que ele leia quando ele acordar...

Sarah olhou para baixo, e eu fiquei pensando, acho que ela não tinha mais tanta certeza se algum dia Will iria acordar. Respirei fundo. Sabia que eu era fraco demais para ir até o quarto de Will e vê-lo vegetando em uma cama, por minha culpa. Peguei a carta e entreguei para a Sarah.

–Pode entregar para alguém que se certifique que um dia ele leia?

Ela pegou a carta nas mãos e balançou a cabeça positivamente.

–Então é isso, tchau - eu disse, deixando ela lá, e fugindo junto com minha covardia.

Era o meu último dia na escola, o último dia antes de eu partir para Londres. Eu seguia a mesma rotina, chegava na escola com os fones de ouvido, pegava meus livros e ia para a minha sala de aula. Eu era meio solitário na escola, não tinha amigos, ninguém falava comigo e eu também não fazia questão. Antes de ir para a aula, tomei minhas pílulas para ansiedade e depressão, guardei o frasco no meu armário. Estava me virando para voltar para a aula, quando de repente muito rápido fui empurrado com força contra o armário. Senti o impacto em minhas costas. Era Sarah quem tinha feito aquilo.

–O que você está fazendo garota?! Ficou louca?! – gritei assustado.

Ela me pegou pelos ombros e me empurrou de novo contra os armários, ela tentou me dar um soco, mas fui mais rápido e a empurrei para frente.

–Para com isso sua louca! Porque esta fazendo isso?!

Ela veio para cima de mim novamente e me pegou pela garganta.

–Eu li a carta Peter! - disse ela furiosa, o rosto de Sarah estava vermelho e as veias do rosto e do pescoço pareciam prestes a explodir.

–Você não tinha esse direito!

–Foi você o culpado! Vindo do nada de Londres só para atormentar a vida de Will e Frank!

–Eu não vim do nada! Meu pai se mudou para cá, eu encontrei Will na Rave por um acaso!

–Mas você insistiu para ficar com ele na Rave! Fazendo com que Will e Frank brigassem, se não fosse por você eles nunca teriam brigado e ido embora!

Empurrei-a novamente.

–Ai que você se engana garota! - gritei com raiva.

–Ah é? - respondeu ela debochadamente.

–Sim! Ou você acha que eu não sei que você estava tendo uma overdose? Foi por isso que Will e Frank entraram no carro com você, para conseguir ajuda pra você sua drogada!

Eu mal fechei a boca e Sarah me esbofeteou com um tapa no rosto. Eu virei novamente, e retribui o tapa. Nos dois ficamos nos encarando por algum tempo ofegantes.

–Se eu tenho culpa, você também tem garota! E mais do que eu!

Virei-me e deixei-a lá, eu não iria assistir a maldita aula, eu estava cansado daquela escola, daquela cidade, da minha vida. Andei algumas quadras da escola e fui até um parquinho de crianças abandonado. Sentei em um balanço, e vasculhei minha mochila atrás de um cigarro de maconha, para me acalmar. Acendi e traguei ali mesmo, o parque estava vazio era de manhã cedo.

–Ei Peter! Eae cara!

Assustei-me ao ouvir o meu nome tão de repente, do meu lado no outro balanço sentou um garoto de uns dezessete anos, muito bonito com a pele pálida, olhos azuis, feições delicadas, cabelo bagunçado e muito preto.

–Perdão? Eu te conheço cara? - perguntei confuso.

Ele riu para baixo, aliás, um belo sorriso.

–Você é meu colega em duas matérias, geografia e história.

Olhei bem para ele tentando lembrar. Finalmente lembrei.

–Você não é o garoto que tem uma irmã gêmea? - ofereci o cigarro de maconha e ele aceitou - Cris certo?

–Isso!

Cris era lindo, e me chamou atenção, mesmo eu nunca tido prestado muita atenção nele até aquele momento.

–Ta matando aula? - perguntou ele.

–Sim, é o meu último dia mesmo.

–O meu e da minha irmã também!

–Por quê? Vocês vão se mudar também?

–Não, a gente simplesmente vai botar o pé na estrada, deixar essa cidade de gente idiota para trás, fugir sabe?

Meus olhos brilharam, eu sempre quis deixar tudo para trás, fugir, abandonar tudo, sumir!

–Eu sempre quis fazer isso... - eu disse sorrindo, imaginando como seria legal.

–Vem comigo e com minha irmã então!

Eu ri.

–Você é louco, eu nem conheço vocês!

Ele tragou, se afogando um pouco, e começou a rir, a maconha estava fazendo efeito nele.

–Faremos um trato, você vem comigo e com a Jena hoje, passamos o dias juntos nos três, se você nos curtir você vem com a gente.

–Não sei cara...

–Qual é! Vamos lá tu não tem nada a perder, vamos viver!

Ele tinha razão, era hora de viver, e esquecer o passado.

–Eu topo! – disse me enchendo de animação repentina.

***
Eu e Cris passamos o resto da tarde comprando bebidas, conseguindo alguns cigarros de maconha, algumas gramas de cocaína, tudo para uma festa no campo, que teria no fim da tarde e iria até de manhã cedo, mesmo passando pouco tempo com ele eu já sentia um forte vinculo, e já começava a sentir algo por ele. Algo que eu tinha muito medo de não ser correspondido afinal ele não parecia curtir caras, e eu sempre fui muito na minha. Eram 18 horas, meu pai me ligava desde o meio dia desesperado, afinal, de manhã cedo nós partiríamos para Londres.

–Ei, jogue este celular fora - disse Cris.

Eu ri, ele era realmente louco, antes que eu parasse de rir ele pegou o celular e jogou com força no chão, quebrando ele ao meio.

–Puta que pariu! Você ta louco cara?! - peguei meu celular no chão, e senti uma dor, meu precioso amigo estava em pedaços.

–Liberte-se de tudo! - disse Cris, me pegando pela mão.

Eu e Cris combinamos de encontrar a irmã dele Jena, para irmos de carro até a fazenda. A menina era uma réplica idêntica dele, só que feminina, os cabelos longos e pretos, bagunçados, olhos azuis, apele muito pálida, e as feições delicadas.

–Jena, este é Peter, Peter essa é Jena - Cris nos apresentou.

Eu e Jenna conversamos durante o caminho, até que em certo momento eu disse:

–Então você e Cris sendo irmãos gêmeos, estão interessados nas mesmas coisas?

Depois que fiz a pergunta eu percebi o tão idiota que ela foi. Jena riu.

–Quase em tudo... Não é Cris?

–Bem no quesito garotos, eu e você combinamos.

Fiquei confuso, eu tinha entendido bem, Cris acabara de dizer que gostava de garotos? Fique pensativo, mas resolvi ficar na minha. Chegamos no campo e lá se encontravam umas duas dezenas de pessoas, todas bebendo, em volta de uma fogueira, ouvindo reggae, eles pareciam todos despreocupados, felizes, livres. Tudo o que eu queria ser.

–Quem são essas pessoas? - interroguei.

–São os putos dos nossos amigos! - disse Jenna animada, abrindo uma garrafa de vodka e começando a beber.

A noite se desenvolveu feito uma criança, em pouco tempo eu e Cris, Jenna, e todos ali já estavam muito bêbados, e chapados, a maconha parecia não ter fim.

–Vem comigo, quero te mostrar algo - disse Cris, se levantando e quase caindo, mas conseguindo manter o equilíbrio.

–Onde?

Ele não respondeu apenas me pegou pela mão e me guiou. Em alguns minutos nos já estávamos no alto de uma colina, nos deitamos e olhamos para o céu que estava iluminado por inúmeras estrelas e uma redonda lua amarela.

–O que você queria me mostrar? - perguntei anestesiado, olhando para o céu que mais parecia uma obra de arte.

–O céu.

Eu ri. Cris parecia ser um personagem de Nicholas Sparks, e não um ser real. Ele pegou na minha mão e apertou.

–Vem comigo e a Jenna, vamos embora para longe, hoje de manhã.

–Isso é loucura Cris, deixar tudo para trás.

Ele se virou e me beijou os lábios.

–Você decide, eu te quero, só falta você vir.

–Eu vou.

Voltamos a olhar o céu por um bom tempo.

***

Eu estava no meu quarto, colocando tudo o que podia dentro da mochila, roupas livros, meu pai estava dormindo nem havia notado que eu tinha chegado em casa. Ele havia pego no sono na sala, e já havia acionado a policia por desaparecimento. Fui até o cofre dele, e peguei cinco chegues de 2,000 mil reais cada, sem culpa nenhuma, ele era rico demais, não faria falta. Na sala deixei um pequeno bilhete que dizia. ''Eu estou longe, estou vivendo, não se preocupe, não mande ninguém atrás de mim, mesmo eu não demonstrando muito eu te amo pai... Desculpe pelo dinheiro''. Sai do apartamento as presas, antes que alguém me visse. Na rua me esperavam Jena e Cris, dentro do velho carro deles. Eu entrei rapidamente, dando um longo e demorado beijo em Cris.

–Para onde vamos garotos? -perguntou Jena, dando um longo bosejo.

–Qualquer lugar onde tenha felicidade! - gritou Cris.

Jena pisou no acelerador do carro. O dia começava a amanhecer, um belo sol nascia. Na minha mochila peguei meus frascos de remédios, eu não precisava mais daquilo na minha vida.

–O que você vai fazer? - perguntou Cris.

Joguei os remédios pela janela.

–Agora o meu remédio é você.

E rumamos para o desconhecido, para a felicidade, eu estava deixando tudo para trás, Will, Frank, a morte, a culpa, o velho Peter, meu pai, a escolas, as obrigações. Eu só seria livre. Tudo era muito incerto. Eu só tinha uma certeza, eu não estava mais sozinho, eu tinha Jena e Cris, e eles tinham a mim.


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Notas finais do capítulo

(Texto revisado 26.12.2015)