Xis escrita por aka Rla


Capítulo 17
XVII - Tempestade




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Uma sensação de frio foi o que me acordou no sábado.

Puxei minha perna que estava descoberta pra debaixo do meu cobertor, mas aí já não adiantava mais, eu já tinha acordado.

Fiquei rolando na cama, com a cabeça em um certo garoto até finalmente desistir de dormir de novo.

Peguei meu celular no criado mudo e olhei para o relógio. Dez e dezessete.

Merda! 10:17!

Isso significava que eu tinha exatos 12 minutos para tomar banho, vestir uma roupa, arrumar a cama (e meu cabelo) e correr para o refeitório antes de o café da manhã acabar.

Quando eu saí do prédio dos dormitórios (faltando 2 minutos para o fim do café), uma tempestade tenebrosa caiu sobre mim. Foi tão pesada, que nos 300 metros entre um prédio e outro, eu fiquei molhada até os ossos.

-Ei, olha aquilo, é um gato molhado? Ah, não, é só minha Mel. - disse Jean, quando me aproximei da mesa o suficiente para ouví-lo.

Tentei fingir uma cara de brava, mas foi meio difícil porque as palavras “minha Mel” ficavam se repetindo na minha cabeça.

Ele girou os olhos e mordeu uma maçã enquanto eu sentava do seu lado.

-Cyndi, por que não me acordou? - perguntei.

-Mas... você é a veterana aqui. Eu não saberia que tinha hora pra tomar café da manhã até Mateus me mandar uma mensagem. Aí eu perguntei pra ele se devia te acordar, mas ele teve a lógica de dizer que não precisava, porque você sabia do horário e provavelmente acordaria logo.

Girei os olhos. Que saco.

Se eu não estivesse acordado atrasada, eu teria tempo de subir pro meu quarto de volta e pegar um guarda-chuva. Talvez eu tivesse me molhado na caminho, mas não como eu estava naquela hora.

Suspirei pra tentar controlar a raiva.

-Ei – ouvi Jean dizer – Relaxa. Hoje não tem aula e vai ter uma super festa no fim do dia. Calma.

-Nada funciona quando eu acordo atrasada. - eu me ouvi murmurar, encarando meu pedaço de bolo.

Senti um arrepio com aquele pensamento.

Jean tirou a jaqueta e colocou nos meus ombros. Sorri pra ele.

-Você tá arrepiada e tremendo. E com os lábios roxos. – ele disse, me dando um selinho demorado.

Me senti um tantinho melhor.

Mas no fundo eu ainda estava esperando algo ruim acontecer.

*

Porque, assim, claro, eu nem estava ansiosa. Imagine.

Era a primeira festa que eu ia desde que esse lance de xis começou. Era a primeira vez também que eu ia acompanhada.

Eu tinha combinado com Jean que ele ia me pegar pra gente ir pra festa da Paula às oito.

Eu tinha começado a me arrumar às quatro.

Eu estava pronta desde às sete.

E quando ele chegou, eu nem deixei ele entrar (nem sequer falei com ele).

-Tudo isso é pra mim? - ele perguntou, se referindo à minha produção, enquanto eu estava de costas pra ele, trancando o meu quarto. Ignorei-o.

Quando eu virei, ele me prensou na porta, me pegando de surpresa, prendendo meus braços em suas mãos.

-Não vai falar comigo não? - ele sussurrou nos meus lábios.

-Não – eu disse – Essa produção toda não é pra você. - provoquei.

-Você tá de azul. Eu tenho certeza que isso tudo foi friamente calculado. - ele disse, beijando meu pescoço.

-Ok, você venceu. É tudo pra você. - sussurrei, quando senti ele mordiscar minha orelha – Cada vez que eu respiro é pensando em você. Cada grama de maquiagem foi colocada no rosto só pra te impressionar.

-Como se você precisasse disso. - ele disse, antes de me beijar.

Ele passou os braços pela minha cintura, me obrigando a me erguer na ponta dos pés. Eu estava com as mãos apoiadas nos bíceps dele, procurando equilíbrio.

A gente quase caiu quando um trovão soou tão alto como se tivesse acontecido dentro do prédio.

-Ainda não parou de chover? - perguntei.

-Não. E é por isso que eu acho que a gente devia, sei lá, desistir dessa festa. - ele sugeriu, tentando abrir a porta atrás de mim.

Eu sabia que deveria. No meu interior mais profundo, eu sabia que sair naquele dia ia ser algo ruim. Eu sabia que devia ter aceitado a oferta dele e passado a noite no meu quarto.

-Ah, boa tentativa – eu disse, empurrando ele pras escadas.

A gente saiu do prédio dos dormitórios e andou até a balada onde ia acontecer a festa em baixo de um guarda-chuva mini-mini que não adiantou de nada.

*

Eu já tinha secado da chuva e estava começando a ficar molhada de suor.

As mãos de Jean meio que guiavam meus quadris no ritmo da música que parecia tocar cada vez mais alta. Estávamos agarrados, rindo de qualquer coisa e dançando de uma forma que eu não achava que dançaria enquanto sóbria.

-Mano, que calor – ele gritou no meu ouvido. Só balancei a cabeça, confirmando. - Eu vou pegar alguma coisa pra gente beber. Não sai daqui – ele gritou, antes de me dar mais um beijo rápido.

Continuei dançando sozinha, certa de que ele voltaria logo.

Três músicas depois, eu saí correndo (ou quase isso, já que eu estava de salto alto e com o equilíbrio meio alterado) atrás dele.

-Ei, você viu o Jean? - falamos eu e Jaque ao mesmo tempo quando chegamos perto uma da outra. Girei meus olhos e continuei a procurar.

É claro que isso era meio burro da minha parte. Se eu continuasse rodando, a gente nunca ia se encontrar.

Então eu parei e mandei uma mensagem pra ele: “Ei, kd vc? eu to perto dos banheiros agora”.

E fiquei checando o celular de segundo em segundo.

Merda. Eu estava com uma sensação muito ruim. Muito ruim mesmo. Desde antes de dormir eu já estava com essa sensação.

-Ei, o que aconteceu? - perguntou Cyndi, passando por ali de mãos dadas com o Matheus.

-Eu não sei, esse é o problema. - respondi, sem nem olhar pra ela, escrevendo outra mensagem.

-Cadê o Jean?

-Eu não sei, esse é o problema. - repeti, enviando a mensagem.

-Não, calma. - disse Cyndi, com aquela voz pensativa dela.

-A gente vai procurar. Se a gente ver ele, a gente diz que você tá preocupada e te manda uma mensagem, beleza? - disse Matheus.

Eu balancei a cabeça, assentindo, tentando falar com Jean pelo celular, mas é claro que só dava caixa postal.

Eu já tinha mandando umas 20 mensagens de texto e umas 5 de voz quando a balada toda apagou. Algumas pessoas gritaram em protesto, outras de alegria e tudo o que eu conseguia pensar era que se eu não tinha encontrado Jean antes, agora seria impossível.

Eu acho que até aquele momento, eu ainda estava meio calma.

Mas quando eu ouvi dois primeiros tiros serem disparados, eu senti meu pescoço fechar de nervoso. Eu não conseguia respirar direito, eu não conseguia pensar direito, eu não conseguia andar, eu não conseguia ver. Eu só sentia muito calor e ouvia os tiros seguintes. Eu tentava iluminar o caminho com o celular, mas só dava pra ver aquele mundo de adolescentes desesperados, correndo. Cara, alguém podia morrer pisoteado ali.

E então os tiros pararam e as luzes acenderam e eu quase me sentir melhor. Se eu não visse Jaquelinne chorando.

-É tudo sua culpa! - ela gritou pra mim e me deu um tapa na cara.

No primeiro momento, eu não entendi do que ela estava falando. Mas quando eu me recuperei do tapa, tudo fez sentido.

E ela estava certa. Aquilo era minha culpa. E aquilo tudo era plano de algum Ips filho da puta.

Eu saí do clube chorando, sozinha. Tirei aquele salto alto idiota e andei, embaixo de chuva e descalça até a EX. Entrei no meu quarto, deitei ainda molhada na minha cama e chorei até dormir, desejando com toda força que, quando eu acordasse, aquilo seria tudo mentira e que xis nem mesmo existissem de verdade. 


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Notas finais do capítulo

c:



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