Jogos Meio-sangrentos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 8
Capítulo 8 - Dia da caça


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas. Vocês já devem ter se acostumado com a minha demora, então nem vou mais pedir desculpas.



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Viajar do leste canadense até o Acampamento Meio-Sangue nunca fora tão cansativo, principalmente quando algo indesejável estava à espera das Caçadoras.

Atravessar o Estado de Nova York até Connecticut em apenas um dia parecia impossível em um caminho terrestre, mas as Caçadoras tinham renas. Renas mágicas. Além de que o caminho fora totalmente tranquilo, sem nenhum monstro surpreendendo-as. Parecia que tinham recebido ordens para não atacá-las.

Ao chegar à barreira mágica do Acampamento, Lady Ártemis despediu-se de suas garotas, pedindo para que fossem fortes e que não a deixassem desapontada. Após várias recomendações, a deusa da lua desapareceu em pontos de luz, como uma explosão de estrelas. Rumo ao Olimpo, talvez.

Mas as garotas já sabiam o que fazer. As filhas dos olimpianos iriam para seus chalés, rever ou conhecer seus irmãos, enquanto as provenientes de deuses menores iriam para o Chalé 8. Como formigas operárias, revezavam-se em usar os chuveiros, espanar móveis e organizar roupas e armas. E a rainha provisória seria Meredith.

Depois de Ártemis e algumas outras filhas de olimpianos, ela era a mais responsável, centrada e capaz de dirigir um bando. Tanto que fora escolhida para ser a mentora das tributos sorteadas naquele dia. Se estava nervosa? Sim. Mas ainda era um cargo melhor do que as possíveis candidatas à morte. Já tinha dezenove há muitos anos, portanto não corria riscos. Pior eram as que tinham dezesseis anos desde a Idade Média ou doze antes do declínio do Império Romano. Suas vidas imortais estavam em risco.

Então a representante do chalé de Ártemis apareceu à porta, interrompendo subitamente a arrumação. Uma mulher levemente acima do peso de cabelos curtos da cor de chocolate e lábios vermelhos como se tivessem sido pintados com framboesas. Usava um casaco de pele de urso que cobria seus pés e tinha uma gola grossa e felpuda. Apesar da aparência aconchegante e aquecedora, o rosto da mulher emanava frieza e fúria.

–Olá, escravas de Ártemis. Cheguei cedo, não? Mas quanto antes acabarmos com isso, melhor. E não me apresentei. Desprazer, eu sou Calisto, mais conhecida como a constelação da Ursa Maior.

Algumas caçadoras prenderam a respiração. Dentre elas estavam as que conviveram com Calisto e as que sabiam de sua história, como Meredith.

Sabe-se que Calisto já fora uma Caçadora. Destemida e pura, era inteiramente fiel a Ártemis e seguia todas as suas ordens. Mas ela desobedeceu à principal regra imposta por sua senhora: a castidade. Cedendo aos encantos de Zeus e dando-lhe um filho, Calisto teve a reprovação da deusa da Lua e da senhora do Olimpo.

Hera, furiosa, transformou-a em um urso. Desde então a jovem viveu nas florestas só e com medo das Caçadoras que um dia já foram sua família, além da revolta que sentia para com os olimpianos. Num dia, Calisto encontrou o filho, já adulto, e tentou comunicar-se com ele. O rapaz vendo a aproximação do animal desferiu um golpe mortal. Zeus penalizado com aquilo transformou Calisto na constelação da Ursa Maior, para que ela descansasse em paz.

Mas Calisto não descansou em paz.

–De volta a esse chalé. Vendo os rostos estúpidos de vocês mais uma vez. E infelizmente conhecendo outros. Eu quero logo acabar com isso. Há alguma voluntária?

–Eu me voluntario! – levantou uma garota.

–Rosalya não! – disse Meredith.

–Eu preciso fazer isso. Colocarei minha sorte em jogo, nem que tenha que colocar também minha imortalidade. Eu tenho que por fim na minha maldição.

A jovem Rosalya de apenas treze anos passou por entre as outras Caçadoras. Enquanto abria caminho entre as garotas, ouviu o som de uma rabeca. Talvez algum dos filhos de Apolo do chalé vizinho tocando uma música fúnebre. Foi então que todas as lembranças vieram. Do seu baile de noivado. Da dança com seu noivo, vinte anos mais velho. O quanto ele sorria com aquele dente de ouro asqueroso.

–Ande logo! Se queria demorar tanto assim não teria se voluntariado! – bradou Calisto – E diga logo seu nome.

–Perdoe-me senhora Calisto. Sou Rosalya Alice Bellapis – ela fez uma reverência. Não queria começar com o esquerdo, não queria azar logo no início.

–Certo. Alguém mais quer se voluntariar? Alguém?... Ah meninas, não estou mais reconhecendo vocês! Onde estão as bravas Caçadoras de Lady Ártemis? Vocês decaíram de bravas lobas para ratas da neve? Hahahaha, uma piada! Vou sortear isso de uma vez... E a felizarda é... Annye Claire Todd!

Calisto bateu palmas com as mãos rechonchudas. Annye levantou-se, e logo a Ursa Maior parou os aplausos. Annye não estava com medo ou fragilizada. Ela parecia ter nojo de todas ali presentes.

Mas como não ter esse gênio forte? Annye era filha de Éris, a deusa da discórdia, da confusão. A que ia contra todos os preceitos e convenções. A própria Annye era uma confusão. Mesmo com seus cabelos castanhos e mechas roxas, ela possuía olhos pertencentes apenas a albinos: os de íris rosa. Mas parecia que a Caçadora de dezesseis anos não se importava para a genética.

–Saudações, Annye. Parece que estamos juntas neste desafio – Rosalya bagunçou um pouco os cabelos repicados da franja

–Não estamos juntas – respondeu Annye, secamente.

Rosalya mais uma vez lutou para não ser rude. Pé direito, pé direito. Mas os olhos elétricos de Annye fizeram a menina mergulhar mais uma vez na história de sua vida. A briga com o pai, sobre sua mãe, sobre tudo. A Queda da Bastilha e o corpo do pai estendido no chão, um pedaço ali outro acolá. Os espinhos da floresta por onde fugia com seu longo vestido e o quanto o remédio de Zöe Doce-Amarga ardia em cima dos seus ferimentos.

–Calem a boca, salmões estúpidos! – Calisto vociferou sem motivo algum, de modo que suas pupilas escuras dilataram como um urso. Ela deu um rosnado baixo, como se estivesse voltando à sua forma amaldiçoada – Pelas ordens passadas para mim, vocês devem apertar as mãos, representando Ártemis e as Caçadoras nos Jogos.

Rosalya estendeu a mão.

–Vamos, Annye Todd! – ordenou Calisto – Aperte logo a mão dessa menina!

–Me... Obrigue – Annye olhou com desdém para a constelação encarnada.

Calisto olhou-a com seus grandes olhos e fez algo totalmente inesperado: gargalhou. Seus lábios vermelhos abriram em um grande sorriso revelando dentes pontudos, misturando risos e urros.

–Olha só menininha – disse ainda em risos apontando para Rosalya– Eu não vou me importar se você morrer no primeiro dia, mas esta aqui... esta aqui é das minhas! Garotas, saúdem as tributos do Chalé 8!

Pé esquerdo.


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Notas finais do capítulo

Então é isso. E lembrando que houve uma grande diferença de tempo entre os desenhos anteriores e esses novos, então se não gostaram dos antigos (ou até dos novos, quem sabe), me perdoe. E até a próxima!