Jogos Meio-sangrentos escrita por Lord Camaleão


Capítulo 4
Capítulo 4 - Safra desperdiçada


Notas iniciais do capítulo

E aí minha gente, demorei? Bom, não sei se a curiosidade de vocês permitiu, mas agora os capítulos terão uma novidade: no final de cada colheita haverá um desenho dos tributos sorteados feitos por mim.
Ou seja, se você não conseguiu imaginar os tributos, o desenho ajudará sua imaginação. Já editei os capítulos e nos dois anteriores já coloquei os desenhos de Reyna, Brandon, Peter e Noah.
Boa leitura!



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Os filhos de Deméter trabalharam como se fosse sua última vez. E para dois deles, realmente era.

Eles passaram o dia capinando, podando, plantando e arrancando ervas daninhas do jardim que circundava o Chalé 4. A grama do teto fora aparada, com exatos três centímetros. Os vasos de flores não poderiam ter ramos caídos e qualquer rastro de plantas que não fossem as cultiváveis deveria ser exterminado. Eles estavam preparando-se para uma cerimônia que mesmo tendo caráter fúnebre merecia valor.

Alguns meninos e meninas já haviam tomado banho, retirando os vestígios do trabalho pesado. Mas ainda havia pessoas na fila de espera, com a toalha nos ombros. Pela primeira vez, os filhos de Deméter estavam atrasados. Logo chegaria o “ilustre convidado” para sortear os infelizes semideuses.

Os que já haviam feito sua higiene estavam sentados ou em bancos de madeira de três lugares ou em cubos de feno que serviriam muito bem de assento. Em cima de uma mesa antes usada para artesanato, estavam um cesto de trigo trançado, indicando os garotos e outro com folhas de grama alta, indicando as meninas. Dentro de cada uma delas estavam vários amendoins, com os nomes escritos em um papel fino. Usando seus poderes especiais, alguns deles conseguiam fechar completamente os amendoins após abertos, fazendo dos mesmos uma espécie de biscoito da sorte.

Então, subitamente ela entrou no chalé. Sua pele branca como a neve e seu vestido branco-azulado contrastavam com o marrom e verde que predominavam no Chalé 4. Ela era extremamente parecida com Perséfone, forma do rosto, olhos e boca. Mas a mulher que dirigia um olhar rígido para os filhos de Deméter era bem diferente da deusa da primavera. Ao contrário dela, ela tinha profundas olheiras e boca escura. O cabelo negro era preso em um coque, deixando-a ainda mais severa. Sim, ela também era sua irmã. Era Despina.

Todos conheciam a história de seu nascimento. Diferente de Perséfone que era filha de Zeus, Despina era fruto de um relacionamento entre Deméter e Poseidon. Junto com ela, nasceu o cavalo Árion, capaz de correr rapidamente tanto na terra quanto nos mares. Junto com o nascimento dos dois, houve o rapto de Perséfone por Hades. Preocupando-se mais com a primeira filha, Deméter deixou os gêmeos de lado e foi à sua procura. Árion não se preocupara, já que ele é um cavalo, mas Despina guardou tamanho rancor que seu objetivo passara a ser destruir tudo que a mãe e a irmã faziam na primavera e no verão.

Despina tocou a porta de madeira como se estivesse em um devaneio, e ela começou a trincar e formar camadas de gelo. Logo depois a deusa passou por um canteiro de flores recém-podadas. Ao mínimo toque, as pequenas margaridas viraram fios marrons e folhas amarelas.

–Haha, um pouco de diversão ao menos – disse Despina pela primeira vez. Sua voz era seca e rouca – Pra quem nunca ouviu falar de mim, sou sua irmãzinha Despina. E será um enorme prazer sortear dois de vocês para representar mamãe nos Jogos.

Se alguns semideuses estavam nervosos, Despina não ajudava em nada. Os filhos de Deméter não eram guerreiros como os filhos de Atena ou Ares. No máximo usavam enxadas e foices, mas seus adversários não eram como o trigo que esperava para ser colhido.

–Olha, eu quero sair o quanto antes deste monte de mato e madeira, então vou logo sortear esses malditos nomes, antes que eu transforme este chalé num iglu – disse Despina, de forma seca – Como eu sei que todos vocês são um bando de covardes e nenhum irá se voluntariar, vou começar sorteando a garota.– Despina tirou um amendoim. Ao contrário do esperado, a deusa esperou a vagem virar uma massa marrom e deformada. Então ele esfarelou até sobrar um papelzinho amarelado. Ela passou a língua nos lábios arroxeados para dizer o nome escolhido.

–Eu me voluntario! – disse uma garota sentada em um banco à frente. Elena afastou os cabelos cor de chocolate para trás e passou a mão no rosto sardento. Ela havia acabado de se voluntariar, era isso mesmo? Havia se sentido desafiada por Despina quando a deusa chamou-a e a seus irmãos de covardes. Elena levantou-se e andou até a deusa do inverno.

–Ah, parece que nem todos são covardes por aqui, não é? Você é bem corajosa, garota. Parece que não se deixaria ser raptada por Hades como nossa irmãzinha foi não é? Qual seu nome? – Elena em nada respondeu ainda desacreditando no que acabara de fazer – Hein garota? Você sabe falar a língua humana?

–Sim, eu falo, porque não sou eu a irmã gêmea de um cavalo – Elena disse. Onde ela estava com a cabeça? Ela havia acabado de insultar uma deusa, pior, uma deusa que os odiava do fundo do coração.

–Olha, eu poderia te transformar numa pilha de neve agora mesmo, mas acho que seria melhor ver você sangrando até a morte na arena – disse Despina, completando os pensamentos de Elena – Agora diga: qual seu nome, querida?

–Elena. Elena Price – não poderia esquecer o sobrenome Price. A família que a adotou quando o pai não pôde ou não quis. Por um momento, lembrou-se do sorriso do pai adotivo e as aulas de jardinagem da mãe. Ela voltaria a vê-los nas férias do Acampamento? Preferia não pensar.

–Certo, Elena Price. Agora vamos sortear o garoto, ou alguém aqui também quer dar uma de corajoso?... Ah, como eu pensei, ninguém. Vamos lá então – Despina, com um sorriso malicioso nos lábios pegou outro amendoim, repetindo o processo de desidratação. Abriu-o e disse de forma demorada – Josh Nicky.

O garoto que estava sentado em um monte de feno levantou o olhar. Passou a mão na testa ainda suada do trabalho e fez um longo processo de inspiração e expiração.

Josh fechou os olhos. Lembrou-se dos tempos de escola. Estava no pátio da escola, conversando com as samambaias da entrada. Os cinco garotos fizeram um círculo à sua volta. Chamaram-no de “Cabelo de Palha” e “Roceiro”. Bateram no seu rosto branco e arrancaram as folhas de samambaia com quem ele conversava. Josh chorou. O professor de Biologia chegou e estendeu a mão.

O nome que Despina acabara de dizer era o seu. Ele pensou consigo que poderia estar escrito no papel “Cabelo de Palha” ou qualquer outra coisa ofensiva ao invés de seu nome. Josh já enfrentara coisas piores, e não era uma sentença de morte que iria tirar sua paz interior. Ele andou até a deusa e Elena, com as mãos nos bolsos.

–Então você é Josh Nicky. Rosto bonitinho, mas não acho que vá durar uma semana – sorriu debochadamente Despina.

–Obrigado pelo elogio, você também não é feia – sorriu Josh de volta. Era um sorriso terno e caloroso, algo que quebrou o gelo da deusa do frio.

–Er... Agora... Agora vocês devem dar as mãos, em sinal de cumprimento e tudo mais. Andem logo!

Elena e Josh se conheciam de vista, mas nunca chegaram a conversar de fato. Eles apertaram as mãos, mas logo não resistiram e se abraçaram, o que gerou aplausos dos irmãos e uma expressão de nojo da parte de Despina.

Havia sido produtiva a colheita no chalé da deusa da agricultura.


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Notas finais do capítulo

Não sei se vocês viram alguns símbolos no lado esquerdo da camiseta dos tributos, mas são os números dos chalés em grego. Cada chalé tem uma camiseta de cor específica, e eles meio que vão usá-las no centro de treinamento.
E aí, o que acharam? Vejo você nos reviews