Miracolo escrita por P r i s c a


Capítulo 6
Boa Noite, Chrome


Notas iniciais do capítulo

Um pouquinho sobre Chrome e suas impressões das férias na praia o//



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Entrando no grande refeitório, o medonho guardião se limitou a soltar um apático ‘Tsk’ e sair, deixando Chrome pra trás.

Apesar de não ter qualquer de suas dúvidas respondidas (pelo contrário, agora ela tinha ainda mais temores que antes), um alívio tremendo sobreveio a menina tão logo Hibari se afastou e sumiu.

Preferia assim. Antes só com dúvidas, do que acompanhada dele, com dúvidas.

Chrome fitou o tridente por alguns segundos, em busca de consolo e depois o guardou em sua mala.

Da mesa do refeitório, Kyoko acenava alegre, provavelmente chamando-a para se juntar a eles. A guardiã sorri e, mesmo sem tanta vontade, se apressa a acompanhá-los. Afinal... o lugar à esquerda do Boss estava livre, uma raridade, então tratou de aproveitar para sentar-se lá.

Se havia uma pessoa capaz de fazê-la sentir-se confortável, além de Mukuro, era o Chefe.

“Chrome… você está bem?”

A começar pela tal hyperintuição. Vendo a preocupação de Tsuna e a nítida certeza de que ele estaria pronto pra socorrê-la com o que quer que fosse bastando um pedido… era em si toda a ajuda que ela precisava no momento.

“Hm! Estou.” disse, sentindo que faltava algo. Tinha que dizer alguma coisa “Ah… Obrigada, Boss...”

O menino lhe dá o conhecido sorriso bobo e meio confuso e então volta a atenção para os outros na mesa, todos à espera do que seria servido.

Era a hora da guardiã enfrentar um velho adversário de seus dias atribulados...

Comida…

Levando a mão à barriga ela se pergunta se terá energia suficiente para um capricho desses, ou se seria forçar demais…

De repente, um peso extra se acomoda em seu colo. Pequeno, vermelhinho e com cabeça de ovo.

Ipin sorri, segurando sua tigelinha de sopa e colher.

“Comer!” diz a menininha, pegando um pouco e oferecendo à Chrome.

!!

“A-ah… não precisa eu...”

“Sopa! Comer!”

Ah… isso não era bom…

Quando Mukuro cuidava dos órgãos era bem fácil e natural. Sua qualidade de vida era a mesma, talvez até melhor do que antes do acidente… Agora que parecia estar cada vez mais por conta, no entanto, havia milhares de particularidades com as quais jamais sonhara se preocupar.

A começar pela digestão…

“Chrome...” dizia-lhe Mukuro-sama, toda vez que desistia de estudar. “Você disse que quer ser independente, não?”

“Eu quero! De verdade, m-mas...” estava já exausta. Apesar de poder usar da ilusão para ativar o que quer que fosse o hormônio ou a tal enzima que a deixaria acordada, o rapaz se limitava a garantir-lhe as reações mais naturais possíveis, de modo que esforço para ela sempre teria o mesmo peso que o esforço de qualquer outro.

E Chrome estava grata! Claro! Mais que tudo! Só que… quando ele fazia alguém se esforçar… aí sim recebia uma dose que a média não conheceria. O que era provavelmente injusto… Obrigar alguém a ralar mais que os outros apenas para forçá-lo a sentir o peso e a fadiga corretos era sádico.

E também bem típico de Mukuro.

“Não tem como eu aprender tudo o que você faz, vai levar uma vida inteira!”

O homem pára um segundo, como se tivessem dado um ‘pausa’ nele com um controle remoto. Nada em sua expressão muda apesar de haver um aura de surpresa e divertimento pairando nele, sobre ele e ao redor dele.

“Uma vida inteira? Não… Não, não, não...” E se aproximava dela apoiando a própria cabeça em seu colo enquanto pegava o livro de anatomia para folhea-lo, sem qualquer interesse nas páginas cujo conteúdo, ela sabia, havia tempos decorara. “Eu passei por seis vidas diferentes, meu poder e conhecimento são de uma abundância que você jamais se equipará…” parou de folhear em um estudo específico e entregou-o à menina que ainda bocejava, o olho vermelho de cansaço. “O que estou tentando te passar você tem que ser capaz de aprender… é apenas o necessário para uma vida. O resto vai depender de sua própria determinação. Agora...” disse, soltando ele próprio um longo e satisfeito bocejo, sem qualquer intenção, nem a menor consideração, de desfazer a ilusão de seu corpo repousando confortávelmente sobre o colo dela. “Estude. Já.”

E Chrome passaria ainda muitas horas estudando cada órgão que perdera, como funcionavam, o que afetavam e quanto mais estudava, mais desesperada se sentia, porque tudo o que deveria funcionar automaticamente nela [com exceção do coração, um dos pulmões, o fígado e o cérebro], agora estava sob sua dependência.

Pelo anel do Boss, até o pâncreas ela tinha que controlar! O pâncreas!

Não comia havia um bom tempo e a sensação de fome às vezes vinha… às vezes não.

Se bem que sendo só sopa… bem, se fosse só isso ela provavelmente…

“Tá bem...” e abriu a boca para aceitar a gentileza da pequenina. Seu punho esquerdo fechado com força, esfregando o anel Vongola, fazendo o possível para não perder a concentração e…

...

“Bom?” pergunta a menor.

Sim, a sopa estava deliciosa...

“Está ótimo!” e suspira aliviada. Mexeu um pouco as pernas para ter certeza de que estava seca… Estava. Quer dizer que o que engoliu parara mesmo em algum lugar… Só esperava que estivesse passeando pelo caminho certo.

De qualquer forma, se o liquido se extraviasse para qualquer lado indevido, todos logo saberiam, afinal, Chrome estaria morta ou pelo menos tendo uma convulsão e, ao que tudo indicava, não teria nenhum dos dois.

Sua recompensa pelo risco fora o sorriso infantil mais feliz que a menina poderia lhe oferecer. Ela desce de seu colo com a colher na mão e sai correndo gritando muitas palavras em chinês.

Estava tudo bem. Daria tudo certo.

“Mais!!” diz a menina com outra tigela e mais uma colherada, pronta para alimentá-la por completo, toda contente. Chrome teve o pressentimento que acabaria por tomar as duas tigelas inteiras.

Ah, céus…

Pelo jeito, sua próxima preocupação seria ir ao banheiro...

***

Ir ao banheiro… ok.

Aparentemente o simples vizualizar do caminho que a comida deveria fazer bastava para que os órgãos reagissem cada um de acordo com sua respectiva função, para a sincera alegria da menina...

Era difícil controlar tudo... Ela já não sentia quase nada mais das coisas acontecendo por dentro. Só o rítmico bombear do coração e o friozinho do ar entrando pelas narinas, mas viu a comida entrando e viu a comida saindo e, no momento, a menina queria muito categorizar aquilo como uma vitória.

Depois dos anúncios de Reborn sobre os horários, Kyoko a arrastara até o quarto em que ficariam e tratou de ajudá-la com as malas. Até parecia tudo normal, até ela perceber um desconforto absurdo entre suas amigas.

Havia um clima… estranho... pairando sobre ela e Haru-chan, mas preferiu não perguntar. Ainda assim, acabou descobrindo o que era bem a tempo de participar da reconciliação, sendo puxada para o meio de um abraço apertado, arrependido.

Não entendia nada daquilo… Haru fugia, agora Haru chorava… ambas se abraçavam e estava tudo bem! Um abraço… e estava tudo bem. Fora sem mais que aquela mão a puxa para um aconchego confuso e no pouco tempo em que nada foi explicado e tudo fora resolvido, ela se lembrou… que as vezes, só um gesto basta.

Aquilo lhe lembrava Mukuro… e uma coisa que ele lhe havia ensinado. Ali, mesmo sem ninguém saber, era como estar perto de uma parte minuscula dele mais uma vez. E sentir-se assim… fez Chrome sorrir.

Só faltava uma coisa para completar sua noite e seria…

A porta do quarto abre e se fecha, deixando a menininha e seu travesseiro entrar para se acomodar com elas.

“Hana brava!” explicava com o pesado sotaque chinês “Alergia… crianças!” e riram todas.

Dormiram.

Elas dormiram.

Chrome fechou os olhos, aproveitando a sensação de acolhimento e imaginando todo o curso que a sopa deveria fazer antes de ter que sair, perguntando-se o quanto daquele momento estragaria se ela se mijasse inteira e as amigas de quebra.

Mas o conforto logo desaparece, chutado para fora pela velha apreensão.

As horas passaram. Ela se levantou e foi até o banheiro de novo...

E deu tudo certo.

Olhando para dentro do quarto agora, vendo-as todas juntas.

Dessa vez, não conseguiu evitar uma pontada no peito, talvez o vazio gerado pela expulsão do tímido conforto, pois... sentia-se meio longe…

No fim do corredor, o Boss e um homem muito grande chamado Brutus tentavam se acomodar em cima das malas. Dentro do quarto fechado, mesmo sem ver a guardiã sentia o que era que repousava lá.

Hibari.

Estava com medo… mas... se ele sabia de alguma coisa... qualquer coisa sobre Mukuro-sama, Chrome precisava fazê-lo contar. Mas como...? Não, ela não acreditava que Hibari um dia se disporia a colaborar, não apostaria nem o olho que não tinha nessa possibilidade.

Olhou para os pobrezinhos encolhidos do corredor, então para as amigas no quarto.

Yosh! Estava decidido.

Contaria pra eles o que vinha acontecendo no dia seguinte!

Entrou no quarto e fechou a porta. Depois abriu, percebendo que se esquecera de uma coisa, uma coisa importante…

Aquilo que ele lhe ensinara...

Deu um beijo nas bochechas do Chefe e, -bom ,porque não?- de Brutus, torcendo para que se sentissem melhor e se perguntando se encontraria a parte do livro de anatomia que comprovava as propriedades curativas do beijo.

“Nee, Chrome… você sabia?” lhe pergunta o Rokudo, a voz sempre tão sinistra agora num sussurro calmo e agradável, quando o sono fora tanto que a fizera tombar para o lado, usando o livro de travesseiro. “Se você der um beijo na bochecha de alguém… isso o fará se sentir melhor.”

E o sono dela logo era envolvido por doces sonhos bons.

Todas as noites… antes de se desvencilhar e sumir, mesclando-se em meio às trevas as quais pertencia, a sombra fechava as macias pétalas da Flor, uma a uma, protegendo o cerne do mesmo jeito que a própria natureza fazia às criaturas as quais ainda não abandonara.

Uma vez completamente livre na necessidade de obstáculo, sua última atitude para com ela estava em um último toque.

Um pequeno beijo, vejam só...

Mas era sempre de despedida. Embora o retorno estivesse nos planos, cada dia que levantava deixava mais evidente que tudo o que existia um dia haveria de terminar em luz, não em trevas. Ah, o quão duro era aceitar que falhara... que independentemente de tudo o que fizera, ainda assim o Sol haveria se de levantar e o Céu haveria de se abrir para nunca mais fechar... não haveria mais trevas.

Não, não haveria lugar para qualquer treva.

Mais do que todos a Sombra sabia, que o fim abateria no momento que menos esperasse. E somente por isso, vou repetir, tão somente por isso... é que se despedia. Todas as noites, sem falta.

...

“Boa noite… minha Chrome.”


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Notas finais do capítulo

próximo capitulo muito em breve!!!
espero que gostem e NÃO ESQUEÇAM DE ME DIZER O QUE ACHAM XDDDDDD



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