Foi Por Você escrita por Lilian Smith


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá, galera. Bom, voltei com mais uma one de TMI, e desta vez ela tem como personagem, o Sebastian/Jonathan. Foi uma ideia que tive, depois de ver a historia em quadrinhos, criada pela Cassandra Jean, sobre a infância do Sebastian. Por favor leia as notas finais! Obrigada pela atenção.



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O garoto loiro, brincava no chão frio e duro do seu quarto, aproveitando os últimos instantes que tinha a sós, antes do pai chegar em casa. Não existiam empregados na casa de campo, e ela era bastante afastada de qualquer cidade, Valentim alegava que era para prevenir-se do agito de Idris, mas Jonathan tinha bastante certeza, de que era para evitar que ele fugisse.

Suspirando, o menino começou a recolher os brinquedos improvisados que tinha criado. Seu pai nunca deu algo pela qual ele pudesse brincar bonecos, carros ou jogos de tabuleiro. Tudo que ele ganhava, eram armas que tinha que saber usar, mesmo que nunca as tivesse visto, e humilhações. Seu pai fazia questão de gritar para todos os cantos, o quanto ele era inútil, e que todas as outras crianças que ele conheceu, eram muito melhores que ele. Jonathan fingia não se abalar, mas quando se via livre do pai, ele chorava. Lagrimas de sangue.

Se pelo menos eu tivesse uma mãe, pensou, mas rapidamente se repreendeu. O assunto mãe era completamente proibido dentro daquela casa. Uma vez, o garoto tinha arriscado perguntar a Valentim onde sua mãe estava, mas em vez de respostas, ele recebeu um castigo, por “perguntar demais” e teve de ficar sem comer por dias. Não existiam fotos de mulher alguma na casa, e ele mal pisava lá fora, para perguntar. Logo percebeu que mãe não era um assunto para ele, e se impôs em tentar apagar qualquer sentido dessa palavra de sua mente.

Mas desde a semana passada, quando seu pai saiu para mais uma de suas viagens semanais...

Ele não era autorizado a sair da casa, mas quando se é criança, todo mundo quebra as regras. Mal seu pai saiu de casa, ele usou uma das passagens secretas que já há tanto tempo explorava, e resolveu passear pelo bosque que circulava seu refugio. Ele procurava ser rápido em seus passeios, pois seu pai podia descobrir, e ele nem queria imaginar o que poderia ser feito a ele caso ele desconfiasse, e já quando retornava, ele viu na campina, uma família de caçadores de sombras.

Sabia que eram caçadores, pelas marcas em sua pele. O pai procurava alguma coisa na mochila, e a mãe brincava encantada com o filho, que devia ter sua idade. O garoto ria feliz, e abraçava a mulher, que parecia estar nas nuvens. O pai observava, e ele podia ver a paz e a felicidade no rosto dele. Aquilo doeu. Seu pai não parecia feliz, talvez se eu tivesse minha mãe aqui, ela pudesse fazer ele feliz Jonathan pensou infeliz.

Agora, mesmo uma semana depois, aquela cena ainda martelava em sua cabeça. Se sua mãe estivesse ali, seu pai o trataria da forma como o tratava? Ele ganharia brinquedos ao invés de olhares hostis no natal? Ele ouviria cantando até adormecer, ao invés de ir dormir com pesadelos? Talvez sim, então, por que ela não estava ali?

- Jonathan! – Uma voz o chamou, assustando-o. Ele derrubou os brinquedos que carregava na mão, e xingou-se mentalmente por esquecer que seu pai estava para chegar. – Venha aqui, agora!

Empurrando tudo que tinha usado para brincar de qualquer jeito de baixo da cama, ele correu para encontrar Valentim. Sabia o quanto ele odiava que se atrasasse, mesmo que a uma ordem recém-dada.

Quando o encontrou, ele estava sentado nas escadas da varanda. Jonathan tomou folego antes de ir encontrar com ele, geralmente ele tinha de pegar folego sempre que Valentim aparecia. O pai o deixava assustado.

- Você demorou. – Valentim o acusou, avaliando ele com o olhar. Ele permaneceu parado durante o processo. – Aprendeu a usar o arco e flecha, sem ferir a si mesmo ou a qualquer vidro inocente que esteja no caminho?

Estava claro o tom de deboche, mas pelo menos daquela vez, ele poderia responder sem parecer um fracassado. Tinha treinado, e sabia usar o arco.

- Sim, aprendi pai. – O garoto respondeu, e isso deu um tipo de brilho estranho cruzas os olhos de Valentim, seria orgulho? – Posso perguntar uma coisa?

Jonathan não tinha ideia de como aquelas palavras tinham saído de sua boca, foi quase como se ele não pudesse controlar. O brilho se apagou, e Valentim semicerrou os olhos, ele odiava perguntas. Pelo menos vindas dele. Mas confirmou com um aceno.

- Onde está a minha mãe? – Pronto, mais uma vez. Tinha certeza que ia levar uma surra. Por que estava perdendo o controle assim? Valentim pareceu zangar-se, ele ergueu a mão, como se fosse lhe dar um tapa, e Jonathan encolheu-se, mas o pai pareceu desistir no meio do caminho. – Pai?

- Acho que você precisar saber. – Valentim falou, contrariado. – Ela foi embora.

Aquilo ele já sabia, mas doeu ouvir em voz alta. De onde vinha aquela dor?

- Foi embora? – Jonathan perguntou, engolindo em seco, alguma coisa que não sabia dizer o que era. Talvez fossem lagrimas. – Por que ela foi embora?

- Por você. – Valentim respondeu, e seria imaginação dele, ou teria ouvido rancor na voz do pai? – Por que você tem um defeito.

Mas é claro. Valentim o tratava daquela maneira, por que foi culpa dele que a sua mãe tivesse indo embora. Foi ele que fez Valentim ficar sozinho, a culpa era dele, e Valentim fazia questão de castiga-lo por isso.

- Defeito? – Jonathan sussurrou, sua voz falhou, e ele fez força para conter o choro. – Você pode me consertar?

- O único jeito de ser consertado Jonathan. – Valentim disse, segurando o braço do filho. – É conquistar e seguir tudo o que eu disse para você.

- Mas eu não posso fazer ela voltar? – Jonathan perguntou. – Ela não me ama?

- Ela vai amar você. – Valentim respondeu. – Quando fizer o que eu disse, por hora, só eu amo você, e sinta-se honrado, pois só eu sou capaz de amar um monstro, você deveria agradecer Jonathan. Entendeu?

Ele sentiu o ar escapando do seu alcance, mas não pela ofensa que seu pai tinha acabado de atirar em sua cara. Mas pelas palavras anteriores. “Ela vai amar você, quando fizer o que disse”. Se ele fizesse, ela o amaria? Ela, sua mãe? Ela iria ama-lo? Se for isso que ele estava dizendo, então sim, ele faria exatamente o que o pai mandava, só para ter o amor de sua mãe.

- Sim pai. – Jonathan falou, olhando para Valentim, como se tivesse ganhado o melhor presente do mundo. – Entendi.

                                                                ***

Sebastian encontrava-se caído em uma poça de sangue. A guerra tinha acabado, e mesmo que ele negasse para si mesmo, desde o inicio sabia que perderia. Apenas a motivação inicial, o permitia seguir em frente com aquele plano.

Ele ouviu passos, próximo do local onde tinha caído. Seria alguém voltando para terminar o serviço? Se fosse, ela não precisava dar-se esse trabalho. Ele estava morrendo, sentia isso.

- Jonathan? – Uma voz o chamou, e de algum jeito, mesmo na escuridão em que ele se afogava, a voz soou alta e clara. – Você pode me ouvir?

Ele não conseguia acreditar no que estava ouvindo. De todas as pessoas do mundo que ele esperava ver nos seus últimos segundos, ela com certeza não estava na lista. O que será que ela queria?

- Você. – ele sussurrou sua voz quase inaudível, mas ele sabia que ela estava próximo. Sentia o calor que ela emanava, e um cheiro... Baunilha? – O que quer aqui? Veio me dar uma bronca?

- Ah Jonathan. – ela lamentou-se, e aquelas palavras o fizeram sentir-se amado, como nunca havia se sentido antes. – Eu sinto tanto, tanto por não ter salvado você.

Jocelyn entrou em seu campo de visão, e ele podia jurar que nunca tinha visto pessoa mais linda. Algo dentro de sua cabeça disse, Ela é sua mãe, ela está aqui, diga a ela tudo que sempre quis dizer. E daquela vez, ele finalmente fez algo por vontade própria.

- Mãe. – Ele sussurrou, engasgando com o próprio sangue. – Eu... Eu sinto muito. Eu fiz por você. – as palavras atropelaram-se umas nas outras, enquanto ele lutava para terminar o que há tantos anos queria falar. – Ele disse que eu tinha um defeito, e esse era o jeito de concertar.

Os olhos de Jocelyn brilhavam, e ele teve consciência de que ela estava chorando.

- Mãe. – Ele falou, lutando para a voz soar clara. – Eu te amo.

- Eu também te amo, Jonathan. – Ela falou. – Eu sempre te amei.

E ele soube que aquelas eram palavras verdadeiras, soube que era verdade, e nunca sentiu tanta felicidade na vida. Não era como as palavras de Lilith, carregadas de veneno e afeto demoníaco, interesse. Lilith falava com intuito de poder. Jocelyn falava com amor.

- E-eu...

- Shh. – Jocelyn disse, fazendo carinho em seu rosto. – Não fale nada. Feche os olhos, e durma.

Antes de fazer o que ela pediu, ele resolveu fazer um pedido.

- Canta para mim? – ele perguntou inseguro.

Jocelyn sorrio, as lagrimas ainda caiam e molhavam seu rosto.

- É claro que canto, meu filho. – Ela falou ao mesmo tempo em que buscava a mão dele, e sem medo ele estendeu os dedos para ela, como um ultimo esforço. A mão dela era quente e confortante. – Durma meu amor.

Sebastian fechou os olhos, e nunca se sentiu tão feliz por adormecer. 


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Notas finais do capítulo

Bom, o final eu meio que criei, com base em algumas coisas que Cidade das almas perdidas deixa para a gente deduzir. Eu particularmente pensei em colocar a Jocelyn matando o Sebastian, mas não sou boa em cenas de luta, mas tenham em mente que foi ela que fez isto aqui na fic. ( Eu acho que ia ser muito interessante se a Jocelyn matasse o Jonathan. Seria uma ótima reviravolta).
Bem, agradeço a vocês que resolveram ler. Obrigada!