– Que tom de voz é esse? Até parece que você tá tipo, muito surpresa! Hello! Você sabe que sou afim dele.

– É, mas ontem mesmo ele foi falar com você e você não se iludiu. Você não quis! - Minto. Tá, na verdade eu só não esperava que ele demonstrasse interesse em mim essa manhã e fosse atrás da minha melhor amiga no mesmo dia. Que droga, Marie. Por que não esperava? Eu não devia estar surpresa com isso. Afinal, ele é um canalha. Tão canalha que é até difícil de aceitar que alguém possa ser assim. E o pior, é não poder contar tudo pra ela. Eu devia, mas não posso... - Mas, me conta.

– É, mas isso porque pensei que ele nem tava tão afim. Mas pra ele vir correr atrás dois dias seguidos, do jeito que ele é orgulhoso, não falava a dias comigo... Ele deve estar.

– Na verdade ele não é orgulhoso, só tinha esquecido mesmo de você. - Digo por impulso.

– Ai, Marie. Não fala assim.. Até parece que você me acha um lixo e que ninguém pode realmente ser afim de mim, credo.

– Não, você não é um lixo! Nunca. Não pense isso. Mas é que ele não consegue mesmo ser afim de ninguém, Ann. E você sabe disso.

– É, talvez eu saiba. Mas como você pode saber, hein? Me diz! Você nem conhece ele direito.

– Eu conheço caras como ele de longe.

– Aham, aham, Marie... Eu sei, você já se decepcionou muitas vezes. Eu sei, teve o Ian e blá blá. Mas nem tudo que acontece na minha vida irá acontecer na sua. Bom, liguei pra te contar isso porque fiquei feliz. Achei que também ficaria feliz por mim, mas pelo visto, não né?

– Eu só quero te ver bem...

– Mas eu tô bem! Com ele.

– Quero te ver bem por muito tempo, não só por um momento. Mas tudo bem, eu não vou falar mais nada. O que ele te disse quando pediu pra voltar?

– Que sentia minha falta, pediu pra eu dar mais uma chance, que eu não ia me arrepender... E aí a gente foi no parque correr. E ele foi um fofo comigo! Aliás, seu irmão tava lá andando de bicicleta com um amigo dele.

– Hum.. E faz quanto tempo isso?

– Algumas horas. Uma, eu acho.

– E ele já te mandou mensagem?

– Não, mas sei lá, ele deve estar tomando banho né. Ou vendo algo importante.

– É, deve sim... - Só que não. Ele deve estar falando com outras e daqui a pouco vai fingir que lembra de você. - Bom, eu vou desligar. Tenho que lavar a louça e ir buscar o João na casa do Caio.

– Ok, beijos.

Desligo o celular, passo pela cozinha e meu pai estava concentrado lendo um jornal. Pego as chaves e saio de casa, em direção a casa do amigo do meu irmão. Ele estava dormindo lá a dois dias seguidos, e eu já tava com saudades! Eu tento ser a mãe pra ele que ele não tem... Se é difícil pra mim, não quero imaginar o quanto deve doer nele. Por isso faço todas as suas vontades possíveis, deixo ir na casa dos amigos, levo na escola e busco. Faço sempre o que ele mais gosta de comer no jantar, mas também ensino ele a cozinhar algumas coisas. Mimo, mas educo. E meu pai é por aí também.

A casa do Caio fica em frente ao tal parque que Anne disse ao telefone, bem em frente mesmo. E posso ver, de longe, um menino-homem com barba mal feita, sorriso malicioso e uma blusa da Hollister verde limão. Só não consigo ver seus olhos cor de amêndoa. E ele estava acompanhado... Bem acompanhado, aliás. Imagino a desculpa que ele dará a Anne caso ela pergunte porque a demora pra mandar um sms. "Ah, eu cheguei em casa e dormi." Com certeza o mesmo que ele já deve ter dito pra tantas outras... Apresso os passos quando noto que fiquei um tempo parada olhando. Chego até a casa e bato na porta.

– Ah, deixa ele ficar mais um pouco, por favor. - Implora Caio.

– Ah, ele já ficou com você dois dias.. Tá na hora dele ficar um pouquinho com a irmã dele aqui, não acha? Outro dia ele volta, prometo!

– Promete mesmo?

– É claro.

– Então tá, tchau João!

– Tchau Caio!

Pego a mochila do João e coloco nas costas, ele me dá a mão e vamos caminhando até em casa. E ao dar uma olhada naquele banco em que agora mesmo haviam duas pessoas, noto que não estão mais ali. Bom, as coisas devem ter ficado mesmo quentes...