"Querido diário, (Querida mãe)

São por volta de cinco da tarde, e eu tenho que ir na farmácia comprar uma escova de dente nova pro João. E ir no supermercado comprar umas coisas que estão faltando.. Coisas que eu não era responsável em fazer quando você ainda estava aqui, mãe. Por que você se foi? 

Ah, mãe. Tá tudo tão confuso. Desculpa por não ter te escrito todos esses anos... É que escrever se tornou algo difícil pra mim desde que você foi embora. Lembro como se fosse hoje quando você me deu esse diário, meu sonho era ser escritora e você me ajudava sempre, dizendo pra sempre acreditar nos meus sonhos. Mas esse sonho morreu junto com você. Hoje escrever se tornou uma tarefa difícil pra mim. E escrever sobre meus sentimentos, mais ainda. Meu psicólogo sempre tem me dito que escrever faz bem pra esvaziar a alma, e bom, eu tô precisando esvaziar a minha, acho que por isso estou fazendo esse esforço. Você ainda me protege e cuida de mim aí de cima, certo? Como toda mãe protege sua filha...

Aliás, meu pai disse que acha que eu já superei, que não preciso nem de psicólogo mais. E eu já superei mesmo. Eu sempre supero tudo, sempre tenho forças e sei que é você quem me envia isso. Eu tô tentando ser uma mãe pro nosso menino, mãe. Pra ele deve ainda mais difícil do que pra mim. 

Falando em superar, eu esqueci ele, mãe. Ele, você sabe. Ele por quem muito tempo eu chorei... E sei que se você estivesse aqui, não me deixaria ter chorado. - Paro a escrita por um momento, minha boca começa a tremer e meus olhos lacrimejarem. Por que é tão difícil ainda viver sem ela? E por que eu tô fazendo isso? Escrevendo, me torturando? Seria tão mais fácil com ela aqui, eu só precisaria de um abraço e não de tudo isso. Ainda assim, respiro fundo e continuo. - Eu nunca te falei dele, mas sei que você sabe de cada pensamento meu, como sempre soube.

Hoje o dia foi confuso... Eu acordei com o John, mãe. E tá acontecendo com a Anne o que aconteceu comigo. Exatamente o mesmo, ou quase. Quando eu estava com o Ian, aquela minha outra amiga, desde a infância, foi lá e ficou com ele. E eu odiei ela. Mas ela não teve culpa nenhuma, até veio me contar. Já ele, sim. Ele sabe muito bem como conquistar alguém através de palavras, de sentimentos falsos. E o John também. O John conquistou a Anne, terminou com ela, e agora tá aqui dando em cima de mim. Ele pediu pra voltar com ela ontem de manhã. E a tarde e a noite já estava tentando ficar comigo.

E hoje eu acordei com ele. O que foi que eu fiz? Devo contar pra Anne? Ela também me odiaria? Eu tenho tanto medo de perde-la, já perdi você... Não quero perder a única amizade verdadeira que tenho. E, bom, segundo ele mesmo, não fizemos nada. E eu também não me lembro de nada. Portanto, não fiz. Não vou contar, é isso. Pronto. Espero que eu não me arrependa."

Fecho o diário e guardo a caneta. E então fico aflita, me lembrando do meu passado. O certo seria eu contar, eu sei disso. Mas não posso correr o risco de Anne ficar brava comigo. Eu não vou errar com ela, não vou fazê-la sofrer. E eu não ficaria com alguém como ele. Não outra vez.  

Meu telefone toca, e atendo no terceiro toque. Era Anne. Um milhão de coisas se passam pela minha cabeça, e meu coração se aperta. Será que ela soube de algo? Ai meu Deus.

- Amiga!

- Oi, amor.

- Eu tenho uma novidade pra te contar, ai, tô tão feliz, você não sabe o que aconteceu! - E ela parecia feliz mesmo. E isso me alivia, muito. Agora mesmo é que eu não conto, não posso estragar essa felicidade dela.

- O que aconteceu?

- Eu e o John voltamos!

- O QUÊ?