Já são por volta de dez da noite, e hoje vai ter um baile em um dos melhores clubes da cidade. E eu tô precisando me distrair e aproveitar o resto de férias que me restam. Opto por uma camisa rosa, um shorts jeans com uns rasgadinhos e desfiado, um cinto marrom e salto dourado com spikes. Passo de maquiagem sombra branca 3D, delineador, rímel, base e pó e batom vermelho. Espero Caroline chegar, pois vamos juntas. E assim que dão onze da noite, ela chega.

- Oi amor! - Diz Caroline, me cumprimentando com um beijinho no rosto. Vamos?

- Vamos!

Pego minha bolsa, colocando dentro dinheiro e chaves, e saímos pela porta, o pai dela nos espera na frente com o carro estacionado. "Você não quer mesmo ir?" Pergunto por sms para Anne, e ela responde que não, e sei automaticamente que ela deve estar chorando em casa. Eu odeio tanto vê-la sofrendo assim, queria poder fazer algo pra mudar o que ela sente por esse tal de John. Queria na verdade, poder mudar e concertar cada homem do mundo. Queria tanta coisa, mas não passa disso, é só querer, não poder. E pensando em canalhas, me vem em mente inevitavelmente uma pessoa. Aquele. Aquele que deixou de ser ele. Aquele que era o único, mas preferiu ser mais um. Imediatamente expulso-o de meus pensamento, o que não é difícil. Não hoje em dia.... Não agora que eu superei.

Logo chegamos e o clube está lotado. Eu tenho dezesseis anos, mas consigo passar como de maior, fingindo ter esquecido o RG. Carol logo se junta com algumas pessoas, porque ela é bem conhecida, e eu fico sozinha no meio da festa, e completamente desanimada. Droga. É por isso que odeio ir em bailes. Aliás, o que estou fazendo aqui? Você veio aqui pra se distrair, Marie. Aproveite. Digo a mim mesma e vou em direção ao bar, peço uma tequila e viro. Duas. Três. Ok, por enquanto já tá bom. 

Vou até a pista de dança e vejo tudo quase que num borrão, tudo fica muito engraçado pra mim, ando meio cambaleando e acabo meio que esbarrando em alguém. 

- Olha por onde an... - Reclama alguém, e quem quer que seja deixou a frase por aí. - Marie? 

Eu me viro e me deparo com John. Apenas dou um sorriso cínico pra ele, e me seguro pra não começar a xingá-lo de tudo que é nome. Controle-se, Marie. Você está sobre o efeito da bebida.

- Não, prazer, Britney Spears. - Ironizo, e simplesmente dou as costas pra ele.

- Espera. - Ele segura meu braço. De novo, como hoje a tarde. Ah, se ele soubesse o quanto isso me irrita. E no momento em que ele segura, pareço estar sóbria novamente. - Nos encontramos de novo, acho que é o destino... Não acha?

- Prefiro a optar por: cidade pequena.

- Sim, cidade pequena, mas nem nos conhecíamos antes.

- Já nos vimos antes, John. Muitas vezes. Só nunca nos falamos. Como faço pra voltar no tempo?

- Já, já, muitas vezes. - Ele relembra com um sorriso no rosto, ignorando minha pergunta. - Como aquela na esquina do teatro, que você estava com uma blusa azul, lembra?

- O quê? Você lembra até a cor da minha blusa? - Indago. Porque eu nem se quer lembro de tê-lo visto na esquina do teatro algum dia. - Acho que você está me confundindo com outra pessoa.

- Por favor... - Ele fala num tom de sarcasmo, que não consigo compreender.

- Por favor o quê?

- Você é inconfundível, incomparável. - Ele diz e dá um passo a minha frente, chegando cada vez mais perto. - É impossível confundir ou esquecer de ter visto alguém como você. E aí, quer ir pra um lugar mais... Calmo? - Fala abaixando o tom de voz em meio a música alta, me fazendo ter um pouco de dificuldade de ouvir, e pertinho do meu ouvido. Também me aproximo do ouvido dele, sorrindo, e falo mais baixo ainda.

- Nunca.

Saio de perto dele e volto até o bar, se eu já estava sem clima pra festa, imagina agora. Ah, como esse garoto me irrita. Peço mais uma tequila, e mais outra, e fico ali, sentada, bebendo por um bom tempo, várias doses seguidas. Até que uma hora, eu simplesmente apaguei.