―Lokesh – Ren pronunciou e cedeu a mão na madeira da mesa.

O Sr. Kadam ficou em silêncio, ainda encarando Kelsey, ele começava a acreditar na hipótese que a garota acabara de falar. Se fosse mesmo Lokesh, com certeza ele saberia sobre Nilima e seu dom de reconhecer o ambiente a sua volta. Pensava, agora, que Lokesh poderia querer matar os príncipes, mas o motivo parecia ser uma incógnita. Durga, o reino, a princesa, alguém. Tudo passava por sua cabeça.

―Ren, precisamos conversar. Senhorita Kelsey poderia nos dar licença por alguns minutos? – perguntou sorrindo e suavemente.

―Claro – ela disse levantando se.

Após a garota sair da sala e fechar a porta, Sr. Kadam pegou um caderno, era o caderno de anotações de Ren. O rapaz ao ver a capa deixou passar uma expressão de medo. Então o Sr. Kadam havia lido tudo, pensou engolindo seco.

―Ren, você namorou com a princesa Yesubai? – Kadam perguntou sorrindo.

―S-sim – ele gaguejou.

―Ela morreu tem muitos anos, certo?

―Sim – Dhiren sentiu raiva ao lembrar o jeito que ela falecera.

Ele sabia que o que aconteceu com a mulher era culpa sua. O fato de ela ter se jogado da ponte que ligava o reino em que morava ao seu, era a prova que magoara Yesubai a ponto de a mesma suicidar. As imagens do sorriso da morena e do cabelo sedoso negro passavam em sua mente. Apesar, de saber que naquele momento o que sentia não era amor, e sim uma paixão, percebia que Yesubai fora uma fase feliz que antecipara a invasão do seu reino por Lokesh.

―Quem era o pai de Yesubai? – Kadam perguntou esperando o nome do rei.

―Bem – Dhiren pausou para buscar memórias sobre isso -, era o rei vizinho.

―Que rei?

―O pai dela – respondeu em um ato reflexo.

―Quem era o pai dela Dhiren? – Sr. Kadam falou em um tom mais alto e batendo a mão na mesa.

―O rei - o rapaz disse abaixando o rosto, pois sabia que aquela técnica era usada em interrogatórios.

Os dois ficaram silêncio, somente se ouvia o barulho dos galhos secos balançando por causa do vento e dos alunos passando pelo corredor. O que estava acontecendo com Kadam, por que de um momento para o outro decidira interrogar Ren do mesmo jeito que ele fazia com os capturados do reino? Aquilo estava fazendo um choque surgir pelo corpo de Dhiren. Não agüentaria mais tempo, precisava fugir se não aconteceria um acidente ali.

Levantou. Suas mãos tremiam e o corpo pedia para que o lado que sempre quis esconder viesse à tona. Correu até a porta, tentou abri-la e por segundos pensou que não conseguiria passar. Abriu. Andou por entre os corredores, esbarrando nas pessoas. Sua respiração estava pausada e profunda, pois faltava ar em seus pulmões. Estava acontecendo, ali no corredor. Correra o tanto que pode. Viu uma porta de saída. Abriu. Era agora.

O tigre tomara o seu corpo. Tudo ficou escuro por um instante. A dor passara e agora conseguia respirar normalmente. Olhou para a escola e viu que pela janela o Sr. Kadam o encarava. O homem parecia estar triste e descontente com o que acabara de acontecer: Ren, não pode controlar o tigre.

*****

―Kells, cadê o Ren? - Tifany perguntou no intervalo das aulas.

―Eu não sei – ela respondeu preocupada.

―Se eu soubesse que ele iria fugir de você teria ido com vocês comer algo.

―Ele não fugiu – Kelsey ficou vermelha -, ele deve ter ficado conversando com o Sr. Kadam.

―Se eu fosse você iria atrás dele.

A última frase que Fany pronunciara fez com Kelsey sentisse que a amiga estava certa. Algo, além de Tifany, dizia que Ren precisava dela. Estavam namorando, mas ela ainda continuava a ajudá-lo. Antes de o próximo professor chegar, saiu da sala e foi em direção ao último local que viu Ren. Bateu na porta do Sr. Kadam e esperou até que ele a abrisse. O homem sorriu quando a viu, lembrando se que com certeza a garota acharia Dhiren.

―Senhorita Kelsey que bom vê-la novamente.

―Igualmente. O senhor sabe onde Ren está? – falou após perceber que o mesmo não estava no local.

―Não – ele negou fechando os olhos e abaixando a cabeça -, tive uma conversa com ele e acho que o estressei. Procurei por toda a escola, mas não achei um sinal que fosse.

―Ma-mas...

―Por favor, senhorita Kelsey, você poderia encontrá-lo estou com medo de que algo aconteça. Ele saiu do prédio da escola em forma de tigre. Se algum aluno vê-lo ou se ele machucar alguém... Não sei o que pode ser de Dhiren.

―Eu vou atrás dele – disse se virando.

Kelsey estava com raiva. Raiva porque deixou que isso acontecesse. Ela não sabia o porquê, mas sentia como se Ren fosse sua responsabilidade. Seu coração dizia que Ren estava perto e que ele pedia para ser achado, entretanto não podia se mostrar. Kells por instinto correu. Abriu a porta que ligava o prédio ao jardim. Olhou em volta, só via o branco da neve. Olhou para o chão para observar se havia pegadas. Nada.

A brisa gelada batia em seu rosto e levantava, levemente, a barra da sua saia. Alguns fios de cabelos que estavam soltos, batiam na sua bochecha e entravam em contraste com sua pele branca. Seu coração batia forte e, assim, sua pulsação ficava acelerada.

―Ren! – gritou, mas nada aconteceu.

Esperou alguns segundos, talvez ele estivesse ali, no jardim, escondido. Depois de esperar, andou para dentro do jardim... Talvez, Ren estivesse na... Estufa. Correu até a estufa, passou pelas flores que eram típicas da Índia, mas que agora estavam brancas. Corria.

―Ren! – gritou novamente quando chegou próximo ao local.

Escutou o som de algo caindo. Abriu a porta da estufa, com dificuldade por ter algo a prensando. Olhou dentro do lugar. Via as flores: brancas, rosas e vermelhas. Esbarrou em uma cadeira que tinha um regador e logo, encostou-se à mesa para arrumar os vasos que fez que caísse.

―Ren – suspirou ao ver o pelo branco do tigre ao lado de sacos de terra.

Foi até e ele e acariciou o seu pelo. O felino estava de olhos fechados e deitado no chão. Ao perceber a presença de Kelsey abriu-os lentamente, quando a viu moveu se um pouco para poder sentir o cheiro da garota.

―Por que você sumiu? – ela sussurrou enquanto passava a mão na orelha dele.