Se tudo não era um mito. Se era realidade.  O Tigre branco e Ren eram os mesmos.

Por impulso Kelsey correu para alcançar Dhiren, que havia se distanciado. Lágrimas escorriam pelo seu rosto e marejavam seus olhos, deixando somente a imagem do rapaz nítida. Ele era o seu objetivo, mas por quê?

Kells abriu os braços, queria sentir o calor do corpo dele para ter certeza que era real. Por fim, quando já estava bem próxima o abraçou por trás. Ren que ainda andava, não entendeu o que estava acontecendo, somente vira as mãos de Kelsey apertarem o seu tronco, o impedindo de movimentar. Não dava para ver a expressão dela, já que ele estava de costas, mas podia ouvir um murmurar de choro que a garota fazia.

―Kelsey, o que aconteceu? – não obteve resposta.

Os dois ficaram abraçados por um tempo, sem contato visual e sem conversarem. O choque que Ren produzia em Kelsey era calmante para ela e a deixava feliz. Aos poucos suas lágrimas foram parando e Kells conseguia pensar nele, sem que a angustia tomasse conta de si.

―Kelsey  - ele falou quando ela soltou seu corpo e girou para olhá-la.

Quando Ren se virou via que Kelsey estava com a cabeça baixa, ela limpava o rosto. Por instinto ele ajudou a limpar as lágrimas que ainda corriam por sua bochecha. A brisa continuava deixando o cabelo dela por cima da face, não dando para ver o tanto que seus olhos estavam vermelhos.

―Kelsey, não chora – Ren disse sorrindo ternamente para alegrara e abaixou-se um pouco para analisar a expressão da mesma – Por que você está chorando?

―E-eu – Kells não conseguia explicar o que estava sentindo, era um sentimento de compaixão por Ren, por ter experimentado o que ele sentia.

―Se quisesse me abraçar era só pedir – ele sussurrou e abriu os braços em volta dela, a apertando com delicadeza, para não machucá-la ― Eu já te disse que você me lembra minha mãe?

―Na-não – ela murmurou com o rosto encostado na blusa de frio dele.

―Então, vou te falar: você tem o mesmo sorriso que ela e é tímida igualmente. E mais uma coisa tem uma abraço muito bom.

Ren soltou Kelsey e colocou suas mãos no rosto dela, levantando seu olhar para ele. Os dois ficaram se encarando sem dizer nada. Parecia que o silêncio era a forma de conversarem e perceberem o que o outro estava sentindo. Kelsey olhava diretamente para os olhos azuis, percebia que Ren não era calculista e muito menos frio, ele era quente e terno.

Dhiren largou Kelsey e sorriu para ela, se não estivesse em sã consciência poderia tê-la beijado ali mesmo. Mas, não, ele tinha medo de tudo acontecer como fora há alguns anos.

―Vamos? – ele perguntou sorridente pegando a mochila dela e a segurando – Estamos a duas quadras de sua casa. 

Kelsey consentiu e o seguiu logo atrás em silêncio.

―Kelsey, por que você está tão calada? Parece estar com medo de mim agora. – ele riu.

―Kells – ela disse baixo – pode me chamar de Kells.

―Tudo bem, Kells  – Ren sorriu – Por que está tão calada?

―E-eu... Não sei te dizer o porquê. – pausou hesitando em continuar a frase, pensava se diria ou não que tinha a impressão de que ele fosse um príncipe e possivelmente o tigre, que agora tinha certeza que vira. – Ren... Você é um príncipe?

O silêncio que antes era bom, agora se tornara uma eternidade. Ren, não sabia como ela havia descoberto isso, mas sabia que em tudo tinha um dedo de Durga, a deusa que fora capaz de amaldiçoá-lo sem razão qualquer existente que não seja o reino.Ele precisava de Kelsey. Como o Sr. Kadam disse cada um dos seus antepassados, que receberam alguma parte da deusa tiveram a ajuda de alguém para auxiliá-los e Ren pressentia que era Kells, essa pessoa.

―Sim – disse com a expressão séria -, tenho um pequeno reino na índia, mas ele foi tomado quando eu era pequeno. Sobrando a mim somente o trono, mas não o poder.

―Lamento – Kelsey respondeu tímida – Isso explica muitas coisas, principalmente seu autoritarismo e dominância.

―Então você me acha autoritário e dominador?  - Ren perguntou com a voz áspera.

―Des-desculpa, não quis ser rude. – ela parou de andar se sentindo culpada por ter sido tão rude com ele.

―Eu estava brincando. Fica calma. – ele sorriu – Concordo com você, às vezes sou inculto e autoritário, mas nada que não possa ser explicado e acredito que você tenha resposta para isso.

Os dois estavam parados em frente à porta de Kelsey, Ren entregou a mochila a colocando nas costas da garota com cuidado. Ela o olhava perplexa, será que ouvira errado? Então estava certa sobre o tigre. Dhiren era mesmo o tigre branco. Se Kells tivesse o coração duro e racional como os seus pais, não acreditaria nisso, mas agora que Ren afirmara que era um príncipe, estava certa de que ele poderia ser o felino.

―Ren, ontem... Aqui na porta de casa – suspirou – Aqui na porta de casa... Eu vi um tigre branco – a pupila de Dhiren dilatara ao escutar aquelas palavras que saiam como sussurro da boca de Kelsey – poderia ser possível o tigre... Ser você?

Ouviram o barulho de um carro no asfalto e aquela brisa que antes estava presente em frente ao bosque voltara junto a eles soprando um pouco mais forte. O vento, levava para a direção da cidade nuvens negras que pareciam ser de chuva. As brisas se tornaram fortes trovoadas e tudo pareceu escurecer no dado momento que Kelsey fez pergunta. O Sol que antes estava irradiando, fora tampando deixando o ambiente mórbido.

―Sim – Ren disse e abaixou a cabeça – Isso seria possível, desculpa se não...

―Eu sabia – Kelsey o interrompeu – Quando vi o tigre... Depois quando te vi. Eu não havia pensado nessa possibilidade. Mas, quando Nilima terminou de me contar a história sobre o príncipe. – ela se exaltava para falar, como se tudo viera a sua cabeça naquele momento – Como não liguei as coisas antes? Eu... Parece tudo tão surreal.

―Kells – Dhiren pegara as duas mãos dela e pressionou com delicadeza – eu preciso de sua ajuda.

―Minha ajuda? – Kelsey repetiu confusa.

―Sim. O Sr. Kadam falou para mim mais cedo, que eu precisava achar alguém para me ajudar como meus ancestrais, quando eles passaram por alguma situação difícil. De acordo com alguns documentos eles se encontravam por destino e você... Você é a única pessoa que soube de mim e não quis...

―Não quis te deixar como sua outra namorada? –questionou constrangida.

―Isso – Dhiren respondeu com um ar consternado – Pode me ajudar?

―Mas como, eu não... Sabe ainda não desceu – Kelsey soltou suas mãos e as apoiou no coração – Eu sou muito incrédula para isso... Se eu não tivesse te visto como tigre não teria acreditado.

―Kelsey, só de você estar aceitando isso, de ter me visto em forma de tigre já significa muito. Quero uma vida normal, poder tomar meu reino novamente e só isso. Acredito que a Deusa tenha algo para você junto a mim.

―Ren, eu não sei o que fazer. E poderia ser qualquer um a descobrir isso. Poderia ser outra pessoa. Eu queria muito poder dizer que posso te ajudar a se livrar do tigre, mas não. Isso é impossível para mim. Não tenho poderes, não tenho nada além de... Mim.

Os dois ficaram se olhando, Kelsey não entendia muito bem o porquê que Ren queria sua ajuda. Ela não podia fazer nada, somente descobriu o segredo dele, pois na noite passada Ren havia a seguido. Isso não significada nada para ela.

―Kelsey, eu tenho certeza que você é a pessoa certa a me ajudar e não peça para que eu explique o que estou sentindo, por que não saberei. Mas, por favor, faça isso por mim e por Kishan.

―Ki-Kishan?

―Sim, por ele também. Aceita?

Kelsey pensou em tudo que passou até hoje. Sua vida antes de se mudar era calma e transparente, não fazia nada mais além de estudar e tudo que viveu não trazia memórias felizes.

 Assentiu olhando para baixo. Ela estava convicta de que não poderia fazer nada, nada além de ficar olhando. Saber do segredo de Ren, não era algo para se ter medo, mas saber que ele acreditava que ela poderia ajudar dava-lhe um temor.

―Então, nos vemos amanhã na escola – ele disse sorrindo – Quero que você escute do próprio senhor Kadam sobre o que eu te falei. Ele pesquisou muito até chegar aos documentos que diziam sobre um auxiliar.

Kelsey não respondeu.

―Obrigada, Kells – Dhiren disse e a abraçou forte – Que bom que posso contar com você.

*****

À milhares de quilômetros de distância da casa de Kelsey, encontra-se aquele que cobiçara por muitos anos a deusa Durga e seus poderes. Vivia em um apartamento de luxo em um bairro rico, junto com sua neta que o servia. Com dinheiro e uma suposta fama ele parecia ter tudo, menos o domínio e soberania conseguiria futuramente se o seu plano desse certo.

―Então quer dizer que o principezinho conseguiu alguém para ajudá-lo! – um homem mesclado as sombras gritava com raiva quebrando as lousas de cristal.

―Sim, mestre – uma voz feminina em tom submisso o respondeu.

―Pensei que ele fosse a obrigar a ajudá-lo, mas não. Sempre muito moralista. – ele pausou para respirar - Ande, faça alguma coisa! Você não serve para nada! Quero que vá até os príncipes agora mesmo e tente de qualquer forma acabar com essa felicidade que pode me atrapalhar.

―Sim, mestre.

―E mais uma coisa: para meu plano dar certo quero ter em minhas mãos aquela garota, ela é a única que tem no momento uma ponte com Durga.