# Um pesadelo acordada

2:00 p.m quinta feira

Para minha alegria hoje é feriado. Tudo bem eu estava mentindo, eu não veria Victoria, poderia dormir o dia todo para sonhar com o Will se matando de um penhasco criado na minha cabeça.

Rony ia ajudar o pai a atravessar as barcas hoje, o negócio da família e eu teria que passar um tempo de qualidade só comigo.

Peguei meu ipod, o meu caderno com exercícios para amanhã e uma toalha para me deitar no chão. Assim que olhei a laranjeira me lembrei da Vicky, eu queria que ela estivesse aqui, mas a gente nem sempre pode ter o que quer...

E essa frase resumia a minha vida. Começou a tocar Coldplay e eu finalmente percebi o quanto eu me sentia sozinha. Me foquei nos exercícios o máximo que pude, mas depois de 5 minutos tudo que eu fazia era olhar para o nada e desenhar no meu caderno. No começo eu pensei que desenharia o rosto de uma garota, mas quando eu percebi que parecia familiar decidi simplesmente rabiscar algumas coisas... Quando eu percebi estava tudo coberto de espirais, era isso então eu estava me sentindo sozinha porque estava longe dela? Qual era o meu problema com essa garota? Eu não queria mais pensar nisso então simplesmente fechei os olhos e prestei atenção na musica...

Eu abri os olhos e olhei para a laranjeira, só que estava diferente... Ela estava perto demais de um penhasco, perto demais de um Will que olhava para mim com a cara mais triste do universo.

Eu estava sonhando de novo. Só que todas às vezes tudo que eu sentia era angustia. E eu comecei a fazer o meu papel e gritei:

- WILL, POR FAVOR, NÃO... – mas o vento estava forte e eu não sabia se ele estava me escutando. Meus olhos já encheram de água. Por que eu tinha que ver isso de novo e de novo? – WILL, eu sinto muito... Eu sinto...

Minha voz foi sumindo enquanto ele dava os passos para mais próximo do fim, só que dessa vez ele ergueu uma das mãos para o lado, como se chamasse alguém. Só que não era eu...

E de repente, alguém aceitou o pedido dele e segurou aquela mão. E foi uma dor tão forte ao ver isso que eu tive que me ajoelhar. Não era mais só Will, eram os dois agora que me ignoravam e caminhavam para mais perto da laranjeira, para mais perto do fim do penhasco.

E quando eles pularam. Dessa vez eu não gritei, era como se eu tivesse morrido também. E só uma coisa passou pela minha cabeça junto ao desespero.

Por que tinha que ser a Victória?

****

-Celine, Celine, hey – Alguém sacudia meus ombros com força – Está tudo bem, você estava sonhando.

Mas eu ainda estava sonhando não estava? Porque se não, que outra forma teria para que ela estivesse tão perto, com uma mão no meu ombro e outra pelo meu rosto tentando afastar meus cabelos dos meus olhos.

Eu olhei para ela, era a garota mais linda que eu já tinha visto. E eu não estava pensando direito. Uma das minhas mãos já estava próxima ao rosto apreensivo dela. Ela estava preocupada comigo, e tudo que eu via na minha frente era Victoria. Segurei o rosto dela com as mãos e rocei um dos meus dedos sobre os lábios dela. E eu percebi que por um segundo ela prendeu a respiração. E eu olhei para a boca dela, e imaginei como seria se eu chegasse um pouco mais perto...

Só que ela colocou uma das mãos sobre as minhas, e foi ai que eu percebi. Aquilo não era um sonho. Olhei para o lado, meu caderno jogado, o ipod estava longe, como se eu o tivesse arremessado.

- Celine... Você está bem? – Ela não tinha afastado minhas mãos. Só que ainda me olhava como se houvesse um problema.

Droga agora eu tinha entendido, eu me afastei rápido dela para poder esconder meu rosto. Eu estava chorando, e as lágrimas não paravam...

- É melhor você me deixar sozinha – poderia ser Victória, meu avô ou o Papa, eu não gostava que me vissem chorando.

- Eu não vou fazer isso... - Ela então pegou e se aproximou de novo, arrumando uma mecha do meu cabelo- você estava gritando quando eu cheguei, demorou um bocado para você acordar, você ficava falando um nome, Will...

Eu levantei em um pulo, já tirando algumas folhas da calça. Minhas lágrimas estavam quase secando, e eu não queria que ela me visse de um jeito tão patético como eu estava naquele momento. Chorando por causa de um pesadelo.

- É melhor você esquecer que isso aconteceu... - esquecer que eu estava parecendo uma completa lunática nesse momento.

Mas tudo que ela fez foi segurar minha mão e olhar fundo nos meus olhos. Os olhos dela eram quase amarelos, e eu não conseguia me afastar deles.

- Celine, Will era seu namorado não era?

Ah, eles tinham contado para ela. Seria por isso que ela me ignorou naquele dia? Eu era a assassina adolescente.

Tudo que eu pude fazer foi suspirar. Eu não queria que ela soubesse de tudo, mas eu não queria que ela falasse aquilo de novo.

- Ele não era meu namorado. Nunca foi... - como era difícil, eu nunca falei sobre Will para ninguém, e agora eu vi o quanto ainda doía – Will era meu melhor amigo.

Ela me olhava agora e parecia calma. Eu não conseguia saber o que ela estava pensando. Não era desprezo, como Jessica me olhava, mas também ela não parecia feliz.

Só que ela ainda não tinha soltado minha mão. A leveza do toque dela naquele momento, eu só queria puxá-la para mais perto de mim, como se só aquele gesto não fosse suficiente. Eu queria mais.

- Me falaram que você... - ela pareceu perceber o que ia falar e sua voz sumiu. Não tinha problemas eu completei para ela.

- o matou... Não foi isso que falam por ai? Que eu o abandonei bêbado em uma floresta, que eu o enganei me fingido de morta. Que ele se sentiu tão desesperado que enfiou a moto na frente de um caminhão? ? FOI ISSO?

Eu não conseguia me controlar, era como se tudo que eu tivesse guardado para mim tivesse saído agora. Eu tinha cerrado meus punhos e estava gritando com uma garota que não merecia isso, mas eu não me importava. Eu estava quebrada por dentro, há muito tempo. Por mais que os dias passassem, por mais que eu me distraísse. Eu queria esquecer tudo que eu fiz.

- Eu só queria esquecer, eu só queria que fosse eu naquela moto... Assim como todo mundo queria.

- Eu não queria que fosse você, por mais que eu sinta muito pelo seu... Amigo, mas eu... Sei que não foi isso que aconteceu.

Ela não fugiu, só ficou do meu lado. Ela não disse que “achava” e sim que ela “sabia”. E foi como se a tempestade tivesse acabado, eu não queria que ela se afastasse, eu queria que ela escutasse o que realmente tinha acontecido. Ninguém mais precisava saber, só ela.

Cruzei minhas pernas e me sentei na frente dela, peguei uma das suas mãos e a coloquei junto da minha, eu precisava organizar meus pensamentos, e se olhasse diretamente para ela eu ia esquecer o que eu queria falar.

Eu me distrai um pouco, virando as mãos dela e olhando cada detalhe e depois entrelaçando meus dedos com os dela. Eu respirei fundo e me preparei para contar o que tinha acontecido.