- Alô? Cata?

- Caíque? É você? Está tudo bem? Meu deus, o que aconteceu?

- Estou na minha tia.

- Por quê? Desde quando?

- Desde a última ligação minha. Assim que te liguei, antes de falar, minha mãe passou chorando, e foi até a cozinha. Esqueci completamente do telefone, que caiu no chão. Quando cheguei à cozinha, ela havia se cortado com um caco de vidro, de um copo... digo... propositadamente.

      Não sei quem chorava mais, eu ou ele. Ele estava órfão. Pensei o quão horrível deve ser isso. Seu pai morreu no hospital, e ao receber a notícia, sua mãe se matou na sua frente.

- Queria te ver, queria um abraço. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, o cara do juízo de menores apareceu aqui e me mandou pra morar com a minha tia. Terminei a escola aqui, e faço dezoito em janeiro. Volto pra te ver, eu prometo.

      Agora eu chorava de soluçar. Dois rolos de papel jogados no lixo, junto com minha angústia em forma de caquinha. (eca)

- Você não faz idéia do quanto eu me arrependi de não tê-la beijado aquele dia.

     Aquele dia. Parece tão distante. Toda raiva que eu havia acumulado dele havia se dissipado. Totalmente. Se transformado em desejo. Desejo de tê-lo aqui comigo, desejo de um abraço, desejo de confortá-lo.

- Sabe,... Eu tenho voltado todos os dias até a praça. Eu sabia que você não ia aparecer, no fundo, eu sabia. Mas não podia cometer o erro de deixar passar. Não de novo.

- É uma boba, mesmo – ele riu.

- Que saudade da sua risada. - minha risada saiu melancólica.

- Que saudade de você. Do seu abraço, do beijo que nunca tive...

- Nossa, você volta só em janeiro?

- Sim, vai passar rápido, Cata.

- É, vamos pensar assim.

- Eu te amo. Vou desligar, ok?

- Ok. Eu te amo, muito mesmo.