–KRYN! - gritei, com raiva. - Onde diabos você estava?!

–Calma!

–Calma é uma ova! Você me deixou dias aqui, sozinha! Sem nenhuma explicação decente, mesmo depois do que eu passei! Mas, afinal, o que foi que aconteceu?

–Como assim?

–Como assim?! Eu estava em Camelot, de repente o meu quarto começou a pegar fogo, eu desmaiei e acordei em Rivendell!

–Ahhh. Isso. Foi exatamente por isso que eu fiquei fora.

–Ãhn?!

–Quando percebi que o quarto estava em chamas e que você tinha desmaiado, eu tinha que pensar o que fazer sobre aquilo, por isso tive que entrar em uma reunião da minha ordem, mas eu não podia te deixar lá até decidirmos alguma coisa, por isso, ao meu olhar, Rivendell parecia ser o lugar mais seguro para você ficar.

–Parece que nem aqui eu estou segura.

–Pera ae. O que?

–Orcs nos atacaram na noite passada. Eles queriam me sequestrar. Mas o que eu quero saber é...por que o quarto pegou fogo do nada? Por que eu escuto vozes na minha cabeça? Por que eu tenho visões, sonho com coisas que nunca vi na minha vida? E...como é que eu fiz um feitiço?

–Digamos que você tenha...magia.

–Eu...tenho...magia?!?! - falei, pausadamente.

–E você é uma vidente. Das poderosas.

–Vidente?! - murmurei. - Mas e as vozes? E por que tantas pessoas querem me sequestrar e me matar?

–Isso é algo que ainda está além do meu entendimento. Um dia na certa saberemos.

–Algo que até agora não lhe perguntei é...que pedra é essa? - perguntei, mostrando a pedra no meu cordão.

–Essa é a pedra diolgartyr. Porém alguns, como os elfos, a chamam de pylacery.

–E ela serve para...? - perguntei.

–Ela tem a habilidade de causar uma metamorfose em seu portador, que no caso é você.

–Ainda não entendi direito...

–Quando ativada você pode se transformar em qualquer coisa que você quiser. Qualquer forma, qualquer raça, gênero, cor, aparência, vestimenta. E o melhor jeito de usá-la é com um bracelete, como este que você tem em sua bolsa.

–Então quer dizer que, se eu quiser, eu posso de repente parecer como um...elfo?!

–Exatamente. Esse é o raciocínio.

–Hmmm. Interessante.

–Eu acho que você deveria olhar novamente na sua bolsa...

–Por que?

–Olhe, e veja. - falou Kryn, e assim eu me aproximei da bolsa, e dentro dela havia agora uma bela flauta. Ela era toda enfeitada. Era muito bonita, porém, nos primeiros momentos, eu me perguntei para que diabos eu iria precisar de uma flauta.

–Uma flauta?

–Sim, uma flauta. Uma flauta mágica.

–Para...?

–Muitas coisas. Diversos encantamentos podem ser feitos com ela. Você pode encantar pessoas, objetos...

–Então do nada eu vou virar o Flautista de Hamelin?

–Haha, muito engraçadinha...- falou Kryn, seco, enquanto eu ria. - Você ainda vai aprender a usá – la direito, eu coloquei um manual na sua bolsa, porém acho que não vai precisar tanto assim dela.

–Olhe novamente.

–Na minha bolsa...?

–É!

Quando olhei lá haviam vários livros. Um deles era um livro de magia, que tinha vários tipos de feitiços. Outro, era um de poções. Os restantes eram dicionários. Um deles era de vários tipos de élfico juntos. Um era de Khuzdûl, outro de Entês, um de Orkish e língua negra, um de Sindar, um de Quenya e mais um, de Valarin. O último dicionário era de Rohirric/Westron, mas não seria tão necessário, já que era igual ao inglês.

–Ta ok, mas e agora?

–Mas e agora, o que?

–Eu simplesmente vou ficar aqui? Não irei voltar para Camelot?!

–Ah, sim. Você só ficará mais algum tempo em Valfenda, logo logo estará de volta à Camelot.

–Eu queria poder explorar mais a Terra-Média... - murmurei, olhando para o vale.

–Um dia, em breve, você irá. Essa não será a sua última vez aqui em Imladris.

Nesse momento, Kryn hesitou, e depois, em um múrmuro baixo e escondido, disse:

–Só será uma das primeiras vezes...

Assim, me virei para ele e nós nos encaramos por alguns segundos.

–Em breve estarei falando com você novamente, quando você for deixar a Terra-Média.

–Tudo bem...