Doce Problema escrita por Camila J Pereira


Capítulo 10
Branco


Notas iniciais do capítulo

Bella sofreu um acidente, que não parece grave, apesar de deixá-la muito machucada.
Edward cuidará dele e parece muito preocupado e super protetor, inclusive deixando seu melhor amigo, Jasper, enlouquecido.
Bella acordará... como reagirá?



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Bella

Oh, Deus! Eu não me lembrava de muita coisa. Sabia que estava em um hospital e podia sentir que não gostava nada de estar ali. Sentia aquele cheiro de éter tão característico e pavoroso. Lembrava-me do médico de sorriso largo e brincalhão. E também de alguém retirando o cascalho de meu joelho e dizendo que ainda ia doer um pouco. Eu me lembro de ter doido muito, pra caramba! Num determinado momento, uma enfermeira aplicou-me uma injeção e eu agradeci por não senti mais todos os centímetros do meu corpo doendo. Entrei em uma espécie de transe, livre da dor. Fim das recordações.

Não sei se alguns minutos ou algumas horas ou alguns dias depois, tornei a abrir os olhos. Era tão difícil mantê-los abertos, demorei um pouco para conseguir, mas consegui. Quando o fiz não consegui ver nada além da luz branquíssima. Puxei o lençol e cobri a cabeça para proteger-me da luminosidade que feria meus olhos sensíveis. Devagar, fui colocando o rosto para fora e descobrindo muitas coisas. Algumas interessantes, outras nem tanto. Com certeza não estava mais em um hospital, mas ao olhar para meu corpo vi  que vestia uma indecente camisola hospitalar e nada mais. A luz forte não era outra senão a claridade do dia.

De tudo o que tinha percebido naquele quarto, o mais surpreendente, porém, era o palhaço de cabelos laranja e calça listrada de vermelho e branco flutuando no ar, em cima da cama. Eu o olhei espantada. Quando o meu cérebro clareou um pouco, pude notar que se tratava de um boneco inflável pendurado num gancho no teto. À direita, vi prateleiras alaranjadas repletas de palhaços de todos os tipos e tamanhos. À esquerda, um pôster gigante de um...palhaço. OK, agora eu estava oficialmente com medo.

Não consegui entender nada. Estava confusa e sem saber que lugar era esse. Tentei lembrar do que tinha acontecido, mas na minha mente eu podia ver um branco, era como se tivesse um véu cobrindo tudo.  Minha visão tornou-se mais e mais embaraçada quando a porta se abriu e ele juntou-se a mim naquele circo horroroso. Ele vestia um robe azul atoalhado, e seus cabelos estavam úmidos. Para mim ele pareceu muito bonito naquele momento e me senti muito feliz ao vê-lo ali comigo.

Edward

Quando entrei no quarto, não estava preparado para ver a cena que se desenrolou em seguida. Eu não estava entendendo muito bem e sabia a estava olhando com intensidade e espantado por ver suas lágrimas. Duas coisas novas que aconteceram: as lágrimas e seu olhar que não desviou dos meus nenhum momento, ela sempre evitava olhar para mim. Durante todo os procedimentos médicos, Bella não derramara uma sequer gota de lágrima, não deixara escapar nenhum gemido. Ela parecia uma rocha.

- Você esta chorando. - Disse sentando-me na ponta da cama.

- Estou? - Piscando, Bella tocou a própria face e seus dedos ficaram molhados. - Nem percebi. Estranho. - Franziu o cenho. - O que aconteceu comigo? Estou me sentindo...atordoada.

- Ainda deve estar em estado de choque. Afinal, ninguém colide com um Pontiac todos os dias. - Tentei mostrar-me despreocupado e alegre, mas ainda sofria por ter presenciado o ocorrido. - Você me deu um belo de um susto, pequena.

- Meu raciocínio está nebuloso. - Ela tentou esfregar os olhos, seus dedos estavam esfolados. - O que disse? Fui atropelada por um Pontiac?

- Receio que sim. - Ela me olhou assutada.

- Oh Deus! - Ela cobriu o rosto e acho que sentiu a dor nas mãos e as retirou olhando-as pela primeira  vez, ela assustou-se. - Oh, minhas mãos...estão horríveis...

- Shhh...Tudo bem, Bella. Elas vão sarar logo. - Peguei em suas mãos e depositei um beijo delicadamente em cada uma, depois as soltei e fiquei intrigado por ela não me chingar, não me repelir. Talvez estivesse mesmo em choque.

Eu não podia avaliar também o grau de consciência dela. Ela recuperou os sentidos duas ou três vezes durante o trajeto atá a minha casa, mas nunca demonstrara total coerência. Nos olhos dela, via-se o mesmo olhar vidrado que notara na sala de emergência. Rosto pálido, pupilas dilatadas. Parecia mesmo um zumbi.

- Bem, você veio do hospital para a minha casa há poucas horas. Recorda de ter estado no hospital?

- Eu...sim, estive no hospital. Lembro do cheiro e de pessoas vestidas de branco.

- Sim. - Bella parou por um momento, depois remexeu-se um pouco na cama.

- Lembro-me de estar num boliche.

- Você esteve num boliche a noite passada. - Confirmei.

- Estive em sua casa?

- Sim. Bom...e está nela agora.

- Ah sim... - Ela olhou em volta por uns instantes. - Depois de estar na sua casa as lembranças se confundem, tornam-se indistintas. No entanto, não me lembro de nenhum veículo me atropelando, seja Pontiac, Chevy ou Ford. Se bem que me sinto como se os três tivessem me atingido. Meu corpo inteiro está doendo. - Pelo menos o senso de humor negro dela ainda estava aí.

- Acalme-se, lembrará de tudo.

- Diga-me, eu joguei boliche? - Ela perguntou curiosa.

- Não ontem à noite. - Forcei um sorriso, tentando mostrar-me confiante. Porém, algo na expressão dela deixou-me mais apreensivo. - Nem chegou perto da pista. Apenas entrou e saiu. Portanto, relaxe. Está tudo em ordem, tudo se esclarecerá em breve.

- Recordo-me de tê-lo visto numa lanchonete. Você estava de farda, não? É guarda florestal ou coisa parecida? Seu nome é Edward...  - Eu sorri ao finalmente ouvi-la me chamar apenas de Edward, meu nome saindo de seus lábios era mágico.

- Na verdade, eu a prendi na lanchonete. E sou xerife, não guarda florestal. Os guardas florestais usam aquelas bermudas verdes ridículas, coisa que jamais passou por minha cabeça. E sim, meu nome é Edward... Edward Cullen. - Era uma nova apresentação, era como se alguém lá em cima tivesse dado uma segunda oportunidade para mim. - Viu? Sua memória está voltando. Por um instante pensei que estivesse sofrendo de algum tipo de trauma...

- Como fui parar lá? - Ela pareceu bastante perturbada. Eu afastei meus cabelos úmidos da testa e observei-a ficando aflita.

- Como assim? Chegou onde?

- À lanchonete. Estava com alguém? Lembro-me de uma senhora de cabelos brancos...ela parecia muito gentil...

- Elizabeth. Não, você não chegou com Elizabeth. Vamos, concentre-se. - Pedi.

- Não tenho nada em que concentrar-me. Não estou brincando. Tento lembrar, mas não consigo...Estou começando a entrar em pânico. - Seus olhos estavam alarmados.

- Escute, respire e tente novamente. - Depois de um breve momento, ela falou num tom acusatório.

- Espere um pouco! Você me jogou em seu ombro! Saí carregada daquele lugar! O que deu em você? - Opa? Acho que não seria tão diferente como a primeira vez.

- Bem, estava apenas efetuando a sua prisão. Resolveu resistir, e eu não tive alternativa.

- Por que me prendeu?

Ela estava começando a se agitar e isso não era nada bom. Eu me aproximei um pouco mais dela, com cuidado para não tocá-la.

- Não sei como começar. Vejamos...Você comeu na lanchonete e não pagou a conta. Depois, descobri que não tinha licença para dirigir motos.

- Sou uma criminosa? Não me sinto fora-da-lei. Não sou membro dos Anjos do Inferno ou coisa parecida, sou?

- Isso depende de seu ponto de vista. Eu acho que você tem todas as características de um autêntico integrante dessa gangue. Mas não. Estava viajando sozinha quando a encontrei. E, sem dúvida, é uma motociclista novata. Não sabe nada sobre motos, exceto como matar-se com uma. - Falei com um tom falso de severidade.

- Eu comi sem ter como pagar? - Ela parecia surpresa.

- Não foi bem assim. Depois de comer, você não encontrou sua carteira. Lembra-se daquela adorável senhora de cabelos brancos? Elizabeth? É cleptomaníaca. Por sorte, Elizabeth acaba sempre devolvendo o objeto roubado ao verdadeiro dono. Isso significa alguma coisa?

- Sim! Sim, eu me recordo! - Bella suspirou. - Havia uma garçonete antipática, foi abominável. Você juntou-se à ela para me aterrorizar.

- Não foi bem assim. Estava tentando fazer o meu trabalho e você estava sendo rebelde. - Ela me olhou desconfiada.

Estava me sentindo bem melhor. Era óbvio que Bella ficou meio confusa e esquecida por causa do acidente e dos sedativos. Entretanto, a memória começava a voltar.

- Está vendo? Não há necessidade de entrar em pânico. Está tudo bem. - Sorri. - Agora, preciso saber a quem devo avisar sobre o atropelamento. Eu ia verificar os documentos da moto, mas...estive ocupado demais no hospital, ameaçando o médico que cuidou de você. A quem gostaria que eu avisasse?

- Como assim? - Bella piscou.

- Sua família. Disse-me que não é casada, mas deve existir alguém preocupado com você em algum lugar.

- Minha família? Eles...Eu não...Não lembro quem...

Bella

Minha família? Eu...simplesmente não me lembrava da minha família, não lembrava nem se eu tinha uma família. De repente me senti vazia, uma tristeza imensa invadiu o meu coração. Família? Eu deveria ter tido um pai, uma mãe, talvez irmãos, mas eu não sabia, não havia nada em minha mente.

- Bella Marie Swan. - Edward me salvou. Esse era o meu nome e eu consegui lembrar disso. E por que o resto não vinha a minha memória?

- Sei disso, xerife.

E era tudo o que sabia. A constatação me abateu ainda mais. Todos tinham familiares. Lembrei-me das fotos que vi na casa do xerife. Era evidente que eu também deveria ter, em algum lugar. E decerto essas pessoas tinham nomes. Tentei lembrar de algum...nada. Eu teria uma história e lembranças maravilhosas guardadas em algum canto da minha mente por ora desordenada. Mas, por mais que tentasse, não conseguia vislumbrar nada. Era como se tivesse nascido no dia em que entrei na lanchonete.

- Oh... - De repente, o quarto inteiro começou a rodopiar e ouvi um gemido escapar pela minha boca, meu sangue fugiu do meu corpo, estava me sentindo gelada. - Não estou bem. Acho que vou... - Edward pegou o cesto de lixo que estava ao lado da escrivaninha e entregou-me.

- Use isto. – Depois o vi sair e voltar segundos depois com uma toalha úmida. - E isto também. Na testa. - Eu obedeci, era tudo o que podia fazer. Esforcei-me para manter o controle do estômago.

- Obrigada. Já estou melhor.

- Bella, se sabe seu nome, deve lembrar-se também de seus parentes e de sua...sua vida. Vamos com calma. Respire fundo e tranquilize-se.

- Eu me lembro de alguma coisa. - Resmunguei apertando o cesto nos braços como uma tábua de salvação.

- Excelente. O quê, por exemplo?

- Que não gosto que me mandem ficar calma.

- Já é alguma coisa. - Ele fez uma careta de descontentamento. - Olha só, esqueça o que eu disse e vamos começar de novo. Afirmou que se recorda de estrar na lanchonete. Muito bem. Há algo que tenha acontecido antes de você estrar lá?

- Não.

- Faço um esforço. - Eu estava ficando nervosa ainda mais com ele me exigindo que lembrasse de algo, sua voz estava alarmada e alterando-se.

- Estou tentando. Nada me ocorre antes da lanchonete.

- Bella, você deve tentar. Tem que lembrar de algo.

- Esta falando muito alto, Edward. Estou com uma terrível dor de cabeça, que se agrava sempre que me esforço para pensar.  - Massageei minhas têmporas com as pontas dos dedos, prendendo a cesta entre os braços.

- Desculpe-me, só queria ajudá-la. - Voltei a segurar a cesta com as mãos e olhei ao redor novamente.

- Por que estou vestida com essa roupa? - Lembrei-me da camisola indecente que usava.

- Sua roupa ficou em fiapos, foi melhor trazê-la vestida assim.

- Esta casa é sua? Só me recordo da sala e da cozinha.

- Sim, é a minha casa. Mas não estamos falando sobre casas. Tentamos descobrir...

- Por que essa decoração de palhaços? É bizarro. - Fui sincera, aquilo tudo poderia ser até assustador para um desavisado. - Você está bem grandinho para isso. - Falei irônica.

- Saiba que tenho um quarto de “grandinho” todo decorado de bege e preto. Este é o aposento onde meus sobrinhos dormem quando aparecem por aqui. Você se lembra deles? - Ele falou irritado por causa do meu comentário.

- Sim, lembro...os gêmeos. Tão loirinhos...como a sua irmã, Rosalie...Rosie. Conheci sua família e lembro de todos eles, só não sei nada da minha.

- Talvez estejamos nos precipitando. O médico, Jasper, comentou que você ficaria confusa ainda por alguns dias. É normal em caso de concussão.

- Acha que eu estou confusa?

- Sim. - A resposta dele me fez franzi o cenho.

- Talvez eu esteja mesmo confusa, sei lá.

- Mas está indo muito bem. Assim como Jasper previu. - Vi que ele ficou um pouco incomodado. - Está no caminho certo, Bella. Agora tenho que ir. Fique à vontade, descanse um pouco mais. Preciso falar com o seu médico, mas voltarei logo.

Eu me senti estranha de repente, era como se eu estivesse frágil de tal maneira que precisasse ficar sempre com alguém como muleta. Não sabia se chorava por me sentir assim ou se atirava a cesta nele ou se voltava mesmo a dormir. Eu não queria que ele fosse e me sentia irritada de repente, mas o que ele falaria com o médico?

- Mas espere aí! Falar o quê?

- Até logo. - Edward se foi, fechando a porta e me deixando falar sozinha. Muito mal educado isso sim. Como ele ousa me deixar sem resposta? Estávamos falando sobre a minha saúde, não?


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