Kendall

Nos últimos dias tenho dormido mais que bem. Já não me sentia assim tão bem desde há muito tempo e sinto-me realmente preenchido, como se não me faltasse nada para eu estar feliz. A razão pelo qual eu me sinto assim tem um nome, um pequeno e perfeito nome: Ema Silva. Um nome tão fora do comum para mim, mas que cada vez que eu me lembro, sobe-me um arrepio pela espinha. Eu nunca fui de me apaixonar, a vida na estrada é complicada e nunca fui rapaz de ter uma relação a sério, mas há algo nela, há algo nela que me deixa simplesmente sem palavras, sem forças para respirar. Ela é especial.
Após o que pareceram horas na cama, mas na verdade foram apenas 30 minutos, levantei-me e fui fazer as minhas necessidades. Já cheirava a panquecas na casa, calculei que o Carlos estivesse com a mão na massa. Dou graças a Deus por ter este rapaz na minha vida. Quando fui até à sala vi o Logan na parte de fora da casa com o seu portátil, James sentado na mesa a comer com o pequeno Fox sentado numa cadeira perto dele e o Carlos na cozinha com uma espátula na mão. Completamente normal.
– Então senhor apaixonado, dormiu bem? – Interrogou-me James, com cara de deboche.
– Dormi mais que bem! – Respondi, sentando-me numa das cadeiras disponíveis.
– Conta-nos tudo! – Exclamou Logan ao juntar-se a nós.
– Bem, o jantar foi super agradável, fiquei a conhecer muito dela. Depois fomos até à praia ver o pôr-do-sol e…
– Vocês beijaram-se?! – Carlos disse com uma panqueca na mão. Nós demos uma gargalhada em uníssono.
– Sim, demos o nosso primeiro beijo na praia e…
– AHHHH, eu sabia! – Carlos exclamou, fazendo-nos rir outra vez.
– Como foi o resto da noite? – Interrogou James.
– Foi muito agradável, fomos a uns bares, demos umas voltas e fui levá-la a casa!
– Quando é que a vamos conhecer? – Logan perguntou-me.
– Se vocês não se importarem, hoje. Queria trazê-la cá para jantar connosco. – Sugeri.
– Por mim é uma óptima ideia! Eu posso cozinhar, se quiseres. – Disse Carlos, juntando-se a nós na mesa.
– Sim, e eu posso ajudar! – Exclamei.
– Tu, a cozinhares? Milagre! O que o amor não faz! – Gozou James.
Dei-lhe um soco no braço e continuamos o nosso pequeno-almoço para depois seguirmos para mais um dia de praia.

Quando eram 18 horas regressamos a casa, mandei uma mensagem à Ema a dizer para estar pronta as mesmas horas e no mesmo sítio de ontem, ao que ela concordou. Enquanto o Logan e o James ficaram a arrumar a casa e a despacharem-se, eu e o Carlos fomos comprar os ingredientes para o jantar. Decidimos, quero dizer, o Carlos decidiu fazer para o jantar algo que ele chama de “Arroz con Pollo”. A única coisa que é esquisita é só o nome, porque é de comer e chorar por mais! Após termos tudo o que queríamos, fomos para casa, onde o Carlos começou a cozinhar e eu fui tomar um banho. Vesti uma roupa casual, uma manga cava verde, uns calções azuis e os meus Vans azuis. Ajeitei o cabelo, pus um bocado de perfume e fui ajudar no jantar enquanto o Carlos foi tomar banho.
Quando eram 19:50h já estava no café à sua espera. Quando a vi, o meu coração parou de bater. Todo o ar dentro de mim deixou de existir e eu esqueci-me de como se respirava. Ela estava simples, nada como no dia anterior, mas por alguma razão estava ainda mais bonita. A sua pele estava mais morena, devido ao dia passado na praia. O seu cabelo estava liso a cair-lhe sobre o corpo, o que fazia com que as suas madeixas se notassem mais. A sua blusa tapava até por cima do umbigo e os seus calções ficavam abaixo do seu umbigo, deixando uma pequena faixa de pele morena e brilhante exposta. As suas pernas, agora mais morenas, estavam mais apetecíveis e contrastavam com os seus Converse brancos. Na cara, pouca maquilhagem tinha, e estava espantosamente bonita, com os seus olhos azuis a brilharem mais que nunca. Acho que fiquei sem palavras durante algum tempo.
– Kendall? Estás aí? – Ela passava a sua mão á frente da minha cara e ria.
– Desculpa, acho que fiquei paralisado com a tua beleza. – Ri com ela.
– Uh, deixei-te paralisado? Isso é uma estreia.
Rimo-nos e não quis saber quem estava por perto. Puxei-a para junto de mim e uni os nossos lábios. E sua boca sabia a cereja e o seu cheiro podia deixar-me drogado. O que se passa comigo? Após nos separarmos agarrei na sua mão e encaminhei-a até à casa que eu e os rapazes alugamos.

Ema

A casa era uma vivenda humilde. Era grande e bonita, mas nada de extravagante. Quando entramos pelo portão a primeira coisa que se vê é a grande piscina e o relvado verde com uma cadeira de baloiço. Quando Kends me levou até ao interior pude ver uma sala grande, onde as paredes eram pintadas de um tom vermelho escuro, muito bonito. Numa das paredes tinha uma grande fila de espelhos, e por baixo destas, num móvel preto e grande estava um LCD tão grande quanto a parede (estou a exagerar, mas era enorme). Do lado direito tinha um sofá, uma mesa de jantar e ao lado da porta por onde entramos tinha uma grande entrada redonda para a cozinha que tinha tons de laranja, vermelho e branco. Era muito acolhedora e bonita.
No sofá, pude ver sentados a jogar um jogo de Futebol, James e Logan que assim que me viram pararam o jogo e levantaram-se. Carlos veio da cozinha, juntando-se aos outros. Tinha um grande avental à frente da sua roupa, o que me fez sorrir. Kendall posicionou-me á frente deles e começou as apresentações.
– Ema, este é o James, o Logan e o Carlos. Rapazes, esta é a Ema.
– É um prazer conhecer-vos rapazes! – Exclamei enquanto estiquei a mão para o James. Estava nervosa, mas sentia-me optimamente.
– Finalmente conhecemo-nos! És mesmo bonita! – James exclamou e puxou-me para um abraço, esmagando-me contra o seu 1,85m de altura.
– É um prazer conhecer-te Ema! – Logan abraçou-me. Cheirava muito bem!
– Ai caramba, que linda señorita! – Carlos abraçou-me também, fazendo-me rir.
Após terminarem as apresentações pelo resto da casa e o ambiente começar a ficar mais familiarizado, decidimos começar o jantar. Ao que parece, foi o Carlos que cozinhou e o Kendall ajudou. Chama-se “Arroz com Pollo” que para eles é muito diferente, mas para nós, Portugueses, é apenas frango com arroz.
– Então Ema, vais ficar cá por muito tempo? – Interrogou-me Logan.
– Eu não sei, eu posso ficar o tempo que quiser, porque estamos de férias na casa do meu tio David. – Respondi-lhe, dando uma garfada, aquilo estava mesmo bom.
– Muito bem! Já acabaste a escola, certo? – Interrogou James e eu acenei com a cabeça. – O que estás a pensar fazer agora?
– O que eu quero mesmo é conseguir ir para Los Angeles e começar a minha carreira musical, mas para isso tinha que ficar cá a trabalhar mais uns anos. Alugar uma casa é muito caro, e eu não tenho dinheiro para isso.
– Podias ficar na nossa casa. – Kendall disse. Eu fiquei a olhar para ele com uma cara de chocada.
– Não, era incapaz de fazer isso. Não gosto de dar trabalho e ainda por cima vocês já são quatro, mais uma pessoa era muito.
– Não darias trabalho nenhum! Aliás, só nós os quatro é muito seca, tu darias vida à casa! – Disse Carlos.
– Eu não sei…
– Hey, falamos disso depois! Mudando de assunto… Queres começar a tua carreira musical? Não me tinhas falado nisso. – Disse-me Kendall.
– Sim, eu sempre amei cantar, mas sempre fui muito reservada nesse aspecto!
– E se nos mostrasses um pouco da tua voz?
– Claro, que tal depois do jantar?
– Sim! – Responderam em uníssono.

O jantar estava óptimo e depois disso, como prometido eu tinha que cantar. Juntamo-nos todos na zona da sala, eu e o Kendall sentamo-nos no sofá e os rapazes no chão à nossa frente.
– Carlos, tens o teu Ukelele contigo? – Interroguei.
– Claro! Queres que o vá buscar? – Eu acenei com a cabeça e ele foi busca-lo, sentando-se novamente no chão. – O que vai ser, señorita?
– Halfway There, por favor! – Exclamei.
Ele começou a tocar e eu comecei a cantar. Após as minhas primeiras notas eles olharam-me com espanto como se ouvissem algo que nunca ouviram. Eu, por mais incrível que pareça, sentia-me calma e não estava com vergonha. A meio da música, eles juntaram-se a cantar comigo e foi muito divertido!
– Como é que nunca ninguém te descobriu? A tua voz é perfeita! – Exclamou-me Kendall.
– Eu nunca mostrei muito a minha voz, e não gosto de programas de televisão… Esta foi uma das primeiras vezes que eu canto assim para alguém. – Respondi, a fitar os meus pés.
– Dude, tu tens que vir para Los Angeles connosco! Nós tornar-te-íamos uma estrela! – Exclamou James.
– Quem sabe, um dia…
Continuamos a falar e a cantar… Era óptimo sentir-me em casa junto destes rapazes.