Mantendo O Equilíbrio escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

As duras penas de cuidar de certa peste chamada Murilo.
Enjoy.



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Djane não quis entrar comigo, disse que tinha que verificar algumas coisas burocráticas com o diretor, então quando saímos do elevador, fui direto pro quarto de seu filho. Devagar entro, fecho a porta e... ele está dormindo. De novo.

Me aproximo de sua cama, deixo a bolsa na poltrona e, em delicadeza, me firmo na grade de sua cama. Fico uns segundos, minutos, poucos, observando seu ressonar. Aí seus olhos tremelicam até se abrirem e me ver. Sorriu instantaneamente.

- Boa noite, enfermeira.

- Boa madrugada, paciente. É a segunda vez que eu não devia estar aqui, isso não são horas de visita. Naquele dia eu fui levada por um segurança, sabia?

Rio mostrando que não falava muito sério, apesar de ter sido escoltada de verdade por um segurança do prédio. Ele não estava mais pálido, parecia bem melhor. A faixa ainda estava em sua cabeça, os fios dos aparelhos diminuíram e não tinha mais tubo no seu nariz. A professora devia estar pulando pelos cantos de felicidade... Estranho, eu não tenho sentido isso nela.

- Devia ter se disfarçado melhor de enfermeira.

- Duas pessoas essa semana pensaram que eu era uma enfermeira, menos o segurança. Eles são treinados pra essas coisas, sabia? Você não vai querer um que se engana fácil.

- Verdade.

- Então, você está melhor?

- Acho que sim.

- Acha? Você acha que tem quantos dedos aqui?

- Cinco.

Aponto dois dedos pra ele e ele responde cinco. Devo chamar alguém pra verificar o estado dele ou ele tá de sacanagem comigo? Enquanto debato isso na cabeça, ele pega na minha mão e aponta os meus cinco dedos. É, ele tava de sacanagem comigo.

- São cinco dedos, você tem todos.

- Engraçadinho.

- Desculpa pela minha mãe naquele dia, ela não devia...

Continuou segurando minha mão, apertando-a, querendo me dar um conforto e desculpas. Tão fofo que deu vontade de retribuir o carinho dele... mas não tinha intimidade pra fazer isso. Aperto a sua mãe de volta em sinal de que ele não precisava se preocupar com isso.

- Tudo bem, ela conversou comigo e me disse algumas coisas. Vamos esquecer esse incidente.

- Não, se for perdoar tudo o que ela faz... Não.

- O que você quer dizer?

Ficou um pouco atarantado, mudou o aspecto para algo mais fechado. Eu devia estar quase totalmente ao contrário, confusa. Se fosse possível coçar a cabeça numa atividade mental, acho que estaria o fazendo. Quando acho que ele ia responder, meu celular toca “The Lazy Song”...

Ai, facepalm. Peço licença e busco o celular na bolsa.

- Oi?

- Milena, eu sou o próximo, vem pra cá?

- Ah, Murilo. Fala sério!

- Por favor, Milena, por favor! Eu limpo o banheiro o resto do mês por isso. Vem pra cá?

- Murilo, agora... eu não posso.

- Limpo por dois meses, mas não me deixa sozinho.

- Tudo bem, vô descer. Tchau. Er... eu tenho que ir, Vini.

De onde estava, no meio do quarto, começo a me distanciar até chegar à porta. Não queria ter que ir agora, ainda tinha umas perguntas... Mas o Murilo tinha que dar uma de medroso nessa hora! Não poderia ter esperado uns minutinhos, não? Pior que já está ficando mais tarde e não sei se vou...

- Você vai voltar?

- Eu não sei bem. Diz pra sua mãe me ligar daqui a pouco.

- É muito urgente?

- Mais ou menos. Digamos que... meu outro paciente tem me requisitado...

- Pensei que você não fosse enfermeira.

- E não sou.

~;~

- Milena?

- Hum?

- O que você está fazendo?

Estou sentada numa cadeira – totalmente desconfortável – ao lado de Murilo que está numa cama de hospital tomando soro. Foi uma luta pra o fazer tomar injeção pra baixar sua febre de quase 39 graus, nem sendo aplicada por uma enfermeira “bonita”, Murilo fez a maior cena. Ainda bem que o enfermeiro bonito e a professora não estavam por perto...

Todo mundo que estava próximo da enfermaria e do corredor pensou que alguém estivesse sendo atacado ou que fosse uma criança querendo quebrar tudo. A chefe da enfermaria foi chamar o segurança, enquanto eu rezava pra não ser aquele da noite passada (vai que o cara me marca, algo assim?). Nessa que a enfermeira bonita entrou pra verificar a confusão – sério, o Murilo gritou que não levaria injeção nem pela enfermeira mais bonita do prédio e ainda a chamou pra sair, na cara-de-pau mesmo – e ainda assim insistiu de aplicar. Eu até cheguei a pensar em pular em suas costas para fazê-lo parar, mas pensei melhor e vi um troço de metal parecendo uma bandejinha em cima de uma mesinha.

Peguei o troço e chamei a atenção do Murilo que estava todo alterado perto da porta... quando ele se virou, eu taquei o objeto sem dó nem piedade no ombro dele. O urro de dor desse encontro do metal e seu corpo foi pior que eu imaginei no meio do improviso, sem falar do palavrão nada elegante que ele soltou. A enfermeira ficou horrorizada comigo, mas só assim ele parou com coisa e pude empurrá-lo pra sentar na cadeira e levar a injeção. Tem coisa que a gente não pensa, só vai lá e faz. E depois se acaba de rir, porque ele fez o maior bico que alguém poderia fazer. A enfermeira com peninha dele deixou o telefone dela com ele e nem isso o animou muito...

Claro que pedi desculpas pra ele, apesar de ele estar relutante em me perdoar, não concordou nadinha com meu método. O segurança do primeiro andar me olhou estranho e depois começou a rir... peço mentalmente que ele não comente com o seu colega do terceiro andar, aquele que fez minha “escolta”, sobre uma louca que atacou o próprio irmão para distraí-lo e fazê-lo tomar uma injeção.

Da injeção para baixar a febre e do calmante, eles o colocaram para tomar duas bolsas de soro, que iriam demorar uma eternidade... Até que eu não estava com sono, estava era bem entediada. Murilo ficou de cara emburrada pra mim enquanto segurava a bolsa de gelo no seu ombro e ainda assim não queria que eu o deixasse sozinho. Então estou por aqui fazendo companhia pra esse menino, mexendo no celular. Já passava da meia-noite.

- Tô mandando uma mensagem pra Dani dizendo que eu não vou pra faculdade amanhã de manhã porque “alguém” ficou doente e precisou ficar no hospital e uma pra professora, pra saber por onde ela ficou... Só que esse sinal baixo do hospital tá começando a me irritar.

- Milena...

- Hum?

- Eu quero fazer xixi.

Paro de mexer instantaneamente no celular e me viro pra ele, temendo o que vai dizer. Nem me importo mais com a história da injeção e da porrada que dei nele, com ele parece o mesmo... não sei dizer se é efeito do calmante ou se Murilo quer se fazer de bonzinho pra algum favor que temo ouvir.

- E?

- E que... você tem que me ajudar...

- Credo, Murilo! Até eu me ofereço pra limpar o banheiro lá de casa pelo resto do ano! Mas nem me dando dinheiro...

- Mas Milena, como que eu vou... você sabe, preso com esse soro?

- Indo, meu filho, INDO!

- Ah, mas você não precisa ver nada, nem...

- Não diz, Murilo.

- Tudo bem. Pelo menos segura o soro pra mim? Eu tento, er... fazer o resto.

- Não acredito que eu vou fazer isso... Então levanta, logo.

- Poxa, Milena, eu todo dodói e você só me dando patada e pancada... cadê a consideração, mesmo?

Murilo levanta devagar e eu sigo ao seu lado segurando o soro, nunca me imaginando numa situação dessas. O banheiro era próximo, mas andar com soro e um Murilo molenga meio que torna isso uma eternidade.

- Virou enfermeira mesmo?

Escuto alguém atrás de mim dizer isso num tom bem brincalhão e me viro o pouco que o soro me deixa pra ver que era o enfermeiro bonito – precisava saber o nome dele. Se aproximou de nós enquanto Murilo resmungava que ainda queria ir ao banheiro.

- Você é o terceiro cara que me chama de enfermeira, apesar de eu não estar de branco e nem de vestido. Ainda tenho medo daquele segurança.

- Que segurança?

- Longa história, Murilo.

Eu e o enfermeiro rimos com isso, o Murilo todo bobo querendo entender a piadinha interna. Não planejava contar essa história tããããão cedo. Principalmente pro meu irmão. Vendo nossa situação, o enfermeiro bonito tenta ser prestativo:

- Precisam de ajuda?

- Na verdade... sim. Ele quer ir ao banheiro e, bem, não é uma situação que eu queria me ver, sabe?

- Ah, eu posso acompanhá-lo, senhor, sem problemas.

- Sem problemas, você. Eu não sou senhor! Bora, Milena.

- Murilo! Muito melhor se ele for com você, não?

- Não, eu vou travar com esse cara do meu lado...

- Fala sério. Se você realmente tiver vontade, pode ter uma girafa parindo do lado que você ainda vai ser capaz de fazer xixi. Além do mais, ele só vai segurar o soro. É um profissional de enfermagem, não vai fazer nada mais que isso.

Murilo ficou olhando de mim pro enfermeiro bonito por um tempo e, com aquela cara que está ponderando prós e contras, ele me olha desgostoso e não hesita em me dizer antes de seguir para o banheiro com o enfermeiro:

- É melhor você lavar aquele banheiro por um mês ou muita coisa que você não gosta vai acontecer.

Ainda bem que ele disse só um mês.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo tem desabafo e explicações, Milena também ficou perdida com tanta coisa acontecendo de uma vez.



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