Wherever You Will Go escrita por Jules


Capítulo 3
Duality


Notas iniciais do capítulo

Oláaaaaaaaaaaa! Quem estava achando a fic bonitinha? o/
Mas quem me conhece bem, sabe que uma hora ou outra as coisas começam a complicar na vida das minhas personagens, não é? MUAHAHAH! Sim, minha gente! Vamos começar a trabalhar nisso desde já, então lá vem esse capítulo!!!!!!!!!!!!
E eu quero saber a opinião de cada uma sobre isso *evil face*, aceito previsões, adoroooo! Muahaha!
Boa leitura!



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Eu não imaginei que o sol ia bater tão cedo em meus olhos e me tirar do paraíso que era aquele colchão. O despertador começou a soar muito cedo e eu tive de lhe dar um tapa para faze-lo calar a boca. Pisquei os olhos algumas vezes para conseguir enxergar e olhei em volta em busca de algum sinal de vida, tive que conter a risada ao ver uma Juniper, se sentando na cama com os cabelos em pé e parecendo estar mais de mal humor que eu por ter de acordar cedo. Me abriu um sorrisinho, enquanto coçava os olhos e se colocava de pé, praticamente se arrastando até o seu armário.

–Bom dia...

Falou em tom rouco enquanto selecionava algumas peças de roupas e pegava seus objetos de higiene pessoal, resolvi fazer o mesmo me colocando de pé e caminhando em direção ao armário. Ainda bem que o quarto tinha aquecedor, senão faria questão de ter aula na minha cama.

–Bom dia.

Respondi também com um sorriso enquanto pegava as minhas coisas. A ruiva parou na porta, apontando para o fim do corredor.

–Sabe onde é o banheiro?

–Vou te acompanhar.

Avisei.

–Ok.

Então caminhamos, as duas sonolentas e de cabelo em pé, em direção ao banheiro. Várias meninas passavam por nós, com sorrisos no rosto, outras lendo livros, algumas já vestidas para a aula, outras ainda de blusa e calcinha ou até mesmo pijamas. Eu teria de me acostumar com a exposição de ter de me trocar na frente dos outros, por não ter de fazer muito isso no Brasil, mas como tudo ali, era só uma questão de adaptação. Juniper e eu entramos em um enorme banheiro, cheio de cabines com chuveiro e pias. Coloquei minhas roupas em cima da pia, enquanto esperava uma das cabines vagar para eu me trocar. Algumas garotas sequer faziam isso, andavam peladas pelo lugar, pegando uma toalha, outras simplesmente se trocavam ali no meio. Aproveitei que estava ali para tomar um banho. Eu estava precisando.

Não demorou muito para uma menina sair, e levando meu shampoo e coisas que precisaria, liguei o chuveiro, deixando a água quente banhar meu corpo. Soltei um leve suspiro sentindo todos os meus músculos relaxarem de uma só vez, e aproveitando para lavar o cabelo que estava nojento de tempo que não o lavava. Soltei um leve suspiro, contendo a vontade que eu tinha de começar a cantar. Eu não queria me expor cantando no meio de um banheiro cheio e nem queria que as meninas rissem de mim, por isso resolvi tomar meu banho em silêncio, apenas aproveitando a água morna e relaxante.

Fiz questão de sair do box já enrolada em uma toalha, enquanto pensava em um jeito de secar meus cabelos com ela. Pensei em ir para o quarto, mas estava muito frio para eu sair por aí enrolada em uma toalha, e já havia trazido minhas roupas de qualquer jeito. Uma garota loira, que escovava os dentes perto de onde eu havia deixado minhas coisas, parou por um momento para me dar um olhar de canto. Abri um sorriso tentando não me sentir desconfortável, ela sorriu de volta.

–Amei sua lingerie! Comprou onde?

–Essa veio do Brasil. –Falei com um sorrisinho, enquanto pegava minha calcinha e a vestia sem me desenrolar da toalha. –Obrigada.

–Você veio do Brasil também? Posso dizer por que tem um pouco de sotaque. –Falou a loira, enquanto deixava sua toalha cair e começava a se vestir. Tentei não corar com a cena, e nem mesmo me sentir humilhada por ter peitos muito menores do que os dela. Acho que corei um pouco com o pensamento. –Ouvi dizer que lá é lindo.

–Lá é sim. E sim, sou de lá. –Falei com um sorriso enquanto pegava meus jeans e decidia como coloca-los a garota franziu a testa. –E você? Da cidade mesmo?

–Na verdade eu sou de Seattle. Está tímida? –Deu uma risadinha, fazendo eu me sentir um pouco boba. Bom... Eu estava no meio de mulheres, certo? –É normal isso no início, mas fique tranquila, ninguém vai prestar atenção em você.

Garantiu, fazendo-me abrir um sorrisinho sem graça. Desviei os olhos pensando em uma forma de sair correndo dali, mas achei que iria soar mal para a garota. A loira revirou os olhos lentamente, pegando a toalha e erguendo-a na minha frente, olhei curiosa para ela.

–Vamos, ninguém vai te ver.

Dei uma risadinha agradecendo enquanto desenrolava meu corpo da toalha e vestia minhas roupas o mais rápido que consegui. A garota abaixou-a assim que já estava decente e abriu um sorriso para mim, enquanto enxugava seus cabelos.

–Viu? Ninguém notou.

–Certo.

Concordei enquanto a loira colocava sua blusa: uma polo muito fofa, por sinal. –Vesti minhas meias e fechei as botas de couro sem salto tentado ao máximo ficar aquecida e confortável. Sequei meus cabelos na toalha e balancei-os por um momento para conseguir penteá-los.

–Sou Paige, aliás. –A garota se apresentou, penteando os cabelos. –Qual o seu nome, brazilian?

–Mandy. –Falei com um sorrisinho. –Desculpe por não me apresentar antes, mas sabe como é.

–Sim. –Deu risada. –Transtornos maiores. –Piscou. –Está em que curso, Mandy?

–Medicina. –Falei de peito cheio enquanto colocava pasta na minha escova de dentes. Paige assentiu. –E você?

–Eu estou fazendo direito, pasme. –Deu risada, fazendo-me arregalar levemente os olhos. De fato, direito não me parecia a cara dela... Mas quem sou eu para julgar? –Bem vinda à Boston de qualquer forma. Eu estou no quarto 405 com minha colega. Nós devemos sair ou fazer alguma coisa pela cidade mais tarde, se quiser ir.

–Ah, ok! Obrigada. –Sorri agradecida enquanto acenava para a garota. –Até Paige.

–Até. Boa aula.

Falou a loira enquanto saía pelo corredor sumindo dos meus olhos. Peguei um dos secadores emprestado para secar meus cabelos, apenas pra não pegar friagem, e logo estava pronta para um dia de aulas... Ou achava que estava. Fechei bem o sobretudo sobre minhas roupas e ajustei o capuz em minha cabeça para não congelar minhas orelhas. Eu não sabia onde Juniper havia ido parar, mas eu não tinha tempo para espera-la, tinha que correr! Voltei para o quarto em passos apressados, quase esbarrando em algumas garotas, mas por fim consegui chegar inteira e agarrar os livros que iria precisar, porque eu tinha dez minutos para chegar no prédio da medicina, e isso envolveria uma breve maratona por um campus frio.

O prédio ficava um pouco longe do dormitório, mas nada que uma Mandy desesperada para chegar nas aulas não aguente. Meus pés batiam forte contra o chão frio e tudo o que eu desejava naquele momento era não cair de bunda e ter uma bela de uma cena cômica em pleno primeiro dia. Tenho que dizer que eu havia visto o prédio de medicina pelo Google, mas olha-lo ali diante de mim foi... Bem mais grandioso. Meus olhos bateram na grande construção de pedra, bem a cara de Harvard que se mostrava diante dos meus olhos com largas janelas de vidro que deveriam fazer parte das salas de aula. Um sorriso se abriu em meu rosto, e por fim eu senti a animação bater em meu corpo. Eu estava realmente ali, eu nem podia acreditar. Até agora, tudo me parecia um grande sonho, porém, estava mais do que na hora de eu acordar.

Passei pelos portões, adentrando o edifício e parando para dar uma boa olhada nas escadas que levavam para os andares do prédio. Onde mesmo que havia visto que seria minha primeira aula? Sala 402. Virando os olhos pelo fluxo de estudantes, procurei os números nas portas me perguntando onde estaria a sala com início quatro. Girei em meus calcanhares, caindo exatamente no que tentei evitar á quatro meses quando comecei a pesquisar sobre tudo ali: Ficar perdida. Soltei um suspiro cansado olhando para as escadas e em passos inseguros, resolvi tentar as subir. Eu teria feito isso mais rápido, mas ao olhar distraída para os degraus de pedra, acabei batendo firme contra alguém que passava em minha direção, e isso resultou em dois “Oh meu Deus” e olhares assustados. Corei um pouco antes de olhar para a face do sujeito que havia atropelado, e quando fiz, tive de olhar mais duas vezes para me certificar... Logan?!

–Me desculpe, não te vi aí.

Falou o garoto com um sotaque inglês bem forte. Pisquei algumas vezes tentando entender se estava enxergando direito, mas parecia estar. Oh meu Deus. Eu poderia jurar que aquele parando na minha frente era Logan Maverick, porém com o cabelo um pouco mais comprido e um sotaque muito fofo. Acho que meu silêncio longo demais deixou o garoto preocupado, porque logo ele franziu a testa e tocou meu braço, piscando algumas vezes. Por um momento, deve ter pensado que eu morri.

–Moça?

–Oh meu Deus! –Exclamei em um pulo, extremamente sem graça pela situação. –Me desculpe, fui eu quem te atropelei. E desculpe por esse momento estranho é que você... É assombrosamente parecido com alguém que conheço.

–Deixe-me adivinhar. –Falou o garoto com um sorriso e o sotaque forte. –Pensou que eu fosse Logan Maverick.

Pisquei algumas vezes tentando entender se aquela era uma piadinha ou algo do tipo, mas me parecia bem real. Logan era famoso e por conta disso, devem tê-los confundido algumas vezes. Que boba eu. Dei uma risadinha, assentindo completamente sem graça.

–Na verdade sim. Poderia dizer que são gêmeos.

–Já dei tantos autógrafos por ele. Imagem só. Logan na Inglaterra.

Tive que dar risada com seu comentário. Bem, Logan já esteve na Inglaterra... E comigo, aliás. Fomos há alguns anos atrás para um talk show onde eu tive de dar uma entrevista dizendo que estávamos namorando. Foi algo realmente surpreendente, mas que eu havia adorado fazer.

–Entendi. Hm...

–Aaron.

–...Aaron. –Completei com um sorriso, ao ouvir seu nome. –Pode me dizer onde fica a sala 402?

–É no andar de cima, virando o corredor. Tem aula lá agora?

–Sim.

–Olha só... –Falou ele sorridente, parecendo que havia acabado de descobrir uma doce surpresa, mas de um jeito puramente fofo, não como se estivesse dando em cima de mim ou algo do tipo. –Eu também.

Falou, mostrando-me o papel. Dei uma risadinha, enquanto lhe fazia uma reverência e o acompanhava pelas escadas, me certificando de que não iria trombar com ninguém novamente. Eu ainda me perdia olhando assombrada para Aaron. Era uma coisa incrível.

–Então acabei de conhecer uma futura médica.

–Se tudo der certo, sim. –Dei risada com seu comentário, Aaron era realmente uma pessoa muito simpática. –Sou Mandy, aliás.

–Muito prazer, Mandy. De onde é?

–Sotaque, né? –Revirei os olhos, um tanto ressentida. –Eu tinha o inglês perfeito antes. O problema é que fiquei dois anos longe daqui. Sou do Brasil.

–Brasil! Sim! Carnaval! –Brincou Aaron, fazendo-me dar uma risada. Balançou a cabeça em negativo. –Brincadeira. Não me parece ser uma pessoa que aprova esse tipo de imagem.

–O que mais vamos mostrar? –Falei em tom brincalhão, dando de ombros. –Nossa política não é um exemplo.

–Touchet, moça.

Sorriu enquanto virava-se adentrando uma sala com fileiras e fileiras de cadeiras voltadas para um tablado com uma mesa e uma lousa, onde o professor provavelmente ficaria. Olhei encantada a sala, abrindo um sorriso divertido. Ela era gigante. Deveriam caber umas cento e cinquenta pessoas facilmente naquele lugar. Caminhei atrás de Aaron, subindo algumas fileiras enquanto procurávamos algum lugar legal para nos sentar. A sala não estava cheia, mas já haviam alguns alunos por ali. Abri um sorriso ao ver Juniper já sentada, que assim que nos viu, acenou em nossa direção.

–Minha amiga está ali.

Apontei, avisando para Aaron, que olhou por um momento distraído e pareceu se tocar que eu me referia a ruiva.

–Ah ok.

Concordou comigo enquanto caminhávamos os dois para perto de Juniper. Abri um sorriso me sentando ao lado da ruiva, enquanto acenava para que Aaron se sentasse ao meu lado. Ele abriu um sorriso e aceitou, sentando-se ali e colocando os livros sobre a mesinha, Juniper olhou para Aaron e depois para mim, com uma pequena interrogação no rosto. Dei uma risadinha, enquanto o garoto, sem precisar que eu apresentasse, erguia a mão educadamente para a ruiva, se apresentando.

–Olá. Sou Aaron.

–Oi... Sou Juniper.

Sorriu tímida. Abri um sorriso enquanto Aaron se ajeitava na cadeira e pegava o celular que havia acabado de apitar. Fez uma careta ao ler a meu ver uma mensagem e bloqueá-lo colocando-o na bolsa mais uma vez. Era difícil não chama-lo de Logan. Seu nariz, seus traços, seus olhos... Eram muito parecidos com o do ator... Não sei se era aquela a razão por eu ter simpatizado tanto com o garoto, ou se era pelo fato de ele ser incrivelmente educado, e ter um sotaque fofinho.

–Então, Aaron. De onde vem da Inglaterra? Londres?

–Correto.

Sorriu ele deixando de dar atenção ao aparelho para olhar para mim enquanto falava, abri um sorriso simpático.

–Então por que Boston? Não tem Harvard no seu país?

–Sinto cheiro de Xenofobia brasileira?

–O que? –Arregalei os olhos. –Não! Claro que não!

–Brincadeira, Mandy. –Deu uma risadinha boba, fazendo-me revirar os olhos e rir também. Balancei a cabeça negativamente. –Eu sei que é estranho eu estar aqui quando a cede de Harvard em si fica no meu país, mas os Estados Unidos ainda é... Longe de casa.

–Ah, entendi.

Dei risada, como se aquela simples frase tivesse explicado tudo. Aaron deu risada também assentindo, enquanto desligava o celular que continuava a apitar. Soltou um suspiro guardando-o no bolso mais uma vez. Franzi a testa.

–Aconteceu alguma coisa?

–Vai acontecer. –Assentiu. –Em 5, 4, 3...

Fez uma contagem regressiva bem lenta abaixando os dedos, quando uma garota de longos cabelos loiros adentrou a sala, junto de mais duas garotas, olhando para os lados a procura de alguém. Assim que Aaron a viu, terminou a contagem mais rapidamente, por ela ter aparecido logo depois de ter contato o três.

–2, 1.

Dei uma risadinha por seu erro de contagem e assim que os olhos da garota pararam em nossa direção, um sorriso se abriu em seu rosto, caminhando até onde estávamos. Pude ver o corpo de Aaron se enrijecer, mas continuar forçando sua face a mostrar uma expressão agradável e educada como sempre. Era impressionante como ele reagia com uma pessoa que não o agradava. Se fosse eu, teria fechado a cara e já lhe dado o dedo mediano.

–Oi A.! –Exclamou a garota, enquanto Aaron se levantava como um perfeito cavalheiro para cumprimenta-la, virando o rosto discretamente ao desviar o beijo recebido dos lábios para a bochecha. A garota fez uma caretinha por conta do “erro” de mira, mas continuou com seu sorriso em seguida. –Como foi de férias, fofinho?

–Fui bem, mesmo uma semana parecendo incrivelmente insuficiente.

Falou com um sorriso, fazendo-a dar risada. Assentiu.

–Sim! Eu sei! –Olhou para mim logo em seguida, abrindo um sorriso. –Quem é sua amiga?

–Ah! Mil perdões! –Aaron se desculpou por ter se esquecido de mim. Me ergueu a mão para me ajudar a levantar. –Essa é Mandy.

Aceitei a ajuda e me coloquei de pé, abrindo um sorriso para a garota loira. Seus cabelos iam mais ou menos até a sua cintura e seus olhos eram tão azuis que quase me chegava. Ela era muito bonita, usava roupas comportadas, mas mesmo assim uma saia e uma blusa rosa clara. Parecia uma daquelas filhas ricas de pais religiosos ou então até mesmo de um pastor. Parecia simpática, mas um tipo de menina que arrancaria sua cabeça caso entrasse em seu caminho. Pareceu não gostar muito de me ver com Aaron – seja lá o que ele fosse seu – mas mesmo assim não perdeu a cortesia.

–Oi Mandy, prazer! –Sorri me dando um beijo em cada lado da bochecha. –Meu nome é Viola!

–Oi Viola. –Sorri também sendo simpática. –Muito prazer.

–Bom, melhor eu ir me sentar! –Exclamou a menina, olhando para as amigas não muito longe. -T– vejo mais tarde, A.!

Sorriu, se colocando nas pontas do pé e ainda acertando a bochecha do garoto. Deu uma risadinha e então correu em direção as amigas do outro lado da sala, enquanto Aaron e eu nos sentávamos. Levei o punho na frente dos lábios tentando esconder meu sorriso, mas não deu certo. Aaron pegou-me com o canto de olho.

–O que?

–Nada.

–Mandy...

–É que ela é tão...

–Barbie? Pipoquinha? Já sei de tudo isso.

–Uma princesa ligada no 220.

–Ok... Isso eu nunca tinha ouvido.

O garoto deu uma risadinha, fazendo-me uma reverência. Dei risada, agradecida pelo gesto. Aaron balançou a cabeça negativamente com um sorriso bobo no rosto, enquanto rabiscava alguma coisa em seu caderno, abri um sorriso ainda um pouco encantada com tudo que estava acontecendo. Não demorou muito e logo todos os sons de conversas se cessaram. Um homem alto, vestido em um terno, com cabelos grisalhos e muito bonito para a sua idade, adentrou a sala, sério e observando bem a turma que ocupava todas as cadeiras.

Caminhou em silêncio em direção a sua mesa e pousou sua maleta sobre ela, caminhando até a lousa e escrevendo com giz branco, em uma letra perfeita o seu nome: Professor Oswald. O homem se virou mais uma vez em direção a sala analisando um por um e os cantos dos seus lábios se entortaram em um curto sorriso, limpou a garganta, olhando para a lista de chamada sobre a mesa, lendo apenas alguns nomes, mas fingindo que conseguia saber quem era quem só pelas letras.

–Bom... Bom dia. –Cumprimentou a sala, recebendo um “bom dia” coletivo. O homem tinha uma postura perfeita e séria. Ninguém se atrevia a abrir a boca. –Meu nome é Jeorge Oswald, mas prefiro que chamem-me apenas pelo sobrenome. Como sabemos estão todos aqui presentes porque passaram para essa universidade que sabe-se não é algo fácil, ainda mais no curso em que estão. Não aceitarei brincadeiras, espero maturidade total de vocês para que isso fique claro. Não tenho problemas com mandar alunos para fora de sala ou de zerar uma prova, que fique bem claro. Espero postura, pois se estão aqui, é de se provar que são dignos à isso. Eu não estou aqui para ser um professor camarada. Não estou aqui para fazer aulas de jogos. Eu estou aqui para formar profissionais, para formar médicos de qualidade e tenho certeza que no fim do semestre, nessa sala, ficarão apenas aqueles que tem certeza que o curso é o que querem para a sua vida. Isso não é uma brincadeira. Não é hora de agradar mamãe e papai. É hora de ser adulto e escolher o seu caminho. Se estão aqui, tenho certeza que cair no caminho não será um grande problema, se desposto a se levantar.

Senti meu corpo congelar conforme ouvia a fala do professor. Eu achava muito legal aquele lance de professor não amigo, pois como ele havia dito por si, não estava ali para ser amigo e sim para formar profissionais. Eu sempre fui uma aluna estranha. Meu professor preferido nunca foi aquele bonzinho que faz piadas e sim, aquele que nos coloca no chão e da tapas em nossa cabeça. Enquanto todos estavam ali, paralisados de medo de Oswald, eu não estava diferente, porém eu tinha certeza que aquele professor, seria o meu preferido em todo o curso.

(...)

–O que vai fazer agora?

–Sinceramente?

–Não.

–Vou para a cidade ver se há algum bar de strip-tease em que eu possa trabalhar.

–Em outras palavras, vai estudar.

Dei risada enquanto assentia ao comentário de Aaron, conforme caminhávamos pelo campus. Havíamos acabado de sair das aulas e passamos na lanchonete do lugar para comprar boas doses de chocolate quente para sairmos caminhando por aí, em direção aos dormitórios. Eu estava começando a me dar realmente bem com o garoto, e visei que para nós, o futuro reservava uma boa amizade. Aaron era a pessoa mais divertida que havia conhecido ali, fora seu jeito educado que não desrespeitava uma pessoa sequer e o sotaque fofo que eu rezava para um dia roubar dele.

Aaron estava afundado em um casaco grosso, mas parecia completamente tranquilo ao tomar sua bebida, enquanto eu era praticamente uma concha caminhando pelo campus. Supus que aquela resistência toda ao frio fosse por conta de ele ser da Europa, onde costumava ser mais frio do que onde estávamos. Acho que nem neve caía em Boston. Já eu? Estava congelando. É só sair mesmo do Brasil, para perceber que lá não faz frio de verdade, e eu não estava reclamando. Odeio frio.

–Estudar é nossa vida?

–Sim senhorita.

Concordou Aaron em relação aos estudos. Depois de ter tido uma manhã inteira de aulas eu percebi o quão puxado as coisas seriam ali, e como sair da faculdade, talvez fosse algo mais difícil do que entrar. Se eu quisesse me formar ali, deveria começar a devorar livros, e já estava fazendo aquilo errado. O celular de Aaron apitou mais uma vez e mais uma vez o vi soltar um suspiro. Ergui uma sobrancelha, lhe abrindo um sorriso divertido, o garoto franziu a testa, observando-me por um momento.

–Isso é muito estranho! Pare de sorrir para mim!

Gargalhei da sua reação, balançando a cabeça negativamente. Fiz uma careta.

–Deixe-me ser feliz, credo! –Sorri. –E fale isso de novo? Seu sotaque é muito fofo!

Aaron revirou os olhos com o meu comentário, dando risada em seguida. Balançou a cabeça negativamente, como já havia feito muitas vezes comigo. Como se eu sempre estivesse fazendo coisas inaceitáveis e erradas, fugindo ao seu estilo completamente certinho e acadêmico. Eu gostava daquilo, me sentia tipo uma rebelde – ou não.

–Posso te perguntar uma coisa?

–Diga.

Aaron olhou para mim, curioso enquanto eu planejava direitinho que palavras usar. Mordi o lábio tentando não sorrir, Aaron já protestou quando o fiz. Ele dizia algo sobre “ficar rindo da cara dele”. Mas não tinha como! O garoto era um poço de fofura! Eu queria coloca-lo junto com seu sotaque inglês em um potinho e deixa-lo na minha cabeceira.

–Você a miss 220. O que vocês são um do outro?

Aaron olhou para mim por um momento e logo em seu rosto assombrosamente semelhante ao de Logan, mudou-se para uma expressão pensativa. Levou a mão até o queixo como se não soubesse me responder. Fechou um olho em tom exagerado de questionamento.

–Não sei...

–Como assim?

Arregalei os olhos, dando risada e lhe dando um tapa leve no braço. Como assim não sabia o que a garota era dele? Eu hein! Aaron deu risada, dando de ombros em seguida.

–Brincadeira. Bom, eu vim para cá um mês antes das férias e quando cheguei conheci ela. Viola e eu namoramos por uma semana até eu tirar férias e passar uma semana na Inglaterra com os meus pais.

–E por que vocês terminaram?

Perguntei curiosa, sem ser entrona demais. A verdade era que Viola não parecia se sentir como uma ex-namorada. Era algo até mesmo cômico de se ver.

–Ela tentou me mostrar o caminho para Jesus. –Deu de ombros. –Dizia que minha religião é errada e que eu vou para inferno. Ela queria me proteger demais.

–No que você acredita?

Perguntei com um sorriso, tentando não rir da história. Viola tinha sim cara de menina de família religiosa. Não sabia o que pensar de Aaron. Ele parecia ser um filho perfeito e um estudante nota A, mas em relação a religião, poderia ser qualquer coisa. Tentei não rir ao imagina-lo em uma túnica preta cortando a cabeça de um bode.

–Na ciência. É nisso o que eu acredito. –Falou, ganhando minha aprovação de imediato. Abri um sorrisinho, imaginando como seria para uma cristã fanática namorar um ateu. Aaron sorriu. –Ela não levou isso tão bem quando eu contei.

–Eu supus que sim.

Dei risada, fazendo-o rir comigo e mais uma vez balançar a cabeça em desaprovação. Levei as mãos até os bolsos depois de me livrar do copo vazio do meu chocolate quente e parei por um momento me perguntando o porque daquilo tudo. Eu havia me tornado amiga do garoto em menos de seis horas e aquilo era maravilhoso, mesmo que ficar ao lado de Aaron fosse um pouco confortante e um pouco doloroso ao mesmo tempo, por conta de deixar viva a lembrança de Logan em minha mente o tempo todo.

–Mas e você, Mandy? –Perguntou Aaron, levando também as mãos aos bolsos. –Algum romance dramático?

–De longe bem mais dramático. –Sorri dando uma risadinha, Aaron voltou os olhos em minha direção, parecendo interessado. Eu não me sentiria confortável contando para qualquer outra pessoa, mas naquele momento senti que não fazia mal falar. E por que não? Aaron me parecia uma pessoa legal e não doeria nada contar. –Eu namorei um garoto quando estive de intercâmbio aqui há dois anos. Com o tempo longe a gente resolveu terminar, mas não porque a gente quis, nós fomos separados pela distância... Então eu estou aqui de volta e ele vai vir me ver pra ver no que vai dar... E eu estou morrendo com meus nervos aqui.

Dei uma risadinha, recebendo um sorriso doce do garoto. Aaron assentiu como se compreendesse o que eu estava falando. Seus olhos azuis caíram em tom amigável e compreensivo em minha direção.

–Vocês passaram muito tempo sem se falar?

–Sim... Ele é meio ocupado, sabe?

–Ele? –Aaron deu risada. –Aposto que você é mais. Estudando aqui e tal.

–Eu consigo garantir que não. –Dei uma risadinha sem graça. –O trabalho dele exige... Muito do tempo dele.

–Com o que ele meche?

Perguntou Aaron, curioso. Dei de ombros me sentindo um pouco sem graça em comentar. Eu não gostava de ficar falando isso, ás vezes poderia dar a impressão de que eu estava contando vantagem... Mas acho que ele não pensaria isso de mim.

–Ele é ator.

–Hm...! –Falou em tom divertido. –Então quer dizer que a senhorita Mandy namora um ator? Ele é famoso?

–Um pouco.

Falei abaixando um pouco os olhares. Aaron deu uma risadinha diante da minha expressão tão sem graça.

–Quem é o sujeito?

–Logan Maverick...?

Os olhos de Aaron caíram em minha direção e logo se estreitaram, como se estivesse crente que eu estava fazendo uma brincadeira, mas quando eu não comecei a rir e não gritei “pegadinha do malandro!”, ele pareceu perceber que eu estava falando sério.

–Isso... É sério?

–Sim. –Dei de ombros. –Por isso foi meio complicado.

–Ah, Mandy! –Aaron deu risada. –Eu não sei o que te dizer, porque nunca tive a chance de sair com a Britney Spears. Mas da uma chance pro cara. Vê no que da.

–Eu farei isso. –Falei com um sorrisinho, dando de ombros. –Mas sei lá. A gente ainda fica um tanto que na expectativa.

–Eu imagino. Ainda mais com um cara bonito, porque vamos admitir: Ele é boa pinta.

–E você, seu metido, só fala isso porque são iguais.

Aaron deu risada do meu comentário e deu de ombros como quem diz “culpado”. Estreitei os olhos lhe dando um tapinha e logo caí na risada com ele. O inglês teve de parar de caminhar para eu perceber que já havíamos chegado no meu dormitório. Abri uma careta levemente por falta de vontade de entrar ali. Aaron abriu um sorriso, pegando minha mão e lhe dando um beijo. Devo ter corado com o ato, mas ainda achei muito fofo. Tentei esconder o leve suspiro que quase deixou meus lábios.

–Nossa última parada. Bom dia de estudos, senhorita.

–O mesmo para você, senhor.

Sorri fazendo uma reverência e logo me virei para entrar no prédio, assim que Aaron começou sua caminhada até o dormitório masculino. Meus pés trabalharam firmes para eu adentrar o prédio e subir as escadas aos pulos com uma animação inexplicável para eu logo estudar. Juniper não estava no meu quarto, infelizmente, para me poupar e me tirar a atenção para que eu desistisse de comer os livros e o meu lado do quarto já estava todo organizado, exceto pela parede que havíamos combinado de fazer no fim de semana. De forma ou de outra, os livros me chamavam e eu não tinha escapatória. Olhei bem para fora me perguntando até que horas a lanchonete ficaria aberta, pois eu precisaria de energético e muito café. Eu tinha uma prova no dia seguinte, e minha única certeza é que eu viraria a noite estudando.


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Notas finais do capítulo

E aí, galera? O que acharam do mais novo personagem inglês? ;)



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