You Found Me escrita por Lost in Neverland


Capítulo 1
Lucky


Notas iniciais do capítulo

Olá, seus lindos!
Então, já estou há um bom tempo querendo fazer mais uma one shot de captain swan, e agora nas férias, finalmente conseguir colocar em prática a ideia e escrever! haha
Essa one ficou beeeem grande! kkk
Enfim, a história se passa a partir do episódio 2x12: "In the Name of the Brother", algo que poderia ter acontecido diante de todas aquelas circunstâncias.
Espero que curtam! *-*
Boa leitura!



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A fronteira da cidade estava uma verdadeira zona. Recebi um telefonema quando estava na delegacia com Mary Margaret e David, alertando-nos sobre a situação. Não imaginei que a tal situação estaria tão grave como estava.

Imaginei que Hook estivesse envolvido, afinal de contas, ele é um imã para problemas e isso não é novidade nenhuma. Mas, fiquei realmente surpresa ao ver que ele era o que estava mais quebrado ali. Bom, eu imaginei que ele tivesse quebrado alguma coisa e não fosse o “quebrado”. Quer dizer, na verdade ele realmente quebrou muitas coisas, mas saiu mais quebrado ainda. Enfim, acho que vocês já puderam me entender.

Assim que recebi o telefonema eu, Mary e David, entramos no meu fusca e saímos em disparada até o local. Disparada é a palavra certa para descrever o fusca amarelo dirigido por mim. Mas, o que eu podia fazer?! Estava nervosa, caramba. Não sei ao certo quem estava na outra linha mas, a pessoa não deu muitos detalhes. Apenas disse que a fronteira da cidade estava um caos e pessoas estavam feridas.

– Emma, você poderia ir um pouquinho mais devagar? Ninguém vai fugir de lá, se acalme – disse Mary, em um tom preocupado e amistoso ao mesmo tempo.

– Como você sabe disso? – rebati um pouco mais rude do que eu pretendia.

– Bom, eu sei que, a única coisa que vai fugir serão as nossas vidas, se você não for devagar com o acelerador.

Acelerei mais.

Pelo amor de Deus, já tínhamos passado por tanta coisa. Se um dragão não foi capaz de me matar, não seria um carro que iria. Quer dizer, eu espero que não.

Ainda não estava acostumada com o fato de ter uma mãe e um pai, e mais ainda, essa mãe ser a Branca de Neve e o pai, o Príncipe Encantado. E tê-los tão perto de mim me deixava desconcertada. Quer dizer, sei lá, era estranho. Mas, ao mesmo tempo, reconfortante. Como eu disse, apenas não estava acostumada, só isso. Passei a minha vida inteira sozinha, ter uma família ainda era uma grande novidade para mim.

Quando chegamos no lugar, meu primeiro ato foi ligar para a ambulância. O segundo foi ir até Hook e checar para ver como ele estava. Como eu disse anteriormente, eu não imaginava que ele seria o quebrado da situação.

Perto da linha da fronteira, pude visualizar um Rumplestiltskin preocupado e desesperado, e uma Belle totalmente perdida. Mary Margaret e David foram até onde eles estavam. Enquanto eu fui até Hook.

– Olá, linda – ele disse quando eu me aproximei.

Abaixei-me para analisar sua situação, e encostei minha mão em seu peito, o que o fez gritar de dor. Ele estava completamente ensanguentado e quebrado.

– O que aconteceu aqui? – perguntei, ainda estando abaixada do lado dele. Como resposta, ele me ignorou e voltou-se para Rumplestiltskin que estava se aproximando, até então não havia percebido sua presença.

– Está vendo? – disse Hook, tentando se levantar – Assim, como Milah, crocodilo, quando você a tirou de mim – quando pronunciou essas últimas palavras, já estava gritando, porém sua voz saía rouca e com dificuldade. Ele poderia ser considerado aquele tipo que pode estar morrendo mas, não deixa aparentar estar morrendo. O que, ironicamente, era exatamente o que estava acontecendo naquele momento.

Eu, estranhamente, me identificava com ele. E, nesse momento, só queria que ele calasse a boca para que não acabasse morrendo de verdade. Meus maus pressentimentos se comprovaram quando Rumple se aproximou e, antes que Hook pudesse finalmente conseguir levantar, ele acertou a sua bengala no rosto do pirata, derrubando-o novamente e fazendo-o gritar mais um pouco de dor.

– Mas, caso não se recorde, queridinho, você a roubou primeiro – Gold disse isso, já indo para cima de Hook, pressionando sua bengala contra o pescoço dele, fazendo-o ficar vermelho.

Por instinto, fui para cima dele, tentando separá-los. Obviamente não deu muito certo, porque não sou tão forte quanto eles.

– Gold, você está louco?

– Não estou, na verdade eu já sou.

– Pare com isso, você não pode matá-lo!

– Quem disse que eu não posso?

– Eu estou dizendo. Caso não se recorde, querido – pronunciei essas palavras imitando o seu tom agudo de voz – eu ainda sou a xerife e ainda posso dar um jeito de te mandar para a cadeia.

Aparentemente, ele não apreciou a minha imitação, apertando ainda mais a bengala contra o pescoço do Hook, que tentava, sem sucesso, acertar o gancho na cara do Rumplestiltskin.

– E quanto a Belle? – perguntei. Tudo o que eu queria era fazê-lo parar, já que eu mesma não estava conseguindo pará-lo com as minhas próprias mãos.

– Ela não se lembra mais de mim. O que importa o que um estranho faz ou deixa de fazer?!

– Como? Ah. Então foi isso que aconteceu?

– Você não sabia, querida?

– Não, eu sabia, apenas disso que não sabia de sacanagem mesmo – falei, dando um sorriso irônico.

Novamente, ele não gostou do meu sarcasmo, machucando ainda mais o Hook.

– Pare com isso, Gold!

– Aconteceu o seguinte: o seu amiguinho aqui...

– Ele não é meu amiguinho.

– O seu coleguinha...

– Ele não é o meu coleguinha.

– Dane-se o que ele é! Apenas cale essa boca e pare de me interromper.

– Desculpe.

– Como eu dizia, o seu amiguinho, ou sei lá o que ele é seu, atirou na Belle, fazendo com que ela caísse do outro lado da fronteira, perdendo todas as suas memórias, incluindo a mim – enquanto ele explicava, Hook alternava entre risos e gemidos de dor. Era difícil defender aquele cara, ele também não facilitava, parecia que estava mesmo querendo morrer – e bom, como você já deve saber, nós temos uma história muito muito muito antiga. Eu consegui minha vingança, ele quis a dele. Agora, vamos aplaudir, ele conseguiu a dele! Só que é a minha vez. E para evitar que esse ciclo contínuo de vinganças primeiro eu-depois ele-depois eu-depois ele continue, eu irei matá-lo agora mesmo, e então, nossos problemas estarão resolvidos.

– Você está redondamente enganado. Se matá-lo, você só terá mais uma dúzia – ou muito provavelmente mais – de problemas.

– Vamos lá, crocodilo, me mate. Assim poderei ficar finalmente perto de Milah – disse Hook, sorrindo e erguendo o gancho, ainda com a bengala de Rumplestiltskin em seu pescoço.

– Cale a boca, Hook! – falei

Como eu disse, era realmente difícil defender aquele cara.

Não que eu me importe, quero deixar isso bem claro. Eu não me importo. Mas, sei lá. É a coisa certa a se fazer, certo?! E eu me identifico com ele, como já citei anteriormente, sinto que preciso ajudá-lo.

Mas, se nem ele mesmo está se preocupando com a própria vida, por que eu iria me preocupar?! Bom, alguém tem que se preocupar.

E bom... Hm, talvez eu me importe.

– O que Belle gostaria que você fizesse? Hein? Você nunca irá conseguir tê-la de volta dessa maneira. Mesmo que ela não se recorde mais, por que ela iria querer interagir com um assassino? Pelo amor de Deus, Gold! Será que vale mesmo a pena trocar um amor verdadeiro por uma vingança? Uma vingança, aliás, como você mesmo disse, vem de muito tempo atrás. E, claro, você acabaria sem amor e na cadeia. Não é uma escolha muito atraente, é?

Rumplestiltskin olhou para mim, com os olhos faiscando de ódio, mas também de tristeza. Pude perceber que agora, ele estaria tão perdido quanto Belle. Quis consolá-lo mas, obviamente, não era um bom momento. Então, ele afrouxou a bengala do pescoço de Hook, enquanto olhava para o nada, até finalmente soltá-lo e levantar. Encarou por uns segundos, enquanto estava de pé, um Hook acabado no chão, e finalmente foi embora, sem dizer uma palavra.

Não posso expressar em palavras o alívio que senti naquele momento. Fiquei feliz por ter conseguido convencer Gold, por que, sinceramente, não sei o que faria caso eu não tivesse conseguido e necessitasse separar os dois.

Entretanto, infelizmente, sei também que não o convenci por completo. Talvez ele tenha desistido de matar Hook hoje, mas não vai desistir por completo. Voltará um outro dia para acertar as contas. Talvez amanhã, talvez não... esse pensamento me fez estremecer.

– Sabe, Swan, muito bonitinha sua atitude de preocupação com a minha pessoa mas...

– Quem disse que eu estou preocupada com a sua pessoa?

– Uma coisa eu tenho que concordar com o crocodilo: você precisa começar a calar essa boca e parar de interromper as pessoas.

– Vem calar então – disse eu, sorrindo sarcasticamente. Sei que foi cruel falar isso, porque o coitado não conseguia nem se colocar de pé, mas, simplesmente não resisti. Não pude deixar passar.

Hook soltou uma gargalhada, mas logo em seguida gemeu de dor.

– Olha, eu até iria, se eu não estivesse quebrado. Tenho muitos métodos para fazer você calar a boca e, acredite, você iria amar – disse ele, erguendo as sobrancelhas sugestivamente, ainda deitado no chão.

– Não tenha tanta certeza disso, capitão – disse eu, abaixando-me e, sem querer esbarrei em sua cintura, fazendo-o gemer de dor mais uma vez.

– Desculpe.

– Tudo bem. Então, o que eu estava dizendo? Ah sim, pare de interromper. Agora eu esqueci o que eu estava falando, graças a você.

Soltei uma risadinha pouco audível.

– Ah, sim, lembrei. Então, como eu dizia, Swan, sua preocupação para com a minha pessoa é verdadeiramente uma graça, mas, eu não pedi sua ajuda. E, claro, eu estava bem com tudo o que estava prestes a acontecer, não havia porque se preocupar.

– Primeiro: vamos esclarecer que eu não estava preocupada.

– Certo, e vamos esclarecer que eu acredito nisso.

Olhei para ele descrente, com um sorriso cínico no rosto.

– Vamos lá, continue – disse Hook, balançando seu gancho – Segundo?

– Segundo: sou a xerife da cidade, preciso manter a ordem e, principalmente, preciso não deixar que as pessoas se matem por aí.

– Hum. Sempre tive uma queda por xerifes, sabia? Hum. Certo, continue. Terceiro?

– Terceiro nada, acabou.

– Já? Nossa, Swan. Não sabia que você era uma mulher de poucas opções.

– Cale a boca.

O som e luzes da ambulância começaram a iluminar o local. Uma equipe de quatro homens pegaram juntos um Hook gemendo de dor, colocaram-no na maca, e em seguida, dentro do veículo. Fizeram o mesmo com Belle, porém ela não precisava de uma maca.

David e Mary entraram junto comigo dentro do fusca enquanto eu o dirigia, seguindo a ambulância até o hospital.

– Como está Belle? – perguntei

– Em choque. Confusa – respondeu Mary Margaret, pensativa – Hook atirou nela, fazendo com que ela caísse do outro lado da fronteira da cidade, se esquecendo de tudo. Rumplestiltskin curou seus ferimentos com magia, e daí a origem do choque. Ela estava desesperada e com medo do que ele fez com ela e do que seria capaz de fazer.

– Então quando as pessoas se esquecem elas consequentemente se esquecem também da existência da magia? – perguntei

– Aparentemente sim – Mary respondeu

– O que faz sentido, porque antes da maldição ser quebrada e termos que viver com nossas falsas memórias, antes não havia magia – David completou.

Levamos apenas alguns minutos para chegar ao hospital. A ambulância partiu em disparada e eu não pensei duas vezes em seguir seu ritmo. Quando adentramos, o lugar estava uma verdadeira loucura.

Mary foi até Belle, para orientá-la e acalmá-la. Enquanto eu vasculhei instintivamente o salão, à procura de Hook. Ele estava na maca, já desacordado. Os autofalantes gritavam pelo hospital, com médicos sendo convocados a diversas salas.

Fui até uma enfermeira e a instruí para que ela colocasse Hook em um quarto longe e seguro e o escondesse. Felizmente fiz isso bem a tempo porque, assim que ela desapareceu com Hook nos corredores, Gold apontou na porta de entrada do hospital. Ele foi até Belle, mas ela começou a gritar e se debater, até que foi levada embora por dois médicos, por uma escada que levaria ao segundo andar do hospital.

– O que vocês vão fazer com ela? – Gold perguntou alto, sem dirigir a pergunta a alguém especificamente.

Ninguém respondeu.

– O que vocês vão fazer com ela? – repetiu a pergunta, gritando dessa vez.

Whale surge então de uma das portas dos hospitais, cheirando forte a bebida, mas aparentemente sóbrio. Mesmo com a aparência boa, o cheiro denunciava que ele estava completamente bêbado.

– É melhor o senhor se acalmar, Gold. Gritar não vai resolver em nada a situação no momento. Mas posso lhe garantir que ela será muito bem tratada. Precisamos ver seus ferimentos e tem aquela simples questão da memória.

– Simples? – alguém perguntou mas, não consigo reconhecer a voz.

– Bom, precisamos analisar isso também – continua Whale – e ainda tem o turista que estava dentro do carro.

– Você sabe quem é ele? – perguntei

– Não. Mas, junto com ele estavam alguns pertences – diz ele, se aproximando de mim e me entregando um chaveiro de Londres, com umas 5 chaves e um celular – Talvez você possa descobrir alguma coisa sobre a identidade desse cara – diz ele, sorrindo e se afastando – Agora, se me dão licença, preciso fazer uma cirurgia de emergência nesse turista, ele está sofrendo uma grande hemorragia – dito isso, Whale sai.

– Onde está Hook? – grita Gold.

Agradeço por ter pedido a enfermeira para escondê-lo.

– Que eu saiba, isso não é da sua conta – digo, aproximando-me de Gold

Ele solta uma risada, e se apoia em sua bengala.

– Xerife Swan, você sabe que estamos numa época e, numa cidade, que ninguém se importa com as tais leis, se é que elas existem por aqui. E, você tentar usar essas leis para tentar proteger aquele palhaço não vai me impedir e eu garanto também que não vai lhe ajudar em nada – diz ele, com uma expressão sarcástica, como estivesse pagando para ver se eu o desafiaria ou não.

– E você sabe que eu não estou nem aí para o que você acha ou deixa de achar, certo?! Você também sabe que eu não estou nem aí para as suas ameaças, certo?! Ah, e claro, não podemos esquecer que provavelmente você também deve saber que eu protejo quem eu quiser – digo, aproximando-me ainda mais dele.

– Ele não vai ficar “escondido” nesse hospital para sempre, senhorita Swan.

– Isso não é problema seu.

– Por que se importa tanto com ele?

– Isso não é problema seu.

Gold solta uma gargalhada, e abana as mãos, fazendo uma bola de fogo estranhamente... Estranha. Como eu estava muito perto dele, as chamas ficam a uma distância perigosa do rosto, me fazendo suar com o calor. David pega a espada e parte para cima de Gold, mas esse apenas diz:

– Nã nã nã, fique onde está ou eu farei algo não feliz acontecer com sua bebezinha e com essa bola de fogo – Observo pelo canto do olho, David parar com uma expressão mista de ódio e preocupação no rosto, enquanto Gold sorri aprovando a atitude dele.

– Sabe, Swan, eu simpatizo com você. Seja grata por isso. Mas não abuse da sorte, porque essa simpatia um dia pode acabar – disse ele, balançando a bola de fogo na frente do meu rosto e aproximando-a mais ainda de mim – Ah, e cuidado com os amiguinhos que você arruma – disse ele, apagando as chamas. Mas, antes que todas fossem completamente apagadas uma atingiu em cheio a maçã do meu rosto, fazendo uma queimação percorrer por todo o meu corpo. Contive a vontade de gritar de dor, e apenas dei um sorriso forçado para Gold, enquanto dizia:

– Pode deixar. Me lembrarei desse seu conselho um dia, quem sabe.

Quando ele saiu pela porta do hospital e eu tive a certeza de que ele havia ido embora de vez, virei-me para onde David e Mary estavam, curvando-me e dando gemidos de dor, o mais baixo que consegui. O único problema que o baixo que eu consegui não foi baixo o suficiente.

– Emma! – gritou Mary, vindo ao meu encontro e me abraçando. David veio logo atrás dela, e assim que me alcançou, acariciou a queimadura do meu rosto.

– Aquele filho-da-mãe, darei um jeito nele agora mesmo – disse ele.

– Não, está tudo bem – disse eu – Não há nada o que fazer e nem vale a pena, não agora.

– Mas...

– Por favor.

– Tudo bem – disse David por fim, guardando a espada – Você está bem?

Balancei a cabeça afirmativamente.

– Está doendo muito ainda? – perguntou Mary Margaret

Balancei a cabeça afirmativamente.

– Ai meu Deus, Emma, vamos levá-la para um quarto, afinal já estamos no hospital – disse ela, me abraçando.

– Não, eu estou bem. De verdade. Preciso fazer outras coisas agora, sem contar que há pessoas em situação muito pior que eu.

– Você quer dizer, tipo o Hook? – pergunta David

– Eu quis dizer pessoas. Obviamente ele não é o único morrendo aqui.

– Emma, por que está tão preocupada – pergunta ele, desconfiado.

– Eu não estou preocupada, caramba! Apenas acho que não há necessidade de se alarmar. É só uma queimadura.

– E que coisas você tem para fazer?

– Hã, bom, eu preciso falar com Hook – digo, encarando o chão.

– Emma...

– David – interrompe Mary Margaret – ela provavelmente sabe o que está fazendo, então... mas, Emma, querida, mais tarde trataremos dessa queimadura, certo!? – Diz ela por fim, beijando o meu machucado.

– Certo – respondo, sorrindo.

Era tão estranho ter pessoas se preocupando comigo, querendo cuidar de mim e me apoiando tão incessantemente. Mas, era muito bom. De verdade. Nunca me senti tão bem. E na verdade, nunca imaginei que um dia isso fosse acontecer.

– Amo vocês – digo por fim, e saio em direção aos corredores do hospital procurando em que quarto Hook estava.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Finalmente, depois de longos minutos procurando, o encontro. A enfermeira fez um bom trabalho no quesito esconder.

Ele está dormindo, e, antes que acorde, tiro o seu gancho e guardo em meu casaco e o algemo.

Coloco as algemas em seus pulsos, presos junto a borda da cama do hospital. O prendi não porque não confiava nele, mas para que ele não pudesse fugir. Do jeito que ele é, não duvidaria caso ele resolvesse levantar todo quebrado e seguir atrás de Rumplestiltskin. Então, resolvi prevenir. Não queria perdê-lo agora, e com certeza perderia caso ele ficasse solto por ai provocando Gold.

Sentei na cama e resolvi esperar ele acordar. Devo confessar que adoro esse jeito provocativo dele de ser.

Depois de um tempo ele acorda, e percebo que se assusta quando me vê ali no quarto. Quando tenta se levantar, não consegue graças as algemas.

– De novo? Você tem uma obsessão por manter pessoas cativas ou algo parecido? – pergunta ele erguendo as sobrancelhas.

– Na verdade, não pessoas, mas você – digo, sorrindo ironicamente

– Sabe Swan, você não precisa me prender para me admirar ou fazer qualquer outra coisa – diz ele, ainda com as sobrancelhas erguidas sugestivamente – basta pedir.

– Hum.

– Você poderia me soltar?

– Não.

– Ah, vamos lá, qual o problema? O que você acha que vou fazer? Sair daqui todo quebrado, correndo pelo hospital com essa roupinha branca sexy?

– Sinceramente? Acho sim.

– Pelo amor de Deus. Não consigo nem me mexer direito, tudo dói.

– Você quebrou algumas costelas.

– Certo, obrigado por avisar.

Levanto da cama e abro as algemas, em seguida, me abaixo do lado da cama, de forma que fico cara a cara com ele.

– Eu vou te soltar, mas se tentar alguma gracinha, se tentar fugir... bem, basta um soco e eu termino de quebrar você.

– Hum, parece divertido. E meu gancho.

– Seu gancho está confiscado por enquanto.

– Como é que é? Uma mão não é o suficiente querida, preciso do meu gancho.

– Só lamento.

Ele revirou os olhos e em seguida me encarou com aqueles lindos olhos azuis. Estava com uma expressão zombeteira no rosto e ia começar a falar algo mas, parou abruptamente.

– O que aconteceu com seu rosto?

– Nada demais.

– Não parece ser nada demais.

– Gold.

Ele bufou.

– Quem aquele filho-da-mãe pensa que é? – disse ele, ajeitando-se na cama.

Sentei na pontinha da cama, ficando novamente cara a cara com ele.

– Ele está apenas chateado, graças a você.

– Ele deveria deixar de ser covarde. Seu problema é comigo, não com você, você não tem nada a ver com isso. Por que ele descontou em você e não veio atrás de mim?! Covarde.

– Na verdade, ele estava vindo atrás de você.

– E?

– Bom, eu atrapalhei um pouco. Ele não descontou em mim à toa.

– Como é que é?

Encarei o chão, incapaz de olhar naqueles olhos azuis.

– Swan?

Continuei encarando o chão.

– Obrigado.

Finalmente o olhei.

– Obrigado por ter me defendido lá na fronteira e agora aqui.

– De nada.

– Apenas me explique por que.

– Por que o que?

– Por que me protegeu? E ainda se machucou por conta disso – disse ele, acariciando a minha queimadura.

– Ele não pode sair matando todo mundo por aí. Sendo poderoso ou não, ele não tem esse direito.

– Só isso? – Hook parecia desapontado com a minha resposta.

Na verdade, não era só isso. No fundo eu sabia. Porém, era difícil admitir para eu mesma, não sei se conseguiria admitir isso em voz alta.

– Eu me preocupo com você, Hook. Muito. Mas, você não facilita – as palavras saíram de minha boca antes que eu pudesse engoli-las.

Ele sorriu. Seus olhos azuis brilhavam. Essa resposta parecia ter agradado ele, mais do que a anterior.

– Achei que não se preocupasse.

– Quem disse isso?

– Você.

– Eu disse isso?

– Disse.

– Hã... hum, talvez não tenha sido nesse sentido – ele ainda estava sorrindo.

– E que sentido seria?

– Olha, acontece que, você é um tanto quanto problemático e fora de controle e, alguém precisa se preocupar.

– Bela escolha de adjetivos.

– E bom, você me lembra alguém, mais ou menos.

– Quem?

– Eu.

– Sabe, Swan, sempre soube que você era tão problemática quanto eu.

– Acontece que eu teria gostado de ter alguém que se preocupasse comigo.

– Então é disso que se trata? Compaixão?

– Não é só compaixão.

– Ah não?

– Não.

– Você me abandonou no pé de feijão.

– Pelo amor de Deus, achei que isso já tivesse ficado no passado.

Ele sorriu.

– Na verdade, realmente ficou. Mas, às vezes vem à tona, sabe como é. É difícil não lembrar do fato que eu me arrisquei por você, fui totalmente sincero com você, e, ainda assim, fui deixado de lado – ele fazia beicinho enquanto falava, com uma expressão semelhante a de um cachorrinho abandonado, que me fez ter vontade de mordê-lo e apertá-lo e levá-lo para casa. E também me fez sentir muito culpada.

– Desculpe.

Hook inclinou a cabeça, com uma expressão pensativa, talvez tentando descobrir o que eu estava pensando.

– Ah, está tudo bem. Isso já está no passado – disse ele sorrindo e gesticulando sem parar com as mãos - Abandonar antes de ser abandonado, certo?!

– Funciona bem. Quer dizer, funcionava. E bom, talvez não tão bem.

– Crianças órfãs tendem a ser propensas a ficar sozinhas e afastar toda faísca de companhia que possa existir.

– Eu não sou órfã.

– Você entendeu o que eu quis dizer. Mas, sabe, se serve de consolo, é a órfã mais linda que eu já vi – disse ele, sorrindo e erguendo as sobrancelhas

Ergui as minhas sobrancelhas de volta e acho que corei.

– Na minha humilde opinião, acho que faríamos uma boa dupla de órfãos.

– Ah é?

– Claro que sim! O mais lindo com a mais linda.

– E quem disse que você é o mais lindo?

– Eu estou dizendo. Meu espelho diz todo dia. Ah, e claro, aposto que você também diz todos os dias desde que teve o prazer imensurável de me conhecer.

– Acho que você está equivocado.

Nesse momento, uma enfermeira jovem, com cabelos longos encaracolados e olhos dourados como ouro, entra no quarto, trazendo um carrinho, cheio de curativos e remédios.

Ela sorri para mim, muito simpática e, logo em seguida, se dirige a Hook:

– Como está se sentindo? – pergunta ela, curvando o corpo em direção ao carrinho para arrumar alguns utensílios que haviam caído.

– Melhor agora – diz ele, erguendo as sobrancelhas. Sinceramente não entendi qual foi a dele com esse comentário, mas preferi ficar calada e tentei não aparentar minha irritação.

– Que ótimo! – disse ela – infelizmente, terei que dar uma saidinha agora mas, logo logo volto para ajeitar esses ferimentos. Não há muito o que fazer – disse a enfermeira simpática sorrindo

– Se quiser eu posso fazer, se não for muito complicado nem nada... – falei

– Ah, se não se importar, não há problema nenhum! Tudo o que você tem que fazer é limpar os ferimentos com esses remédios – disse ela, indicando-me os copinhos com líquidos estranhos dentro – e depois, colocar uma nova gaze. Assim que eu puder, venho aqui novamente para checar como estão as coisas – disse por fim, sorrindo e saindo

– Melhor agora? – soltei, assim que ela saiu pela porta. Disse que tentei ficar calada, mas as palavras saíram antes que eu pudesse sequer protestar. Pelo que parecia esse fenômeno estava ocorrendo com muita frequência.

Peguei o líquido vermelho de um dos copinhos para limpar os ferimentos da testa de Hook, enquanto ele gemia. Quando terminei, ele disse:

– Claro! Com você por perto, tudo fica melhor.

– Você estava se referindo a mim? – perguntei surpresa, tentando conter o sorriso, mas, como eu disse anteriormente, o fenômeno de eu-não-conseguir-me-controlar estava ocorrendo sem parar ultimamente.

– Claro! A quem mais seria? Ah. A enfermeira? Pelo amor de Deus, Swan! Ela é realmente uma gracinha mas você sabe que eu prefiro você – disse ele, erguendo as sobrancelhas – Mas, vem cá, você estava com ciúmes?

– Claro que não, não seja ridículo e sonhador – disse eu um pouco alto demais, e acho que apertei a gaze no rosto dele um pouco forte demais quando Hook soltou essa. Sei disso porque ele soltou um gemido seguido de uma feia careta de dor.

– Desculpe.

– Tudo bem.

– Pronto, terminei. Só não sei se está direito, mas ok.

– Fico feliz por ter encontrado você, Swan. Aliás, por você ter me encontrado. Mesmo que naquele primeiro encontro as coisas entre nós não tenham sido muito felizes. Achei que nunca encontraria alguém como você, demorou tanto tempo... mas a espera valeu muito a pena – disse Hook, pensativo, olhando-me seriamente nos olhos, com uma ponta de sorriso nos lábios.

– O que você está dizendo?

– Alguém capaz de me fazer ter vontade de viver novamente. De amar novamente. Obrigado por isso.

Fiquei encarando aqueles olhos azuis durante um longo período de tempo, tentando digerir tudo aquilo que ele falava.

– De nada. Você teve sorte.

– Sei disso – disse ele, sorrindo

– Mas eu tive mais – falei, nesse momento, as palavras pareciam ganhar vida própria e eu realmente não conseguia controlar o que falava – sabe, por ter encontrado você.

– É mesmo?

Balancei a cabeça afirmativamente.

– Se há alguém que pode entender tudo o que eu passei, o que eu ainda passo, e fazer com que as coisas tornem-se melhores, esse alguém é você – falei, sorrindo, alternando olhares entre os seus brilhantes olhos azuis e o chão.

– Venha cá – ele falou, e me aproximei

– É a minha vez de cuidar de você – dito isso, ele pegou o líquido vermelho e começou a passar delicadamente na minha queimadura. O contato imediato com a minha pele me fez tremer. Não sei se foi de dor ou se foi porque estava sendo tocada por ele, talvez tenha sido os dois.

Depois, Hook pegou um dos curativos e colocou no meu machucado, e, com as mãos ainda acariciando minha queimadura, olhou-me nos olhos.

– Espero que não fuja dessa vez, pois, caso não tenha percebido, não estou em condições físicas de ficar correndo atrás de você.

– Não fugirei – disse eu sorrindo.

Rapidamente, ele puxou meu rosto contra o seu e nossos lábios se chocaram. Os dele, delicados e macios, com gosto de maresia, quanto entraram em contato com os meus fizeram o meu corpo tremer. E então eu soube que da primeira vez que tremi ao seu toque, não foi de dor. Enrosquei meus dedos em seus cabelos, e o puxei para mais perto de mim, enquanto ele ainda acariciava o meu machucado.

Soube também que eu realmente era sortuda por tê-lo encontrado. E uma coisa era certa: Não queria nunca mais perdê-lo de vista.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram?
Mereço reviews? haha *-*