Rachel terminava de se arrumar enquanto conversava com Kurt pelo celular.

– Se você quiser pode levar Blaine, eu não me importo.

– Ah, tudo bem, ele tem um compromisso importante com a mãe.

– Ok.

– O que está vestindo? Não, espere. Não me diga que está usando meias três quartos!

Rachel olhou para os pés onde estavam as meias das quais tanto gostava.

– Qual o problema com elas, Kurt?

– Rachel, nós não estamos indo a escola. Nós estamos indo a uma lanchonete digna de um look apropriado! Faz o seguinte, me espera, estou indo pra aí agora te ajudar a se arrumar! Te garanto que vai ser a garota mais linda daquele lugar!

– Kurt, isso não é necessário, acho que está exagerando.

– Não estou não. Vai me dizer que não é bom chamar atenção dos garotos?

– Bom, mas...

– Estou a caminho!

– Tudo bem.

Rachel soltou um riso e olhou seu reflexo no espelho. Se olhou de cima a baixo, tentou ver se sua tristeza era perceptível. Mas o espelho só reflete o físico, dentro dela ninguém poderia ver. E isso era bom de certo modo. Estava decidida a contar a verdade para Kurt. Precisava desabafar e ele lhe pareceu um ótimo confidente. Além do mais, tinha certeza de que ele a entenderia e talvez até pudesse ajudá-la.

Se Kurt soubesse que não quero chamar atenção de ninguém.

Se ele soubesse quem tem meu coração.

Se ele apenas soubesse.

Mas ele saberá.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho da campainha. Rachel foi até a porta e a abriu para Kurt entrar.

– Realmente preciso te dar um trato! – Kurt entrou olhando incrédulo para Rachel – Não, espere isso não soou estranho né? Sei que o único de quem você gostaria de levar um “trato” é o Fi...

– Kurt – ela o interrompeu - por favor, não vamos falar do Finn esta noite ok?

– Ok, sem Finn esta noite.

– Ótimo, obrigado. Vamos, venha até meu quarto para me ajudar a me arrumar.

Kurt entrou no quarto de Rachel e foi direto ao guarda-roupa. Revirou até encontrar um vestido que achou decente para a ocasião.

– Este é ótimo! Uau, nunca pensei que diria isso de uma peça de roupa vinda do guarda-roupa de Rachel Berry! – disse Kurt segurando um vestido branco com um tecido suave, um decote discreto e que ia até a altura dos joelhos.

– Não acha que é muito ousado para a ocasião? – ela disse

– Rachel querida, se você tem esse vestido aqui significa que tem que usá-lo alguma vez na vida, e porque não hoje?

– Mas ainda ach...

– Oh meu Deus, há calças aqui! – ele a interrompeu surpreso por encontrar algo que jamais havia visto Rachel usando.

– Pois é. Há muita coisa aí. – Rachel levantou correndo da poltrona onde estava sentada e foi até seu guarda- roupa e o fechou lembrando-se que havia algo lá que Kurt não poderia ver.

– O que houve Rachel?

– Nada, por quê?

– Como assim por quê? Tem algo aí dentro que você não quer que eu veja, é isso?

– Prometo que mais tarde você saberá o que é. Agora, tive uma ideia.

Ela foi até seu rádio e colocou um CD.

– Vamos cantar!

– Essa é a Rachel Berry que eu conheço!

Os dois cantaram You’re Never Fully Dressed Without A Smile. Terminaram a performance sorrindo e Rachel abraçou Kurt.

– Foi incrível!

– Duetos Hummel-Berry daqui pra frente são meus favoritos!

– Obrigada novamente. Você conseguiu me animar. Sinta-se orgulhoso de seu trabalho!

– Eu sabia que conseguiria. Mas agora vamos, vá colocar seu vestido e esses sapatos que estão ali – ele ordenou apontando para um par de sapatilhas que estavam no canto do quarto.

Rachel foi até o banheiro e vestiu-se.

– Me sinto a caminho de uma festa de réveillon! – exclamou ela saindo do banheiro

– Não tem importância, pode colocar um casaco fino pra dar uma cor no visual, está mesmo ventando lá fora. Agora temos que ajeitar esse cabelo! – disse Kurt já com um pente na mão.

Kurt vasculhou o porta jóias de Rachel e encontrou um enfeite de prata no formato de um laço, mas como ela reclamou de ele estar exagerando novamente na produção, ele resolveu apenas pentear os cabelos castanhos dela para o lado e deixar as pontas lisas um pouco onduladas.

– Você está maravilhosa! Deixa eu tirar uma foto e mandar para Blaine.

Rachel sorriu para a foto e colocou a mão na cintura fazendo pose.

– Já são 19:00 – disse Kurt olhando em seu relógio – Vamos logo, não quero ter que enfrentar uma fila muito grande no estacionamento.

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Quinn desceu as escadas assim que ouviu a campainha.

– Deixa que eu atendo mãe! – disse ela vendo que sua mãe já estava indo em direção a porta – É o Finn.

– Vocês vão sair?

– Sim.

– E posso saber aonde vão?

– Vamos naquela lanchonete nova que abriu há alguns dias. Acha que exagerei na roupa?

– Não meu bem. Está maravilhosa como sempre! – a mãe de Quinn sorriu orgulhosa como sempre por ter uma filha tão bonita.

– Obrigada mãe! – Quinn retribuiu o sorriso

A campainha tocou novamente e Quinn abriu a porta. Era mesmo Finn. Ele ficou boquiaberto com o quanto Quinn estava bonita naquela noite. Ela usava um vestido preto, cor que normalmente não costumava usar, ele ia até a altura dos joelhos e continha partes rendadas perto do busto. Quinn percebeu que estaria frio lá fora então colocou um fino casaco de lã por cima. Seus cabelos loiros estavam soltos em belas ondas que se movimentavam junto com ela. - Uau! Você está... – ele a olhava e acabou esquecendo-se da palavra que completava a frase.

– Linda. – a mãe dela o lembrou.

– Isso! Ah, a propósito, olá Mrs. Fabray, como vai?

– Ótima Finn, obrigada!

– Bom, acho melhor irmos Finn, a lanchonete costuma lotar nesse horário, não quero correr o risco de ficarmos sem lugar.

– Claro. Vamos.

Quinn ia saindo quando sua mãe a chamou.

– Quinnie! Não chegue muito tarde ok? E cuide-se!

– Ok mãe.

– Divirtam-se!

– Obrigada. Tenha uma boa noite Mrs. Fabray. – respondeu Finn sorrindo.

Os dois foram até o carro de Finn.

– Desculpe. – Ele disse enquanto colocava o cinto de segurança.

– Pelo que? – Ela perguntou confusa, fazendo o mesmo que ele.

– Por ter sido meio idiota hoje mais cedo.

– Ah, não se preocupe, talvez eu tenha sido dura demais.

– Não. Você não foi, na verdade eu venho sendo um idiota, sempre fui, nunca fiz a coisa certa e pode parecer que estou sendo dramático agora, mas realmente te devo desculpas.

– Tudo bem Finn. Sério. Pare de se desculpar, isso está ficando patético.

– Ok. Só queria que soubesse que sinto muito.

Ele se aproximou para beijá-la, porém ela desviou o rosto.

– O que foi?

– Nada, só estou com pressa. Vamos logo se não ficaremos sem vaga no estacionamento.

Ele assentiu. Os dois passaram o caminho todo até a lanchonete em silêncio. Chegando lá conseguiram uma das últimas vagas no estacionamento. Desceram do carro e Finn guardou a chave no bolso da calça jeans.

– Aquele carro não me é estranho – disse ele apontando para o carro que estava estacionado ao lado do dele

– Não me lembro de já ter o visto. – disse Quinn olhando para o nada, sem interesse algum sobre o que Finn dizia.

– Ah, como não reconheci antes? É o carro do Kurt! Deve ter aproveitado a noite e vindo com Blaine.

– Finn. Só te peço uma coisa: vamos sentar em uma mesa longe da deles. Quero privacidade.

– Tudo bem Quinn. Mas se eu os vir tenho que ao menos cumprimentá-los, e você também.

– Certo. – ela revirou os olhos - Agora vamos, está muito frio aqui fora.

– Quer o meu casaco?

– Não obrigada, não é necessário. Lá dentro tem ar condicionado.

– Ok.

Eles entraram na lanchonete e logo de cara já viram Kurt indo em direção a uma das mesas com duas bandejas onde haviam sorvetes de chocolate e flocos. Ele colocou as bandejas na mesa e sentou-se em uma das cadeiras. Quinn olhou ao redor torcendo para que houvesse mesas vazias mais ao fundo da lanchonete, mas não viu nenhuma. Finn andou em direção a mesa onde Kurt estava e Quinn o seguiu.

– Ei Kurt! – disse Finn animado.

– Finn? Quinn? O que estão fazendo aqui? - Kurt surpreendeu-se de ver os dois lá justo na noite em que resolvera trazer Rachel para uma noite descontraída.

– O mesmo que você eu acredito. – Quinn disse

– Bom, vi que não há outras mesas vazias, acha que Blaine se importaria se Quinn e eu sentássemos aqui com vocês?

Quinn o cutucou de leve.

– Bom, na verdade não estou com Blaine esta noite.

– Não? – perguntou Finn confuso – Então de quem é a outra bandeja?

Rachel voltava do banheiro no momento em que viu Finn e Quinn parados em frente à mesa onde Kurt estava. Parou e os observou de longe.

Quinn e Finn?

O que eles estão fazendo aqui?

Juntos.

Calma Rachel.

Respira fundo.

Não há motivos para ficar nesse estado, afinal ela não é nada sua.

Muito menos ele.

Vá até lá e aja normalmente.

Rachel respirou fundo e se dirigiu devagar até a mesa, tentando parecer confiante. Parou logo atrás de Quinn e Finn.

– Oi gente... – disse tentando disfarçar o nervosismo.

Quinn e Finn viraram-se para ela. Quinn ficou literalmente boquiaberta e olhou Rachel da cabeça aos pés. Ela não estava acostumada a vê-la tão arrumada, tão... linda. Finn encarou Rachel da cabeça aos pés também, extremamente surpreso com a visão.

– Rachel? Uau! Está linda! – disse ele virando-se para Quinn, imaginando que ela estivesse o encarando meio furiosa.

– Concordo! – disse Quinn sem conseguir conter um sorriso bobo.

Naquele momento todos a encararam incrédulos com o que acabaram de ouvir.

– O que? – perguntou Finn confuso.

– Quem é você e o que fez com Quinn Fabray? – disse Kurt, também surpreso.

Rachel a encarou surpresa, não resistiu ao ouvir aquilo e ao ver o sorriso de Quinn, e acabou sorrindo também. A maneira com que os lindos olhos verdes de Quinn brilhavam fazia Rachel ter vontade de olhá-los mais de perto. Bem mais de perto. Os olhos das duas se encontravam enquanto sorriam.

– Quinn? Quinn? – Finn se intrometeu na frente de Quinn a fazendo voltar à realidade.

Ela voltou a si num salto e tentou disfarçar o que havia acontecido.

– Está... diferente, Rachel. Gostei do vestido.

– Obrigada. – Rachel agradeceu, sorrindo agora de uma maneira contida.

– Finn vamos procurar outra mesa, vejo que essa já está cheia.

Rachel encarava o chão enquanto Quinn tentava se livrar da situação em que se metera.

– Tudo bem, mas acho que não vamos encontr...

– Apenas vamos – ela o interrompeu, pegando em sua mão e já indo em direção aos fundos da lanchonete.

– Até mais gente – ele disse abanando enquanto ia sendo arrastado por Quinn.

Rachel sentou-se na frente de Kurt que observava toda a cena surpreso.

– Ok, o que foi isso que acabou de acontecer aqui? – ele perguntou.

– Não faço ideia. Vamos apenas esquecer. – Rachel encarava a mesa, ainda confusa, ela sabia que Kurt havia percebido que ela havia ficado mexida, mas não tinha coragem de começar a dar explicações.

– Rachel... olhe para mim.

Ela o olhou, os olhos lacrimejados, se segurando para não deixar as lágrimas escorrerem pelo seu rosto.

– Está tudo bem? – Kurt segurou a mão dela – Era algo relacionado a isso que você queria me contar?

– Sim... A verdade é que... – ela respirou fundo e tentou buscar dentro dela forças para conseguir falar – Eu estou apaixonada... – ela foi interrompida por Kurt.

– Rachel, eu sei que você o ama e deve ser difícil vê-lo com a Quinn, mas você precis... – agora ela o interrompeu.

– Pela Quinn. – ela sussurrou rapidamente com medo que alguém mais ouvisse.

– O QUE? – ele praticamente gritou, arregalando os olhos e levando as mãos ao rosto, chocado.

Todos a volta deles os encararam.