Depois da Escuridão escrita por Lucas Alves Serjento


Capítulo 28
Capítulo 28 - Haverá um Futuro




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N/A: Estou repostando a história para corrigir a gramática e fazer leves alterações para tornar a história mais agradável de ler. Espero que gostem.

 

Capítulo 28 – Haverá um Futuro.

Uzumaki Naruto

Retirei de meus ombros o velho manto. Não havia mais motivo algum para conter a doença e, mais do que nunca, eu precisava de todo o poder que pudesse obter. Retirá-lo faz com que eu sinta minha força e a ausência do peso que a restrição impõe. Meu corpo fica leve e eu me sinto mais capaz.

Tenzo me observa com cuidado. Devagar, ele move seu pé esquerdo em um semicírculo. Atento, levanto meus braços em posição de ataque. Meu corpo obedece rapidamente.

—Não espere meu ataque, Naruto. - Ele ergue seu pé. - Porque ele já está aqui.

Ele bate o pé contra o chão, donde surgem diversos discos de terra em formato de meia-lua. Alguns começaram a circular ao seu redor, outros se posicionaram nas proximidades.

Faço um in. Antes mesmo que eu falasse, mais de trinta clones nasceram à minha volta. Eu pensara em fazer dez. É o poder transbordando chackra através de meu corpo.

Pulei para frente com um clone ao meu lado. Ergui a mão e ele também. Antes que eu pense em um jutsu, o Rasengan surge na minha palma. “Meu chackra pensa sozinho”. Meus clones atacam os discos de pedra. “Ele reage junto comigo”.

Pedaços de terra caem em redor de Tenzo, que não parece se abalar com a nossa facilidade, enquanto eu e meus clones recuamos, todos inteiros.

—Não pense que seu chackra tem personalidade. - Ele estivera tentando ler a minha mente. Por isso não me atacava. - Ele só faz o que você faria de modo mais rápido. Assim como o meu.

Pensar que temos o mesmo tipo de poder me causa repulsa. Minha face se torce em uma careta. Vejo, atrás dele, Ino sobre a cadeira. Quero me aproximar dela.

—Nosso chackra não é igual. O meu chackra veio de Sasuke.

Ao encará-lo, não consigo evitar o torcer do rosto, nem o expor dos caninos. Sem perceber eu emulava os efeitos da libertação do poder da raposa. Abro minhas mãos, como se expusesse as garras. Comprimo meus olhos, como se sentisse a dor do chackra que queima. A raiva aumenta. Eu me entrego ao ódio e ele me encara com a sua expressão suave e cínica, do homem que está certo de sua vitória.

—Exatamente. O mesmo poder de Sasuke. Que também é o meu poder. Que era o poder de Itachi. O mesmo poder que Madara. O poder daquele que, por direito, comanda os Uchiha. O poder que habitou em Sasuke e que ele, por alguma razão, achou que tinha o direito de dá-lo a você. Que você poderia controlá-lo. - Ele quer me dizer algo que ainda não enxerguei. - Ele deu a você um algo além da sua pobre imaginação. Um poder que nem mesmo eu, que sei muito mais que Sasuke, conheço a amplitude.

Ele me deu isso. Por quê? Para quê?

—Ele renunciou ao próprio sangue para entregar um poder a um garoto que sonhava o sonho tolo de ser Hokage. Que estava em constante evolução, mas mal chegava aos meus pés. Que pensava que poderia consertar o mundo somente com sorrisos. Que vive, até hoje, o sonho inocente de fazer com que tudo dê certo. Nós dois sabíamos para quem esse poder foi entregue. E agora eu estou aqui, pronto para tomá-lo. E o que Sasuke idealizou será um mistério inútil.

Sasuke sabia que eu venceria. Que eu descobriria como derrotá-lo.

—Quais são seus poderes? - Tenzo não entende minha intenção.

—Acha mesmo que vou responder isso?

—Acho que vai, a não ser que esteja escondendo algo. Porque algo que você finge ter, na verdade não existe. É o motivo para você ter toda essa autoconfiança. O motivo para você ter seus filhos te protegendo e que te dá essa certeza de que vai sempre vencer.

Ele empalideceu. Touché. Antes de morrer, Sasuke me deixara um último recado. Um recado que Mamori deve ter decifrado, mesmo que parcialmente. Uma mensagem que eu começava a compreender.

—Então é isso? Você não é realmente forte? Afinal, você tem seus filhos criados a partir do seu chackra, mas você não tem afeto por eles. São jutsus roubados, pelos quais você não nutre quaisquer sentimentos.

—Você fala bastante, mas não existe sentido nas suas palavras.

Avanço um passo em sua direção.

—Eu estou dizendo que Sasuke deixou o poder para mim por um motivo. Que ele o fez porque ninguém mais em Konoha passaria pela sua última linha de defesa.

Ele dá um passo para trás e faz com que os discos no chão se ergam. Eu faço com que meus clones desapareçam.

—Todo o trabalho era feito por seus filhos, não é? Nem mesmo eles perceberam e escolheram acreditar em você. Por isso você confiava que tudo daria certo. Algo sempre acontecia e fazia com que o futuro que você desejava se concretizasse.

—Então você não acredita no tamanho do meu poder? - Ele sorri maldosamente. - Gostaria de testá-lo?

—Não precisa se dar ao trabalho. - Saquei uma kunai. - Não há dúvidas de que você tem alguma força. Mas e se eu superar seu maior poder? Seu genjutsu se desfará?

—Genjutsu? - A voz baixa e suave de Ino soou nas proximidades.

—Sim, Ino. Genjutsu. - Afirmei. - Um truque. Quando você acredita que ele é mais forte, o Sharingan bloqueia parte dos seus movimentos sem que você perceba. Novamente esse controle escondido. Não lhe bastou o que você usou em mim? Em toda a vila?

Pego a kunai pela ponta. Concentro meu chackra.

—Mas há uma falha nesse jutsu, não é? - Falo para ganhar tempo e ter certeza de que estou certo. - Se eu não acreditar, o genjutsu desaparece e minha verdadeira força é direcionada para você, não é?

Ele sorriu, mas eu pude enxergar além daquele sorriso confiante.

—Não pense que será fácil. E se Sasuke estava errado? E se não houver genjutsu? E eu tenho que acrescentar que, ainda assim, você não é forte o bastante para me derrotar? Mesmo que eu esteja blefando, como você poderia ter certeza que não acredita que eu sou mais forte? Como conheceria o intento mais profundo da sua mente? E como vai mudá-lo de repente?

Um som chama a atenção, cortando a conversa. Um riso alto. Ino.

—Você não compreende? - Ela dispara. - Essa é a razão de Sasuke escolher Naruto. Senão, desistiria antes de começar. Naruto é a pessoa com a mente mais simples da vila. O único que realmente se conhece e sabe o que quer. Por isso, todos confiam nele. E se ele diz que não acredita que você é mais forte, então ele não acredita, nós não acreditamos e ninguém vai contradizê-lo.

—Obrigado, Ino.

—Só estou falando a verdade. Infelizmente, isso é tudo o que posso fazer agora.

Olhei para ela, estranhando as palavras. Ela estava sentada, saudável e solta. Porque não podia ajudar?

—Aparentemente, ele me sedou. - Ela respondeu antes que eu perguntasse. - Espero que passe junto com o genjutsu. - Ela piscou para mim. - Aguenta um pouco que logo eu também vou lutar.

Outro som. Um riso, agora vindo de Tenzo.

A essa altura, meu jutsu está completo. Meu chackra estava todo na kunai. Eu o drenara para ela. Sem chackra próprio, meu corpo começaria a drenar o chackra Uchiha.

—Você não entendeu? - Ele pergunta. - Algumas coisas não são genjutsus. É com elementos reais que o controle é construído. Como o jutsu que faz com que seu corpo não possa ser tocado. Como a paralisia nas suas pernas. Essas coisas são permanentes, Ino.

—O quê? - A minha pergunta é automática. A kunai começava a drenar o chackra Uchiha. Minha cicatriz arde. Aos poucos ela se contrai. O selo rompe à medida que a energia acaba.

—As pernas dela estão paralisadas para sempre. Por isso não consegue andar. Nunca conseguirá.

Não. Não é verdade.

É impossível. Ela está sedada.

E, apesar de não querer acreditar, algo em meu coração diz o impossível: É verdade.

Ino está paralítica.

“Não se deixe controlar.”

“É o que ele quer.”

Senti a voz da própria Ino em meus ouvidos. Surpreso, olho para ela.

“Sou eu. Técnicas de ligação direta na mente alheia são minha especialidade, lembra? Até eu posso fazer algo tão simples quanto passar algumas mensagens.”

Ela baixa os olhos para suas pernas. Embora tente manter a postura, não consegue conter totalmente as lágrimas que surgem em seus olhos.

“Eu não sei o que fazer. Naruto, eu preciso da sua ajuda. Todos precisam. Konoha precisa de você. Eu posso falar, mas não posso ajudar agora.”

“Sei que está fervendo em ódio. Que quer matá-lo.”

Meu chackra está condensando. A voz de Ino é a única coisa que me impede de saltar sobre Tenzo, enquanto ele fala sozinho.

“Não foi por isso que Sasuke o escolheu. Ele sabia que o seu coração é maior que o seu cérebro. Como ele comanda todo você sem dificuldade. E como tudo o que você faz dá certo sem precisar de raciocínio.”

“Você não vai ganhar de Tenzo usando a raiva, Naruto. Vai ganhar usando os sentimentos depositados em você. A esperança de vitória desses que estão caídos no chão. Porque agora é isso o que você é. A esperança de um fim melhor para essa guerra.”

—Enfim… Vamos parar de conversar? - Tenzo finalizou seu discurso e fez um gesto com a mão, fazendo com que os discos se fundissem. A terra tomou a forma de um grande e único disco em formato de meia lua.

Não era um disco comum. Estava recoberto de uma quantidade enorme de chackra, que, instável, parecia prestes a explodir. Ele se inclinou, ficando de frente para mim.

—Este disco não é comum, Naruto. Conforme ganha velocidade, ganha potência também. E força. Quando chegar em você, estará no seu ápice. Você pode até esquivar dele, mas aí ele vai atingir seus amigos.

Ele aponta com o indicador na direção de onde estão os outros, às minhas costas.

Minha expressão não endurece. A doença faz meu corpo cambalear. Agora não há selo. Todo o chackra está acumulado na kunai. O que resta é oriundo do produtor Uchiha no meu organismo. O agente biológico que está me matando. Em poucos segundos ele já teve tempo de entrar em ação e drenar minha força. Faz isso primeiro para que seja fácil me matar depois.

Não consigo falar por alguns momentos. Tenzo se põe em posição e lança o disco quando eu lanço a kunai. A perda do contato com a arma me faz sentir como se um pedaço do meu corpo se desprendesse. Era o genjutsu tentando tirar a força do golpe.

“Eu sou mais forte.”

“É claro que você é, Naruto.” A voz dela é quente, carinhosa. “Sempre foi.”

“Ele é mais fraco que eu.” Tenho que forçar a minha mente a entender.

“Ele é. Porque não tem o que você tem.” A kunai se choca contra o disco. Agora é tudo ou nada. “Ele não tem a amizade. Ele não é querido. Ele não tem ninguém.”

Minha kunai está cedendo. Mesmo em meu poder máximo ele…

“Ele não é mais forte que você.” A voz dela é suave. Inabalável. “Porque o shinobi que eu amo é mais forte que qualquer um. Ele tem o espírito de um Hokage e a força para proteger a vila.”

Eu não presto atenção em Tenzo. Apenas nas palavras dela.

“Esse shinobi é você, Naruto.”

“Eu te amo.”

Abro os olhos. Meu foco é Ino. Ela continua sentada naquela cadeira.

Ela parece mais velha. Sua expressão é de uma mulher. O seu olhar traz calor e segurança. Eu e ela.

E, entre nós, cai um corpo.

Tenzo.

Ferido.

—Ahahahaha… - Ele ri fracamente. - Você tem mesmo uma mente simples, não é?

Eu desconfiava do tom aparentemente derrotado. Tenzo não desistiria tão facilmente.

—Com uma mente simples, tente entender um assunto simples: A sua doença foi causada por causa do chackra Uchiha inserido em seu corpo. Que demorou a se manifestar por causa… - Ele teve dificuldades em continuar, tossindo sangue no chão. - Por causa da sua força. Seu chackra e a raposa retardaram o processo.

Eu deveria tê-lo matado naquele instante. Porém, eu queria ouvir suas últimas palavras. O seu corpo estava entrando em colapso. O meu também. O dele por causa dos ferimentos. O meu parecia ser consumido de dentro para fora.

—Se o seu corpo fosse normal, o que aconteceria quando Sasuke te deu o chackra?

Ele sorriu.

Eu não entendi. Não até ele erguer um dedo e se voltar para Ino.

—A reação seria imediata.

Ela tentou levantar para esquivar, mas não teve tempo. Corri e peguei a kunai no meio do caminho, o que fez o chackra Uchiha me consumir mais rapidamente. Não tinha importância. Ele se preparou.

Joguei a kunai, mirando a cabeça dele. Uma bola de chackra saltou do seu dedo.

O corpo de Tenzo tomba de modo definitivo. A kunai faz um corte e atravessa o crânio. A bola de chackra salta como um tiro de canhão na direção de Ino. Eu ainda tenho tempo de compreender que não conseguirei correr rápido o bastante. Estendo a mão à frente.

O chackra atinge o peito dela e adentra seu corpo.

Eu corro e a alcanço. Sua cabeça já pende para o lado. Seus olhos estão abertos e ela parece consciente, mas não consegue falar ou se mover.

Não, não posso deixar. Não pode ser. Tem que restar alguma coisa. Tem algo que eu ainda posso fazer.

Mordo meu dedo. De frente para o corpo dela, faço um in. Ela ainda não reage.

“Por favor, preciso de mais chackra. Preciso de mais chackra Uchiha agora.”

“Venha! Demônio! Está na hora de fazer uma última refeição!”

A reação é imediata. Eu esperava nunca mais vê-lo, mas ele estava aqui.

O demônio que selou a raposa se apresenta, imponente, à minha frente.

—O que você me oferece agora? - Sua voz grave ecoa e perturba. Não fosse o desespero, eu estaria com medo.

—O meu chackra. O meu corpo. E o chackra Uchiha em nossos corpos. - Apontei para Ino. - O meu chackra Uchiha e o dela.

—E qual é o favor que você pede?

—Retire a maldição que impede que ela seja tocada.

Seguro a respiração, torcendo para que eu seja valioso o bastante. Na esperança de que ele caia na conversa de que o chackra Uchiha é uma oferenda.

—Mais uma coisa.

—O quê?

—Eu ofereço a você alguns anos da minha vida sem ver a luz do dia. Sem ter a alma liberta. Ofereço-me de bom grado para sofrer o desespero de ser um prisioneiro até o dia que Ino poderá vir comigo. Ofereço uma vida na escuridão até o dia que ela puder e me quiser de volta.

—E o que você quer em retorno?

—Eu devo ser liberto no dia que ela se unir a mim. E quero trinta segundos para me despedir. Depois, pode me levar.

Eu encaro aqueles pontos negros que deveriam ser olhos. Ele se mantém em silêncio durante um minuto inteiro. Então abre sua boca devagar, voltando as costas para mim.

—Você tem trinta segundos.

Evito pensar antes de agir. Volto-me para Ino e vejo que algo sai dela antes que eu a toque. O demônio retirava o chackra Uchiha e o jutsu proibido. Meus trinta segundos se iniciaram.

—Naruto! - Ela gritou desesperada, olhando para mim e para o demônio. Tentou se levantar. Aquilo não era um genjutsu. - O que você fez?

Vinte e cinco.

Não penso em nada. Não falo nada. Não preciso falar. Afago o rosto dela. E a beijo.

Instantes. Segundos para um observador. Mas nós, que guardaríamos aqueles momentos em nossos corações enquanto vivêssemos, precisamos fazer um esforço. Aquele momento teria que ser suficiente para uma eternidade. A nossa eternidade.

Dez.

Nossos corpos se separam. Não sabemos o que falar ou fazer.

Oito segundos.

—Naruto, eu te amo. - Ela sempre consegue falar antes.

—Ino, eu te amo.

Admiro aquele rosto mais uma vez. Há lágrimas em seus olhos. Certamente algumas também escorrem dos meus.

Quatro segundos.

—Eu vou embora hoje, mas um dia ainda poderemos estar juntos.

—O tempo acabou.

Yamanaka Ino

Ele se vira, sorrindo para mim. Era evidente que não queria ir.

“Adeus, Naruto.” Envio uma última mensagem. “Não demore para voltar.”

Ele continua sorrindo, andando de costas para o estômago do monstro. Abre seus braços e o demônio o amarra em sua barriga.

Posteriormente eu descobriria que essa era a primeira vez que um humano fazia isso com o corpo, não apenas com a alma. Era de se esperar que Naruto partisse assim. As coisas nunca são normais quando ele está no comando.

O ar treme e ambos, Naruto e o demônio, somem.

Paro de prender a respiração.

Noto que todos que estiveram desacordados agora estavam conscientes. Viram tudo o que acabava de acontecer.

Somente uma pessoa, assim como eu, chorava. Estava em um telhado, há alguma distância, ajoelhada. Evidentemente sofria.

 

Era Sakura. Mesmo à distância, percebia que ela balbuciava algo lenta e repetidamente. Invadi a sua mente para entender o que estava pensando.

—Perdão. Perdão. Perdão… - Ela se perdia no mesmo pedido.

Tentei pensar em algo para dizer, mas não consegui. Não estava em condições de fazê-lo. Devia, inclusive, estar pior que os outros. Não queria fazer nada mais que fitar o fim do pôr do sol no horizonte onde Naruto sumiu.

 

15 anos depois

Yamanaka Ino

Hoje faz quinze anos desde o incidente.

Depois da tragédia, Konoha não mudou.

O mundo não deixou de girar depois daquela tarde.

Houve um futuro.

Depois do fim da guerra civil, Tsunade estabilizou o poder e, uma vez que estava tudo em ordem, nomeou Neji o primeiro Hokage oriundo do clã Hyuuga. Calmo, inteligente e controlado, o novo Hokage guia a vila com tranquilidade. Há inclusive quem diga que com seus olhos calmos ele nos guia no caminho da paz.

Sakura se casou com Sai. Tenho certeza de que ela não o ama de verdade, mas sei também que ele a ama. Fico feliz que ela perceba isso e saiba que, estando com ele, pode viver uma vida tranquila, cultivando uma família que já cresce com seu primeiro filho. Essa criança já tem quatro anos. Engraçado como o tempo passa.

Chouji e Tenten estão juntos há anos. Ninguém sabe porque eles não casam logo. Neji e Hinata estão noivos e o casório deve ser em alguns meses. Kakashi e Shizune matricularam a filha deles na escola ninja no ano passado.

A filha de Kurenai já é uma kunoichi de respeito e tem voz de comando na vila. Tsunade aproveitou a aposentadoria para curtir algumas viagens pelo mundo. Pelo que sei, agora que Shizune não a acompanha, ela está acumulando dívidas, apesar de seu estado de saúde prejudicado pela idade.

Kakashi agora é membro do conselho da vila. Sai é chefe da Anbu e unificou a Raiz e a sessão principal. Sakura deixou de ser kunoichi depois dos acontecimentos daquela época. Shikamaru e Temari estão morando juntos em Suna. Fiquei sabendo que estão comemorando a chegada do segundo filho. Rock Lee partiu junto com Shikamaru para ver se podia ser um shinobi sem Gai e acabou virando o representante de Konoha por lá. Também parece ter arrumado alguém para morar junto – parece que ele é bastante popular na região.

Yamato, Gai e Iruka estão chefiando a escola, mas devem se aposentar em breve. Além disso, Iruka e Kurenai ainda não admitem, mas acho que estão saindo juntos.

É bastante coisa, não acha? Muito aconteceu. Tanta gente que seguiu em frente.

Entende o que quero dizer? A vila ainda pode andar. Mesmo depois daquele dia. Depois do enterro onde compareceram mais pessoas na história da vila. Aquele enterro onde uma pessoa sem família teve o caixão rodeado de mais flores que qualquer outro. E isso com um caixão vazio.

Kakashi me explicou - com sua experiência em selamentos - que o corpo foi levado porque era parte do acordo. E que Naruto só voltará para mim quando eu morrer, para levar a minha alma para perto da dele. O seu corpo sempre ficará com o monstro. Mas as nossas almas têm um destino diferente.

Justamente por isso sou obrigada a admitir que, por várias vezes, quis me matar. Apressar o nosso reencontro. Mas não o fiz. Sentada nessa cadeira de rodas eu redescobri a vida e encontrei novos propósitos, mesmo sem poder sair em missões ou derrotar ninjas em batalhas. Atualmente, sou membro do conselho, junto com Kakashi. Neji sempre me escuta, ainda que muitas vezes não goste. Ele tem um diálogo flexível e na maior parte das vezes conseguimos chegar a um meio-termo razoável.

Porém, ainda me sinto incompleta. Mesmo sabendo que ajudo as pessoas ao decidir questões importantes ou em dar conselhos aos jovens frutos da aldeia, ultimamente eu sinto que tudo não passa de uma desculpa para fazer algo.

Afinal, o motivo de eu não ter me matado é por saber que Naruto não desejava isso. Ele sacrificou sua vida para que eu pudesse ter a chance de viver. Não serei a cega e ingrata que jogará isso fora.

Além disso, outro sentimento que me alenta é o conhecimento de que esse martírio em breve acabará. Naruto não sabia disso, afinal, eu sou uma mulher jovem. Supunha-se que teria ainda uma longa caminhada pela frente. O que Naruto não previu foram as cicatrizes deixadas em mim pelo chackra Uchiha. Ele esteve pouco tempo em meu corpo, mas foi o bastante para danificar meus órgãos internos. Hoje, sou uma pessoa doente em uma cadeira de rodas. Não me sinto inútil. Não me sinto mal cuidada ou com aparência de doente, mas também não me sinto bem. Não fosse pela esperança de encontrar Naruto, sinto que teria caído em depressão há muito tempo.

O suspirar é automático e acalenta a alma. O piscar é reflexivo e permite clareza ao olhar. Não posso crer que estou aqui. Lembrando e lamentando. Nesse cemitério, em frente a essa lápide. O lugar ao qual jurei não voltar depois daquele dia. Daquele enterro.

Então porque estou aqui? Será esse um dia simbólico? Será que eu vim aqui quando o sofrimento da perda começou e agora volto quando é hora de acabar?

—Ino?

Não preciso me virar para saber que essa voz é de Sakura. Também não preciso me virar para saber que todos os outros a acompanham. Todos aqui, olhando para mim.

—O que foi, Ino? Você parece abatida. - Chouji. Quase meu irmão depois de todos esses anos. - Você tomou seus remédios?

—Remédios não adiantam mais. - Minha boca se abre sozinha. Não havia necessidade de responder, mas eu disse a verdade. A dor interna é tão grande quanto qualquer ataque agudo que já tenha tido. Não. Supera essas dores também. Faz a respiração falhar. Mas eu consigo domar a dor e disfarçar.

—Então nós temos que ir para o hospital! - Sakura se aproxima. Quando ela tenta mover a cadeira, eu não deixo. Travo as rodas com as mãos. Mesmo que eu não consiga resistir caso ela use força, o movimento é o suficiente para ela entender e ceder à minha vontade.

—Então é assim? - A voz de Kakashi falha.

—Sim. Foram quinze longos anos.

Silêncio.

Meu rosto se volta para a lápide.

—Ele deixou um buraco em nossos corações. - Sakura copia meu movimento.

—Nenhum deles tão grande quanto o meu. - Não posso conter o tom triste. - Ele morreu por mim, afinal. Talvez resistisse mais se não fosse por isso.

Kakashi queria me contrariar, mas se conteve. Sabia que eu me apoiava nesse pensamento; agora mais do que nunca.

Porque eu quero que Naruto também saiba aquilo que todos aqui já sabem. Que eu faria por ele tudo o que ele fez por mim, se isso estivesse ao meu alcance. Que eu viveria mais cem anos sofrendo dores infernais se isso me desse mais trinta segundos com ele.

Meus olhos estreitam. Começo a chorar. Ninguém emite nenhum ruído. Se soubessem como me sinto agradecida por estarem aqui somente para me fazer companhia, sem atrapalhar meu momento, nem me deixar sozinha.

Naruto, você pode ver? Konoha está aqui. Ela ainda anda. Eles ainda vivem e o seu sacrifício não foi em vão. Do jeito que você queria, a vila conseguiu algum tempo de paz. Parabéns. Agora a vontade do fogo tem um futuro.

Porém, você ainda tem uma responsabilidade: Eu.

Porque a minha vida mudou completamente sem você.

Porque o meu mundo parou de girar quando você partiu.

Porque eu não tenho um futuro sem você. Por isso, vivo do passado.

Uma última pontada no meu corpo. Uma tossida.

—Sentiremos sua falta, Ino. – É algo que todos eles dizem. Uma última mensagem. E eu agradeço.

Mas minha mente está distraída demais para prestar total atenção nisso. Porque atrás da lápide agora tem um homem.

Um homem sorridente, de capa laranja e preta. Que olha para mim com ternura e me estende a mão.

—Vamos, Ino. É hora de nós descansarmos.

Eu não consigo falar. Levanto da cadeira, sem me surpreender por poder andar. Afinal, se ele está aqui, o que mais é impossível?

Agora já não há dor.

Fecho minha mão sobre a sua e, juntos, começamos a caminhar. Para onde? Não sei. Simplesmente usamos os pés para trilhar o caminho da nossa própria eternidade.

—Senti a sua falta, Naruto.

*

*

 

EPÍLOGO

Haruno Sakura

6 meses depois

Eu caminho com meu filho pelas ruas de Konoha. O pequeno completou cinco anos hoje, um dia antes do casamento de Neji, o que significa que eu tenho a oportunidade de comprar dois presentes em um dia só e me poupar um pouco. Afinal, com Sai trabalhando como shinobi, todo o trabalho da casa é minha responsabilidade. Dessa vez, por exemplo, ele teve que sair em uma missão que vai durar uma semana. O que me consola é saber que ele já não tem coragem de sair em missões perigosas e tem se limitado a ser mensageiro ou suporte para os outros.

—Mãe! - O pequeno Kizashi me puxa pela beira do quimono. Estou tendo alguma dificuldade, mas tem sido cada vez mais fácil andar nessas roupas.

—O que foi? - Dobro os joelhos até ficar da altura dele, para conversarmos.

—Quem são aqueles ali?

Sigo a direção apontada pelo dedo dele e vejo que está indicando o centro da praça principal da vila. Onde duas grandes estátuas foram recém-inauguradas.

Construídas com detalhes dados pelo próprio Hokage, essas estátuas foram feitas depois que ele teve uma “visão” no dia em que Ino partiu, dentro do cemitério. Ele mesmo nunca soube explicar, mas sempre acreditou ter a ver com seu Byakugan. Nós dizíamos que Naruto o permitiu ver aquilo como uma despedida.

Era a imagem de Naruto e Ino, caminhando lado a lado, com sorrisos nos rostos, de mão dadas. Ele vestindo sua capa preta com listras laranjas e ela vestindo o avental de conselheira da vila.

—Aqueles dois eram amigos da mamãe.

—E porque eles são estátuas?

—Porque fizeram algo incrível e agora são estátuas para podermos lembrar o que eles fizeram por nós e aquilo que representam.

Ele me olha com olhos famintos. Creio que seja assim que nascem as grandes lendas.

—Mãe, o que eles fizeram?

Sorrio para ele.

—É uma longa história, com muito amor e também com muita dor. Será que você está preparado para ouvir?

Ele me olha como um jovem homenzinho. Empertiga-se todo, ciente do que está acontecendo. Seu olha demonstra certeza. Um olhar de um shinobi de Konoha. Herdeiro da vontade do fogo.

—Mãe, pode me contar. Eu quero ouvir.

Eu não consigo deixar de sorrir.

—Muito bem. Vamos lá.

Ele pega a minha mão e nós caminhamos. Eu e meu filho.

—Tudo começa com um shinobi chamado Naruto, separado de seu time por motivos que ele mesmo desconhecia. Por ordens da quinta Hokage, ele começa a fazer equipe com uma garota chamada Ino. Os dois não se dão muito bem…

 

Fim do Capítulo 28

Fim de Depois da Escuridão

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Notas finais do capítulo

Gostaria de agradecer a todos aqueles que acompanharam a jornada dessa fanfic até o final. Foi um prazer escrever essa história e espero que vocês tenham se divertido e se emocionado ao ler da mesma maneira que eu me emocionei ao escrever.

Se possível, deixem um comentário com a opinião sobre o capítulo e sobre a história como um todo. Também podem deixar críticas, pois ajudam muito no processo de melhoria desse pequeno autor que aqui escreve.

Se você leu esse texto e quiser ler outra fanfic, fique à vontade para ler Ação e Reação, uma história minha de Naruto que já está disponível aqui no site.

Também, se gostou dessa história e gosta de livros de ficção, apesar do estilo de escrita ter se alterado desde que escrevi esta história, gostaria de pedir que visitem o site da Amazon e pesquisem por “Lucas Alves Serjento”. Lá vocês encontrarão alguns livros da minha autoria.

Muito obrigado a todos e que a vontade do fogo queime em todos nós!