Depois da Escuridão escrita por Lucas Alves Serjento


Capítulo 21
Capítulo 21 - Doentio




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/39702/chapter/21

N/A: Estou repostando a história para corrigir a gramática e fazer leves alterações para tornar a história mais agradável de ler. Espero que gostem.

 

Capítulo 21 – Doentio

 

Uzumaki Naruto

Poucas vezes eu me vi capaz de acreditar na expressão “inferno na Terra”. Sempre achei que a frase poderia ser forte demais para expressar algo fisicamente palpável. Entretanto, contrariando qualquer que seja a minha opinião, a dor que eu sinto não pode ser expressa de outra maneira.

Eu estava correndo ao lado de Kakashi na direção de Konoha quando tive de parar imediatamente, firmando meu corpo para me manter em pé. O meu sensei parou ao meu lado. E, assim que percebi que ele entendeu minha situação, fechei meus olhos e me preparei.

Aqueles ataques de dor sempre me faziam desejar a morte. Desejar que o corpo partisse de uma vez ao meio em lugar de continuar sentindo o sangue queimar em minhas veias.

Claro. Era uma dor que passava rápido. Mas os poucos minutos que durava, a dor me fazia pensar em porque tínhamos de sentir dores. Porque tinha de ser da natureza humana.

Imagine a dor de ralar toda a pele do cotovelo com força suficiente na parede para fazer sair sangue. O ardor e a aflição. Multiplique essa dor por mil e terá uma ideia da dor inicial. Então expanda essa dor por todo o seu corpo e misture com o pior tipo de dor existente e multiplique por mil vezes novamente. Talvez então você compreenda a dor que eu sentia durante os cinco minutos seguintes.

—Maldição. – Meu corpo estava no chão, caído depois que não aguentou a pressão da dor. Eu estava agora sentindo meus dedos novamente, o que era um bom sinal.

—Você está bem? – Lembrei então que Kakashi estava me ajudando a levantar.

—As crises estão ficando mais longas. – Eu reclamei, olhando para o selo próximo ao meu ombro. Estava vermelho vivo, ao invés do preto habitual, como sempre ficava quando a crise da doença atacava. Servia para conter o avanço da doença tanto quanto era possível. A tatuagem começava a se esticar por meu braço, como se a tatuagem ganhasse vida com a crise.

—Eu sei. – Ele também olhava para o meu braço. – Não conseguiremos conter essa doença por mais tempo se você não parar de lutar.

—Você sabe que eu só estou usando o selo para adiar o estado, Kakashi. – Fechei os olhos, afastando de minha cabeça o pensamento sobre o que aconteceria se eu tentasse romper o selo ou se as crises continuassem piorando. – O objetivo é apenas aguardar até a hora certa para romper o selo.

—Você pensa que está sentindo dor? Se romper o selo, você não vai ser capaz de se controlar se continuar achando que esses ataques controlados são insuportáveis.

—Os ataques são causados por causa da doença e é algo diário. – Rebati. – Se eu já tiver sofrido o ataque diário, posso ir à luta com alguma tranquilidade.

—E se não puder controlar o momento que vai lutar? Esse tipo de coisa não é previsível.

Eu afastei o braço dele, testando se conseguia ficar em pé sozinho, testando a sensibilidade dos dedos.

—Coloque desse modo: - Falei. – Se não puder controlar a hora de lutar, posso ao menos tentar romper o selo antes de ter um ataque.

—Não podemos ser tão imprudentes. Um erro assim e estamos mortos. Além do mais, sua situação não parece melhorar. Pelo contrário.

—Durante o treinamento…. – Era um assunto antigo que ele queria trazer à tona. Eu levei a conversa para aquele lado. – Você mencionou que algo estranho aconteceu com uma das autoridades, não foi?

—Kougumaru. – Ele respondeu. – Ouvi boatos enquanto estávamos foragidos. Na Vila da Chuva, principalmente. Algo sobre um ataque que o matou e alguém que tomou seu lugar. Mas não ouvi nada do tipo posteriormente.

—E porque voltou a esse assunto? Alguma chance de os boatos serem verdadeiros?

—Kougumaru era famoso por ter um exército particular de “filhos”. – Eu aproveitava para descansar. – No caminho para cá eu vi um exército em direção dos portões de Konoha. Ouvi-os mencionar um “pai”. Se Tenzo tomou o lugar de Kougumaru e se passar por ele, pode tentar um ataque de fora para dentro em Konoha. E se um ataque for iniciado depois que o exército dele entrar, a vila pode não estar em pé quando o sol se pôr amanhã.

—E o que nós fazemos aqui?

Ele sorriu para mim.

—Vamos logo.

 

Senju Tsunade

O palanque estava preparado no momento em que Kougumaru chegou. Eu o esperava em meu escritório, para guiá-lo até o centro da vila. Ouvi a porta bater e mandei que entrassem.

—Mandou que me chamassem? – Era ele.

—Sim. O palanque está pronto.

—Já? – O filho dele parecia surpreso.

—Meus melhores shinobis cuidaram disso. – Yamato construíra o palanque sozinho.

—Você pode me mostrar o lugar?

—Sim. Mas vamos devagar, para dar tempo para a população chegar.

Ele assentiu e nós saímos pouco depois, em ritmo lento, para ganhar algum tempo. Era tarde, ou cedo, não sei ao certo. Afinal, faltava pouco para o nascer do sol do novo dia. Eu ocupava minha mente pensando no que ele diria.

—Preocupada com algo? – Kougumaru estava ao meu lado.

—Talvez. Algo sobre você. – Eu lamentava o fato de seu rosto estar coberto.

—E o que seria? – Ele queria se fazer de desentendido.

—Não está claro para mim o motivo pelo qual você está se envolvendo nos problemas da vila.

—Porque é o certo. – Ele usava um ar de dignidade, como se a dúvida o ofendesse. Não era algo útil para mim, já que me impedia de continuar perguntando.

Nós continuamos andando. Eu pensava o que poderia fazer ou o que teria que fazer. Minhas escolhas ficavam mais limitadas a cada instante. E o tempo ficava cada vez mais curto.

Chegamos ao palanque antes do que eu planejara. Era uma construção rústica, sem muito floreio, mas sólida o bastante para suportar até vinte pessoas no topo, dez metros acima do chão.

Surpreendi-me um pouco com a facilidade com que ele foi levado por seus filhos. E, por um momento, pensei que eles não ajudavam em nada. Afinal, os pés do homem tocavam o chão me passos largos e lentos, mas nunca desperdiçava qualquer movimento.

Subimos a estrutura e passamos alguns segundos apreciando a vista superior diferenciada. Por ser uma construção nova e temporária, proporcionava uma visão que raramente poderia ser apreciada da mesma maneira.

Kougumaru se estabeleceu no assento mais alto – representativo da posição política mais favorecida –, como o centro das atenções. Por minha vez, coloquei-me à sua direita, no assento que me é de direito.

Embora no momento eu quisesse esquecer o conteúdo da carta que meus superiores me enviaram através dele, não consegui fazê-lo tão facilmente. Afinal, estavam me retirando do controle social e econômico da vila e deixando mesmo o poderio militar submetido ao controle de outra pessoa – tudo isso, claro, supostamente por tempo determinado.

—Povo de Konoha. – A voz gutural que Kougumaru utilizou me fez sobressaltar de leve. Olhei em redor, percebendo que havia homens dele por toda parte. Não me preocupei porque diversos shinobis de Konoha se espalhavam por ali também. Maiores em número e qualidade, em minha opinião.

—Estou aqui por conta de um incidente do qual a vila deve ter conhecimento.

O silêncio da plateia nos envolveu com o peso da expectativa. Ele não precisava se apresentar. A partir do momento que passou por nossos portões, foi reconhecido como a figura mais influente desses tempos. Uma figura que abria a boca para continuar seu discurso.

—Um genin dessa vila, de nome Naruto Uzumaki, foi considerado por muito tempo uma figura neutra, apesar dos eventos de grande porte nos quais se envolvia. No entanto, esse mesmo garoto, que é de conhecimento geral como sendo o Jinchuuriki da Kyuubi, libertou o monstro por vontade própria. Monstro esse que, há algumas horas, estava em caminho para atacar essa mesma vila.

Fechei meus olhos, temendo a chegada do início da caçada a Naruto. Kougumaru prosseguiu.

—Eu enviei soldados pessoais para que enfrentassem o Bijuu. Esses mesmos soldados derrotaram o monstro e retornarão em breve, com a notícia da vitória.

Olhei para minha esquerda, atraída por algo que passou em alguma região vista pelo canto do meu olho. Vi que dois shinobis se aproximavam. Um homem grande e musculoso sorria para Kougumaru há distância. Meus olhos se estreitaram quando enxerguei Sakura o acompanhando.

—Não podemos esquecer que esse pode ter sido apenas o primeiro ataque do garoto. - Ele parecia convicto. Não ousei interrompê-lo porque sabia que a população seria levada a pensar que eu não era mais imparcial. Ainda que fosse a verdade, isso não nos ajudaria. - Como sabemos se ele não vai tentar atacar novamente, com mais força ou aliados?

Minha vontade era de ir até a cadeira ao lado e socar o rosto daquele velho desgraçado. Fazer ele e sua cadeira voarem para o outro lado da vila. Infelizmente, isso não era possível. Seus filhos me deteriam, eu seria presa conforme a lei e Naruto ficaria ainda mais desamparado.

—Se não podemos prever quando ele atacará, acho que todos concordam que existe apenas uma coisa que uma vila como a nossa pode fazer.

Agora ele se referia à via como algo ao qual ele pertencia. Isso seria a pior parte, não fosse o murmúrio de “atacar antes” que invadiu a massa de pessoas.

Ainda existia uma minoria calada e outra indecisa. Mas a maioria pedia por um ataque a um garoto que toda a vila vira crescer. Que todos sabiam quem era e o que fez durante a vida inteira.

Porque aquele manto de silêncio não ia embora? Meu corpo sentia o peso do momento. Como se fosse a hora de definir o futuro.

—É isso. Temos que atacar antes que uma nova onda de terror seja solta sobre nós. - Com algum esforço, ele se apoiou nos braços da cadeira e ergueu o corpo. - Porém, antes de atacar, temos que limpar o interior da vila. Eu descobri recentemente que esse mesmo garoto tem pessoas que entraram em contato com ele aqui mesmo. Dentro da vila.

O silêncio quebrou. Meu estado de espírito também. Então era isso. Tinha algo além do controle da vila que interessava a Kougumaru. Ele também queria eliminar as ameaças ao seu poder.

—Mesmo que seja uma pena ter que tomar tal atitude, tenho que informar os shinobis que essa é uma medida tomada por decisão feita pelos senhores feudais de todos os grandes países. - Ele segurou um papel no ar. A minha dúvida quanto a veracidade do documento aumentava rapidamente.

Percebi uma espécie de calmaria entre os shinobis em volta, como se submetessem às palavras escolhidas pelo velho. Amaldiçoei-me mentalmente por deixar a situação chegar a tal ponto.

—Depois de alguma investigação, descobri que a Hokage, Tsunade Senju, é a pessoa que manteve tal contato com Naruto Uzumaki. - Ele me apontou com o seu indicador trêmulo.

—Isso é mentira. - Minha voz era firme e convicta. - Ou isso, ou você foi enganado. Independentemente do que for, você está equivocado e retirando, intencionalmente ou não, a confiança do povo e dos shinobis em mim. E isso eu não admitirei jamais.

—Esse fato foi confessado por um de seus shinobis, cuja identidade manteremos em segredo por motivos óbvios. Ainda é um fato e nem sob juramento você me impedirá de dar a ordem: Prendam-na.

Espantei-me ao ver que fora imediatamente cercada por sete shinobis.

—Desculpe o atraso, Tsunade-sama. - A voz de Kakashi nunca foi tão reconfortante.

—Nós precisávamos buscá-los na floresta. - O tom de Shizune pedia desculpas. - Quando fui fazer o que mandou, Kakashi me encontrou sobre algo que estava acontecendo. Como a informação se encaixava, chamei Yamato e Iruka, encontramos Shikamaru e agimos como podíamos.

—Eu vim porque encontrei Shikamaru por acaso. - Sai se manifestou.

—Infelizmente, demoramos porque tivemos que esperar que ele acordasse.

—Ele quem? - Perguntei para Shizune, procurando algum outro rosto.

Em vez de uma resposta, Kakashi e Iruka se afastaram um pouco um do outro para revelar alguém nos olhando da ponta do palanque.

—Parece que não poderemos lutar por enquanto. - Ele me olhava com aqueles intensos olhos azuis. - A força deles ainda é maior que o meu poder de ataque. E se os ninjas da vila os ajudar, não sei nem se conseguiremos sair daqui.

—Você poderia ao menos fugir. - Kakashi afirmou, com autorreprovação

Naruto sorriu, seu semblante sério mesmo com o sorriso contrastante na face.

—De qualquer modo, a prioridade é sair daqui vivos.

—E acham que podem fazer isso? - Kougumaru encarava Naruto. Gen e Mamori se colocaram ao seu lado. Os outros shinobis (tanto dele quanto de Konoha) se colocaram em posição, aguardando.

—Se já não estivéssemos longe daqui eu suspeitaria que você pudesse me pegar.

Meu corpo se destorceu e eu senti isso. Estranhamento, não doeu. Meu corpo pareceu ondular um pouco, mas sem que nenhuma mudança ocorresse em meu interior. E, no momento seguinte, eu estava sentada em um gramado. Só então notei que a mão de Shizune estivera em meu ombro o tempo todo.

—Mas o que-

—Olá, Tsunade-sama. - Aquilo que eu pensei ser Shizune se transformou em Naruto. E depois sumiu. - Antes das perguntas, me deixe explicar.

Quem terminou a frase foi outro Naruto, colocado alguns passos à minha frente.

—Eu usei clones disfarçados daqueles que Shizune conseguiu chamar a tempo. A história que contei é verdadeira até a parte em que ela reuniu alguns aliados. Depois disso, me passei por eles enquanto preparava o seu teletransporte.

—E o que aconteceu com Shizune e os outros? – Senti alguma náusea causada pela viagem. Meu coração ainda estava acelerado pelo choque.

—Eles ainda estão na vila. Eu só entrei rápido como uma réplica deles e sumi antes que percebessem as cópias.

Olhando em volta, reconheci um dos campos próximos a Konoha. Não era longe, mas o bastante para que pudéssemos nos refugiar algum tempo.

—Os outros ainda estão na vila?

—Sim. Junto com o verdadeiro “eu”. – Ele olhava para o Norte, na direção da vila. Eu me recompunha em definitivo. – Parece que vamos demorar algum tempo.

—Por quê?

Ele estava sem a capa, com a marca da tatuagem em seu braço à mostra.

—Não podemos deixar tudo sempre nas suas costas, né? – As palavras carregavam uma seriedade maior do que sua feição sorridente deixava parecer.

O clone então desapareceu, me deixando sozinha, na expectativa da chegada do verdadeiro.

 

Naruto Uzumaki

—Olá. Antes de nos atacarem, tenho um recado para deixar:

Ali estava eu. No lugar onde Tsunade desaparecera com um dos meus clones. Louco, provavelmente, até porque não havia outra explicação para o meu comportamento calmo em uma situação tão ruim. Tive que cancelar o clone que estivera com ela porque a cicatriz doía demais e eu estava com dificuldades de manter a compostura.

Os outros se aproximaram de mim, aguardando a retirada combinada. Estavam com pressa. Apontei meu indicador para Kougumaru.

—Este homem é uma farsa.

Da ponta do meu dedo, lancei uma flecha de energia concentrada na direção dele. Foi fraco, mas rápido o bastante para que ninguém o protegesse.

Era hora de ir. Sem esperar as consequências dos meus atos, saí dali com a maior velocidade que tinha, sem ver a direção, até o momento em que a dor em meu braço era grande demais para conter.

Estávamos novamente na clareira. De onde saímos pouco tempo antes para salvar Tsunade e iniciar uma pequena revolução.

—Quem é você? – A voz baixa de Kakashi era clara, mesmo por cima da dor que me tomava.

Virei-me para ver o que estava acontecendo. O movimento foi lento, mas eu finalmente fiquei de frente para quem se aproximara. Aquele garoto não me era estranho. Inclusive, eu tinha certeza de que o vira há pouco ao lado de….

—Como nos alcançou? – Perguntei. Não conhecia ninguém que tivesse tal velocidade, exceto eu mesmo.

Ele sorriu. Por alguns instantes, não consegui evitar o pensamento de que se tratava de um demônio. Já vira aquele olhar antes, combinado a um sorriso parecido, formando a mesma expressão demoníaca e sede de matar.

—Parece que não apenas aquela garota transformada na Sakura que é uma massa imensa de chackra. – Kakashi falou, concluindo o mesmo que eu.

—O quê? – Shikamaru parecia irritado por não entender o que acontecia.

—Nós explicamos depois. – Kakashi disse. – Primeiro eu quero que vocês dois, Iruka, Tsunade e Shizune saiam logo daqui. Yamato, Sai e eu vamos lutar contra ele.

—Eu vou ficar também. – Shikamaru falou.

Kakashi não hesitou em aceitar a ajuda. Não estava com vontade de subestimar o oponente.

Olhei para o inimigo à nossa frente.

—Qual é o seu nome? – Perguntei, tentando levantar e andar sem ajuda. Iruka me ofereceu apoio e uma das lesmas de Tsunade recuperava minhas energias.

—Gen.

Gen…. Gravei o nome na memória. Não esqueceria. E, apesar de confiar nas habilidades dos meus companheiros, não pude deixar de temer por ele ao ver aquele sorriso. Lembrava demais o sorriso demoníaco que eu aprendera a temer.

—Kakashi. – Falei com a voz fraca. – Não perca.

Ele sorriu.

—É uma promessa. Afinal, ainda temos de encontrar a Ino, não é?

Eu passaria muito tempo depois daquilo concentrado apenas em recuperar energias enquanto era levado pela estrada sinuosa à nossa frente. Precisava me curar antes de lutar novamente. Se o meu braço pelo menos parasse de doer um pouco mais rápido….

“Espere por nós, Ino. Espere por mim.” Pensei. “Eu não vou deixar nada acontecer a você. Eu juro.”

Eu sentia a dor lancinante me fazer vacilar e depois me desacordar.

Só…. Espere mais um pouco…

 

Yamanaka Ino

Eu não vou enlouquecer. Não posso desmaiar. Não quero fraquejar. Eu vou esperar pacientemente nesse escuro desesperador até que alguém venha. Não importa quem. Amigos ou inimigos. Tanto faz. Apenas que alguém precise de mim e me traga água. Traga comida. Que converse ou me obrigue apenas a escutar.

Há quanto tempo eu estou sozinha na escuridão? Há quanto tempo Kakashi e Tenzo saíram daqui? Eu não sei mais dizer. Parece muito, mas eu sei que pode ser pouco. Eles se foram. Saíram e me deixaram aqui. Não há nenhum sinal de Naruto ou algum amigo por perto. Somente eu e a escuridão.

Gritei naquele quarto, como já fizera tantas vezes antes. Sinto minha garganta, seca como a areia de Sunagakure, parecer rasgar com o esforço. A frustração que me corre pelo corpo era tão grande que eu me levanto, com a cadeira amarrada ao corpo. Pela sétima vez, desde que fiquei sozinha, repeti o gesto.

Com os ombros, bato contra a única saída do lugar. Depois uso o corpo. A cabeça. Bato até não aguentar mais levantar e repouso por ali, há alguns metros de distância da porta, próxima a uma parede. Não posso mais sentar sobre a cadeira porque, com exceção das partes que me imobilizam os braços, toda ela está quebrada. Decido que o chão é o bastante.

Faço um in com uma das mãos, juntando todo o chackra possível – ainda que a corda que me prende aos braços da cadeira sugue quase todo o meu poder.

“Naruto.” Tento pensar nele. Dá certo. Meu pensamento se distancia da fraqueza causada pelas cordas. Pouco, mas o bastante para….

—Transformação!

O grito foi ao mesmo tempo uma expressão do fim das minhas tentativas e de libertação. Pronto. Acabara de me transformar em uma versão mais magra de mim mesma. Com os braços mais finos. As cordas ficaram frouxas e eu consegui me soltar.

Larguei o corpo próximo a uma parede. Apesar da urgência de uma fuga, eu tinha que descansar um pouco. Meu corpo parecia estar aos cacos e mesmo quando me transformei de volta para recuperar energia, ainda me sentia fraca.

Onde estava a ajuda? Por que Naruto não vinha me salvar? Na minha mente desesperada, eu não conseguia encontrar o sentido naquilo. Ele tinha que vir. Tinha que chegar rápida, antes que outros me encontrassem.

—NARUTO! – Gritei com todas as minhas forças, numa fútil tentativa de fazê-lo me escutar, para que andasse logo com aquilo que o estivesse ocupando no momento.

“Ino. Espere por mim.” Assustei-me ao escutar a voz na minha cabeça. Foi como se ele estivesse ao meu lado, sussurrando as palavras no meu ouvido. “Só…. Espere mais um pouco….

Sorri, sentindo que estava perdendo minha consciência. Afinal, aquilo era impossível. Por mais que eu queira que ele se esforce e chegue logo, sei que vou ter que me contentar com a lembrança de sua voz e vou tentar descansar um pouco.

 

Hatake Kakashi

—Podemos começar agora? – Shikamaru perguntou para Gen. Esse último o olhava com uma expressão de superioridade no rosto. Eu não gostei do olhar.

—Kakashi? É isso? – Ele se voltou para mim, agora com falso respeito no rosto. – O ninja copiador da vila da folha?

Inclinei a cabeça para cima, em sinal de atenção, esperando que continuasse.

—Você deve ser o mais sensato dos quatro. Peço que diga a todos que não têm chances contra mim e que devem, imediatamente, sair do meu caminho antes que a batalha se inicie. Ninguém, exceto Naruto, tem capacidade o bastante para lutar contra mim.

Não movi nem mesmo um milímetro de onde estava. Senti o olhar dos outros em meu rosto. Eles jamais abandonariam o campo de batalha para deixar que Naruto fosse atacado. Ainda mais agora que tinha a confirmação de que alguém queria tomar a vila e na verdade o garoto não fora culpado de (quase) nada.

Mantive-me calado por alguns segundos, antes de pensar em tomar alguma atitude. Pensando que eu desistiria, Gen esperou a minha atitude. Resolvi fechar o olho exposto por um segundo, dando um passo à frente. Antes que ele tivesse tempo para fazer algo, levei a mão em direção à bandana. Com um movimento suave, joguei-a sobre o olho normal, expondo apenas o olho do Sharingan.

—Se você quer nos tirar do caminho, vamos ter uma longa batalha. – Eu não admitiria o pensamento de que eu era inútil nas lutas de Naruto. Eu tinha que poder ajudá-lo. – Porque ninguém vai sair da sua frente.

Por alguns segundos, ele me olhou como se quisesse usar os olhos para me aniquilar. Sua fúria era quase palpável.

—Seus vermes…. Como se atrevem a ficar no caminho do meu pai! No meu caminho!

Senti o primeiro ataque dele se formar.

—Afastem-se de mim! – Ordenei com o máximo de autoridade que consegui inserir na voz.

Graças ao sharingan, pude enxergar pontos de chackra quase invisíveis se juntando próximos à boca dele enquanto falava. Quando terminou a frase, a energia era forte o bastante para se transformar em um tiro. Seus olhos travados nos meus.

“´Vamos lá.” Pensei. “Ataquem enquanto ele está prestando tanta atenção em mim.”

Um segundo depois, um tigre de tinta pulava para cima do inimigo, exatamente no momento em que ele atirava na minha direção.

“Ele não vai poder desviar e manter a mira em mim.” Pensei vitorioso. “Ele vai ter que abrir mão de uma das duas coisas.”

Foi o último pensamento que me passou pela mente antes que um tiro saísse da sua boca e, exatamente no mesmo instante, a bola de energia atingisse meu estômago.

“Essa velocidade…. É quase mais rápido que Naruto!” Fiz força para não gritar de agonia, mantendo a atenção nele. Infelizmente, Gen não estava no mesmo local. Colocara-se à minha frente, com a palma da mão na frente do sharingan.

—Não vou matá-lo agora. – Ele falava, sorrindo. – A morte não seria punição suficiente por ter me desafiado.

O tigre de tinta se chocou contra o nada às costas dele.

—Mas acho que tirar isso de você deve ser o suficiente, não é mesmo? – Ele colocou a mão sobre o sharingan, movendo minha bandana e liberando a visão do outro olho.

Tentei me desvencilhar, mas ele já retirara sua mão e se afastara.

—Finalmente chegaram. – Ele suspirou, olhando para o lado.

Senti meu olho arder. Uma espécie de formigamento. Arrumei a bandana e abri o outro olho, sentindo o do sharingan embaçar. Enxerguei então cinco pessoas paradas em frente a ele.

—Nós fomos os únicos que pudemos sair separados dos outros. – Mamori, se não me engano. A garota com a qual ele conversava próximo ao portão estava aqui novamente. E junto com ela estavam os outros. Apesar de desconfiar que seus corpos fossem controlados, não gostei de saber que estavam aqui para nos matar. Ainda assim, eles estavam ali: Temari, Gai, Rock Lee e Hinata. Pareciam robôs. Apesar de ter uma postura comum e expressão normal, era possível enxergar, através da falta de brilho de seus olhos, que não estavam ali porque tinham vontade de fazer isso. Foram mandados. Controlados.

Coloquei uma mão sobre o olho, sentindo a dor aumentar. Parecia que diversos grãos de areia estavam caindo dentro do meu olho.

—Não tinha necessidade de vir. – Gen disse.

—Nosso pai quer o mundo shinobi. – Ela parecia ter orgulho do que falava. – E eu preciso ajudá-lo, por trás dos panos e em campo.

Ninguém falava nada. Mesmo eu parecia paralisado na presença deles. Era uma força massiva. Pior que qualquer coisa que eu já vira. Se algo assim atacasse Naruto, não havia chance de vitória. Eu tinha que impedir.

—Vocês cuidam deles. – Gen disse aos controlados. – Não podemos perder tempo. Temos que alcançar Naruto antes que ele se recupere o bastante para fugir com a própria velocidade.

—Não pense que vai fugir tão facilmente. – Shikamaru ia em direção a ele. Nós o acompanhamos.

Precisei parar então. Alguém estava de braços abertos na minha frente.

—Não…. – Não ele. Se as coisas continuassem da maneira que eu pensava que continuariam, essa luta se transformaria em algo lamentável.

Gai se colocara de braços abertos à minha frente, impedindo a passagem. O mesmo acontecia com Hinata e Sai, Shikamaru e Temari, Yamato e Rock Lee.

—Droga. – Shikamaru resmungou. – Você não….

Não tínhamos tempo de trocar de oponente. Tínhamos que impedir que os outros dois chegassem até Naruto.

—Divirtam-se. – O recado cruel de Gen chegou aos meus ouvidos.

“Desgraçado.”

Tive que me curvar um pouco, numa tentativa de fazer passar a dor que invadia meu corpo. Meu olho ardia. Eu sabia o que estava acontecendo. Depois de tanto tempo portando com essa habilidade mesmo sem ser do clã Uchiha, eu tenho certeza. O sharingan está sendo tirado de mim.

 

Uzumaki Naruto

Eu estava sentado à sombra de uma árvore. Tsunade usava quase todo o seu poder para recuperar o meu. Shizune gastara bastante energia me carregando pela floresta na sua velocidade máxima. Tínhamos nos afastado bastante do local onde deixamos Kakashi. Nesse momento, eu encarava o céu, tentando fazer com que meu pedido de desculpas chegasse até o sensei.

—Não vamos ficar aqui muito tempo. – Falei quando senti parte da minha energia recuperada. A dor em meu braço parara e meu corpo estava sem feridas. Mesmo com o chackra faltando, senti o poder Uchiha trabalhando com intensidade para se recuperar, enquanto meu próprio chackra fazia sua parte para me manter em pé.

—Já? – Shizune parecia melhor.

—Não podemos ficar parados. Se Ino estiver presa, eu preciso procurá-la o mais rápido possível.

—Ino? – Uma voz desconhecida soou às nossas costas. – Está falando do próximo sacrifício?

Virei-me, torcendo para não ver o que pensava que estava prestes a ver.

—Você? Como?! – Tsunade parecia petrificada. Eu não olhava para Gen. Ele não era o maior problema agora.

—Qual o seu nome? – Perguntei, olhando a garota ao lado dele.

—Mamori. – Ela se apresentou como se não estivesse prestes a lutar.

—O que você quer dizer com “próximo sacrifício”? – Eu perguntava tentando esquecer o temor inspirado pela energia dela. Era algo mais intenso do que palavras poderiam descrever. E ela nem ao menos pensava em conter aquilo para disfarçar seu potencial.

—Eu quero dizer que ele morrerá servindo como sacrifício. Como a garota antes dela. Acho que o nome do sacrifício anterior era….

—Sakura. – Gen completou. – No caminho para a vila, o pai me contou que ela era sua amiga. É por isso que ele escolheu essa outra para ser sacrifício também.

Eu parei de me mexer, estupefato. Um tremor estranho, que estivera percorrendo meu corpo desde que pressentira a luta, parou finalmente.

—Por que as garotas que são minhas amigas? – Eu procurava desesperadamente uma desculpa para isso.

—Não é óbvio? – Ele pareceu confuso. – Tudo nesse mundo é conquistado pela dor. Não é diferente para esse poder Uchiha dentro de você.

Injetar dor. Entendi. Eles aproveitavam para criar soldados ao mesmo tempo em que me feriam.

—Vocês vão morrer.

Era o único pensamento que me ocorria.

Pensar que Sakura fora morta por causa disso e que Ino corria o risco de ter o mesmo destino.

—VOCÊS VÃO MORRER!

Eu explodi em fúria.

Meu sangue subiu e o poder explodiu dentro de mim.

Eu fui em direção aos dois. Não corri porque meus olhos pareciam embaçar, então fui devagar, com o olhar fixado neles. Senti-me sereno enquanto dava os passos lentos. Minha face era calma, ainda que meu interior queimasse em um ódio profundo.

Então o sharingan veio. Mas de uma forma diferente. Ele não mostrava as linhas de chackra. E antes que ele viesse, cerca de meio segundo antes, senti que deveria me mover um pouco para a esquerda. Meus olhos ardiam, mas eu enxergava direito. Dei dois passos rápidos para a esquerda.

O poder de Gen – algo semelhante a um tiro de energia – passou por onde eu estivera e se chocou com uma grande árvore, derrubando-a e levando outros cinco metros de vegetação atrás dela.

—Não. – Ele falou, com raiva.

—O olho. – Falei, repetindo algo que parecia sair da boca dele pouco antes que ele a abrisse.

—O olho dos Uzumaki.

—Seu nome…. – Falei antes que ele falasse, testando minha capacidade de prever suas palavras.

—Seu nome é….

—O olho sereno. – Falamos ao mesmo tempo.

Não entendi direito o que é. Mas percebo que é útil para que eu possa usá-lo para derrotar esses dois.

Ino não pode esperar. E eu estava demorando demais por ali.

Estava na hora de matar aqueles que ameaçam as pessoas que eu amo.

Fim do Capítulo 21

*


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Depois da Escuridão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.