Depois da Escuridão escrita por Lucas Alves Serjento


Capítulo 14
Capítulo 14 - Retorno




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N/A: Estou repostando a história para corrigir a gramática e fazer leves alterações para tornar a história mais agradável de ler. Espero que gostem.

 

Capítulo 14 – Retorno

 

Uzumaki Naruto

—Você tem algum palpite sobre o que está acontecendo lá fora? – Perguntei à garota Anbu, posicionada na entrada da caverna em que estávamos.

O casaco – ainda que regata – esquenta meu corpo e faz com que o calor atinja o ponto de desconforto. Além disso, a roupa era feita especialmente para consumir meu chackra a todo o momento, fazendo com que minha pele coçasse constantemente.

—Está preocupado com os outros? Não se preocupe. Tenho certeza de que estão se virando bem sem você.

Sorrio, mesmo sabendo que ela não veria nada por causa da máscara. Eu não a retirava há muito tempo já. Tinha medo de ser visto sem ela. Mesmo que estivéssemos escondidos.

Ela olha para a direita, encarando o outro Anbu presente. Este usava uma blusa negra com capuz, também regata. Ela própria usava uma roupa ninja normal, também com o capuz que ela deixava por cima de seus cabelos o tempo todo.

A única característica comum naquela caverna era a necessidade de esconder todos os traços físicos. Não podíamos correr o risco de um reconhecimento por alguém de fora. Mesmo com os braços de fora, nos certificamos também que nenhuma marca anterior nos distinguisse. Mesmo a minha tatuagem não auxiliaria em nada, já que ninguém que conhecia o “antigo eu” conhecia a tatuagem, já que era algo do “novo eu”.

Embaixo daquele casaco eu utilizava apenas uma camiseta branca e uma calça preta. A simplicidade de meus trajes não me impediu de desperdiçar os detalhes em cor laranja. E essa foi a minha única exigência em toda a roupa. As linhas paralelas contornando a lateral do casaco.

—O que faremos agora?

O que eu deveria responder? Estávamos na vila. Infiltramos sem que nos reconhecessem.

—Ele já deve ter vários soldados. – Respondi ao Anbu, que permaneceu parado ao meu lado. – Precisamos agir silenciosamente, procurar pessoas próximas à Kyuubi que pareçam suspeitas.

—Não fale de si mesmo em terceira pessoa. – Ela não gostava daquela atitude. – Mesmo que ele estivesse procurando pessoas próximas à Kyuubi, não procuraria necessariamente pessoas próximas a você.

Olhei confuso para ela. Não fazia diferença. Talvez fosse o traje Anbu, mas o meu pensamento estava mais frio e claro que de costume. Eu não falava, mas esperava que me entendessem.

—O que acha de usarmos jutsus de camuflagem? – Ela continuou.

—Só funcionaria longe do clã Inuzuka. – O Anbu respondeu. – Tem vários deles espalhados nas rondas da guarda e se nos reconhecerem pelo olfato, estamos perdidos. Apenas um de nós é rápido o bastante para usar a resistência do vento para dissolver o cheiro.

—Só temos uma opção. – Eles me encararam. – Eu me aproximo de qualquer suspeito, quando o risco for maior. Vocês procuram pessoas no dia a dia, encontram aqueles dos quais precisarei me aproximar.

Eles não discutiram. Sinal de que concordariam.

—Nós podemos sair um pouco agora? – Ela não esperou resposta. Foi para o lado de fora da caverna. Próximo, ainda era seguro. Era um milagre termos descoberto tal local. Lá fora, o sol do meio-dia banhou nossos corpos. Eles retiraram os casacos de Anbu. Eu não me atreveria a isso. Não podia permitir que meu chackra fosse liberto antes de saber toda a verdade.

—Você nunca tira esse casaco? – Ela retirava o capuz e a máscara, revelando seus longos cabelos loiros. Foi reconfortante ver novamente o rosto de Ino.

—Pode retirar a máscara, pelo menos. Não creio que estamos sendo vigiados. – O Anbu retirou uma máscara, revelando o rosto de sempre. Embaixo de seu casaco, um colete jounin se exibia.

Resolvi obedecer Kakashi. Fazia dias que não retirava aquela máscara.

—Finalmente. – Ino abriu um belo sorriso. – Estava com saudades de ver seu rosto!

—Seu cabelo cresceu. – Observou Kakashi.

Cresceu mesmo. Agora estava quase tapando meus olhos.

O sol estava alto.

—Vamos! – Chamou Ino, se dirigindo ao ponto mais iluminado. – Venha ver o sol! Naruto!

Sorri e me dirigi até ela. Kakashi não me seguiu. Deixou-nos sozinhos por um instante.

 

Senju Tsunade

—Hokage-sama, temos motivos para crer que ele esteja voltando.

Meu olhar para Danzou era o mais intenso que consegui. Não consegui sentir animação com sua alegação, porque não acreditava nela.

—Não temos qualquer tipo de provas sobre o paradeiro dele. O que te levou a pensar que ele voltaria

Ele não sorriu.

—O que pensa que tenho feito nesses dois meses? Procuramos rastros de Naruto sem parar. Queremos saber o que aconteceu quando liberto a Kyuubi, talvez entender o motivo de ele tê-lo feito.

Encarei-o nos olhos ainda mais um segundo. Não vi hesitação neles.

—Continue.

—Meus ninjas perceberam que Naruto foi até a vila da chuva. Assim que chegou nela, procurou apagar todas as suas pistas. Depois da luta contra Pain, parece que a nova kage deles demonstrou bastante respeito pelo garoto, então ele entrou lá com facilidade.

—E vocês conseguiram alguma pista a partir daí?

—Não entramos na vila da chuva para não criar uma guerra desnecessária. Mas, supondo que eventualmente ele sairia de lá, fomos atrás de todos os lugares que pudesse ter usado como acesso para outras vilas.

—Ele não facilitaria dessa maneira.

—Num primeiro momento, pareceu que tinha facilitado sim. Mas então percebemos que ele usou um truque. Ele espalhou seu rastro por quase todas as rotas para a vila da Pedra e da Areia. Rastreadores não conseguiram achar nenhuma rota mais provável. Achamos que ele usou algum truque com os bunshins para nos enganar.

Ele viu o sorriso no meu rosto e achou necessário dar as notícias a seu favor.

—Ele deve ter pensado que por causa disso perderíamos dias vasculhando as rotas principais. Por isso, foi fácil achar uma pista em uma rota não predeterminada. Ele fez uma nova trilha até um pequeno vilarejo onde são realizados vários festivais. Um pequeno recanto turístico. Interrogamos todos os comerciantes. Estranhamente, apenas dois deles viram os três juntos.

Ele esperou que eu perguntasse antes de continuar.

—Quem?

—Um deles foi o dono de uma barraca de roupas usadas. Naruto, Kakashi e Ino deveriam querer que seus cheiros e os dos antigos donos se misturassem. No entanto, o vendedor não anotou quais roupas foram compradas por causa da movimentação no dia.

—Quem era o outro comerciante?

Ele hesitou. Eu não perguntei novamente porque queria saber se ele respeitaria minha autoridade ou se me faria repetir. Ele admitiu a derrota antes que eu perdesse a paciência.

—O dono de uma loja de imitações. Esse mantinha um registro e nos disse o que compraram lá.

Permaneci calada.

—Eles compraram três réplicas de máscaras da Anbu.

Por um momento eu prendi a respiração. Danzou percebeu e continuou.

—Naruto fez de propósito, muito provavelmente. Ele não queria que ninguém, exceto a Anbu de Konoha, soubesse onde ele estava. Afinal, apenas nós saberíamos quem não pertencia aos nossos soldados.

—Por que Naruto faria isso? Eu não vejo motivos.

—Ele fez mais do que isso. Deixou um rastro claro que acaba um quilômetro e meio de distância da nossa fronteira. Depois disso ele some. Por conta dos problemas da Kyuubi, não pude investigar muito até o momento. Por causa da escassez de ninjas, nosso raio de investigações é curto.

—Eu não posso oferecer nenhum apoio, Danzou. – Eu usava a situação de alerta como uma desculpa para facilitar a situação para Naruto.

—Eu não estou pedindo ajuda. Vim anunciar que, a partir de agora, vou parar de ajudar na segurança da vila.

—Vai abandonar a vila agora? – Eu dei um meio sorriso. Ele sorriu por completo.

—Estou cuidando dos problemas externos da vila. Enquanto isso, vocês podem parar de se concentrar em Naruto. – A indireta não incomodou. – Para se concentrar na segurança da vila.

Eu não discuti. Sabia que seria em vão.

—Se os dois velhos concordam em me dar a liderança total da vila enquanto você procura Naruto, eu posso deixar você fazer o que quer.

—Eles concordarão.

Depois que ele saiu, eu, iludida, pensei que teria algum tempo sozinha e comecei a pensar no que ele acabara de dizer sobre Naruto. Queria pensar se era plausível tal retorno ou se era apenas uma desculpa de Danzou para fazer outras coisas. Eu estava errada. Shizune não me deu tempo para pensar e entrou correndo, com Sakura em seus braços. Levantei-me assustada:

—O que aconteceu?!

Shizune não continha o nervosismo. Suas mãos tremiam e ela me olhava preocupada.

—Por que não a levaram ao hospital?!

—Sai não queria que ela ficasse esperando por você lá. Disse que não sabia há quanto tempo ela estava desmaiada, mas a encontrou em casa.

—Por que ele não a trouxe?

—Ele estava trazendo ela, mas encontrou Danzou no caminho e teve de ir com ele, então a deixou comigo. Ele…. Ele falou que ela só sussurrava Tsunade no caminho.

Eu olhei para o rosto dela e vi seus olhos abertos. Ela estava paralisada e sua consciência parecia se esvair, mas ainda restava alguma lucidez em seu olhar.

—Sakura, eu preciso que você fique comigo. Tente não desmaiar! – Só soube que ela me compreendia no momento em que suas pupilas se dilataram. Ela estava se esforçando.

Aproximei meu rosto dela. Tinha experiência o bastante para saber que estava tentando me dizer alguma coisa. Eu preferiria que ela não tivesse dito nada. Porque, quando falou, eu tomei um choque.

Seus lábios tremiam ao falar. Ela só precisava de uma palavra, tão usada por mim, mas que nunca tivera tanto efeito. Sua voz tremia. Suas mãos tremiam. Ela usava toda sua força para falar uma única palavra.

—Naruto.

Em seguida, seu corpo relaxou. Ela podia descansar mais uma vez.

 

Nara Shikamaru

Temari se despedira de mim no dia anterior, quando teve de se reunir aos irmãos para partir. Foi uma despedida de um jeito estranho até para ela.

—Shikamaru, me diz uma coisa. O que aconteceu com você ontem? – Era Chouji. Estávamos comendo. Ou melhor, eu olhava ele comer tudo o que tinha à disposição no Ichiraku.

—Nada. – Não sei por que eu menti. Foi instintivo. Imaginei outra coisa a dizer. Nem mesmo a verdade.

E a verdade era que Temari me beijara no dia anterior.

E agora eu não sabia o que fazer.

Pensando novamente, eu lembrava que a conversa tinha sido legal. Pela primeira vez desde que nos conhecemos, Temari parecia fazer algum esforço para ser gentil. Então, decidiu partir, preocupada por deixar Gaara esperando. Nessa hora, antes de ir embora, ela me beijou.

E agora eu não sei o que fazer. Eu. Shikamaru. Eu sei que sou inteligente. Já resolvi os mais difíceis quebra-cabeças que pude encontrar. Enfrentei problemas dos mais complicados, desafiei estratégias que representariam desafios para os maiores gênios da história. Mas Temari continuava sendo um enigma maior que todos. O que fazer? O que falar? Como agir? Como não agir?

Então ela chega e fica tudo simples. Era como se fosse um quebra-cabeça que só tinha todas as peças quando ela se aproximava.

—Então?

—O quê? – Eu não fazia ideia o que Chouji perguntara.

—Você sente falta da Ino?

Sua voz era sentida. Ele sentia muito a falta da nossa amiga. Eu não admitiria na frente dela, mas também sentia saudades. Entretanto, eu, ao contrário dele, tentava esquecer. Quando tentei descobrir alguma coisa, Tsunade ordenou que parasse de investigar. Ela descobriu porque eu pedi a Sakura que me acompanhasse, pensando que ela seria a única pessoa que conseguiria fazer Naruto e Kakashi voltar, caso os encontrássemos. Sakura não parecia querer que eles voltassem. Não tive tempo de pensar nos motivos para a alteração que por vezes se passava no humor dela.

—Talvez…. – Eu hesitei. Era uma nova consideração. Parecia fazer sentido depois que Temari partira. – Seja a nossa obrigação sentir falta deles. Senão, eles não voltam. Porque não teriam nada os mantendo preso à vila.

Ele sorriu. Estava prestes a fazer uma brincadeira. Mas fomos interrompidos por um Anbu Raiz que parou ao meu lado.

—Danzou-sama quer que você vá até o escritório da Hokage.

—É Hokage-sama para você. E eu não obedeço a Danzou.

—A Hokage-sama – Ele frisou. – Também tem interesse no assunto.

—Que seria?

—Fui informado de que seria a possibilidade de você começar a procurar um possível paradeiro de Naruto Uzumaki.

O sono que até então eu sentia, sumiu um pouco. Era exatamente o que eu queria fazer.

Achar Naruto era importante para mim. Eu tinha algumas perguntas que precisava fazer àqueles três.

 

Uzumaki Naruto

—Nós devíamos recomeçar seu treinamento.

Ino devia estar se sentindo culpada por termos ficado tanto tempo conversando.

—Temos mesmo que treinar hoje?

Ela sorriu. Sabia que eu gostava de falar com ela. Que queria continuar ali um pouco mais.

Em vez de me responder, ela se levantou.

—Kakashi! Vamos treinar!

—Fale mais baixo. – Kakashi saiu da caverna. – Não se esqueça de que estamos escondidos.

Ela sabia que ele tinha razão. Apesar de ter sido o local mais seguro que encontramos até então, ainda era perto demais da vila. Kakashi me contou que aquele era o lugar que o Yondaime costumava descansar depois de treinamentos na floresta. Apenas Kakashi e uma Anbu conhecia o lugar. Ele parecia seguro de que ela não os acusaria de imediato se aparecesse por ali. Eu senti que ela confiaria que era Kakashi que estava no lugar e que confiaria nele se precisasse. A segurança que o sensei montara também me dava alguma segurança de que ela não chegaria por ali.

—E qual é o treinamento de hoje?

O treinamento de velocidade acabara há dois dias. Eu precisaria treitar outras coisas. Da lista imensa que Ino carregava consigo eu estava confiante de que não faltariam mais que cinco restantes.

—Não acho que devíamos testar seus limites. – Kakashi sugeriu.

Fui até a beira da montanha, sem pensar em nada, esperando que eles se decidissem. Olhei para baixo, sabendo que ninguém nos encontraria por causa do número absurdo de genjutsus que Kakashi formou em redor do lugar. Para entrar ali eu e Ino precisávamos quase anular os cinco sentidos, apenas com a fé de que estaríamos na direção correta. Alguém que tentasse se guiar por entre as árvores que ficavam na montanha, contornaria a nossa caverna. Mesmo se não tivesse ideia do que encontrar à frente. Se estivesse procurando um lugar, pensaria seguir em frente, quando na verdade estava se desviando. Mesmo que fosse imune a genjutsus, nós tínhamos alarmes. Se eles falhassem, tínhamos montado armadilhas na região mais próxima. Mesmo se elas não adiantassem, então tínhamos o novo jutsu de Ino. Ela tinha se empenhado durante todo o período de nossa viagem em um novo jutsu. Uma ramificação dele era o que ela usava para nos proteger.

—O que você acha que está fazendo? – Era Ino.

Pensando. Nunca me passara pela cabeça falar aquilo para alguém. Eu nunca tinha perdido a oportunidade de fazer alguma coisa em vez de ficar pensando.

—Então…. – Desconversei. – O que vamos treinar?

Kakashi sorriu.

—Acho que podemos parar de treinar um pouco.

Depois de falar, ele pegou uma folha dobrada em seu bolso, lançando-a em seguida na minha direção. Induzi o vento à minha volta para que a folha viesse até mim e, quando ela chegou, fiz com que ficasse flutuando à minha frente. Peguei-a e abri-a com cuidado. Nela estava escrita uma lista com tudo o que eu treinara sem parar durante o treinamento. Ao final, restavam cinco itens. Quatro deles eram repetidos. E o último estava na letra de Kakashi. Era mais uma anotação que um item da lista.

“Quando Naruto chegar a essa fase, parar o treinamento e investigar Konoha. É hora de descobrir a verdade.”

Eu não sabia que isso aconteceria porque eles nunca me deixaram ler a lista para que eu não pensasse no futuro e me concentrasse no agora. Ino parecia já saber dessa informação e aguardava que eu reagisse apoiada na parede da caverna. Virei-me para ela.

—Então é hora de sairmos desse esconderijo? De verdade?

—Sim. – Kakashi fez um selo, liberando as proteções que nos protegiam. Ino fazia o mesmo.

—Isso significa que devemos deixar a guarda alta, não é mesmo? – Eu disse, com a voz baixa para não atrair ninguém.

—Exatamente. – Ele colocou sua máscara Anbu.

Aquele casaco ainda estava incomodando. O calor era insuportável. Vesti a máscara e notei que eles estavam com pressa. Juntei chackra em meus pés.

—Você não precisa disso. – Kakashi percebeu meu gesto.

—Hoje eu vou com vocês. De modo convencional.

Eles sorriram e nós fomos para a ponta da montanha. Nossos rastros certamente ficariam ali. Um presente nosso para quem quer que esteja nos seguindo todo esse tempo. Eu apostaria em Danzou.

De qualquer modo, tinha alguém que nós queríamos que soubesse da nossa chegada.

Subimos pela montanha. Chegamos ao topo e passamos para a parte da frente dela.

Era sempre legal se colocar acima da montanha dos rostos dos Hokages.

 

Haruno Sakura

Eu estava deitada há 40 minutos sobre o sofá, sem nem mesmo fechar meus olhos.

Mesmo que Tsunade fizesse todo o possível, eu não sentia coragem para tentar mover qualquer parte do meu corpo. Ainda que fosse estranho, eu não podia evitar o temor.

—Sakura. – Tsunade cochichava. – Eu preciso que me dê algum sinal de vida. Se esforce, por favor. Caso contrário, vou ter que te mandar para o hospital porque vou presumir que você está em estado de choque.

Shizune, de longe, me observava. Parecia querer entender a minha expressão. Forcei meu cérebro, que a essa altura se negava a trabalhar, para tentar entender o que deveria fazer. Espantei o medo por um segundo e tentei movimentar meu braço.

E, no momento seguinte, achei até mesmo que estava saudável demais. Meu braço pareceu mais leve, meu comando pareceu mais rápido. No momento em que pensei em levantá-lo, ele já estava na frente do meu rosto.

Todos no escritório fizeram um minuto de silêncio. Tsunade sorria. Foi a primeira a falar.

—Acho que você está melhor, Sakura. Agora temos que pensar no que fazer daqui em diante.

—Como assim? – Shizune se adiantou e eu senti que Sai entrava pela janela. Não entendi como num primeiro momento, mas depois entendi que meu corpo fez uma série de cálculos em uma fração de segundo. Minha mente verificou o distúrbio no ar para saber sua velocidade. O som de sua respiração. O deslocamento do ar e o vento que seu movimento produziu. O seu cheiro indicava se estava ou não cansado. O quão abrupto cada gesto era indicava o nervosismo. E tudo somado demonstrava um fato: Ele estava eufórico. E assim que entrou pela sala e me viu tudo passou a indicar outra coisa: Ele estava aliviado.

Foi incrível sabe o que ele sentia mesmo sem sua expressão demonstrar coisa alguma.

—Olá Sai. – Cumprimentei-o sorrindo.

Ele sorriu de volta.

—Você parece bem melhor.

—Eu me sinto melhor. – Falei, enquanto me levantava. – Acho que vou passear um pouco.

—Acha que pode sair assim? – Shizune se colocou entre mim e a janela.

Eu ia protestar, mas Tsunade interveio antes.

—Ela precisa acostumar com o corpo, Shizune. Alguns minutos passeando e o dia a dia lhe fará bem.

Eu sabia que ela não precisaria ver meu sorriso para saber que me agradara. Shizune saiu da minha frente. E, assim que me movimentei, senti-me impressionar com a nova “potência” do meu corpo. Em menos de um segundo eu passei pela janela. Já vira antes pessoas como Kakashi se movimentando daquela forma, mas eu mesma jamais atingira tal velocidade.

E continuei correndo sobre os prédios, saboreando aquela sensação maravilhosa de ser rápida. E, nesse ínterim, percebi algumas coisas.

Primeira: Eu precisaria entender qual era a força exata das minhas pernas. Afinal, com o impulso que dei, parei três prédios além do previsto.

Segunda: Eu conseguia sentir toda e qualquer rede de chackra dos shinobis caminhando pelos diversos cantos da vila. Ainda eram todos desconhecidos, mas eu sabia que em pouco tempo poderia reconhecê-los dessa maneira.

Terceira: Eu também podia sentir a quantidade de chackra que essas redes transportavam.

Quarta: Eu sentia todos os cheiros. Senti o aroma do lámen do Ichiraku a quarteirões de distância. O cheiro das pessoas que passavam pelas ruas. As fragrâncias das flores da loja dos Yamanaka, mesmo que distante em várias quadras e que, apesar de fraco, não deixava de ser perceptível. O único problema era que quando me concentrava nisso, o cheiro das coisas ruins também se destacava, ainda mais que os bons. E, em cinco minutos de passeio eu tive que aprender a ignorar (ainda que pouco) esses cheiros ruins.

Quinta: Minha visão estava ótima. Eu podia enxergar uma mosca a mais de quinze metros. Sujeiras minúsculas nas pessoas mais próximas eram facilmente visíveis.

Eu me maravilhava com tudo isso quando senti alguma outra coisa. Algo próximo ao portão principal da vila. Não muito perto, mas o suficiente para não ser detectado pelos guardas. Parecia querer camuflar o chackra e, apesar de fazer um ótimo trabalho, ainda não era o suficiente para que eu não percebesse a grande quantidade de poder que carregava.

Pensei por um segundo e concluí que não deveria chamar reforços. Julguei, entretanto, que era meu dever conferir. Além disso, minha intuição me mandava ir. E eu não consegui resistir. Peguei um impulso um pouco maior e fui imediatamente até o local. Seriam necessários dois minutos, no máximo, para que eu chegasse lá.

 

Uzumaki Naruto

Eu andava sozinho pela vila porque Kakashi e Ino decidiram que era melhor que caminhássemos todos separados para cobrir uma área maior. Segundo eles, nos reuniríamos localizando o chackra camuflado um dos outros, já que estávamos familiarizados a eles. Desse modo, não precisaríamos de um ponto de encontro fixo, apenas de um horário para nos procurarmos. Se algum de nós se envolvesse em problemas, entretanto, teria que se aguentar até as oito da noite para que os outros o procurasse.

E, enquanto caminhava, eu procurava alguém que pudesse ser suspeito. Ficara responsável pela área próxima ao portão. Apesar de não ter discutido por não ter percebido antes, agora eu compreendia que me colocaram ali para que eu corresse menos perigo. Afinal, poucas pessoas passavam naquelas ruas pela falta de casas e poucas visitas chegavam diariamente desde que a notícia da Kyuubi se espalhara. Foi exatamente por saber dessa movimentação fraca na região que eu achei estranha a movimentação na floresta próxima aos limites da vila.

Diversos shinobis faziam a vigilância do perímetro, mas eu duvidava que algum deles tivesse sentido aquilo. Era um cara muito furtivo, até onde pude perceber. No entanto, se alguém que estivesse no mesmo nível prestasse atenção, sentiria seu chackra à distância.

Percebi que o shinobi queria disfarçar sua presença, o que confirmou a minha suspeita de que ele não queria ser encontrado. E aparentemente estava sozinho. Por isso, achei seguro ir até ele. Não podia correr o risco de perdê-lo. E, se minhas conclusões estivessem corretas, o meu destino e o de Konoha estavam entrelaçados. Eu precisava confirmar isso. Precisava achar aquele homem.

No mesmo instante senti minha cabeça doer. Por sorte, estava próximo à muralha da fronteira e me apoiei nela, sem ninguém por perto. Então minha visão embaçou e enegreceu por um instante.

 

FLASHBACK ON

Novamente eu estava em pé, como uma estátua. Paralisado. Meus olhos, apenas eles se moviam. Não era uma movimentação real, mas como uma visão maior da lembrança. Então eu vi novamente. Tudo o que vira antes. Sasuke via o meu estado e discutia com Danzou.

Durante minha viagem com Kakashi e Ino, eu vira ainda outro trecho, até então inédito. Sasuke olhava para Danzou, duvidando do que ele dissera.

—Deixe Naruto de fora das nossas brigas.

O sorriso de Danzou era sarcástico. Ele balançou os ombros.

—Naruto faz parte de Konoha. Querendo ou não, direta ou indiretamente, um dia ele matará você, Sasuke. Você sabe disso. No fundo, você sabe. Por isso, no fundo você o teme.

—É a obrigação dele. – Sasuke falou. – Mas você nunca vai poder machucar alguém como ele enquanto eu estiver por perto.

Danzou gargalhou. O meu ódio era tanto que eu sabia que o mataria se pudesse me mover.

—O seu antigo time é mesmo importante para você, não é mesmo? Ainda que tenha feito tudo o que fez, você se importa.

Minha visão anterior parara nesse ponto. Eu observava atento a tudo o que acontecera a partir de então.

—Não seja tão duro com ele, Danzou. Um garoto como Sasuke é um recurso valioso.

Sasuke se moveu na mesma hora. De onde estava não pude ver o rosto do novo convidado com clareza. Percebi que ele cobria a parte de baixo de sua face com uma máscara e vestia um capuz por cima da cabeça. Como o dia se fora, tudo o que eu podia enxergar eram os olhos vermelhos emanando luz para fora da escuridão sob o capuz.

De algum modo, assim que o vi pude reconhecê-lo como aquele que me prendera naquele genjutsu.

—Quem é você? – Sasuke perguntou.

Danzou ignorou a pergunta.

—Você não devia ter vindo até Konoha, mestre. Sabe que estão atrás do senhor.

Assustei ao ouvir Danzou se referir àquele Uchiha como “mestre”. Nunca o vira tratar ninguém com aquele tipo de respeito.

O Uchiha ignorou Danzou. Virou-se para Sasuke.

—Eu acho que você não tem muitas opções no momento. – Ele parecia calmo, mantinha uma expressão serena. Como se estivesse diante de uma situação rotineira.

—Eu teria que escolher? Entre o quê? Por quê?

—Sim. Acho que você terá que escolher. Afinal, o que planejamos é bem maior do que apenas Konoha e Danzou, como você tanto quer.

Sasuke não falou nada. Parecia se segurar, por algum motivo. Seu sharingan estava ativado, então ele não temia nenhuma técnica visual e parecia também atento aos movimentos de Danzou, evitando um ataque surpresa. O Uchiha continuou sem se importar com aquela cautela.

—Você pode se juntar a nós. – Sua era ainda mais calma. – Garantimos sua segurança e você terá um cargo privilegiado. Um jovem em ascensão numa nova ordem das coisas, brilhante e com um belo futuro. Ou você pode escolher não cooperar conosco. – Seu tom mudou. Ficou mais sério. – E ser considerado um inimigo.

Sasuke não respondeu. Olhou para a direita de Uchiha e viu Danzou às suas costas. O homem de olhos vermelhos recomeçou a falar.

—Nosso objetivo é destruir completamente o que atualmente é conhecido como Konoha. O seu objetivo é destruir os conselheiros, o que será uma consequência dos meus objetivos. A única pessoa que não precisará matar será Danzou, mas poderá fazer outra coisa. Algo muito melhor. – Sasuke não precisou perguntar. – Você poderá reconstruir o mundo shinobi. Construir um mundo novo. – O vermelho dos olhos dele pareceu ficar mais intenso. – Então o sonho de Itachi estará completo. O sonho de um mundo justo e igual para todos.

Olhei para o rosto de Sasuke e senti-me desanimar. Sua expressão revelava desejo.

—E então? – O shinobi perguntou. Estendia sua mão. Aproximara-se de Sasuke. Bastava que ele esticasse o braço para alcançar o Uchiha. – Acha que é capaz de realizar o sonho de Itachi?

 

FLASHBACK OFF

Não pude ver a resposta de Sasuke, porque estava de volta a Konoha atual, encostado ao muro da fronteira. Tentei andar um pouco, ainda atordoado com o que vira. Curioso por saber a resposta de Sasuke.

Afinal, tudo me dizia que ele aceitaria, seus motivos o inclinavam para isso. Mas eu também vi que ele ainda se preocupava conosco. Isso tinha que valer alguma coisa.

Algo em mim, no entanto, queria que ele tivesse aceitado. Se isso aconteceu, ainda existia a chance de ele estar vivo, de alguma maneira. Aquele corpo na floresta poderia ser falso. Eu ouvira sobre shinobis que usavam tal tipo de truque. Não sabia também se no esquema de Danzou havia algum médico que pudesse facilitar isso, ou algo do gênero. Pensando melhor, as chances de Sasuke continuar vivo eram grandes.

Eu teria continuado a pensar, mas então senti novamente o chackra esquisito. Esquecera-me dele por alguns momentos. O meu treinamento seria de alguma ajuda. O poder que eu tinha, somado ao treinamento de Kakashi e Ino me dava autoconfiança o bastante para que eu soubesse que tinha condições de prosseguir.

Fiz apenas um In. Em seguida, olhei na direção do portão de Konoha. No momento seguinte eu estava lá. Em seguida, olhei para as árvores. Instantaneamente estava no meio da floresta. Por isso, cheguei onde estava o tal shinobi em segundos.

Ele estava encostado a uma árvore. Parecia esperar minha chegada.

—Você enrolou um pouquinho antes de vir, Anbu. – O tom de voz era muito familiar. Assim que pousei meus olhos sobre seu rosto, compreendi quem era. Considerei uma boa vantagem o fato de ele não me reconhecer. Seria bom que não soubesse que eu estava dentro de Konoha.

—Achei o primeiro suspeito. – Disse.

—Pois é. – Aquele não era o mesmo shinobi que eu conhecera há muito tempo. O exterior era parecido, mas aquela não era a mesma pessoa. – Apesar de eu querer um encontro a sós, acho que temos companhia.

No momento seguinte, uma pessoa apareceu ali. Ficou a meia distância de mim e do garoto. Ela pareceu assustada ao ver seu amigo.

—Rock Lee, o que está fazendo aqui? – Sakura parecia assustada de verdade, mas, ainda assim, eu fiquei desconfiado.

—Você ainda não sabe de nada, não é? – Ele respondeu sorrindo. Parecia se divertir. – Não se preocupe. Logo você vai descobrir tudo. – Ele olhou para mim. – Você, infelizmente, não vai.

Ainda que devesse me preocupar com a ameaça, a presença de Sakura me desequilibrou. Olhei para ela, seguro de que não me reconheceria. Afinal, nem mesmo os meus olhos estavam à vista. No entanto, ela ainda me olhava. Examinava-me cuidadosamente.

—Você. – Ela pareceu se lembrar de algo. Eu sabia qual fora o meu único erro e o lamentei profundamente. As faixas cor de laranja. Foi um erro não pensar que Sakura se lembraria delas.

No entanto, em vez de ela gritar meu nome e revelar minha identidade para quem quisesse ouvir, Sakura sorriu para mim e se calou. Eu não entendi o que ela queria. Mas cheguei à única conclusão que meu cérebro conseguiu aceitar: Era um truque de Sakura.

Raiva inundou meu interior. Como ela podia fazer algo assim? Queria me enganar? Para quê? O que restava em mim que ela ainda queria destruir?

Mas também, o que eu poderia esperar dela? A garota já tinha me feito coisa pior.

Mas seria aqui. Seria agora. Era hora de definir de uma vez por todas o que aconteceria com a minha vida em relação à Sakura.

Por isso, mesmo com o seu rosto a sorrir para mim pela primeira vez em tanto tempo, quando retirei a máscara de meu rosto, tudo o que eu expressava era ódio.

Fim do Capítulo 14

*


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