Depois da Escuridão

Disclaimer cronológico: A fic começa antes do início da Reunião dos Cinco Kages. Depois da invasão de Pain em Konoha, a vila se restabeleceu. O restante será explicado no tempo oportuno. O que interessa é saber que a partir dali a fic tem sua própria maneira de lidar com os fatos (até porque depois do final do arco da 4ª Guerra o mangá teria se encerrado e eu não conseguiria escrever a história que quero).

Prólogo:

Naruto estava no escuro. Nada além do vazio o cercava. Ou era isso o que ele pensava. O garoto não entendia. Muito menos gostaria de entender como parara ali. Sua vida se tornara um pesadelo mortal. Se ele tivesse tempo, poderia se acostumar com o ambiente escuro. Talvez toda aquela negrura fosse ainda assim melhor que o lugar de onde viera. 

O que fazer? Naruto tentou achar o chão. Achou algo parecido com um sólido e começou a caminhar lentamente. Cada passo à frente aumentava sua dor. Sua consciência parecia clarear conforme continuava movendo suas pernas para frente.

Nada além da escuridão. A única acompanhante era a imensa dor que carregava. Será que algum dia seria perdoado? Liberto daquela dor? Ou ficaria assim para sempre? Sozinho? Era melhor nem tentar voltar para o mundo. Era melhor permanecer ali. Até a escuridão. Até a dor. Até o sofrimento. O medo e o frio.

Enquanto andava, Naruto sentiu pisava sobre algo molhado e, ao perceber isso, enfim reconheceu o local. Continuou andando até chegar ao início de uma clareira. Ele seguiu até o meio dela e ergueu seu rosto. A luz machucou seus olhos no começo, impedindo que visse o óbvio. Quando sua vista se acostumou à luz, suas suspeitas se confirmaram e ele a enxergou: a cela da raposa. Uma imensa grade se ergueu à frente do Uzumaki.

A Kyuubi escondia seu rosto nas sombras.

—Está triste? - Perguntou ela. Sua voz era paternal. Parecia querer esconder seu rosto nas sombras para que sua voz doce não se associasse à sua feição.

O garoto estava tão destruído mentalmente que foi incapaz de ignorar a chance de atender àquela voz tão acolhedora.

—Por causa do que aconteceu? - Perguntou ela. - Eu ouvi o que eles te disseram. E vi como te olharam.

Aquilo não aliviou a dor do garoto. Todos aqueles em que ele confiava não confiavam nele. E aquelas palavras fizeram com que ele lembrasse ainda mais do que acontecera.

—Eles não veem a você. Eles só veem a mim. - A voz dela era falsa ao ponto de realmente parecer que ela se culpava. - Mas isso pode mudar. - Apesar da escuridão dentro da cela, Naruto, se tivesse prestado atenção, teria notado um ligeiro brilho nos olhos dela. - Você pode mudar isso. Basta me expulsar de você. Force-me para fora de seu corpo.

Naruto estava sufocando. A dor atingira seu ápice. Ele se sentia traído. Seus amigos o tinham abandonado. Fizeram com que ele depositasse sua confiança total neles. Mas não tinham feito o mesmo com ele.

E quando ele se lembrava dela... Aquela em quem confiara ao extremo. Sua maior fraqueza. Seu maior erro. Mas ele não se arrependia de ter se apaixonado. Não por ela. Não tinha errado daquela vez.

—Se você me libertar, eu saio de seu corpo sem lhe matar. - A raposa continuava falando. - Você é o único Jinchuuriki que tem a chance de escolher.

Naruto estava, apesar da dor, escutando atentamente à raposa. A possibilidade de não morrer e ainda se livrar dela parecia muito atraente.

—Só precisa retirar o selo intencionalmente. - Disse ela.

A dor chegou ao seu ápice. Naruto só pensava num modo de resolver aquele problema. Era uma dor tão intensa ao ponto de sua mente se concentrar apenas em aproximá-lo lentamente das grades da prisão.

—Vamos lá... - Disse ela. - Você vai se sentir bem melhor...

Aquela frase fez eco na cabeça de Naruto. "Você vai se sentir bem melhor.". Foi o suficiente para que ele, enquanto delirava em pé, encostasse a mão no selo.

—Finalmente... - Disse a raposa, saindo da escuridão.

Naruto puxou a ponta do selo e, em seguida, soltou. Estava quentíssimo. Quando Naruto soltou o selo, notou que a ponta que segurara havia queimado. O susto o atingiria, se ele não tivesse caído de costas, quase apagando por causa da dor, que se recusava a sumir. Ele já não sabia dizer se era uma dor física ou mental. Seus sentidos se misturaram, dando a impressão de que seu corpo e consciência eram apenas uma coisa totalmente dormente.

Ele não sabia se levantaria. Mesmo se algum dia se curasse, não sabia se era merecedor de uma cura. Talvez sem a raposa dentro de si, as pessoas confiassem nele e o vissem como realmente era. Talvez alguém pudesse ver além da raposa que seu corpo abrigava.

E, ainda que nada disso acontecesse, um pensamento ainda o consolava: Talvez ele não suportasse a extração do bijuu de seu corpo. Provavelmente ele iria morrer. E, com a dor que estava rasgando seu peito, as pistas indicavam nessa direção.

Com as forças se esvaindo, talvez para sempre, o garoto começou a fechar os olhos. A última coisa que percebeu foi o sumiço da claridade, substituída pela sombra da enorme raposa, que, com total confiança, saiu lentamente de sua cela, seu corpo se dividindo em partículas, desaparecendo dali e deixando que Naruto, aos poucos, fosse para os braços abertos da morte.

Fim do Prólogo.