Cheguei na escola bem cedinho.A sala era bem diferente da minha no Brasil.A escola toda é diferente na verdade,mas a sala também é estranha.Não sei explicar,mas é diferente é só o que posso dizer.Minha irmã está em uma escola diferente. Aqui eles separam o fundamental do ensino médio.A coitada vai ter que fazer uma prova pra entrar aqui ano que vem.E com isso acaba que até agora a única pessoa que eu conheço nesse lugar é o idiota do meu irmão. E como até hoje ele está fazendo drama eu prefiro ficar sozinha.

    A sala de aula foi se enchendo e todos olhavam para mim como se eu fosse uma alienígena,afinal uma sala cheia de japa,todo mundo de olho puxado e cabelo preto liso e eu loira dos olhos olhos azuis,não era de se estranhar que eu fosse estranha por ali.

    Quando já estava quase batendo o sinal o Pedro entrou na sala.Ele também chama bastante atenção com seus cabelos castanhos e olhos cor de mel.Fiquei feliz em saber que ele está na minha turma,afinal pelo menos eu vou poder conversar com alguém,afinal duvido que alguma dessas pessoas fale português.Ele se senta logo atrás de mim.

     --Oi!--Disse ele entusiasmado em me ver.

     --Olá,como vai você?--Então nós dois começamos a rir.

     --É bom saber que mais alguém aqui assiste os vídeos do pc siqueira. --Falou Pedro com um sorriso no rosto.

     --É bom saber que você assiste mesmo morando aqui no Japão.Nem gostaria de imaginar minha cara de trouxa se você não entendesse.Afinal é um jeito muito formal de falar,seria meio estranho uma adolescente como eu falar assim.

    --É totalmente.Que bom que a gente tá na mesma sala.Antes eu era o único estrangeiro por aqui.E aí,você está preparada?

   --Preparada para que?

   --Para ir lá na frente da sala se apresentar enquanto todos te olham fixamente.

   --Por que eu faria isso?

   --Porque aqui é comum quando tem um novato,ou uma novata na sala, eles irem se apresentar na frente da turma toda.

  --Droga acho que não estou emocionalmente preparada para todos esse olhos fixos em mim.

   --Não se preocupe.Indendente de ser agora ou em outro dia depois de você se acostumar com a ideia,você nunca vai estar realmente preparada para isso.

   --Ahn,isso não é muito incentivador.

   --Ah isso é só realismo.--Disse ele com uma cara do tipo,não posso fazer nada.

   --Pois é.Por isso eu prefiro o mundo da imaginação.

   --É só que não é nele que você vive.Bem vinda ao mundo real.

   No momento em que ele falou isso a professora entrou na sala.Ela era uma mulher baixinha de cabelos negros lisos e olhos puxados.Usava óculos quadrados e era bem magra.Eu lhe daria uns 35 anos.Como o Pedro disse ela me chamou para ir lá na frente(ela me chamou em inglês porque sabia que eu não entenderia nada se ela dissesse em japonês)e realmente foi como ele disse.Traduzindo:foi muito tenso.Odeio me expor no meio das pessoas dessa forma.Sei lá é como eu fosse um animal exposto numa feira.De qualquer forma o importante é que passou rápido.

   Quando a aula começou eu tentei prestar atenção,mas depois da 15° frase dita em japonês eu percebi que não adiantaria,afinal eu não estava entendendo nada.Agradeço por ter sido esperta o suficiente para ter sentado do lado da janela então eu pelo menos tinha algo para fazer enquanto não batia o sinal para o intervalo.

    O sinal bateu e todos foram saindo da sala.Eu demorei a me tocar sobre o sinal porque estava muito distraída com a janela.Não que tivesse algo interessante para olhar mas uma cerejeira florida me chamou a atenção.Pedro chegou por trás de mim e sussurou no meu ouvido:

   --A cerejeira te chamou atenção?--Quando ele disse isso quase pulei de susto.Eu disse que estava distraída.

   --Ai garoto que susto.A gente tá no meio da aula professora vai te matar.Senta logo.--Repreendi ele.

   --Ei lesada.A aula já acabou.--Olhei em volta.Ele tinha razão.É eu sou lesada.

   --Nossa.Nem vi.

   --Percebi.E então?Você não respondeu a minha pergunta.

   --Ah a cerejeira.Sim,me chamou me atenção.Não tem muitas dessas no Brasil.Além do mais eu não sei explicar,mas parece que tem algo mágico nela.

   --Você não sabe o quanto.--Disse ele de forma misteriosa.

   --Como?

   --Não disse nada não.Deve ter sido impressão sua.

    Eu sabia que não tinha sido impressão minha,mas achei melhor não questionar afinal naquela hora o meu celular tocou.E era o Tiago.Abri o telefone o mais rápido que pude e ignorei totalmente o Pedro no momento em que escutei a voz do meu namorado.

   --Rafa?--Disse ele do outro lado da linha.

   --Tiago!!Nossa como eu senti sua falta.Por que você só ligou hoje?Tem três dias que eu cheguei.

  --Ah é que começo a época de provas e minha mãe me obrigou a estudar o tempo todo.E não sabia quanto tempo demoria para você chegar aí.

 --Ah.Tipo a viagem demora bastante,mas três dias é um pouco demais não é?

  --Foi mal.Você sabe que a minha noção de tempo é péssima.Te liguei só para saber como você estava.Vou desligar agora.Já são 10 horas da noite aqui e minha mãe tá me mandando dormir.A gente se fala amanhã.

   --É claro.

   --Eu te amo.

   --Eu também te amo.

  --Tchau.

  --Tchau--Então eu desliguei.Pedro me encarava com curiosidade.

  --Quem era?

  --Meu namorado.

  --Hum...

  --O que foi?

  --Só não imaginei que alguém como você teria um namorado.

  --Alguém como eu?

 --É completamente avoada.--Disse ele rindo.

   --O que você sabe de mim seu idiota?--Disse eu rindo e perseguindo ele para espancá-lo.

   --Pois é.Para você ver.Eu mal te conheço e já sei que você mega avoada.

   --Como é que é?Vou te matar seu idiota.

   --Pode tentar.

   Saímos correndo pela escola até o pátio.Ele realmente era rápido. Estava quase alcançando ele quando chegamos na enorme cerejeira que eu havia visto da sala de aula.Ele se escondeu atrás dela e como ela era enorme foi como se ele tivesse desaparecido.Quando passei pela cerejeira ele saiu de trás dela,puxou o meu braço e me prendeu na árvore.

    --Você é uma garota interessante.Acho que logo logo vou poder te contar os segredos dessa árvore.--Disse ele com um olhar misterioso.

    Logo depois ele me largou e foi caminhando pelo pátio.Eu estava atônita com o comportamento inesperado dele.Não conseguia sair do lugar.Bateu o sinal e eu voltei para sala confusa.