Hoje a escola fez uma excursão para um shopping em New Jersey, uma cidade próxima a New York. Não foi uma experiência muito boa ficar 40 minutos em um ônibus cheio de adolescentes. Durante a viagem inteira tinha um grupo de meninas que foram cantando, mas o pior é que elas não eram afinadas; também tinham os idiotas que vão jogando verdade e desafio, quando o desafio deles é beijar você não é nem um pouco divertido. Quando chegamos no shopping, Dan teve a ideia de irmos jogar boliche, Tom e Kaio ficaram animados com a ideia, Belle não gostou muito mas no final concordou, para mim era indiferente. Como todos concordaram, nós fomos. Agora estamos tendo uma pequena discussão para separarmos os times, já que somos em duas meninas e três meninos.

Enquanto o pessoal discutia, eu sentei e comecei a treinar piano no meu "piano imaginário", uma técnica que poucos possuem, você imagina um teclado e começa a tocar, geralmente eu imagino o teclado na perna (brincadeira não é uma técnica, é mais o fato de eu não conseguir ficar sem tocar piano, sim eu sei, é estranho). Quando eu terminei de "tocar" Für Elise, alguém passa por mim e senta no banco que está na minha frente. Bem que eu percebi que estava faltando alguém na viagem, não que ele fizesse falta mas ultimamente ele tem andando sempre com o Tom, que anda com a gente, então todos andamos juntos. Depois de um tempo encarando o nada, percebi que ele poderia ser a chave do nosso problema. Eu levantei do meu lugar e fui em direção ao pessoal.

– Porque vocês estão com papel higiênico? - eles estavam com papel higiênico e caneta na mão.

– Nós vamos fazer um sorteio! Assim é mais fácil de decidir os times - Kaio diz e começa a escrever os nome no papel.

Fiquei encarando eles durante alguns segundos, todos pareciam empolgados com a ideia do sorteio. Só não sei porque. Eu cutuco Tom no ombro, ela se vira para mim.

– Vamos colocar o Loki em algum time - eu sussurro para ele - só... Temos que tentar convence-lo.

– Isso eu consigo fazer - ele me responde sorrindo.

Ele se aproxima do Loki e começa a falar com ele. Alguns segundos depois, Loki nega algo com a cabeça, Tom volta a falar mas parece que Loki percebe que eu estou encarando eles, ele me encara mas logo volta sua atenção para o que Tom diz. Eles terminam de conversar e vem em nossa direção.

– Como ficou o sorteio? - Tom pergunta, enquanto coloca o braço envolta dos meus ombros.

– Eu, Anna e você. Contra o Kaio e a Belle. - Dan responde.

– Belle, Kaio. Se vocês quiserem o Loki pode ajudar o time de vocês - Eu sugiro.

Kaio concorda em deixar o Loki ajudar o time dele. Com tudo pronto nós começamos a jogar. Eu fui a primeira, escolhi a bola mais leve, que no caso era a azul. Me posicionei e joguei a bola. De dez pinos, derrubei cinco. Na segunda jogada, derrubei três. Quase consegui um spare. A segunda pessoa a jogar foi Belle, ao todo ela derrubou 6 pinos. Logo depois Dan, Kaio e Tom jogaram. Nosso time estava ganhando. Então chegou a vez do Loki jogar. Tom foi explicar como se joga mas Loki afirmou que já tinha aprendido como jogar, ele foi pegando as bolas para ver o peso delas. No final pegou a bola mais pesada, a preta. Ele se posiciona e joga. A jogada dele já foi impressionante, mais ainda foi o crack que ouvimos. Depois ficou todos ficaram em silêncio, e Loki virou com um sorriso triunfante.

– Ai meu Deus... Vocês viram o que eu vi? - Belle pergunta assustada.

– Ele... Ele... Bola... Pino... Ai caramba - Kaio mal conseguia formular uma frase.

Eu estava paralisada, a jogada dele foi demais. Foi como se ele estivesse jogando beisebol, só que com bola de boliche. Ele usou tanta força que trincou um dos pinos e fez um strike.

– Não cara, sério. Isso foi, foi incrível. Bate aqui.

Dan foi elogiando Loki, mas deu para perceber que ele não sabia o que fazer, se batia ou não na mão de Dan. No final ele optou por bater na mão, assim fazendo um high five.

No fim, o time que venceu foi o do Kaio. Mas com a ajuda do Loki esse era o resultado esperado, em todas as jogadas ele fez strike. Nós saímos do boliche e fomos para a praça de alimentação, estávamos todos com fome, só tínhamos tomado café da manhã e já fazia um bom tempo. Belle, Dan e Kaio foram comer no Burger King enquanto eu e Tom decidimos ir comer no Subway, já o Loki estava meio perdido.

– Você não vai comer nada? - eu pergunto para o Loki, olho rapidamente para ele mas logo volto a contar meu dinheiro.

– Não conheço os alimentos que estão à venda neste - ele examina a praça - palácio midgardiano.

– "palácio midgardiano"... Legal! Um dia vou falar isso - Tom exclama.

Eu olho para Tom e pergunto qual o problema dele, ele só sorri para mim. Aonde ele vai usar esse frase? Só se ele fizer uma peça nórdica, o que eu duvido que aconteça.

– Mas, sério que você nunca comeu um sanduíche? O que vocês comem lá em asgard? Ah esquece. Eu vou preparar um sanduíche pra você, pode deixar que é por minha conta! - Tom diz todo empolgado.

– Claro que você vai pagar, Loki não tem noção do que é dólar - eu comento.

Depois que todos comemos, nós começamos a andar e conversar pelo shopping. A conversa está focada no Loki, em como ele joga boliche e também como ele nunca tinha comido um sanduíche. As vezes Belle parava para comentar sobre alguma roupa da vitrine. Os meninos tinham que arrasta-la para longe da vitrine, caso contrário, ela entraria para comprar a loja inteira. Eu percebi que Kaio estava inquieto, ele olhava o tempo todo para trás e para os lados.

– Ei, vocês perceberam que os monitores do colégio estão perseguindo a gente? - Kaio comenta.

– Nossa, que estranho os monitores estarem monitorando a gente - Dan ironiza.

Ninguém mais falou sobre o assunto, mas eu comecei a prestar atenção. Realmente tinham mais monitores cuidando da gente do que normalmente tinha para outros alunos. O Kaio poderia não saber o porque, mas eu sabia. Loki. Com certeza o colégio sabia quem ele era, o que me impressiona é como o colégio deixa ele solto por aí. Isso só confirma minha tese: se ele tiver poderes, deve estar sem eles. Eu fico encarando ele. Não tem sentido ele estar aqui, voltar para o "território inimigo". Pode ser uma punição pelo o que ele fez mas, ser punido depois de cinco anos? Ou então ele fez alguma coisa errada de novo, mas teria que ser muito burro para cometer o mesmo erro duas vezes. Na mitologia, descrevem o deus da trapaça como esperto, talvez ele não seja igual ao Loki da mitologia. Talvez ele nem seja o Loki! Só um impostor... Não, eu acredito nele, isso é burrice mas eu acredito nele.

– Está gostando do que vê? - Loki me pergunta sorrindo.

Eu começo a processar o que ele acaba de dizer.

– Eu não estava olhando para você - digo entre dentes.

– Ah! Me desculpe. Acho que estou meio cego - ele zomba.

– Maldito... - resmungo.

Na volta para a escola, eu fui sentada com o Kaio, no ônibus. Atrás da gente estava: Tom e Loki; na nossa frente: Dan e alguma menina; do nosso lado: Belle e Jeff.

– Anna troca de lugar comigo, por favor? - Tom pede - quero falar com o Dan.

Eu concordo e trocamos de lugar. Estava lendo um livro quando percebo uma movimentação no corredor. Quando logo para cima vejo um rosto se aproximando do meu, com intenções de me beijar. Bato nele com meu livro.

– Ai! Meu nariz - um menino queixa-se - eu tenho que te beijar, é meu desafio!

– Ah garoto, você não vai me beijar.

– Por que não?

Eu tento pensar em alguma coisa, mas só vem uma ideia que não me agrada muito.

– Porque ele é meu namorado - minto enquanto entrelaço meu braço com o do Loki.

O garoto olha para mim com uma expressão de confusão,depois olha para o Loki.

– Eu não sou o namorado dela - Loki informa.

– É sim - eu vocifero.

O garoto continua com uma cara de confusão.

– Não. Sou - Loki diz pausadamente.

– Então faça ele ir embora - eu proponho.

Ele olha para mim, fecha os olhos e suspira. Depois encara o menino. O menino simplesmente vai embora. Eu continuo a olhar o menino para ver o que ele vai fazer.

– Não vou cumprir o desafio - é o que escuto ele falar.

Eu olho incrédula para o Loki. Ele parece estar pensando em algumas coisa.

– O que você fez?

– Mágica - ele responde. Depois sorri de forma debochada.