Dois Mundos escrita por Iza Stank


Capítulo 5
5-Encontro com a filha da morte.




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A menina que estava ali, não parecia grande coisa, baixinha, cabelos castanhos presos, olhos dourados quase castanhos e usava uma camiseta do sonic combinando com um short, ela tinha a voz um pouco grossa e não devia ter mais do que 13 anos.

-Desculpe? –eu falei sem entender.

-É meu, eu o vi morrendo, eu vi seu espirito sendo puxado para baixo, se não fosse você, ele não estaria aqui. –disse ela caminhando para perto.

-Nós nos conhecemos? –continuei sem entender. Mas Pedro agora estava de sentado na água.

-Eu creio que não, meu nome é Roxie Rose, filha de Hades. –disse ela estendendo a mão.

Agora eu percebia que ela tinha um colar em forma de caveira cravejada com ouro, pelo menos parecia ouro. E também, sua mão era fria como pedra.

-Muito bom, mais uma meio-sangue perdida, eu sou Douglas, filho de Hefesto, essa é minha prima, Luiza, filha de Apolo, e este outro aqui é o Pedro, filho de Poseidon. –Douglas apertou a mão dela.

Ela olhava intrigada para nós, e depois de um silêncio desconfortável, ela virou para mim e disse:

-Eu acho que você deveria saber, mas ele se segurou em você para não cair.

Eu senti meu rosto corar e pude perceber que Pedro tentava esconder também.

-Você estava aqui a muito tempo? –perguntou Douglas.

-Sim, eu vi vocês lutarem com os lestrigões, e depois esse cara ser cortado como um salame, e aquele outro que fugiu com o gordinho também vi. –respondeu ela.- então, vocês vieram do acampamento? Imaginei que Quíron fosse mandar alguém logo, a situação está ruim por aqui.

-Sim, viemos do acampamento, mas como você sabe sobre ele? –perguntou Pedro já em pé.

-Porque eu já fui lá?! Dã. –falou ela revirando os olhos. –A questão é que vocês tem que dar um jeito, não sei como, mas isso não pode continuar assim.

-Assim como? Desde que chegamos, não vi nada de diferente aqui. –Falou Douglas.

-Vocês são cegos ou o que? A saúde das pessoas está pior do que jamais esteve, eles brigam entre si, se matam, por nada, tudo isso causado pela Caixa de Pandora, que nunca deveria ter sido aberta. –explicou ela. –faz um tempinho já, as coisas começaram a piorar drasticamente, eu vim pra cá, para poder fazer uma sondagem, mandar informações, mas desde que aqueles lestrigões chegaram, tudo ficou pior.

-E o que temos que fazer? –perguntei.

-Não sei, mas eu descobri umas coisas, os monstros estão chegando cada vez mais rápido, para pegar alguma coisa, eu acho que são vocês, e eu também sei aonde é o esconderijo daquele cara horroroso que fugiu. –disse ela orgulhosa.

-Então nos leve até lá. Por favor. –pediu Pedro, ele agora estava ao meu lado.

-Vou leva-los.

Caminhamos até um ponto de táxi, apanhamos um e seguimos até Cristo redentor, Roxie pagou o motorista e ao invés de seguirmos para o ponto turístico, fomos para a mata, e lá, em uma parte escura, sem nenhuma chance de ser visto da estrada, um grande rochedo na encosta, em baixo, ficava uma fissura de tamanho suficiente para um homem passar.

A fissura dava em um corredor, nós seguimos por ele uns 5 minutos, eu tive a impressão de estar em baixo da estrada, mas não tinha nenhuma noção. Paramos na entrada de uma caverna, tão grande que poderia caber um prédio de 2 andares ali dentro. Do outro lado da caverna, Kratos estava sentado em um poltrona reclinável, com função de massagem, assistindo o Mais Você, a cena seria engraçada, se não fosse o fato de que Andrés estava sendo torturado aos pés de Kratos.

O garoto se contorcia, gritava baixinho, chorava e se debatia enquanto Kratos mexia uma varinha como a de Bruna, longa, reta e fina.

-Você não quer falar, então vai sofrer mais um pouco. –e uma risada ecoou pela caverna.

-Não, por favor, eu não sei do que está falando. AAAAAA. –gritou Andrés.

Eu estava apavorada, mas sabia que alguma coisa teria que ser feita, mas não podia agir ali em baixo.

Roxie nos guiou para fora da caverna, quando chegamos na luz do sol, me senti forte de novo.

-Nós temos que fazer alguma coisa, ele vai morrer assim. –falou Pedro.

-Eu sei, mas vocês repararam o que estava ao lado da poltrona? –perguntei.

-A caixa de Pandora, eu vi. –falou Douglas. –nós temos que pega-la, ele abriu a caixa e liberou os espíritos novamente, todos aqueles que assombravam a humanidade foram presos durante os séculos, sobrando apenas resquícios e reflexos deles na população, e agora nós temos que recupera-los e colocar na caixa de novo.

-Impossível ser a caixa verdadeira, você disse que a viu no sonho, a coruja capturando-a. –Falou Pedro.

-Pode ter sido uma isca, uma caixa falsa. –respondi. –de qualquer maneira, vamos ter que prender aqueles espíritos ali, um por um.

-Mas como? –perguntou Douglas.

-‘Que a magia leve a salvação para as terras do sul...’ –repeti a profecia. –É obvio, com a magia. –aquele verso fazia sentido para mim agora. Nós tínhamos que usar a magia para recuperar os espíritos. Mas eu não sabia qual a magia.

-Claro, mas vocês devem aprender a usar suas habilidades, primeiro. – disse Pedro, puxando a varinha do ar.

Nós chegamos em um galpão abandonado, em uma parte mais pobre da cidade, não tinha nada lá dentro, só muitas caixas velhas.

Nos sentamos e começamos o tal treinamento de magia. Pedro explicou que todo mago tinha uma reserva de energia, e que tinha que tomar muito cuidado para não gastar toda a sua em um único feitiço, por que se não, a magica consumiria a força vital do mago.

Ele mostrou um comando básico, o hieróglifo para juntar brilhou no ar em uma luz verde-mar, e uma caixa demolida se juntou voltando ao normal. Ele continuou explicando sobre os estilos de cada mago, e que cada um deveria seguir um caminho de um deus, nesse caso, egípcio. Pedro seguia o caminho de Hórus, deus da guerra, comandante dos deuses. E dependendo de nossas habilidades, nós escolheríamos qual caminho seguir.

Quando chegou minha vez de tentar fazer alguma coisa, me senti envergonhada, pois não sabia o que fazer, senti os olhos de Douglas, Pedro e Roxie nas minhas costas enquanto eu tentava me concentrar. Um momento de tensão e silêncio, até que gritei o comando para quebrar, ‘Há-di’, e um hieróglifo brilhou em dourado sobre uma pilha de caixas:

 Foi forte o suficiente para explodir uma pilha de caixas empilhadas e jogar muito lixo por cima de nós.

-Uou, muito bom. –disse Pedro batendo palmas. –como você conhecia esse comando?

-Não sei, apenas surgiu na minha cabeça. –respondi me sentando ao lado dele.

Douglas teve a mesma sorte, só que ele resolveu juntar as peças, ele gritou com tanta força de vontade, que as peças se juntaram muito rápido, e um pedaço de madeira bateu na cabeça dele.

-Nossa, o oráculo estava certo! –disse Roxie. –vocês são o grupo de semideuses-magos mais forte que existem.

-Mas nós somos só três. –disse Pedro, pelo jeito, ele também não entendeu.

-Isso é o que você pensa, existem mais por ai, mas não posso lhes contar nada agora. Nós temos que capturar aquela caixa. –disse ela, dando o assunto por encerrado.

Nós treinamos mais um pouco, aprendemos mais alguns feitiços, e também estudamos um pouco sobre o que era cada coisa, não foi muito fácil de entender, era muito confuso, mas quando já havia passado das 13 horas, resolvemos almoçar.

Roxie nos levou para a casa dela, sua mãe estaria trabalhando, então não seria problema se nós chegássemos lá. Por sorte, a menina sabia cozinhar muito bem, e sua casa era bem confortável, um apartamento que ficava em um bairro aconchegante, em um prédio não muito grande. Na sala, haviam algumas fotos de um bebê, que supus que seria Roxie, em uma banheira, outra em um carrinho e outra com um menino magrelo, pálido, com cabelos negros como a noite e olhos negros também, ele usava um casaco de aviador e parecia ter 13 ou 14 anos.

-Esse é Nico, meu meio-irmão. –disse ela da porta da cozinha, com uma panela fumegante na mão.

-Vocês não são parecidos. –comentou Douglas.

Ela fez um muxoxo como se entendesse mas não gostasse.

-Ele tem uma história meio complicada, não tenho muito contato com ele, nós tiramos esta foto no meu ultimo dia de acampamento, antes de ele sair em missão. –explicou ela colocando a mesa. E não falou mais nada.

O almoço estava incrível, ela havia preparado rapidamente um strogonoff delicioso, e agora nós comíamos enquanto decidíamos o próximo passo.

Depois do almoço, saímos novamente, voltamos para o galpão abandonado, onde treinamos mais um pouco nossa magia, e eu estava muito cansada no fim do dia, mal consegui mostrar o arco, que quase havia esquecido completamente, e pela primeira vez consegui fazer uma utilização completa dele, até fiz algumas flechas novas com a madeira dos caixotes.

-Teremos de esperar até amanhã para agir. –falou Pedro, e agora eu percebi que ele estava tentando desenhar alguma coisa com um graveto, no chão empoeirado.

-Sim, mas ainda não temos um plano definido. –comentei sentando-me pesadamente ao lado de Douglas, que estava jogado no chão, escorado na parede.

-Temos sim, eu venho observando Kratos faz um tempo já, e por mais incrível que pareça, ele gosta de passear pela praia, de noite. –respondeu Roxie, ela era a única que estava animada ali.

Confesso que achei engraçada a ideia de um cara com mais de mil anos horroroso passeando pela praia.

-E nós teríamos a noite livre para entrar lá e pegar a caixa, quem sabe salvar o menino também. –disse Douglas rapidamente.

-Isso, exatamente, mas nós temos que chegar até lá, e não é muito seguro andar por ai de noite, principalmente no Rio. –falou Pedro, seu rosto estava banhado com a luz do pôr-do-sol que entrava por uma janela quebrada.

-Espere ai, você, um semideus filho de Poseidon, todo poderoso, está com medo de andar pelo Rio de Janeiro, uma cidade de mortais, á noite acompanhado de mais três semideuses? É isso mesmo que eu entendi? –perguntei não acreditando e comecei a rir.

Eu acho que eles entenderam como parecia ridículo aquilo, como se fosse muito perigoso para nós, que somos treinados para matar monstros, andar por uma cidade comum de noite não parecia grande coisa. Então eles riram também.

Até que consegui recuperar o fôlego e falei:

-Nós vamos lá, está noite, ok?

Eles concordaram.

-Seria bom para nós descansarmos um pouco, não acham? Trabalhamos com muita magia hoje, vocês devem estar esgotados. –Disse Pedro, enquanto se levantava. –eu faço o primeiro turno da ronda. –e então falou alguma coisa, três bonecos de argila surgiram do nada e começaram a andar de um lado para o outro do galpão, Pedro subiu uma escadaria e ficou no nível superior. Ele parecia misterioso.

Eu puxei a mochila, arrumei um pouco de jornal que estava por ali e me deitei, usando a mochila como travesseiro. Dormi imediatamente, de fato, eu estava muito cansada, e agora que o sol se fora, eu não conseguia me manter acordada por muito tempo.

O sonho veio imediatamente, minha irmã, Bruna, estava em um lugar muito diferente, nevava e ela estava com um casaco preto e jeans, seu cabelo loiro estava preso em baixo de uma touca. Ela estava em uma janela, ao lado dela, um cara alto, magrelo e com cabelos castanhos encaracolados conversava com ela, eles falavam em inglês, mas graças ao meu curso, consegui entender o que diziam.

-Você sabe que não pode fazer nada... –falou ele, seu sotaque parecia britânico.

-John, eu sei que posso, e ela precisa de minha ajuda, ela não consegue fazer nada sozinha. –disse ela balançando a cabeça.

-Escute. –ele a puxou de lado, e pude ver seu rosto, seus olhos estavam vermelhos, ela havia chorado. –sua irmã já é grande o suficiente, e não podemos fazer nada, está no destino dela, você pertence a outro mundo, ao nosso mundo. Não fique assim. –então ele a abraçou.

No fundo, ouvi passos ecoando no corredor, então um cara velho, devia ter uns 60 anos, apareceu, ele segurava uma lamparina e uma gata igualmente feia e mal cuidada apareceu aos pés dele.

-Alunos não podem ficar fora da cama. –disse ele quase como um rugido.

-Desculpe-nos Filch, nós já estávamos voltando. –disse ela.

Meu sonho mudou, agora eu estava no Egito, minha mãe parecia bem melhor agora, vestia um casaco e calça jeans, seus cabelos estavam presos em um coque e ela estava atrás de uma mesa. O tal Carter ao lado dela e Amós na frente deles. Eles pareciam discutir alguma coisa.

-Nós temos que mandar alguém verificar o que está acontecendo lá. O trigésimo nomo não dá noticias faz uma semana. –disse Amós.

-Eu já lhes disse, minha filha vai cuidar disso, não se preocupe. –minha mãe parecia confiante e eu não entendi o que ela ainda fazia ali.

-Mesmo assim, algo está acontecendo. –disse Carter.

-Sim, está mesmo, mas mandar alguém para lá, só vai piorar a situação, mais gente, mais atenção chamada. –completou minha mãe.

Meu sonho mudou novamente, eu estava em uma sala enorme, com 12 tronos gigantes, um de cada jeito, em baixo de mim, Nova York brilhava, mas não foi isso ou o peixe-vaca nadando em uma bolha no canto que chamou mais a minha atenção, foi o trono dourado, que parecia feito de ouro e brilhava do mesmo jeito que o chalé 7 do acampamento e logo deduzi que aquele deveria ser o trono de meu pai, e que o seu ocupante seria o próprio Apolo.

-Finalmente você chegou. –Disse o cara se levantando e caminhando até mim, eu achei que iria ser esmagada, mas ele diminui de tamanho até chegar ao tamanho de um ser humano normal.

Meu pai, Apolo, era lindo, posso dizer, mais que Pedro, ele tinha cabelos loiros como o sol (faz sentido sendo ele o deus-sol), alto, forte e esguio, usava um óculos de sol, sua camiseta preta estava justa no peito, deixando saliente os músculos, ele usava também uma bermuda jeans e tênis casuais. Ele parecia não ter mais do que 18 anos. Agora eu consigo entender o porque eu tinha tantos irmãos.

-Escute filha, tenho pouco tempo, eu lhe trouxe aqui por um motivo. –era estranho ser chamada de filha por um adolescente um pouco mais velho do que eu.

-Fale então. –eu disse e ouvi minha voz saindo normalmente.

-Certo, Zeus está enlouquecendo, ele acha que pode dar conta de Kratos sozinho e está indo para ai agora mesmo, mas isso é uma armadilha, eu consigo prever que ele será preso como um ratinho se puser os pés ai.

-E o que eu faço então? –perguntei.

-Você deve mandar Kratos para o Tártaro o mais rápido possível! –ele disse assim, na lata, como se fosse fácil.

-Porque Ares não o derrota pessoalmente? –perguntei.

-Ares é um idiota, ele não sabe que Kratos voltou, está muito ocupado com a guerra do Iraque. Mas você e seu primo, juntos devem fazer isso, e algo me diz que você já sabe como. –respondeu ele rapidamente, e então percebi seu tom de urgência. –você deve ir agora, Zeus está vindo. Eu te amo minha filha. –então ele me abraçou, um abraço quente mas confortável.

Eu acordei e a lua já estava no céu a muito tempo.

-Que horas são? –perguntei meio sonolenta ainda, me encaminhando para uma pequena fogueira no meio do galpão.

-Nove e trinta da noite. –respondeu Pedro.

-Coma alguma coisa, vamos sair em pouco tempo. –disse Roxie me oferecendo um pão com geléia. Eu o aceitei.

Contei-lhes o sonho, e só percebi que a fogueira vinha da mão de Douglas após eu terminar tudo. Eu dei um grito ao ver que a mão dele estava em chamas.

-Calma. –disse ele rindo. –isso não me prejudica. –então apagou o fogo e tornou a acendê-lo do nada.

-Isso é muito legal! –falei.

-Eu sei. –disse ele. –mas eu consigo fazer outras coisas também. –ele esticou a mão livre e uma barra de ferro voou em sua mão, em menos de um minuto, ele segurava um disco de ferro do tamanho de um prato. Depois ele jogou fogo em um pedaço de madeira, o fogo começou e se extinguir, ser sugado pelas mãos de dele, e uma pequena camada de gelo surgiu em volta da madeira, mas se derreteu assim que ele parou.

-Nossa. –exclamei.

-É, bem, mas isso será útil da aqui a pouco, está na hora, vamos. –disse Roxie, e pude ver pela expressão dela, que ela havia tido um sonho bem ruim.

Nós fizemos uma viagem na sombra para chegar ao Cristo, se você nunca viajou na sombra, imagine tomar um banho de água gelada no escuro, é mais ou menos isso. O lugar estava vazio agora, sem aquela multidão de turistas tirando foto. Eu me senti tentada a dar uma volta aos pés da estatua, mas o dever me chamava.

Entramos na floresta, seguindo o mesmo caminho que fizemos antes, quando entramos na caverna, eu fui na frente, vetando a ideia de Douglas acender uma tocha na mão, pois isso acabaria com o nosso oxigênio lá em baixo, então eu fiz uma coisa que não tinha certeza se funcionaria, mas incrivelmente funcionou. Estiquei minha mão esquerda e uma luz brilhou por entre meus dedos, como uma lanterna de luz solar, então seguimos em frente.

Quando chegamos na caverna, encontramos Andrés deitado no chão, do lado oposto, o lugar parecia vazio tirando ele, o garoto parecia dormir, mas ao chegar mais perto, percebi que ele estava chorando, suas costas estavam em carne viva, seus óculos, quebrados e sua face estava cheia de hematomas.

Joguei o raio de luz para cima, e uma bola de energia flutuou até o teto da caverna, iluminando toda a sala. Pousei minha mão sobre a cabeça dele e logo suas feridas haviam sumido.

-Hey, você está melhor? –chamei.

Ele pareceu não me ouvir, então cutuquei-o com mais força e dessa vez ele me viu, fez uma cara de apavorado e se levantou, antes que ele conseguisse sair correndo da caverna, Pedro barrou as saída e puxou a espada, colocando a ponta no queixo dele, forçando-o a encostar na parede.

-Por favor, me deixe ir embora. –choramingou ele.

-Sente ai garotão. Primeiro vai falar tudo o que você sabe. –disse Pedro.

Andrés respirou fundo, ele ainda tremia, mas todos nós fizemos um roda em volta dele. Ele se sentou no chão e abraçou as pernas, enquanto isso, eu vasculhei com os olhos todo o perímetro da caverna, e não vi a caixa e m lugar algum.

-Aonde ele foi? –perguntei calmamente.

-E-eu não sei, ele me abandou ali depois de ter me torturado o dia todo. –respondeu o menino, que parecia assustado.

-Ele te falou alguma coisa? –perguntei de novo.

-Não, só ficou repetindo a mesma coisa, que era para eu falar o que sabia, mas eu n sei de nada, então eu sofri. –disse ele.

-Faz sentido. –Falou Roxie.

-Você tem que vir conosco, nós podemos leva-lo para um lugar seguro, mas você tem que aceitar nossa ajuda. –Disse Douglas.

-Eu quero voltar para casa, meu pai deve estar preocupado comigo. –disse o garoto, que parecia um bebê gigante.

-Ele não está preocupado com você. Não mais. –disse Pedro, e eu percebi que ele havia sonhado também, mas não queria falar disso ali. –eles ainda não voltaram para Madri, acham que você está curtindo como qualquer adolescente.

Isso parecia convincente, então ele aceitou nossa ajuda, mas eu não sabia como leva-lo até o acampamento, mas algo deu errado, antes de sairmos da caverna, ouviu-se um estrondo no corredor, eu apaguei a bola de luz do teto, e todos nós nos escondemos.

Kratos entrou e sentou-se na cadeira, ele tinha uma lata de coca-cola na mão e uma caixa de pizza na outra, colocou a lata no chão e ligou o interruptor da luz, que eu não havia visto antes, não sei como ele não nos viu atrás dele, mas eu pensei que ali seria o momento certo para ataca-lo, então Douglas entendeu meu olhar e sacou a espada, lentamente sem fazer barulho, ele se aproximou de Kratos, e quando ele ia cravar a espada na sua cabeça, Kratos se virou e o jogou com um chute na parede.

-Vocês acharam mesmo que eu fosse deixa-lo me matar? Garoto patético. –esnobou ele.

-Por favor, não me machuque mais. –implorou Andrés, esse cara estava se saindo um perfeito inútil, porque Kratos queria ele afinal?

-Você já fez o bastante. Trouxe eles até aqui, muito obrigado. –disse Kratos arreganhando um sorriso terrível.

-Lute conosco. –pediu Pedro, agora ele estava tendo ideias totalmente idiotas.

-Eu adoraria, mas creio que seria muito fácil derrota-los e eu não me divertiria tanto.

-Você quer se vingar de Atena, por isso sequestrou o filho dela. –disparei, eu não tinha um talento muito forte em guardar segredos.

-Você é uma garota esperta, isso é parte da verdade, a outra parte, eu pretendo dominar o mundo, destruir os deuses, tomar meu lugar como o maior de todos! –exclamou Kratos, foi ai que eu percebi que ele era só mais um louco perdido que queria dominar o mundo. Básico.

-Você é um idiota. –disse Pedro, agora ele estava pedindo para tomar outra surra, ninguém chama Kratos  de idiota na frente dele, isso pode causar sua morte instantânea.

-Vejo que o filho de Poseidon sobreviveu, graças ao trabalho de sua namorada. –debochou ele, eu senti uma bolha de raiva começar a crescer dentro de mim.

Lentamente, eu peguei meu arco na mão, ainda em forma de chaveiro, então não chamou muito a atenção, mas vi que Pedro estava se controlando ao máximo para não começar uma briga, e seu rosto estava mais vermelho do que um pimentão, vi Douglas me olhando, sem entender, e Roxie parecia divertida com a situação.

-Olha cara, você quer destruir o Olimpo, já tentaram fazer isso antes, quer dominar o mundo, faça-me rir, qual vilão não quer isso? Quer vingar-se dos deuses, por favor, seja mais original. –disse ela rindo.

Kratos não entendeu muito bem qual a graça, mas fazia sentido aquilo que ela tinha falado, então eu vi, no canto da sala, a Caixa de Pandora, ao lado de uma pilha de roupas sujas, se ele quisesse ser um dominador de mundos, pelo menos tinha que organizar a casa dele!

Olhei para Douglas, ele seguiu meu olhar e viu a Caixa, entendeu o que fazer, e acendeu uma bola de fogo na mão, Kratos o olhou perplexo.

-O que você está fazendo? –disse ele.

-Eu vou queima-lo, fazer de você, um grande churrasco, e acredite, disso eu entendo. Vou dar você, aos cachorros de rua. –e começou a andar para frente, em direção a ele.

Pedro pareceu entender a ideia também, puxou a espada e começou a seguir Douglas. Eu sabia que daria errado, mas eu tinha que agir, então puxei o arco, ele tomou o tamanho natural, encaixei uma flecha rapidamente e atirei na lâmpada, uma chuva de fagulhas explodiu por tudo, deixando-nos no escuro. Eu corri para a caixa, ouvindo sons de batalha, mas eu tinha um truque, acende meu dedo e encontrei a caixa, peguei-a e corri para fora, quando estava na porta, joguei uma bola de luz para cima, os meninos entenderam o sinal e vieram atrás de mim, e nós corremos para fora.

Eu não achei Roxie em lugar nenhum, Andrés havia escapado conosco, e agora estávamos aos pés da estatua, a cidade iluminada lá em baixo.

-Onde está a Roxie? –perguntei.

Ninguém sabia, com sorte, ela teria escapado, feito uma viagem nas sombras, mas talvez não, e então eu vi, dois lestrigões vindo em nossa direção, nós estávamos cercados e não tínhamos tempo para lutar, Kratos estaria chegando ali em poucos segundos, eu tive uma ideia horrível, nossa única opção, pular do morro.

Eu falei que teríamos que pular, mas Andrés me interrompeu, dizendo que seriamos esmagados com a queda, se não morrêssemos antes, então Pedro teve uma ideia brilhante, puxou uma pena de dentro do Duat (eu havia entendido que as coisas não vinham do nada.) e começou a escrever nas nossas testas, alguma coisa, o hieróglifo para escudo, disse ele, então fez a coisa mais idiota do mundo, ele pulou do morro.

Eu o vi caindo em queda livre e quase tive um ataque do coração, porque ele começou a bater nas pedras e nas árvores, e então desapareceu, eu o segui, me atirei do precipício, Douglas me seguiu, achando que eu era louca, normal, e puxou Andrés com ele.

A sensação de cair em queda livre é legal, tirando o fato que você tem certeza que vai morrer, e a dor de bater nas pedras é terrível, eu ouvia o vento passar rapidamente pelos meus ouvidos, mas acho que eram meus gritos, pois em todo o trajeto, eu gritei AAAAAA sem parar.

Eu cai no meio do mato, primeiro achei que estava morta, mas vi que só um pouco arranhada, o feitiço de Pedro havia funcionado, mas eu não o via em lugar algum, a caixa estava protegida dentro da minha mochila e ouvi um baque perto de mim, deduzi que seria Douglas e Andrés, corri até eles, e vi uma cena muito constrangedora, Andrés havia caído em cima de Douglas, que tentava se levantar.

Pedro surgiu atrás de mim, me dando um susto.

-Não foi tão ruim, foi? –ele disse dando aquele sorriso irritante.

Eu não respondi. Ajudei os garotos a se levantarem, e não sabia aonde estávamos, então resolvemos levantar acampamento ali mesmo. No meio do mato, entre as arvores, as folhas secas do chão davam um bom colchão, Pedro fez uma espécie de circulo protetor em volta da gente e sentou-se ao meu lado na fogueira.

-Temos a bendita caixa, o que fazemos agora? –perguntou Douglas.

-Olhem, eu sei que começamos com o pé esquerdo, mas eu tenho uma ideia. –disse Andrés. –eu ouvi aquele maluco falar muita coisa sobre magos, monstros, semideuses e outras coisas assim, mas ele mencionou alguma coisa sobre um feitiço de junção, ele acabou me explicando, você tem que pegar o espirito, por exemplo, fome, chegue em alguém que esteja com muita fome, encoste a caixa nele e diga o feitiço, mas tem que abrir com muito cuidado a caixa e no momento certo. –disse ele, e agora sobre a luz da fogueira, ele parecia um cientista muito louco, com os olhos esbugalhados.

-Amanhã nós fazemos isso, quem sabe você não dorme um pouco? –eu disse.

-Claro, dormir é uma ótima ideia. –disse ele encostando a cabeça em um monte de folhas.

Douglas já estava roncando, literalmente, então a fogueira se apagou junto com ele, eu não consegui dormir, então fiquei conversando com Pedro, pelo que pareceram horas a fio, ele me contou a vida dele, e parecia que era um alivio compartilhar aquilo.

Ele me disse que morava em São Paulo desde sempre, e descobriu que era um mago primeiro, porque sua mãe o levou para o trigésimo nomo, onde aprendeu a usar suas habilidades. E a algum tempo atrás, foi para o acampamento, ele me disse que sua mãe não queria que ele fosse, eles brigaram e nunca mais a viu, e estar perto de Roxie, fazia ele se lembrar da mãe. Por isso ele estava mais reservado.

Eu achei justo contar-lhe a minha vida, então falei como fora crescer no sul, com meu primo morando lá em casa, e minha irmã sempre viajando, eu só sabia que ela estudava fora, contei sobre minhas amigas, que eu sentia muita falta, fazia tempo que não me lembrava delas, Rafaela e Juliana, minhas melhores amigas. Contei como foi o choque de descobrir tudo aquilo, e desabafar com alguém foi muito bom, me senti mais leve, e ali, deitado sob as estrelas, no meio de uma floresta na cidade maravilhosa, parecia tudo perfeito.

Pedro contou que nunca gostou de Rayane, ela ficava pressionando-o, ele achava que não podia fazer nada, mas decidiu que acabaria com ela assim que a encontra-se novamente.

-Por que você vai fazer isso? –perguntei.

-Não vale a pena, não tem porque continuar com isso. Nós nem somos namorados. –disse ele, sério.

-Mas você vai magoa-la. –falei.

-Não me importo com ela. Ela só me queria por causa da minha aparência. –disse ele.

-Mas ela não está errada, quero dizer... –não conseguia terminar a frase com algo convincente. – qualquer menina gostaria de ter você, você é um cara legal, inteligente, carinhoso, bonito...

-Mas eu não acho que eu seja tudo isso. –ele me interrompeu. –eu sou um idiota, sou o cara mais preguiçoso do mundo, não estudo, tenho déficit de atenção e não sei como cheguei ao ensino médio. –disse ele, parecia que agora estava mais confortável, mais relaxado.

-Olha, todo mundo na nossa idade tem preguiça, isso é fato, não um defeito. –eu disse.

-Pode ser, mas mesmo assim, eu me sinto muito inútil, principalmente quando estou no acampamento. –comentou ele.

-Por quê? Cara, você é um filho de Poseidon, um mago seguidor de Hórus e um amigo muito legal, você seria perfeito se fosse gaúcho. Você nunca vai ser um inútil. –eu falei me sentando, e fitei-o nos olhos. Aqueles olhos azuis como o mar do caribe, estavam brilhantes sob a luz agora.

Ele se sentou de frente pra mim, percebi que ele estava a uma distancia muito pequena de mim, apenas alguns centímetros nos separavam, menos do que o meu antebraço.

-Você, Luiza, é a garota mais legal que eu já conheci, mesmo que seja há pouco tempo. –ele disse e eu senti meu rosto esquentar, consegui sustentar aquele olhar. – quando eu cheguei no acampamento, naquela manhã, e Quíron me disse que eu tinha uma missão, eu nunca poderia imaginar que seria com você. Quero dizer, você é diferente de todas as outras garotas que já conheci...

-Já ouvi isso. –eu falei, nossa, ele ficava muito fofo quando estava com vergonha.

-É, bem. –ele pigarreou- no sentido bom, quero dizer, todas as outras que conheci, minhas colegas, amigas, vizinhas, primas, bem, todas eram comuns, mesquinhas, mas você não liga pra isso. Você tem estilo, devo admitir. –ele falou.

Ok, nunca ouvi ninguém dizer que eu tinha estilo, eu usava roupas normais, calças jeans, camiseta e flanela, gosto de usar boné e tênis, você quase nunca vai me ver de vestido ou de sapato, então ouvir aquilo me deixou feliz.

-Obrigada. –eu disse.

Mas antes que eu pudesse fazer ou falar alguma coisa, ele se inclinou e me beijou, seus lábios eram quentes e salgados, eu fiquei surpresa, nunca havia sido beijada, senti como se meu cérebro fosse derreter, mas de fato, eu gostei muito, ali, no meio do nada, sob o luar, foi perfeito.

-Desculpe. –disse ele envergonhado.

-Tudo bem. –consegui dizer, ainda estava atônita. –obrigada.

Ele riu, e agora ele parecia ainda melhor, seu sorriso era mais leve, ele me olhava com uma certa admiração, seus olhos brilhavam mais do que nunca e seus cabelos estavam bagunçados.

-Você é de mais garota. –ele riu e me beijou de novo. Mas agora eu estava preparada, e consegui retribuir o beijo.

Depois de mais alguns minutos conversando e rindo, resolvemos dormir, eu fui até o lado de Douglas, que roncava alto agora, e me deitei ao lado dele. Pedro havia se deitado na minha frente e segurava minha mão, ele havia posto alguns shabtis para fazer uma ronda em nossa volta.

Logo que adormeci, eu sonhei. Eu estava na forma de ave de novo, mas agora eu estava na Casa do Brooklin, mais especificamente, na sala, que continuava igual, mas na minha frente, outra forma de ave surgiu, era a menina, Sadie.

-Você esta ai. –disse ela, eu tive a sensação de que ela era meio rebelde, que não gostava muito de ser mandada, sim, de mandar.

-Olá. –disse eu.


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