Dois Mundos escrita por Iza Stank


Capítulo 3
3- Vou em uma missão.




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Eu pensei que era brincadeira, que íamos entrar em missão com um dia de treinamento, para salvar o Brasil de monstros terríveis, aprender a usar nossos dons e de alguma maneira descobrir como estava minha mãe. Uma missão fácil para quem acabou de aprender a usar uma espada (sim, isso foi ironia).

O menino que ia com a gente era lindo, alto, com porte atlético, loiro com olhos azuis, pele clara, ele usava uma camiseta laranja como a minha, mas estava escrito ‘Acampamento Meio-Sangue, chalé 3, Poseidon’, um boné verde de aba reta, um jeans solto e ao lado do corpo estava uma espada de Bronze Celestial embainhada. Ele parecia um cantor de boy band famoso e rico.

–Olá, meu nome é Pedro, sou do Brasil também.

–Pedro é filho de Poseidon, não é o único na realidade. –Respondeu Quíron. – E também é um mago.

–Que bom, que bom, mais apresentações, mas agora vocês tem uma missão para cumprir, é melhor irem. Luiza, você vai ser a líder da missão, deve consultar o Oráculo... Quíron vai leva-la até lá. –falou o diretor.

–O que é o Oráculo? –perguntei nervosa.

–É onde você vai receber sua profecia, toda missão tem uma profecia. Venha comigo... –Quíron saiu para o jardim lateral da casa e eu o segui.

Na beira da floresta, uma pequena construção de pedra se erguia. Dentro dela, uma menina de cabelo ruivo estava sentada usando o notebook, ela percebeu nossa chegada e abaixou a tela...

–Oi Quíron, como vai? –disse ela.

–Tudo bem Rachel. Quero lhe apresentar nossa nova campista, Luiza Villares, filha de Apolo...

–Ouvi falar da chegada de vocês, parece que nossos esforços no verão passado renderam alguma coisa... –ela estava falando, mas Quíron interrompeu.

–Ok, Rachel, Luiza precisa da profecia para sua missão, se você puder ajudar, nós agradeceríamos muito. Me encontre na Casa Grande depois.

Quando ele terminou de falar, se virou e foi embora, me deixando só. Rachel fechou os olhos, e tornou a abri-los, mas seus olhos haviam mudado, estavam completamente preenchidos por uma cor verde, sua boca abriu e foi como se três pessoas falassem ao mesmo tempo:

Que a magia leve a salvação para as terras do sul

Onde se levanta um inimigo em comum

A luz e o fogo os guiem

A criança da sabedoria os ilumine

Entre magos e monstros um lar vão achar

Para com amigos distintos então retornar

Ela terminou de falar, fechou os olhos e voltou ao normal, eu estava atordoada, não entendi o que aquilo significava e também acho que estava com a boca aberta, porque Rachel me olhou e começou a rir.

Eu dei tchau à menina e sai dali um pouco atordoada, não fazia ideia do que aqueles versos significavam, voltei para a Casa Grande. Douglas estava sentado em uma cadeira, ao lado de Pedro, eles pareciam se conhecer a anos, pois estavam rindo, bem a vontade, não enxerguei Quíron por ali, e o senhor D. também havia desaparecido.

–Então, como foi lá? –me perguntou Pedro.

–Acho que tudo bem, quer dizer, ela recitou uma profecia, mas eu não entendi nada, dizia algo sobre luz e fogo, e novo lar, não faz sentido pra mim...

–Você precisa nos dizer qual é a profecia, Quíron está lá dentro, fazendo uma mensagem de Íris e já volta. –Pedro disse se inclinando para a frente.

–O que vocês estavam conversando? –perguntei intrigada

–Nada de mais, ele me contou como que chegou aqui, um sátiro o trouxe, ele chegou aqui mais confuso do que nós... –disse Douglas.

Um pouco depois, Quíron saiu da casa, e se juntou a nós, parou ao lado de Douglas, de frente pra mim.

–Você poderia repetir a profecia? –pediu ele

Assenti e repeti tudo, Quíron pareceu entender a maior parte, mas ficou tenso quando terminei. Ele começou a andar de um lado ao outro, e então parou na minha frente.

–Isso não parece muito ruim, já ouvi profecias piores, mas a essa parece complexa, aquela parte sobre o inimigo em comum, eu tento imaginar quem pode ser, mas não faz muito sentido.

–E mesmo assim você vai deixar a gente ir nessa missão? –perguntou Douglas.

–Não tem como não deixar. Essa missão é de vocês, apenas de vocês, mas agora, vocês devem se preparar, amanhã pela manhã, vocês irão partir. –disse-nos ele. –mas eu acho que vocês gostariam de saber, sua mãe, Júlia, está bem, se encontra no Egito, conversei com ela a pouco, ela me disse pra vocês não se preocuparem.

E com isso, nós saímos dali. Douglas foi ao chalé de Hefesto, se confraternizar com os irmãos, enquanto eu, fui dar uma volta. Pedro me acompanhou, nós fomos até a quadra de vôlei, onde uns campistas de Hermes jogavam contra alguns sátiros. Depois caminhamos até o lago, onde um casal estava abraçado, a menina era forte, tinha cabelos castanhos e compridos, usava uma camiseta vermelha e uma calça camuflada. O cara era mediano, tinha cabelos escuros e encaracolados, parecia ser hispânico, eles estavam sentados em um banco, olhando o por do sol e não nos viram chegar.

Nós passamos por eles e sentamo-nos em um banco ao lado. A menina nos viu e dirigiu um olhar aterrorizador para nós, Pedro não pareceu se importar.

–Olá Clarisse, como vai?

–Muito bem, e você peixe palhaço? Quem é essa? A nova campista? –perguntou Clarisse, com um sorriso maléfico.

–É Luiza, filha de Apolo, chegou ontem aqui...é brasileira também. –respondeu ele um tanto constrangido, olhando pra mim.

–Eu soube que você é a conselheira de Ares...-eu não consegui terminar de falar, porque Clarisse se levantou e veio direto pra mim.

–Sim, e daí? Eu vou te ensinar as regras daqui garota, uma mancada, e você vai conhecer meu punho. Você tem muita sorte de eu estar controlada, se não já estaria no fundo da lagoa.

Ok, eu não achei que ela fosse assim, tão barra pesada, mas aquilo não me deixou com medo, Carol havia me dito para não puxar briga com Clarisse, eu apenas assenti entendendo as regras...

–Ótimo, seja bem-vinda... –disse ela se sentando ao lado do namorado como se nada tivesse acontecido.

Pedro olhava para lago, ele havia me dito que morava em São Paulo antes de vim pra cá. Chegou no Acampamento Meio-Sangue no último ano, ele me explicou que em São Francisco, do outro lado do país, existia uma acampamento romano, maior que este. Ele chegou em julho, logo após o aniversário de 15 anos. O seu irmão, Perçy Jackson, que é tido como um dos mais populares heróis dos últimos tempos, já estava sumido quando ele chegou aqui, então eles não se conhecem, mas um outro cara, Jason Grace, filho de Júpiter, que viera do acampamento romano, estava aqui, por causa de um plano de Hera, para unir os acampamentos, como diz a Grande Profecia. E desde que chegou aqui, ele ouve muito do irmão, e sabe também tudo sobre a missão, que sete meio-sangues, dos dois acampamentos, estão unidos indo para as terras antigas, a fim de derrotar o exército de Gaia, enquanto um exército de romanos está vindo para cá, destruir-nos nesse meio tempo. Noticias muito legais para quem chegou a pouquíssimo tempo!

Eu não havia percebido como estava ficando tarde, o sol já tinha se posto, e nós caminhamos de volta aos chalés. Quando cheguei no 7, encontrei apenas Danny sentado em um sofá, jogando vídeo game.

–Hey, como vai? –perguntei

–Han? Oi, tudo bem... –respondeu ele sem tirar os olhos da tela.

–Você sabe aonde está todo mundo?

–Devem estar jantando, Andrew está em uma reunião com Quíron e os outros conselheiros. Seu primo passou por aqui atrás de você não faz muito tempo. –ele disse.

–Hum, obrigada. –Terminei de falar e sai de novo.

Corri para o pavilhão e consegui jantar, apesar do fato de todos terem parado para ver quem chegava atrasada...

Após o jantar, seguimos de volta para o chalé, dessa vez, com todos os campistas. Antes de chegar lá, Quíron me chamou na Casa grande, todos já estavam nos chalés, e eu podia ver as luzes se apagando daquela estranha aglomeração de prédios.

–Antes de você ir amanhã, preciso lhe entregar algo... –disse Quíron me entregando um pacote grande, embrulhado com papel. –Foi presente de seu pai, ele sabia que era pra você, que sua hora estava chegando, pena que não tenha tido tempo de aprender a usar.

O presente era um arco! Tudo bem, para uma filha de Apolo, um arco é a arma perfeita, mas meu pai é o deus das profecias, ele deveria saber que eu sou uma aberração com o arco. Mas esse era diferente, ele era leve, compacto, preto e lustroso. Tinha um visor na parte de dentro, era feito de fibra de carbono, a empunhadura era macia e possuía alguns botões na lateral. Ele vinha também com uma aljava de flechas cheias, e na aljava, havia um ‘apontador de flechas’, onde qualquer pedaço de madeira colocado ali, do tamanho ideal, viraria uma flecha, portanto tinha um estoque bem ilimitado. A mira era perfeita, no visor, aparecia GPS, mapa, visão de calor, visão noturna e qualquer ponto aonde eu mirasse, apareceria na tela uma trajetória seria definida com 99% de chances de acerto. Tinha uma alça na parte de trás, que me permitia prende-lo e pega-lo sem problemas de movimentação, na aljava, tinha um bolso no fundo, com canivete, isqueiro, corda e sisal. Para guarda-lo, bastava empurrar as pontas para dentro, e ele se transformava em um chaveiro muito legal. Ou seja, tudo o que uma filha de Apolo inexperiente, escoteira e moderna poderia querer!

–Muito obrigada Quíron! Nossa, é perfeito! -Falei emocionada.

–Agora vá minha criança, você tem um longo dia pela frente amanhã.

–Tudo bem. Boa noite.

Mais uma noite se passou no chalé 7. Dessa vez, meu sonho foi mais estranho ainda: Eu estava na mesma sala do trono, com o garoto sentado, seu tio e uma menina loira, com mechas azuis no cabelo, roupa branca e coturnos. Eles pareciam nervosos e discutir alguma coisa, a menina não parava de falar, de repente, a porta do outro lado se abriu, minha mãe entrou por ela. Ela estava sendo segurada por dois homenzinhos de barro com um metro e meio de altura, minha mãe parecia mais magra do que de costume, vestia uma roupa branca como a da menina, que estava um pouco folgada nela.

–Olha só, aqui está ela, nós temos assuntos a tratar... –disse a menina rangendo os dentes.

–Segure sua raiva Sadie, vá com calma... –disse o tio.

–Bom ver que o nosso novo Sacerdote-leitor Chefe é um Kane, quem sabe agora a Casa se erguerá de novo... –disse minha mãe calmamente.

–Muito obrigada pelo apoio Júlia, mas não é isso que você está fazendo aqui, e você sabe o que é. Soltem-na. –e os guardas desabaram.

Minha mãe caminhou mais um pouco, sacudindo a poeira das roupas e parou de frente para o garoto. Ela continuava a mesma, tirando a magreza.

–Você poderia contar o que você sabe sobre os gregos? Digo, os deuses gregos nos dias de hoje? –perguntou Carter.

–Claro que sim. Mas vocês devem me prometer pelo rio Estige que vão me soltar e permitir que eu volte para a Casa depois que eu contar.

–Jurar pelo o que? –perguntou Sadie.

–O rio Estige, você deve ter ouvido falar, o rio do mundo inferior, o tipo de juramento mais sagrado que existe, se você quebrar esse juramento, bem, existem coisas muito piores do que a morte... –respondeu minha mãe, com aquela expressão de quem sabe exatamente o que fazer.

–E você só quer ser aceita de novo na Casa e ser livre? – Perguntou Carter arqueando as sobrancelhas.

–Bem...sim, é só dizer que jura. –disse ela.

Os três se olharam e pareceram chegar em um acordo silencioso, enfim eles falaram o juramento e um trovão ecoou pelo salão, mamãe se sentiu mais aliviada, e começou a falar. Ela lhes contou a mesma história que ouvi aqui no acampamento. Mas antes de ela terminar, meu sonho mudou.

Agora eu estava no Rio de Janeiro, eu via a cena do alto, os dois monstros estavam parados na beira da praia, e já era noite. Eles deviam ter mais de dois metros facilmente, tinham a pele vermelha cheia de tatuagens, usavam bermudas de surf sem camisa e carregavam uma prancha.

Eles estavam em pé e olhavam para o mar fixamente, até que um homem surgiu do nada, ali na frente deles. O cara era alto, forte, usava uma capa preta, e lançou um olhar triturador em cima dos gigantes.

–Alguma novidade?

–O garoto gosta de ‘pegar uma onda’. –disse o da direita, com os dreads azuis.

–Cale a boca Morthin. Desculpe-me chefe, este incompetente só sabe disso agora, soube que o menino está em um hotel, do outro lado da rua, estamos esperando dia amanhecer para rapta-lo. –falou o gigante careca.

–Tomem cuidado, aquele velho não vai larga-lo, se isso é tudo, eu preciso ir. –o homem afundou na areia e desapareceu, ele tinha a voz grossa, com um forte sotaque francês.

Eu acordei de repente, o sol já entrava pela janela do dormitório, meus irmãos já estavam de pé, se arrumando para mais um dia normal no acampamento, enquanto eu ia para uma missão suicida. Quando desci as escadas, Carol estava ali para me dar boa sorte, ela havia me dado um potinho de plástico cheio de ambrosia e um cantil com néctar. Segui até o pavilhão para o café da manhã, poucos campistas estavam por ali, vi Connor Stoll do chalé de Hermes surrupiando algo do bolso de um campista de Ares, e Drew do chalé de Afrodite passando maquiagem pela cara, parecendo um palhaço.

Após o café, segui para a Casa Grande, onde meus dois companheiros de viagem me aguardavam. Douglas estava de jeans, camiseta azul e um casaco preso na cintura, Pedro estava mais bonito do que o dia anterior, seus cabelos louros estavam bagunçados pelo vento, a camisa flanela verde combinava perfeitamente com a camiseta branca solta por cima dos jeans folgados, a mochila pendia sobre um dos ombros e no pulso direito, um relógio que eu não havia percebido ontem, um daqueles modernos que permitem a troca de pulseira e ainda tem o visor em LED. Ele sorriu para mim quando me viu, me permitindo uma visão dos dentes branquíssimos e perfeitos.

–Bom dia. –Falei.

Dos presentes (eu, Quíron, Douglas, Pedro e senhor D.), apenas o diretor não respondeu, apenas resmungou alguma coisa.

–Está preparada? Você tem um longo dia pela frente. –disse-me Quíron.

–Ahn, digamos que poderia estar melhor, se eu tivesse noção do que vamos enfrentar. –respondi.

–Douglas teve um sonho essa noite, e agora eu tenho uma ideia do que pode ser. Mas essa possibilidade me assusta. –falou Quíron.

Eu não havia reparado em como Douglas estava quieto, ele estava sentado na cerca da varanda, mexendo nas cordinhas do moletom. Me perguntei o que ele havia sonhado.

–Eu também tive um sonho. –e contei-lhes meu sonho, incluindo minha visita ao Egito.

Parecia que o cérebro de Quíron estava trabalhando intensamente, pois ele se remexeu e ficou mais inquieto.

–Isso não é bom, nem um pouco bom, minhas suspeitas estão se concretizando.

–Quais são as suas suspeitas? –perguntei.

–Tem um meio-sangue no Rio, isso nós já sabemos, mas os perigos que vocês enfrentarão, tem muitos monstros rondando esse garoto, e para ter alguém tão interessado nele, essa criança tem que ser muito poderosa. –Quíron começou a explicar.

–Mas você sabe quem é que está interessado no garoto? -perguntei impaciente.

–Não tenho certeza, mas se for verdade, estamos muito encrencados. Você já ouviu falar em Kratos?

Ok, isso já era palhaçada, primeiro eu sou arrancada de casa porque me dizem que sou uma meio-sangue, depois eu venho para um acampamento onde não conheço ninguém e acabo sabendo que tenho habilidades, terceiro, eu preciso sair em uma missão de vida ou morte para salvar meu país, ok, eu acredito. Mas me falar que o vilão que está causando todo esse alvoroço é Kratos, meu herói dos vídeos games, agora foi longe demais...

–Como assim Kratos? O Kratos do jogo? Mas é só história, nem mitologia é, apenas marketing. –respondi boquiaberta.

–Esse mesmo, não é apenas história, por trás disso, tem uma realidade, ele existiu realmente. Não do jeito como é retratado nos dias de hoje, mas foi algo muito parecido, ele é um meio-sangue, assim como vocês, filho de Zeus, foi general dos exércitos de Esparta, derrotou Ares, derrotou o próprio Zeus, tentou se redimir mas Atena não acreditou, e mandou-lhe uma maldição tão terrível que não foi passada para os jogos. Essa história nem mesmo está nos livros, apenas os imortais sabem.-Quíron parecia bem sério, e eu estava começando a acreditar.

Deu para perceber que essa parte ele não havia conversado com os meninos ainda, então eles estavam bem nervosos.

–Qual foi a maldição? –perguntou Pedro.

–Atena mandou-o para o Tártaro, para sofrer eternamente, mas com a Morte estar presa, ele provavelmente conseguiu escapar e voltar para o mundo dos vivos. Ele só poderia morrer, e seu espírito ser livre, quando entrega-se o que foi roubado, o Vaso de Pandora cheio. Até lá, ele ficaria sofrendo eternamente. E agora, quer se vingar de Atena, usufruindo desse meio-sangue. –Quíron suspirou e continuou. –ele tem planos grandes, tudo o que está acontecendo lá, com certeza é obra dele.

–O que está acontecendo lá? –perguntei.

–Sequestros, desaparecimentos, mortes não explicadas. Os monstros precisam se alimentar. –responde o centauro.

–Nós precisamos ir! Agora! –disse Douglas.

–Concordo, nosso país precisa de nós. Nunca fui muito patriota, mas isso já é de mais, não vou deixar um fantasma mitológico modificado fazer mal para quem não merece. –concordei em pé já.

Quíron sabia a gravidade da situação, mais do que qualquer um, e eu tinha certeza que ele sabia mais alguma coisa, mas não estava contando.

–Só mais um coisa. –foi a primeira palavra do Sr. D. –tomem cuidado, eu tenho a impressão de que algo muito, muito ruim vai acontecer. Boa sorte semideuses. Eu tenho uma sessão de massagem agora... –disse ele saindo em direção a mata.

–Eu receio que esteja na hora de vocês –disse-nos Quíron

–Como nós vamos chegar no Brasil? –Perguntou Douglas.

–Eu cuido disto... –Pedro se levantou e assobiou, forte o suficiente para ficar sem fôlego.

Três sombras surgiram no céu, e foram se aproximando, pégasos, dois brancos e um preto, lindos cavalos alados sobrevoando o acampamento.

–Hey Blackjack, como vai? –disse Pedro se encaminhando para o negro.

–Você fala com cavalos também? –perguntou Douglas, confesso que estava fascinada com isso.

–Sim, meu pai criou os cavalos, falar com eles é um bônus.. Luiza, este é o Porkie, vai leva-la, Douglas, esse é Guido. Eles não vão derruba-los, podem confiar. –respondeu ele.

–E aonde exatamente eles vão nos levar? Até o Rio? –perguntei.

–Não não, eles não aguentariam nem um terço da viagem, vão nos levar até o transporte para o Brasil, um portal que fica em Nova York. Vamos, não podemos nos atrasar. –Pedro já estava em cima do Pégaso, com uma facilidade incrível.

–Tudo bem, cada vez fica melhor. –resmunguei.

–Tchau Quíron. –Disse Douglas e eu em uníssono.

–Até mais Crianças.

E com isso, nós decolamos para Nova York. Voar em um Pégaso, não é tão difícil quanto parece, eu só precisei me segurar nas costas de Porkie e ficar bem no centro, Douglas parecia ter um pouco mais de dificuldade, sua mochila ficava caindo para o lado, mas Pedro, nem se segurava! Ele tinha uma habilidade incrível, passou o trajeto todo conversando, na maior tranquilidade.

–Então, Blackjack é seu? –perguntou Douglas do outro lado.

–Não, ele é emprestado, Blackjack é do meu irmão, Perçy, mas como somos parentes, eu recebo uns favores de vez em quando.

–Legal, e onde está o seu irmão agora? –gritou Douglas por cima do vento.

–Indo pra Grécia, para salvar o mundo novamente, mas eu não o conheço, eu cheguei no acampamento quando ele já estava desaparecido, então só ouço falar.

Ele parecia triste, mas não dava para saber, porque os cavalos voavam muito depressa, e logo já havíamos chegado em Nova York. Eu sempre sonhei com Nova York, uma das minhas cidades favoritas, junto de Londres e Paris, então eu quase enlouqueci quando passamos na Broadway. Ou passamos pelo Empire State.

–É lá mesmo que fica o Olimpo? –perguntei fascinada olhando para cima.

–Sim, já fui duas vezes lá, é bem legal. –respondeu Pedro. –Vamos, nós precisamos chegar no Brooklin.

–As pessoas não conseguem ver três pégasos sobrevoando a cidade? –perguntpu Douglas.

–Os mortais comuns enxergam qualquer coisa, menos a verdade, então eles vão ver talvez, helicópteros, não se preocupe, só vamos andar uns poucos quilômetros por cima dos prédios. –respondeu Pedro, despreocupado.

Mais algum tempo, e atravessamos o rio East, e chegamos ao Brooklin, os cavalos-alados desceram em um pavilhão abandonado, na beira do rio, e nos deixaram ali mesmo, nos despedimos deles e observamos eles voarem de volta ao acampamento.

Caminhamos por algumas ruelas e becos entre os pavilhões abandonados, encontramos alguns garotos de gangues, mas nós passamos longe. Após alguns minutos, chegamos em um galpão que não era diferente dos outros, a não ser por uma coisa, em cima dele, tinha uma mansão de cinco andares, feita de mármore branco, uma escada levava até lá, e nós subimos.

–Presumo que os mortais não enxergam isso aqui também. –falei.

–Correto, eles só veem um galpão abandonado, esse lugar é protegido por várias magias anti-mortais. –disse ele sorrindo.

–Que lugar é esse? –perguntou Douglas.

–Minha segunda casa, sejam bem-vindos ao Vigésimo Primeiro nomo da Casa da Vida. –disse ele entrando na mansão.

Eu gelei quando ouvi aquele nome, eram os mesmo caras que estavam com minha mãe, eu não queria entrar, mas meio que fui empurrada por Douglas. Mas preciso confessar, mesmo estando com medo, o lugar era de mais, era enorme, tinha cinco andares mesmo, a sala possuía um sofá de frente para a lareira, uma sacada, uma mesa cheia de entulho, uma porta grande o suficiente para passar os dois gigantes do meu sonho, no fundo, e um lance de escadas que dava para o segundo andar.

A casa estava vazia, a não ser por um babuíno com uma camiseta de basquete, que logo que viu Pedro, veio correndo e abraçou-o.

–Não tem ninguém em casa, devem estar todos na escola, melhor assim, sem ninguém para atrapalhar. –disse Pedro.

–Espere, esses são os caras que estão com a minha mãe. –disse eu.

–Sim, mas eles não vão machuca-la, como você nos contou do sonho, fique tranquila, os magos são sua família também. –falou Pedro.

–Como assim? Nossa família? –perguntou Douglas.

–Bem, é, vocês tem o sangue dos faraós, são magos como os outros que vivem aqui, nós somos muito poderosos, existem poucos no mundo que sejam semideuses e magos ao mesmo tempo, e aqui é um dos únicos lugares do mundo onde podemos seguir os caminhos dos deuses sem problemas. –explicou ele.

–Caminho dos deuses? Nós já não somos filhos de deuses? –perguntei, cada vez entendia menos.

–Sim, somos filhos dos gregos, mas descendentes de faraós do Egito Antigo, os faraós eram os deuses egípcios em forma humana, e nós temos o poder de treinar o caminho dos deuses, por exemplo, eu sigo o caminho de Hórus, aprendi a invocar seus poderes, e muito mais, mas não temos tempo para mais explicações, vamos acabar perdendo o portal. –disse Pedro, subindo a escada.

–Que portal? –perguntou Douglas subindo atrás dele.

–O portal que vai nos levar para o Brasil, e nós só temos 10 minutos antes do meio-dia. –gritou ele de algum ponto escada acima.


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