Dois Mundos escrita por Iza Stank


Capítulo 2
2- Como viver em um acampamento especial




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–Oi, me chamo Douglas, muito prazer...cara, você é um centauro!!! – disse meu primo, ele não parecia acreditar...

–Sim, eu sei quem são vocês, Douglas Villares e Luiza Villares, os meio-sangues brasileiros... é muito raro brasileiros aqui no acampamento... –Disse Quíron, pensativo.

– Ãnnn... E nós vamos ficar aqui parados? Meu nome você já conhece, Luiza, essa é minha irmã Bruna. E agora, o que fazemos?- Eu falei, tirando a flanela, já que a temperatura pareceu subir depois que passamos pelo pinheiro.

–Vamos, vou apresenta-los ao acampamento, acho que vocês tem muitas duvidas, mas primeiro, eu acho que a Bruna não pode passar daqui.

–O que? Porquê? – Eu perguntei me virando rapidamente para minha irmã.

–Eu sou uma maga, não posso ficar aqui sem ser convidada, e eu tenho que voltar, muitos deveres. –Disse-me ela, deu um abraço em mim e outro e Douglas, um aperto de mão em Quíron, se virou e saiu de volta colina acima.

Depois que ela saiu do nosso campo de visão, nós entramos na casa. A sala tinha um cheiro forte de vinho misturado com cheiro de coisa velha, um sofá grande ficava de frente para a lareira e um tapete de pele de onça ficava na frente do sofá, no canto tinha uma escada, e uma porta para a cozinha. Do outro lado, outra porta.

Do lado de fora, havia uma mesa de ping-pong, com 4 cadeiras, e uma escadinha de acesso ao jardim, a visão ali de baixo era igualmente bonita, mas agora, dava pra perceber que as pessoas, eram todas adolescentes ou crianças, havia alguns homens-bode caminhando entre as pessoas, mas um homenzinho atarracado, vestido com uma camisa havaiana estampada com leopardo, e tomando Coca diet, estava parado sob a sombra de uma árvore, olhando-nos com desprezo.

Quíron andou até o homem enquanto ficávamos esperando na varanda, o homem caminhou até nós seguido pelo centauro. Ele nos olhou de cima até em baixo, mas algo era estranho, seus olhos tinham chamas cor de uva. O homem olhou para mim, e disse alguma coisa em inglês(já que estávamos nos EUA, eu não tinha reparado que Quíron falará português perfeitamente conosco...).

–Então são vocês os brasileiros, bem-vindos, acho que Quíron vai mostrar-lhes as dependências.- Ele falou isso e saiu resmungando para dentro da casa.

–O que esse cara tem?- Perguntou Douglas.

–Ele apenas não gosta de novos heróis- Respondeu Quíron- Venham, vou apresenta-los aos campistas...

Nós começamos a caminhar, arrastando as malas, até que Quíron percebeu e nos levou às casinhas que tínhamos visto lá de cima. Existiam muitas casinhas, como ouvi alguém falando enquanto passávamos, chalés, porém, pareciam mansões. Caminhamos para um que tinha um sol e um lira entrelaçados sobre a porta e brilhava intensamente, tinha paredes douradas, que pareciam ser de ouro puro, e na porta estava o numero 7, um grupo de adolescentes, não mais do que oito, estava jogando alguma coisa, parecia Guitar Hero, e do lado de dentro do chalé, havia uma mesa grande, com cadeiras, três sofás, aonde estavam os garotos, e no fundo estava um escada grande e ampla.

–Aqui é o chalé de Apolo, seu pai, e dos outros também, você vai ficar lá em cima, e esses são seus irmãos. Andrew é o conselheiro do chalé- Quíron apontou para um cara de boné vermelho e camiseta laranja, sentado em um sofá branco, de costas para a porta- deixe sua mala aqui na porta, ela não vai sumir. Agora vamos ao chalé de Hefesto.

Caminhamos para um outro chalé, o de número 9, o chalé era parecido com um trailer e tinha chaminés no telhado, perto da porta havia pelo menos uma duzia de meninos e meninas com macacões de mecânico sujos de graxa, e alguns até queimados, eles subiam e desciam uma escada que dava para um porão, e a sala tinha coisas estranhas, como pequenos robôs andando de um lado para outro, pedaços de ferro e uma luz vermelha vinda do porão.

–Aqui, é o chalé de Hefesto, os beliches são lá atrás, e não se preocupe, vai se dar bem ali. Seus irmãos que fazem o armamento do acampamento. Entregue sua mala para Michelle, aquela que esta com uma camiseta laranja sob o macacão.

Michelle era uma menina baixinha, com cabelos castanhos como os de Douglas, parecia ser forte, e usava uma touca preta, usava óculos e tinha algumas sardas no rosto. Quando ela percebeu que estávamos na porta, ela veio até nós e cumprimentou-nos com educação, e pelo forte sotaque dela, parecia ser alemã, e Quíron entendeu tudo o que ela disse.

–Ela esta dando boas-vindas à vocês e disse que sua cama esta pronta, ela levará sua mala enquanto damos a volta pelo acampamento. –Disse-nos Quíron sorrindo para nós.

Caminhamos por tudo, conhecemos o lago, a enfermaria, a parede de escalada, o pavilhão de jantar e o arsenal, mas como já estava escuro, decidimos fazer o tour no outro dia, e quando eram quase 20h, eu já estava no chalé 7 novamente, mas agora os meus irmãos(tão estranho falar isso) estavam vestidos todos com bermudas coloridas e camiseta laranja, com os dizeres em dourado: ‘Acampamento Meio-Sangue, chalé 7, Apolo’, mas estava em português, o que descobri depois é que tudo o que lermos no acampamento, magicamente se tornara na língua materna aos olhos de quem lê.

Os garotos e garotas estavam todos de frente para a porta. Segurando outra camiseta, estava o líder, Andrew, que agora eu conseguia enxergar direito, era loiro, tinha um sorriso travesso e olhos verdes, era alto e estava em forma, mas o lugar brilhava. Todos os campistas do chalé 7, estavam com as mãos estendidas e um pequeno sol brilhava na palma das mãos, e todos estavam com o mesmo sorriso travesso no rosto.

–Luiza Villares, seja bem-vinda ao chalé 7, somos seus irmãos, filhos de Apolo como você. Eu sou Andrew, o líder do chalé, qualquer coisa, fale comigo, e esta camiseta é sua, seu uniforme aqui dentro.

Confesso que fiquei constrangida de ficar ali na frente de gente que eu nem conhecia, e todos eles pareciam ser mais velhos do que eu, com exceção de um menino que estava ao lado de Andrew. O garotinho parecia ter 10 anos, mas todos eles pareciam legais, e como eu entendi o que ele falou? Não sei, apenas respondi normalmente.

–Muito obrigada gente, acho que vamos ter que nos conhecer melhor.- Eu disse caminhando para frente e pegando a camiseta, que caia perfeitamente em mim.

–Um... dois... três... e já- Andrew disse e todos jogaram as bolas de sol em mim, o brilho e o calor me atingiram, me fazendo brilhar mais do que qualquer um ali, e de repente eles começaram a bater palmas.

Um som ecoou ao fundo, como uma concha, mas eu sabia que era hora da janta, e Andrew também. Ele se postou na frente da porta, e todos nós fomos em fila atrás dele até o pavilhão branco de mármore, onde haviam algumas mesas compridas de madeira. Pelo que soube, era uma mesa para cada chalé, a mesa de Apolo, ficava no meio, na segunda fileira entre os chalés 8 e 6, o de numero 6, era o chalé de Atena, e apenas alguns campistas sentavam lá, eram seis, e todos eles tinham quase a mesma expressão, como se alguém tivesse interrompido os estudos deles e isso fosse uma coisa horrível. Já o chalé 8, era vazio, o menino mais novo de Apolo, Danny, me disse que o 8 era de Ártemis, por isso estava vazio, era simbólico.

Na frente das mesas, uma outra ficava sobre uma pequena elevação, era onde Quíron, o diretor e mais alguns estavam sentados, todos os campistas usavam camiseta laranja, e seus pratos estavam vazios. Depois que todos se acomodaram, a comida surgiu na mesa: frango assado, batata frita, churrasco, macarrão, ..., tinha muita coisa, e na medida que a comida ia para os pratos, novas iam surgindo nas travessas e os campistas se levantavam com os pratos e se dirigiram até uma fogueira que havia no centro do lugar.

–O que estamos fazendo? –Douglas conseguiu chegar até mim e cochichou no meu ouvido.

–Não sei, apenas faça igual...

–Vocês tem que dar como sacrifício a melhor parte do seu jantar, os deuses adoram o cheiro. –Disse-nos Michelle, que estava ao lado de Douglas, e jogou um belo pedaço de frango no fogo e murmurou alguma coisa – Quando jogarem, digam o nome de seu pai.

–Muito obrigada...Apolo- eu disse e depositei uma porção extra grande de batata frita. O cheiro era bom, delicioso, mas voltei para a mesa e comecei a comer.

Comi de mais, não tinha reparado que não havia comido depois que cheguei, e depois do jantar, todos nós, campistas, fomos para uma área perto do pavilhão, o anfiteatro, onde uma grande fogueira estava no meio. Sentamos, todos misturados, fiquei ao lado de Douglas, e percebi que ele estava com um pouco de medo.

–O que você tem? –Perguntei.

–É tudo muito estranho, eu não sei fazer nada, e todos no meu chalé estão sempre construindo, fazendo coisas novas, eu sou muito diferente deles, são todos muito legais, mas é estranho, não somos parecidos.

–Claro que são, quer dizer, não os conheço, mas deu pra perceber que todos tem cabelo castanho, como você, tente se acalmar, não deve ser tão ruim assim.

Todos em volta cantavam, riam, se divertiam, e quando já eram 22h, todos se enfileiraram, e saímos do teatro a caminho dos chalés. Meu primo entrou relutante em seu chalé, já eu fui sem preocupação para o chalé brilhante, que agora diminuíra a sua luz quase totalmente, e brilhava fracamente.

O andar de cima era maior do que eu imaginava, era grande o suficiente para ter duas fileiras de beliches. Cada fileira com seis, e nas paredes, entre as camas, haviam armários com espaço suficiente para por minha mala, que estava dentro de um beliche na ponta, perto da porta, e não havia separação entre meninos e meninas.

Quando me deitei na cama, não vi nada, nem tinha percebido como estava cansada, mas a minha cama era muito boa, e ficava sobre a cama da Carol, uma menina que deveria ter a mesma idade que eu, era americana, de Nova York e seus cabelos louros compridos davam a impressão de estar irradiando luz e calor (eu acho que irradiava mesmo, mas não perguntei). Ela era legal, me explicou como eu conseguirá entender tudo que estava em inglês e outras línguas, era porque o cérebro de um meio-sangue entende grego antigo, meio confuso, mas útil.

As luzes se apagaram, e eu peguei no sono rapidamente, e sonhei. Neste sonho, eu via meu corpo de cima, e meu corpo, bem, não era meu corpo o que flutuava, mas eu tinha asas, como uma águia, ou outra ave, mas eu flutuei para longe, e cheguei em um lugar diferente, um salão comprido, com um tapete azul no meio, e dos dois lados, cortinas brilhavam, e iam mudando de cores na medida do salão, e lá no fundo, havia um trono, que estava vazio, mas aos pés do trono, um homem estava sentado, de terno vermelho, e com uma pele de leopardo nas costas, ele usava chapéu, também vermelho e seus óculos estilo John Lennon tinham lentes vermelhas. Em volta do cara, pontos de luz brilhavam e giravam, e deu para perceber que ele estava nervoso. Ele olhava para os lados, e atrás dele surgiu um garoto alto, moreno e de cabelos castanhos cacheados. Ele andava de um lado para outro e resmungava alguma coisa que eu entendia.

–Não pode ser tio, isso é impossível, muito rápido para ser verdade, e existe alguma outra possibilidade? – Disse o garoto.

–Carter, você tem que entender que no passado, depois do Egito, vieram outras civilizações, cada qual com sua crença. – Disse o homem.

–Mas nós temos certeza sobre o que estamos falando? Sadie disse que não sabia quando iria acontecer, mas apenas um ano depois de tudo o que enfrentamos? Eu achei que fosse demorar mais... – Disse Carter.

A visão mudou, e agora eu estava em um cômodo escuro, iluminado apenas por uma bola de fogo no canto, e dava para ver uma cama, uma mesa e uma cadeira. Sobre a mesa, havia um prato vazio e um copo. No canto, atrás da bola de fogo, uma mulher estava encolhida no chão. Ela estava olhando para o fogo, murmurando alguma coisa que deixava o fogo mais forte, mas com a pouca claridade, percebi que a mulher era minha mãe:

–Mãe!!! – Tentei gritar mas a voz não saia.

De repente eu acordei, estava no chalé novamente, em minha cama e tudo estava escuro. Deduzi que deveriam ser de madrugada, mas só confirmei quando olhei no relógio, 04h da manhã, e todos no quarto dormiam pesadamente. Eu ouvi dois roncos diferentes, mas eu não estava mais com sono, estava com vontade de sair e caminhar. Levantei da cama e desci, a porta não era trancada, então pude sair livremente para o pátio, e como se lê-se meus pensamentos, Douglas estava na rua também, de bermuda e camiseta, sentado na fonte, olhando para o céu estrelado.

– Hey, caiu da cama também?

– Não, apenas achei melhor dar uma volta, lá dentro tem um cheiro estranho, como se tivesse óleo no quarto, ou algo assim, não consegui dormir, e você? –Disse-me ele.

– Tive um sonho estranho, e não consegui dormir mais. Resolvi dar uma respirada aqui fora.

Sentei ao lado dele e contei tudo, o passeio em forma de ave, a conversa no salão e a visão de minha mãe.

– Você acha que tem a ver com o que dizia naquela carta? – Ele me disse.

– Claro que acho, ela deve estar sendo mantida presa, por que? –Respondi.

– Se ela é uma maga, dessa tal Casa da Vida, e foi para lá, ela deve estar no Egito, e se esse crime de se envolver com os deuses foi tão grave assim, e pelo que soube, não são só os gregos, agora temos os egípcios, parece que tua mãe está com problemas...

– Então temos de ajuda-la, apenas não sei como...

– Vamos falar com Quíron amanhã... Ele deve saber o que fazer. –Douglas parecia tenso, mas se levantou e foi em direção ao chalé 9, que era ao lado do meu.

– Vamos, quem sabe Bruna não ajuda também... Ela deve ter notícias. – Me levantei também, dei um soquinho em Douglas e fui para meu chalé – Boa noite. Tente dormir um pouco.

Ele acenou com a cabeça quando estava na porta e entrou, a porta se fechou atrás dele, e depois que deitei na cama novamente, não me lembro de nada mais.

Eu me acordei cedo, com minha nova irmã Carol, puxando meu pé. Olhei no celular, 07h e 30min, muito cedo para meu gosto, se estou de férias, por que não posso dormir até mais tarde? Carol me disse que teríamos café da manhã e que logo depois, treinamento físico. Eu nem sabia que dia da semana era, mas um calendário na parede me respondeu, era segunda-feira, e hoje o dia seria bem corrido pelo que vi no horário que ficava na porta. Depois do café, treinamento físico até as dez, no campo de treinamento, logo depois, tiro com arco e flecha até a hora do almoço, no começo da tarde, teríamos luta com espadas e depois das 17h, seria livre no resto do dia.

Vesti a camiseta laranja básica e uma bermuda estilo ‘surfista’ verde, meu tênis Nike e um boné, pois estava muito forte o sol(ironia para uma filha de apolo...), quando cheguei no pavilhão, muitos campistas já comiam e reconheci o boné branco de Douglas uma mesa depois da minha. A comida estava simplesmente divina, havia pão de tudo quanto é tipo, bolos, salgados, doces, frutas e sucos, mas não comi muito, pois Andrew levantou chamando todos nós para o campo.

Depois de duas horas correndo, pulando, levantando peso e puxando pedras, minha camiseta estava suada e grudenta, meu boné estava em cima de um banco e eu estava exausta, não aguentava mais, e o campo de treinamento nada mais era do que um descampado de grama, com alguns buracos, pedras e bonecos, na beira do mar, e com bancos e árvores nos limites. Quando me sentei e tomei um pouco de água, não aguentava mais caminhar, até outro irmão, Chris, veio falar comigo:

– Então você é brasileira... Legal, você gosta de samba? – perguntou ele sentado ao meu lado.

– Não, isso é uma ideia totalmente errada que os outros têm dos brasileiros. Nem todo mundo gosta de samba no Brasil, e de onde eu venho, meu estado não tem muita tradição nesse ritmo.

– Interessante. Eu não entendo como aquelas mulheres conseguem dançar com aquilo na cabeça, eu acho bonito, mas não acho que seja algo digno de ser ‘a cara’ de um país. – Ele me disse olhando o mar, e só então percebi que seus olhos eram azuis, como o céu e seus cabelos loiros escuros, ele tinha 16 anos e era de Londres.

–E você é de Londres, legal, já fui pra Londres, mas não fiquei muito tempo, aquela cidade é fantástica.

–Pois é, eu sou apaixonado por Londres, mas você ainda vai me levar para o Brasil, sempre quis conhecer aquelas praias...-ele parou pensativo e levantou em um pulo energético- Nosso horário de descanso acabou, acho melhor nós irmos para o campo de arco antes que o pessoal de Ares chegue...

Quando nosso pequeno grupo saiu do campo, uma galera, de no mínimo 20 meninos e meninas mal-encarados, grandes, altos, fortes e com camisetas vermelho-sangue entraram no gramado, liderados por uma menina maior que os outros. Todos eles tinham um olhar do tipo vou-quebrar-você-em-mil-pedaços. Chris me disse que o chalé de Ares era o menos querido, porque todos ali, eram violentos ao extremo. Todos tinham medo deles, e era bem fácil distinguir qual era o chalé 5, com suas paredes externas mal pintadas em vermelho e com arame farpado decorando o teto.

A experiência de atirar com arco e flecha foi legal. Apesar de eu nunca ter pego em um arco, eu atirei bem, muito bem, mas antes que eu pudesse me vangloriar, Andrew me contou que todos os filhos de Apolo atiram perfeitamente, são considerados os melhores atiradores, apesar de as Caçadoras de Ártemis serem igualmente boas.

Na hora do almoço, consegui ver Douglas com um macacão sujo de graxa ao lado de Michelle. Ele parecia feliz, rindo mas não sei como as coisas estavam se saindo, porque ele me olhou e me fez uma cara do tipo ‘socorro, não sei o que fazer’, apenas sorri de volta e me sentei para almoçar. É impressionante a quantidade de comida que você come quando esta com fome e cansada, e parecia que o prato nunca esvaziava, até soar um apito, que era o sinal do fim do almoço, nós tínhamos 15 minutos de descanso, e depois, mais treino...

Durante os 15 minutos, consegui achar Douglas e conversar um pouco. Ele estava com graxa na cara, e seu macacão fedia a fumaça, ele me contou que estava trabalhando nas forjas, apesar de não ter talento algum para construir coisas.

–Michelle me disse que nem todos já nascem com o dom para construção de maquinas e tal, não entendo de nada disso, é muito estranho. Ela me disse que existem alguns outros dons, mas não quis me falar, apenas me ajudou a terminar um robozinho.

–Calma, vai ver deu erro e tu não é filho de Hefesto, quem sabe Afrodite? – ele riu e me deu um soco leve no braço.

–Tomara...

Depois disso, resolvi relaxar perto da fonte, em baixo de uma árvore, vendo algumas crianças correrem com arminhas de água. Eu até achei engraçado, no acampamento todo, só haviam 5 crianças, Quíron me disse que são casos especiais, quando uma criança vem pra cá, ela só pode ser filha de um deus ou outros semideuses igualmente poderosos ou ter mais algum parentesco divino, pois os monstros podem acha-la facilmente.

Enquanto eu observava, um garotinho de cabelos pretos, que não devia ter mais que 7 anos, pegou água na fonte e lançou-a em uma menina, normal, a não ser que a água tomou a forma de um pássaro e pousou delicadamente sobre a menina, e depois explodiu.

Antes que eu pudesse raciocinar o que tinha visto, o sinal tocou, e o chalé 7 foi em direção ao campo de treinamento, só que agora com espadas, me senti um pouco mais confiante, sempre gostei de bater em Bruna ou Douglas com pedaços de madeira compridos como espadas, mas pegar uma de verdade foi assustador.

Ao lado do campo, havia um galpão, com mesas e prateleiras cheias de armas, mas não armas de fogo, não, o acampamento parecia ter parado no tempo e ali tinham espadas, arcos, flechas, lanças, arpões, e muitas outras que não consegui identificar. Muitas delas eram de Bronze Celestial, como ouvi alguém falando, e enquanto alguns pegavam suas armas no arsenal, Andrew me puxou para um canto onde só haviam espadas de ferro sem fio e velhas.

–Aqui estão as armas de iniciantes, pode escolher a que você quiser, que consiga equilibrar perfeitamente na sua mão, e esteja na rua em 5 minutos, Carol vai ajuda-la.

Escolhi uma espada que não era maior que o meu braço, de ferro e que tinha um peso perfeito, consegui manipula-la muito bem. O treinamento de espadas era comandado por um cara alto, de cabelos castanhos, olhos negros e porte físico de um atleta de natação.

O cara usava uma camiseta laranja, mas não dizia o chalé, seu nome estava escrito atrás, Robert. Carol me disse que ele era o instrutor de esgrima do acampamento, e também era filho de Ares, o único australiano do acampamento.

O treinamento começou com Robert ensinando algumas técnicas de defesa, aprendi rápido, mas a maioria de meus irmãos teve dificuldade, o melhorzinho era Chris, que conseguia ser rápido o suficiente para não perder a espada da mão quando Andrew batia, mas eu não ia mal. Consegui me esquivar de alguns golpes, minha parceira de treino era Carol, que não era muito habilidosa com a espada. Ela atacava na lateral de meu corpo, mas consegui sempre me esquivar e atingi-la por trás.

Depois de mais algum tempo, Danny resolveu batalhar comigo, ele era menor e mais rápido do que eu, e durante alguns ataques falhos, consegui conversar um pouco com ele. Descobri que ele era americano do Texas, tinha 11 anos e já estava há 1 ano no acampamento, mas algo por trás de seus olhos azuis me deixou intrigada, parecia que ele queria chorar mas segurou.

Quando bateu 17 horas, foi um alivio, estava livre, corri para o meu chalé, peguei uma camiseta e uma bermuda, uma toalha e fui tomar banho. Depois do banho, fui fazer uma visita para a cozinha. A geladeira estava cheia, com muita coisa, e Fred, um cara médio de 15 anos, com cabelos loiros claros e olhos verdes, estava fazendo um sanduíche, quando me viu, quase engasgou.

–ah, oi...tudo bem? –disse-me ele.

–Sim, e você? Posso comer alguma coisa da geladeira?

–Sim. Claro que pode, tudo o que for consumido é reposto automaticamente. Se não tiver alguma coisa que você queira, peça, normalmente aparece.

–Legal, preciso de uma dessas em casa. –Respondi abrindo a geladeira.

Fiz um sanduíche gigante de queijo cheddar, maionese, frango, tomate e azeitona, servi um copo gigante de Coca-Cola e me sentei na cozinha ao lado de Fred.

–Não tive a chance de conversar com você ainda. Foi tudo muito corrido até agora. –Falei.

–Pois é, você não falou com quase ninguém do acampamento. Mas seja bem-vinda, você vai gostar daqui.

–Espero que sim, você é de onde?

–Madri, Espanha. E você é do Brasil, o país do futebol. Você joga? –Ele me perguntou.

–É claro que eu jogo, adoro futebol, mas não são todas as meninas do Brasil que jogam, lá tem muito preconceito.

–Normal, mas aqui tem bastante gente que joga... O que você vai fazer agora? Digo, depois do lanche? –ele me perguntou.

–Eu vou atrás do Douglas, quero falar com ele, quem sabe conseguir noticias da minha mãe, vou ver.

Quando terminei de comer, sai em busca de Douglas, e na frente do meu chalé, o mesmo garoto que eu vi brincando com água, estava sentado no chão, conversando com uma menininha, que não devia ter mais do que 8 anos. O garoto mexeu a mão e uma pomba de água desceu nas mãos da menina.

Quando passei por eles, ouvi o garoto dizer:

–Pra mim é fácil fazer isso com água, já fiz um cavalo, e ele fugiu de mim...

Apenas segui em frente, e quando cheguei ao chalé 9, vi Douglas conversando na escada com dois garotos, que pareciam ter saído de uma fornalha, seus cabelos estavam queimados nas pontas e seus macacões cheios de buracos.

–Hey, oi, esses são meus meios-irmãos, Paul –ele apontou para o garoto maior, com um óculos escuro e cabelos castanho como o de Douglas, mas encaracolados – e esse é Martin- o outro cara era do tamanho de Douglas, mais magro talvez, tinha cabelos castanhos um pouco mais escuros, e um sorriso maldoso, como se ele tivesse feito algo errado e tivesse gostado.

–Oi –eu disse – Douglas, posso falar com você? A sós?

–Claro, já venho...

Nós saímos a caminhar pelo acampamento, e paramos no pavilhão da janta, que tinha alguns poucos campistas esfomeados. Nos sentamos na mesa de Hefesto.

–Então, como vão as coisas? Já aprendeu a montar robôs? –perguntei.

–Não, eu não sirvo pra isso, meu negócio é outro, não me sinto bem mexendo naquelas coisas, eu não gosto de montar, não tenho criatividade, devo ter algum problema.

–Não se preocupa, você vai se dar bem, mas mudando de assunto, nós precisamos falar com a Bruna.

–Eu também pensei nisso. Quero falar com Quíron, mas não sei se ele vai deixar nós irmos para o Egito. –Douglas falou cabisbaixo, e pela expressão, eu sabia que ele estava com medo.

–Pois é, mas temos que tentar, antes que aconteça algo. –Falei pegando o celular no bolso.

–Não tem sinal aqui, eu já tentei...

–Mas tem internet? –perguntei esperançosa

–Sim... –ele foi interrompido por um trote atrás de mim.

–Crianças... como vão? –Perguntou-me Quíron sorridente. –Preciso falar com vocês, urgente.

Antes que falássemos alguma coisa, ele saiu, e nós tivemos que segui-lo. Nós fomos até a casa grande, onde o diretor estava sentado, em uma mesa de ping-pong (sério?!), e quando chegamos perto, ele apontou duas cadeiras para nós, fez sinal para sentarmos. Resolvi obedecer. O cara estava igual ao dia anterior, só que agora estava com um boné roxo.

–Então, vocês tem uma missão. –ele nos disse de cara.

–Como assim? – perguntei.

–Luiza, vocês receberam uma missão muito importante, que deve ser cumprida. A missão é de vocês, apenas de vocês. – Quíron me disse seriamente.

–Você só pode estar brincando, né? –Disse Douglas boquiaberto.

–Ninguém aqui esta de brincadeira garoto. É bom vocês se apressarem se quiserem salvar seu país –Disse o diretor encarando Douglas.

Tudo bem, eu achava que o Brasil não corria perigo, tinha seus problemas, mas nada que pudesse envolver semideuses.

–Como assim salvar o Brasil? –perguntei.

–Seu país está em perigo, pelo que soube agora, algo está ameaçando sua nação, a única coisa que sabemos, é que é algo poderoso. –Disse o diretor olhando pra mim, e agora percebi que seus olhos eram roxos, como o boné.

–Simples assim? Temos que voltar ao Brasil e salva-lo de algo que não sabemos o que é. –Disse nervosa.

–Vou explicar melhor, hoje de manhã recebemos uma mensagem de Íris, era de uma semideusa que está no Brasil. Ela conseguiu identificar outros semideuses lá, mas também identificou monstros, monstros muito poderosos e em grande numero rondando os mortais. -Disse Quíron seriamente.

–E porque tem que ser nós? –perguntou Douglas.

–Porque vocês são quase os únicos na face da terra que tem poder suficiente. Vocês são semideuses e ao mesmo tempo, magos muito poderosos. Além de serem brasileiros.–Quíron respondeu cruzando os braços.

–Nós vamos ter que voltar para o Brasil, sendo que não fazem 24 horas que chegamos aqui, não sabemos usar nossos poderes que supostamente temos e nem conseguimos treinar muito?–Perguntei.

–Bem...Sim, se quiserem salvar o Brasil, mas não se preocupem, não irão sozinhos. –Disse Quíron indo para o lado, e atrás dele, estava um garoto.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que a história está meio chata até aqui, mas no capítulo 3, começa a ficar um pouquinho melhor :pEnfim, espero que estejam gostando, e continuem lendo, porque vai ficar muito melhor daqui pra frente.Bjs



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