O caminho até o décimo quarto templo foi feito as pressas e largos passos, não imaginava que pudesse existir tantos espectros, o ataque de todos ao mesmo tempo causava uma verdadeira aglomeração no local e, bem, odiava aglomerações, odiava espectros e odiava o cheiro de morte e podridão que exalavam.

"Pior que a casa do Máscara no Verão..."

Derrubou um coitado vestido em uma rústica sapuris asquerosa, que jurava ter enfrentado o antigo cavaleiro de Peixes, Albafica, e que não cansava de dizer o quanto eram semelhantes, arrogantes e frescos. Deixou o corpo inerte cair a seus pés e continuou rumo a entrada da casa da deusa que servia. Absorto em pensamentos e distraído o suficiente para não ouvir que lhe chamavam.

–Hei, Afrodite!

Mu acelerou as passadas o quanto pode agarrando o punho dos pisciano que instintivamente virou-se apontando uma rosa negra para o pescoço do tiberiano.

–Deuses, Mu! Não me assuste assim, poderia tê-lo atacado!

–Esqueça isso, está tudo bem! Afrodite, onde está o Shura?

–Ah...Bem... Ele derrotou Radamanthys...

–I-isso quer dizer que...

–Sim...

–E Saga e Máscara da Morte?

–O que tem?

–Onde estão?!

O tom de voz elevou-se fazendo o guardião de Peixes arregalar os olhos e recuar um passo, nunca vira o ariano estressar-se ou erguer a voz, o jovem era sempre tão calmo e pacifico que era estranho vê-lo com uma expressão que não fosse indiferença."Quase tão calmo quanto Shaka..."

–E-eu apenas os vi saindo....

–Sozinhos? Não estavam em trio?

–Sim! M-mas, quando eles saíram para ver o que é essa fumaça estranha e-eu...

–O que?

–Minos de Griffon apareceu... Eles não perceberam por já estarem distantes...

–Você lutou contra Minos?

–Sim, mas não tive condições de vencê-lo naquele momento, tenho pendencias a resolver antes...

–Deuses... Estão todos aqui então...

–Todos?

–Sim, Minos, Radamanthys, Aiacos, Hades e Pandora... Além destesespectros...

–Não me diga que os deuses gêmeos... Eles também...?

–Não sei! Ah Atena... -Mu passou as mãos pelos cabelos suspirando longamente, seu corpo e alma estavam fracos e exaustos. -É estranho... Eu sinto os cosmos, mas não consigo encontrar seus donos, minha cabeça dói e minha telocinese não funciona direito, está tudo bagunçado...

–Mu...

Abriu a boca para tentar consolar o mais novo, porém as palavras lhe faltaram, não tinha o que dizer, sua própria mente e coração estavam virados de ponta cabeça como poderia ajudar alguém sempre tão centrado quando era uma verdadeira confusão humana?! Queria ver Shaka... Pedir ajuda a ele, levá-lo até o ariano e entregá-lo a este, sabia o quanto os olhos violetas brilhavam pelas orbes azuis do indiano.

"Não tenho direito de ter alguém como Shaka em minha vida... Me perdoe Mu".

Estendeu a mão tocando no ombro do homem a sua frente, um sorriso fraco desenhado nos lábios, apesar de tudo, era mais velho e já havia sofrido e vivido coisas que os demais cavaleiros jamais imaginariam, não permetiria que a tolice dos deuses estragassem a felicidade daqueles que a mereciam, era assim, sempre fora, dane-se a quem ele servia, Atena, Hades?! Eles teriam a eternidade toda para guerrear, mas eles não... Eram apenas humanos dos quais o destino se deliciou em torturar, mas não se importava, sabia que não havia mais volta para si e que talvez a felicidade nunca tivesse estado ao seu lado, mas via que alguns ainda poderiam correr atrás dela e faria de tudo para que a alcançassem. Novamente estava seguindo seus princípios, bem era assim, não?! Sempre fora.

–Nós venceremos essa guerra Mu, por Shura, por Aldebaran, pelos mortos e pelos vivos! Eu prometo que venceremos.

Os olhos violetas arregalaram-se em espanto jamais imaginaria aquelas palavras saindo da boca de Afrodite, o olhar azul em determinação e conquista, o sorriso mais confiante, a personificação da vitória. Acreditou em Afrodite, porém temia o que se escondia por trás da carapuça de confiança que lhe dirigia a palavra.

–Temos que nos reunir no altar, Afrodite.

–Sim, estava indo para lá, alias... Você viu o Shaka?

Balançou a cabeça negativamente, viu o olhar brilhante como o céu baixar e um tímido "entendo" sibilar dos lábios vermelhos, mordeu o lábio inferior, nunca entendera como Peixes e Virgem haviam acabado em uma relação tão intima, como seus cosmos conversavam tão bem e pareciam estar ligados, em sincronia. Invejava um pouco o colega de batalhas, claro que era amigo do loiro indiano, mas ainda assim...

"Não, com ele é diferente... Shaka abre os olhos por ele..."

Assistiu o pisciano subir as escadas, a cascata loura de cabelos dourados na altura dos ombros balançavam com o vento,mesmo ferido e sujo de sangue, com um dos braços imóveis e um olho fechado, continuava gracioso e belo, os passos como se fossem em nuvens e o andar involuntariamente carregado de jogadas de quadril.

"Definitivamente... Há um abismo entre nós..."

~

Corria escadaria acima, tropeçando em alguns degraus e jogando corpos e mais corpos de espectros que ousavam entrar em seu caminho, aos poucos conseguia abrir o olho machucado e o braço já não incomodava tanto. Pulou os três últimos degraus da longa escadaria parando em frente ao pátio da deusa, arregalou os olhos assustado com o que vira. Era o caos. O fim.

Havia uma batalha ferrenha entre todos os cavaleiro e espectros que um dia poderia imaginar, sob o altar estavam frente a frente, Atena, juntamente com Shion, Dohko ePegasus; do outro lado, Hades, Pandora e Aiacos. Engoliu em seco, notou que os deuses discutiam algo, enquanto seus protetores permaneciam prostrados estrategicamente, prontos para protegê-los de tudo.

Virou o rosto analisando as lutas abaixo do local, todos os cavaleiros lidavam com espectros fortes ou fracos, havia corpos e sangue por todo lado, seus olhos percorriam a vasta imensidão a procura de um jovem louro, observava cada corpo, cada lutador, mas nada... Ele simplesmente desaparecera.

Perdido em seus pensamentos e busca pessoal, não percebeu quando sentiu um braço forte e conhecido envolver-lhe a cintura o puxando para um canto escuro e afastado; apenas se deu conta de que era arrastado para longe quando a claridade desapareceu dando lugar apenumbra.

"Mas o que...?"

Voltou-se rapidamente para o corpo que o segurava empurrando-o contra a parede e apoiando o antebraço no pescoço do mesmo. O homem rapidamente ergueu os braços mostrando que não iria machucá-lo.

–Quem é?

Os olhos azuis esforçavam-se para enxergar a pessoa a sua frente, porém estava tudo escuro e sua visão debilitada demais para que pudesse dizer, o toque não lhe era estranho, mas... Depois de tantos toques, pode-se dizer que não arriscaria adivinhar o dono deste.

–Sou eu, Saga!

–Saga? O que está fazendo? -Afastou-se esfregando o braço como se assim limpasse o membro do toque no cavaleiro de Gêmeos. -Por que está escondido? Há uma guerra lá fora!

–Eu sei, seu estúpido! Estive a sua procura!

–O-o que?

–Minos está te caçando por todo lado!

–Do que está falando? -Recuou meio passo, assustado com as palavras do outro que o observava com rigidez.

–Tem que sair daqui Afrodite ou então irão matá-lo!

–Não! Eu não posso, irão me chamar de traidor novamente, eu não posso simplesmente abandonar esta guerra, prometi ao Mu que...

–Ao Mu? Dane-se o que você prometeu,seu loiro burro! Trata-se dasua vida!

–Mas...

Os olhos azuis perderam-se momentaneamente desfocando-se totalmente das palavras do ex-Grande Mestre, Saga sorriu maliciosamente ao ler a confusão na face do mais novo, aproximou-se envolvendo o pisciano em um abraço ousado, colando os corpos e afundando o rosto nos cachos dourados que derramavam-se sob a armadura,Afrodite estava suficientemente perdido em pensamentos e preocupações para não perceber a mão pálida e fria que lhe acariciava a nuca ou os lábios perigosos que roçavam sua bochecha. Saga não se importava com a distração de Peixes, tão pouco ligava para o fato de ser ignorado pelos olhos fixos ao chão; poderia tomá-lo ali mesmo e nem se incomodaria se o tempo todoo jovem sequer o encarasse...

"Ele, com certeza, é a reencarnação da luxuria... Ah Afrodite... Uma caixa aberta de pecados..."

Permanecia ignorante aos movimentos lascivos do guardião da terceira casa, sua mente divagava assustado com a ideia de ter a morte tão próximade si, seu coração batia freneticamente e a dor em seu peito vencia a de seus ferimentos. Estava desesperado para encontrar o virginiano, precisava acalmar-se e sabia que este era o único que conseguiria fazê-lo enxergar as coisas com mais racionalidade. Continuaria absorto do mundo ao redor e deixando que o geminiano o tocasse como bem quisesse, porém acordou ao sentir uma pontada em sua clavícula.

Baixou os olhos e deparou-se com uma mordida e os lábios de Saga consideravelmente perto do local, institivamente empurrou o moreno para longe o fazendo bater contra a parede.

–Enlouqueceu?

–Talvez... -Deuos ombros ignorando as palavras do cavaleiro que o observava com indignação. -Ah Dite... Eu fico tão chateado quando você me acusa de insanidades...

–Sa-Saga..

–O que foi, querido? Está assustado? Você sabe que não vou machucá-lo, nunca o machuco... Quer dizer, pelo menos não sem que você goste disso...

Os olhos azuis escuros oscilavam entre o tom natural e um vermelho escarlate; Afrodite não gostava dessa visão, conhecia bem o que isso significava e não era bom! Se Saga fosse tomado por sua outra personalidade em um momento como aquele, estariam ainda mais arruinados, o cavaleiro era forte o suficiente para derrotar vários deles de uma só vez, e sabia que este não hesitaria em unir-se a Hades.

"Isso não está certo... Ele estava controlando..."

A constatação dos fatos veio quando recordou-se das palavras do ariano sobre sua telocinese, bateu a mão direita na cabeça -sentindo um pontada consideravelmente forte de dor- era tudo muito obvio! Havia algo de errado com todos eles, e era como aquela neve, mas dessa vez, era a fumaça, estava bagunçando os sentidos e habilidades de todos e logo estariam descontrolados a ponto de começarem a atacar uns aos outros. Perdeu-se em devaneios e tentativas de entender o que a substância que exalava do pátio da deusa poderia causar nos demais quando sentiu seu corpo ser prensado contra a parede e um outro, forte e rústico, encaixar-se perigosamente entre suas pernas; mordeu os lábios para que nenhum tipo de som constrangedor saísse de sua boca, não gostava daquilo, não gostava daqueles toques maliciosos e cheios de necessidades, mas estava tão habituado que os sons simplesmente escapavam de seus lábios, estremeceu;não, não queria...

–S-Saga... Me solte...

O cavaleiro de Gêmeos ignorava as palavras do loiro, perdido entreo pescoço do sueco e a parte visível do inicio de seu peitoral, distribuindo caricias ousadas que desagradavam o loiro; este, por sua vez, tentava afastar o geminiano sem atacá-lo, apesar de estar quase enlouquecendo, não poderia dar ao luxo de perder um cavaleiro que seria útil na guerra. Começou irritar-se cada vez mais com a proximidade, o ar faltava e os corpos pareciam unidos em um só.

"Não... Pare... Por favor... Deuses, me tirem daqui..."

Apertou os olhos apoiando as mãos nos ombros do moreno fazendo força para empurrá-lo de si, porém quanto mais força fazia mais Saga aproximava-se e mais suas mãos passeavam por seu corpo. Em dado momento sua consciência pareceu simplesmente esvair-se de si e a visão já embaçada simplesmente turvou-se completamente e tudo que via a sua frente eram vultos da penumbra enquanto seu corpo continuava a ser prensado contra o mármore. Não soube dizer quanto tempo permaneceu naquela situação nem mesmo se aquilo foi causado pelos toques, pela perda de sangue, a fumaça tóxica, o cansaço, ou sabe-se lá o que. Mas quando abriu os olhos novamente jazia no chão, Saga estava ao seu lado, desacordado;sua cabeça estava acima do nível do chão percebeu que estava apoiado em algo macio, abriu os olhos vagarosamente erguendo-os, pulou de susto ao ver quem encontrava-se abaixo de si, Shaka manteve seu corpo deitadoe acariciava seus cabelos em silêncio.

–S-Shaka?

A alegria no tom de voz não passou despercebida e isso causou um delicado meio sorriso nos lábios do virginiano.

–Está tudo bem, Afrodite?

–S-sim... -Envergonhou-se um pouco com as palavras delicadas do amigo. -O que aconteceu? Quer dizer, quando foi que...?

–Quando eu cheguei você estava inconsciente nos braços dele, mas não acho que Saga tenha percebido isso.

Arregalou os olhos recordando-se do que estava acontecendo antes da chegada do loiro, mordeu o lábio, queria desculpar-se com Virgem e dizer que não era nada do que estava pensando, que não se entregara ao cavaleiro de Gêmeos que não queria nada daquilo e...

–Eu sei... -Os olhos azuis piscina abriram-se lentamente observando os azuis céu. -Eu sei que você não queria nada disso, Afrodite, eu sinto isso.

Sorriu. Peixes, sentiu um formigamentos em toda parte do corpo, uma sensação gostosa de alívio, esticou os braços enlaçando o pescoço do guardião do sexto templo em um abraço cheio de ternura e significados; queria ficar ali para sempre, daquele jeito, com toques simples e gestos carinhosos. Não precisava de noites quentes e palavras audaciosas, toques precisos ou conhecedores da malicia do corpo, não... Precisava apenas de um pouco de amor...

"Mas sei que não o mereço..."

–Nós não podemos perder tempo aqui, certo? Temos uma guerra para vencer...

–Sim...

–Como está tudo?

–Os espectros não estão revivendo, Atena e Hades estão travando uma batalha e Pégasus está jundo deles, os deuses gêmeos apareceram... Máscara da Morte está lutando contra Thanatos...

Arregalou os olhos afastando-se para observar melhor as orbes azuis banhadas em tranquilidade.

–Máscara está lutando contra um deus?

–Sim... - Sorriu, acalentando o pequeno coração conturbado do amigo. -Está se saindo bem, inclusive... Me pergunto o que o motiva...

–Ahn?

O sorriso de Shaka era misterioso e cheio de segredos que não conseguia desvendar por mais que se esforçasse. O loiro levantou-se puxando Afrodite junto a si em um abraço, afundou o rosto escondendo a expressão séria que teimava em colorir seu rosto, não precisava preocupar o pisciano...

–Vamos...

Concordou com a cabeça, entrelaçou as mãos as de Virgem caminhando juntos para a saída do túnel que os levava de volta ao pátio de Atena. Sentiu os dedos longos passear pelas costas de sua mãos em uma caricia que acalentava seu coração, não pode deixar de sorrir ao ver os lábios do louro da quarta casa repuxados em um sorriso discreto.

O barulho do atrito de armaduras e o cheiro de sangue não deixava de ser sentido, reconheceu alguns cavaleiros de bronze caídos a seus pés, outros carregavam os feridos para longe da batalha mesmo mal conseguindo sustentar-se em pé. Reconheceu Andrômeda debruçado em um corpo moreno mutilado e lavado em sangue que julgou ser do irmão mais velho do jovem com quem lutara, mordeu o lábio, a guerra levava tudo e estava levando os que mais amavam também... Sabia disso e preparava-se para tudo, mas não permitiria que a morte beijasse Shaka, não mesmo!

–Ora, ora... Vejam só quem apareceu...

Reconheceu a risada sarcástica de Minos, sorriu tristemente, sabia o que isso significava, era hora de soltar a mão da pessoa que mais lhe assegurava, do único que sabia que poderia protegê-lo, do único que vivenciara o mesmo que ele, que todos julgavam estar do outro lado do abismo. Sorriu.

"Eles nunca entenderiam, não é Shaka? Nós também somos humanos, nós também choramos, sofremos, amamos..."

Soltou a mão pálida do indiano sentindo os dedos roçarem em um toque de despedida, não olhou para trás, lhe faltava coragem, mas sentiu o olhar azulado que encarava suas costas, perfurando sua alma como se pedisse que voltasse... Queria, queria correr para os braços do loiro e pedir para que sumissem dali, pedir que se teleportassem para uma vida ou dimensão onde deuses e cavaleiros eram apenas em contos de fadas e aquele banho de sangue não passasse de um pesadelo pós filme de terror, pedir que acordasse embalado nos braços delgados e ouvisse a voz sussurrante em seus ouvidos todas as noites antes de dormir... Mas, não tinha esse direito...

Ergueu o olhar ao céu, o sol brilhava fortemente e as nuvens dançavam ao redor com as mais diversas formas e tamanhos, os deuses reuniam-se para assistir a épica batalha;caminhando para seu futuro não pode deixar de sentir um aperto no coração ao olhar para o lado e ver o protetor de Câncer sangrando enquanto desferia golpes contra o deus da Morte; riu internamente, era a Morte lutando contra a Morte... Gostaria de ver o final dessa batalha, de parabenizar o amigo da quarta casa e... Bem pedir perdão a ele...

"Eu sempre o quis bem Angelo... Me perdoe..."

–Hei, peixinho... Não se distraia tão facilmente, ainda estou aqui!

–Grande merda, você e nada, é a mesma coisa Minos.

–Rá, cômico... Quero ver se vai continuar com a mesma pompa quando transformá-lo em meu escravo pessoal.

–Escravo pessoal? Tsc, prefiro mil vezes a morte sem chance de reencarnação!

O homem de cabelos prateados sorriu maldosamente posicionando-se para iniciar a batalha, Afrodite jogou os cabelos para trás, o olhar afiado, delicadamente posicionou a rosa vermelha em seus lábios provocando o juíz ao passar a língua por eles. Avançaram um contra o outrodesferindo golpes físicos, haviam usado técnicas o suficiente e concordavam que precisavam sentir um pouco do gosto do sangue, a batalha misturava-se entre outras e os ataques aos poucos se tornaram mais técnicos e menos selvagens, em minutos atacavam não apenas um ao outro mas quem passasse por eles, milhares de espectros e cavaleiros "bem intencionados" haviam se ferido ao aproximar-se.

Afrodite não poupava esforços, desferia golpes e ataques freneticamente contra o outro, enquanto este se esquiva e tentava tomar controle da parte esquerda do corpo do sueco (afinal, já tinha mobilizado a direita, só não conseguia entender como o cavaleiro conseguia manter-se longe das cordas com apenas um lado do corpo).

–O que você é Afrodite? Uma cobra?

Sorriu.

–Não, querido... Eu sou uma rosa, e rosas tem espinhos...

Do outro lado do pátio Shaka enfrentava um dos deuses gêmeos, Hypnos, a batalha era silenciosa e até mesmo os golpes deferidos carregavam um peso diferente dos demais. Ambos tinham uma incrível capacidade de concentração, mas a luta estava acirrada e o virginiano temia que teria que abrir os olhos para derrotar o deus do Sono.

"Só tenho uma chance, não posso desperdiçá-la..."

Todos estavam exaustos e a fumaça que exalava do templo parecia atordoá-los ainda mais, Afrodite cambaleou para o lado, ofegante e tentando controlar a respiração, a visão estava turva e jurara que ficaria cego do olho direito se conseguisse sobreviver àquela batalha, e apesar da desvantagem por causa da sapuris de Minos que o protegia degolpes diretos, percebia que o juiz também estava ferido e cansado."Ele veio de outras batalhas... Eu sei...".Suspirou longamente tirando a rosa dos lábios e girando-a entre os dedos, um sorriso calmo e belo desenhado nos lábios, combinando com a feição machucada, mas que permanecia incrivelmente perfeita. Estendeu-a para o espectro a sua frente com um largo sorriso carregado de luxuria, Minos devolveu o sorriso um tanto hipnotizado, como uma criatura cansada e ferida como aquela ainda poderia permanecer com a beleza digna da deusa que lhe nomeava?! Definitivamente... Ele não era humano...

Afrodite aproximou a passos lentos, contandoos centímetros e analisando suaestratégia, sentiu os fios da marionete cósmica de Griffon envolver-lhe o corpo limitando seus movimentos.

–Não irei cair nos seus jogos Afrodite... Já lutei contra um pisciano antes, conheço vocês...

–Oh será mesmo...?

–O que...?

Peixes sorriu largamente ao ver o espanto de Minos observando a Rosa Sangrenta estancada em seu peito, os olhos pratas arregalados em espanto e fúria encarando com ódio o cavaleiro das flores.

–Como...?

–Você não deveria se distrair com meu corpo ou minha beleza, Minos... Esse seu péssimo hábito de subjugar-nos, tanto a mim quanto ao Albafica, foi sua ruína, porduas vezes consecutivas... A próxima vez que um cavaleiro de Peixes apontar-lhe uma rosa vermelha, não olhe para ela... Olhe para o seu coração.

Virou as costas deixando o juiz de olhos arregalados e em fúria, a força vital sendo consumida aos poucos e sua vida sendo levada pela beleza, arrogância e superioridade de um cavaleiro de Peixes.

"He..."

Afrodite afastou-se virando o rosto uma última vez para o espectro que ainda o observava com um sorriso de escárnio nos lábios, devolveu o gesto na mesma intensidade erguendo uma das mãos em um delicado gesto de "até logo" e caminhou em direção ao virginiano que lutava contra um dos gêmeos.

"Nos vemos no inferno, peixinho..."

Minos tombou para frente, o corpo inerte e a alma de volta a seu lugar de origem enquanto uma aglomeração de subordinados se reuniam a sua volta o chamando desesperadamente como se assim pudessem mudar os fatos.

Afrodite observava o tumulto ao redor do juiz com um meio sorriso nos lábios, voltou o corpo para frente continuando seu caminho com confiança e destreza.

"Não se preocupe com o futuro Minos... Não haverá mais um cavaleiro de Peixes que poderá confundi-lo... O reinado das rosas terminará comigo..."