Duas semanas se passaram. Eu ainda não acreditava no que eu tinha feito. Eu estava decidido a tomar uma decisão, mas antes, eu precisava vê-la novamente. Esses últimos dias voltaram a ser sombrios como sempre. Sempre tudo escuro, quase sem a luz dela entrando pela janela. Lua nova e depois crescente. Eu não queria sair de casa até que voltasse a Lua Cheia. Marquei os dias no calendário, procurando saber quando chegaria. E finalmente chegou.

Era um dia chuvoso, Logo, eu não a veria perfeitamente. Mas eu não me importava. Prometi a mim mesmo que a veria no primeiro dia de Lua Cheia. Fui até a pracinha do lado do casarão, onde eu vi meu amor pela primeira vez. Lá era o melhor lugar para vê-la.

Ela estava enorme. Muito bonita e bem redonda, embora coberta por muitas nuvens. Eu estava todo molhado por causa da chuva, mas isso não me incomodava. Fiquei ali por horas, sentado naquele banco, só admirando sua beleza. Aquilo me fazia bem. Não tão bem como se eu realmente estivesse com ela. Mas me fazia bem. No fundo me dava uma tristeza, pela decisão que tomei, sendo totalmente impulsionado por meu amor cego. Mas logo essa dor acabaria. E eu estaria junto com ela de novo. Pelo menos era o que eu esperava.

A noite passou. No dia seguinte, acordei na praça, deitado naquele banco molhado. Eu estava com muito frio. Mas eu não me importava. Isso chegaria ao fim logo. Levantei-me e fui em direção à mureta que havia no canto da praça, do lado oposto à rua. Aquele lugar onde era possível ver a cidade inteira e o mar... Tinha um enorme barranco ali, do outro lado do murinho. Eu estava no ponto mais alto da cidade. De pé no muro, dei um passo a frente. Um passo que mudaria toda a minha vida. Um passo que exterminaria minha dor e sofrimento. Um passo que me traria ela de volta. Dizem que quando morremos viramos estrelas, não? Pois eu queria ser uma estrela para ficar no céu ao lado dela.

Eu caía. Descia com uma velocidade extrema, mas eu podia contar lentamente cada segundo de minha queda, e rever minha vida inteira. Chegou um ponto em que o vento batia contra mim com uma força enorme, como que me cortando. Dizem que nessa hora, bate o desespero e arrependimento. Mas eu não, eu estava feliz com aquela decisão. E aproveitei cada segundo de minha queda lembrando de como foi voar com o meu amor pelos céus noturnos daquela dimensão.

O chão se aproximava, assim como o meu fim. Ou seria só o começo de uma nova eternidade? Eu nunca saberia. Mas de qualquer forma, eu estava contente com aquela decisão.

Adeus mundo.

Olá, meu amor, estou chegando para você.