Eu gostaria de jamais ter que escrever essa carta. Porém, nos últimos dias, venho acreditando que todas as coisas que jurei "jamais fazer" estão entrando na lista de coisas que eu terei de fazer.

Eu sei. É confuso. Interesso-me por isso apenas agora, e só porque procuro meios de enrolar, adiar o verdadeiro motivo pelo qual estou gastando meu tempo escrevendo coisas que você provavelmente nunca lerá. (Na verdade, se ao acaso você encontrar isso, peço que não leia; é patético, e só vai fazer com que se sinta mal por seu irmão ridículo)

Estou desabafando. Estou deixando aqui tudo o que eu sou, tudo o que eu era, numa vã esperança de encontrar nestas palavras tão tolamente rabiscadas, onde eu errei. Eu quero voltar para a época dos sorrisos sem segundas intenções, dos sorrisos fáceis. Eu quero voltar para aquela sexta-feira de dezembro, quando nós dois fugimos para ir à um cinema trouxa. Eu quero voltar para as festas de Natal, quando tio George sempre fazia palhaçadas, e Teddy deixava o cabelo vermelho e branco. Eu quero voltar para aquela época em que tudo era simples, e eu não quero me sentir dessa forma.

Eu tentei. Juro que tentei, de todas as formas que conhecia, e não consigo encontrar o momento em que todas essas coisas se perderam.

Me perdoe, Lily. Me perdoe por não ser forte o bastante para lutar com isso. Acima de tudo, me perdoe por jamais ser capaz de esquecê-la.

Sempre seu,

J. S. Potter