10 anos depois

Kalene estava quase na idade máxima da maldição. Só lhe faltava envelhecer um ano. Mas pra ela não importava, já que aparência de 20 e 19 é quase a mesma, então, para ela, já estava na idade máxima.

Ela dividia seu tempo entre os deveres de Rainha e ir brincar com Rilian. Ela, por algum motivo, adorava aquele menino. Ela o tratava como uma espécie de irmão mais novo. Lilliandil e Caspian até gostavam que Kalene passasse um tempinho com Rilian, pois isso impedia a curiosidade dele de ir para longe e se perder no meio do mato.

Rilian, agora um menino de 10 anos, também gostava de brincar com Kalene. Ele também a tratava como uma irmã mais velha, mas isso seria por pouco tempo. Um dia, os dois estavam sentados em uma campina, perto do castelo, observando as nuvens.

–Kanes, por que você nunca envelhece? - Perguntou Rilian, fazendo Kalene tirar o sorriso do rosto um minuto.

–Mas como assim não envelheço? - Perguntou Kalene, tentando disfarçar um riso. - É claro que eu envelheço.

–Não envelhece não. - Respondeu Rilian, encarando-a de um jeito sério. - Está igual como era quando eu era pequeno.

–Você ainda é pequeno, seu bobinho. - Retrucou Kalene, dando um tapinha leve nas costas de Rilian.

–Não sou mesmo! Eu já tenho 10 anos, sabia? - Disse Rilian, fazendo Kalene rir.

–Então tá, Sr. Adulto de 10 anos! - Rebateu Kalene, fazendo uma careta.

No fim daquele dia, Kalene teve que voltar para Cair Paravel, e para a surpresa dela, lá estava Aslam, esperando por ela. Aslam havia sumido um tempo depois da coroação dela, e só voltou agora.

–Pai? O que faz aqui? Está tudo bem? - Perguntou Kalene.

–Não posso mais visitar minha filha sem ter acontecido alguma coisa? - Perguntou Aslam.

–Claro que pode! Eu só estou surpresa de te ver aqui essa noite. - Respondeu Kalene.

–Eu vim fazer uma surpresa, na verdade. - Disse Aslam.

–Que surpresa? - Perguntou Kalene, curiosa.

Aslam foi para aquele jardim com a fonte atrás do castelo e fez com que Kalene o seguisse. Lá estava escuro, exceto pela água da fonte, que brilhava.

–Pai, o que é isso? Por que a fonte está brilhando desse jeito? - Perguntou Kalene.

–Só consegui que fosse no máximo, esta noite. - Respondeu Aslam.

–Como assim? - Perguntou Kalene.

–Esta noite, eu irei enviá-la para o outro mundo, para que possa visitar Edmundo e os outros. - Respondeu Aslam.

O coração de Kalene tornou a bater forte. Ela iria mesmo rever seu rei. Mas e se ele estivesse diferente? E se ele não a quisesse mais?

–Mas e se ele mudou? - Perguntou Kalene. - Em mais de 10 anos muita coisa muda, pai.

–10 anos pra você, 4 meses pra ele. - Completou Aslam.

Logo, Kalene se acalmou. Ele não poderia ter mudado tanto em apenas 4 meses.

–Mas se eu for agora, vai estar de noite lá ,não é? - Perguntou Kalene.

–Não. Na verdade, está amanhecendo neste mesmo momento. - Respondeu Aslam.

–Ah, sendo assim, então eu vou. - Disse Kalene, entusiasmada. - Mas como eu vou?

–Mergulhe na fonte. - Respondeu Aslam. - Não se preocupe com o resto. Mas só dura por um dia, está bem? Quando anoitecer, você deve voltar. Eu a trarei de volta.

Kalene estava pronta para mergulhar, quando se lembrou de uma coisa.

–Pai. - Chamou Kalene.

–Sim? - Respondeu Aslam.

–Rilian está começando a notar a maldição. - Disse Kalene, mergulhando na fonte logo em seguida.

Deixando Nárnia para trás, Kalene mergulhou naquela fonte. Em uma questão de segundos, ela se viu sentada em um banco de praça, em plena manhã. E não era só isso. Estava usando roupas da década de 40 daquele mundo! Estava usando um suéter rosa de mangas compridas e uma saia gigante azul-marinho, com alguns detalhes em branco. O cabelo estava quase totalmente liso, exceto por alguns cachinhos das pontas e estava usando um diadema azul-marinho com um detalhe de um lacinho.

Ela demorou a retomar a consciência, mas retomou rapidamente quando viu Lúcia saindo de uma feira de legumes com uma sacola na mão e Edmundo vindo atrás dela carregando uma caixa cheia de legumes. Sim, eles ainda estavam na casa de Eustáquio, mas estavam prestes a ir embora. Só estavam esperando os pais voltarem dos Estados Unidos. Lúcia, como sempre, fazia Edmundo carregar as compras e colocá-las na bicicleta, por isso, ela ficava olhando para o além, sempre distraída com alguma coisa. Foi quando viu aquela garota sentada no banco da praça a encarando. Lúcia olhou para a garota por dois minutos até se dar conta de que...

–Ah, eu não acredito! Edmundo, vem ver isso! - Chamou Lúcia.

–O que foi Lúcia? - Perguntou Edmundo, se aproximando da irmã.

–Olha aquela garota lá na praça. - Respondeu Lúcia. - Ela não parece com a... - Ela foi interrompida.

–Kalene! - Completou Edmundo. - Ela disse que ia nos visitar!

–Não pode ser ela! Só depois de 4 meses, é impossível ser ela. - Disse Lúcia.

–Só tem um jeito de descobrir. - Disse Edmundo.

Edmundo e Lúcia se entreolharam e assentiram, ao mesmo tempo. Então, ambos foram na direção de Kalene, sem ela notar, pois já estava distraída com os pombos no chão. Kalene só teve tempo de sentir uma mão no ombro, de se assustar e levantar correndo. Tinha sido Ed quem colocou a mão no ombro dela.

–Kalene? - Perguntou Lúcia.

–Lúcia! - Disse Kalene, sorrindo.

Lúcia largou a sacola e abraçou Kalene, como se não a visse a um tempão. Quando Lúcia a largou, foi a vez de Edmundo matar as saudades dela. Ele a abraçou como da última vez em que se viram. Fizeram menção de se beijarem, mas Lúcia os impediu. Não estavam em Nárnia, e sim, na Inglaterra. E na década de 40, um casal ainda não podia se beijar na rua sem ser criticado.

–Vamos pra casa. - Disse Lúcia. - Vem com a gente, Kanes. Você tem que experimentar a minha sopa.

–Está bem, então. - Disse Kalene, caminhando com Lúcia e Edmundo.

No meio do caminho, eles começaram a conversar sobre como estavam as coisas nos dois mundos.

–E então? Como está Nárnia? - Perguntou Lúcia.

–Está bem. Muito bem, na verdade. Eu sou uma Rainha agora. - Respondeu Kalene.

Eddie a abraçou levemente e beijou a bochecha dela, de um jeito inocente, pois ainda estavam na rua.

–Você já era uma Rainha pra mim. - Disse Edmundo.

–Continue, Kanes, não deixe o olhar penetrante do meu irmão te distrair. - Disse Lúcia, rindo dos dois.

–Engraçadinha. - Disse Kalene, revirando os olhos. - Mas vocês não vão acreditar no que aconteceu com o Caspian.

–Deixe eu adivinhar, ele casou com a estrela. - Disse Edmundo.

–Como você sabe? - Perguntou Kalene, surpresa.

–Já era de se adivinhar, do jeito que ele olhava pra ela. - Respondeu Edmundo.

–E você também, né? Mais de 10 anos, mas eu ainda estou com vontade de te dar um cascudo! - Retrucou Kalene, com o olhar fuzilante.

–Mais de 10 anos? - Perguntou Lúcia. - Se passaram mais de 10 anos em Nárnia?

–Sim. E agora, o Caspian tem um filho. - Completou Kalene.

–Ah, que fofo! - Disse Lúcia. - Qual o nome dele?

–Rilian. - Respondeu Kalene. - Eu sou tipo, uma irmã mais velha pra ele.

Eles haviam chegado em casa.

–Vocês moram aqui? - Perguntou Kalene.

–É temporário, só até nossos pais voltarem. - Respondeu Lúcia. - Na verdade, é o Eustáquio quem mora aqui.

Lúcia e Edmundo descarregaram as compras na cozinha. Kalene quis ajudar, mas Edmundo não deixou, porque, segundo ele, aquilo era "responsabilidade dele e de Lúcia". Eustáquio ainda estava em casa, sendo que as aulas dele começavam em duas semanas. O mesmo tempo que levaria para os pais de Edmundo e Lúcia voltarem dos Estados Unidos.

Eustáquio desceu as escadas e foi até a cozinha. Chegando lá, ele ficou surpreso ao ver a garota.

–Mas você... você... - Eustáquio não conseguiu terminar a frase.

–Calma, Eustáquio. Sou eu mesma, você não está louco. - Disse Kalene.

–Ah, que bom. - Disse Eustáquio. - Mas como você veio parar aqui?

–Meu pai me mandou para visitá-los. Eu disse que viria, lembra? - Perguntou Kalene.

–Mas se é só pra visitar, então, uma hora você vai ter que voltar, não é? - Perguntou Eustáquio.

–Nossa, quer que eu vá embora? - Perguntou Kalene. - Você voltou a ser mala nesses 4 meses?

–Não, não. Claro que eu estou feliz em ver você! - Respondeu Eustáquio. - Mas é que... - ele não terminou novamente.

–Eu não posso ficar aqui pra sempre. Eu sou Rainha em Nárnia agora, tenho deveres lá. Então, só posso ficar esse dia. E de noite, meu pai vai me levar de volta. - Completou Kalene.

–Só esse dia? - Perguntou Edmundo, perplexo. - Então, nós temos que aproveitar cada minuto, já que eu não vou voltar pra Nárnia e nem você vai voltar aqui.

Edmundo pegou Kalene pela mão e correu com ela para o andar de cima.

–Acho que agora eu não tenho opção, se não, te ajudar, Lúcia. - Disse Eustáquio. - O meu quarto está ocupado mesmo...

Lúcia riu e orientou Eustáquio de como ele deveria ajudá-la a fazer a sopa. No andar de cima, Edmundo levou Kalene para o quarto dele (que ele ainda dividia com Eustáquio) e fechou a porta. Não perdeu mais tempo e a beijou apaixonadamente. E a abraçando daquele jeito forte, os dois pareciam um só. Ele a deitou na cama e se deitou por cima dela, não a largando por um minuto.

Ele ia puxando o suéter dela para baixo, no ombro, mas ela o deteu.

–O que foi? - Perguntou Edmundo.

–Aqui não. - Respondeu Kalene.

–Mas nós não vamos nos ver de novo depois de hoje. - Disse Edmundo.

–Eu acho que vamos. Pelas coisas que meu pai me diz, nós vamos sim. - Disse Kalene.

–Se você acredita, então, eu também acredito. - Disse Edmundo.

Ela sorriu e o beijou novamente. Os dois passaram a manhã toda, deitados na cama, um do lado do outro, se beijando. Até Lúcia os chamarem pra almoçar. Ela havia feito a sua sopa especial só por Kalene estar ali. Óbvio que eles não comiam sopa todos os dias, mas a de Lúcia era realmente boa. Os pais de Eustáquio, tios de Edmundo e Lúcia, não estavam em casa. Só iriam voltar de noite, agora que ambos tinham um emprego que lhes ocupava o dia todo.

–Edmundo e Kalene! Parem de se agarrar e venham almoçar agora! - Gritou Lúcia.

Os dois, rapidamente, se separaram e desceram as escadas. Quando Kalene provou a sopa de Lúcia, os olhos se arregalaram automaticamente.

–Nossa, Lúcia! A sua sopa é muito boa! - Disse Kalene.

–Pois é, eu fiz só porque você está aqui. - Disse Lúcia.

Assim que acabaram de almoçar, Kalene ajudou Lúcia com a louça e depois, passou metade da tarde conversando com os três sobre as coisas em Nárnia. E eles lhe contaram das coisas no mundo deles. A outra metade da tarde, Kalene passou com Edmundo, no quarto dele, matando as saudades.

Quando anoiteceu, eles sabiam que iriam ficar separados por mais um tempo. Ela sabia que podia voltar pra Nárnia em qualquer momento, por isso, se despediu dos três, como da última vez.

E então, quando ela deu por si, estava de volta no jardim de Cair Paravel, com o mesmo vestido que estava quando partiu. Só havia ficado triste, pois dessa vez, não voltaria mais ao outro mundo. Mas, pelo que Aslam havia dito, os destinos de Kalene e Edmundo estavam entrelaçados. Então, alguma hora, eles iriam se reencontrar. Como, ela não sabia. Mas sabia que iriam se reencontrar.


Continua