Alice Pov's on

– Tem certeza que ele foi para lá? Nico é doido, mas nem tanto.- Andrew falou tentando descer da escada presa a prateleira enquanto segurava quatro livros de capa dura com uma das mãos.

– Foi o que ele disse.- Respondi me abaixando para ver os livros mais próximos do chão.

Andrew suspirou e murmurou triste:

– Nem para se despedir de mim direito.

Olhei para Andrew rapidamente para poder ver o que ele sentia, tristeza e para minha surpresa dor e o coração partido. Andrew e Nico se conheciam a menos de um mês, mas o loiro se importava muito com ele.

– Vamos torcer para que ele não morra lá em baixo.- Andrew falou enquanto pagávamos pelos livros e saiamos da livraria.

Andrew andava com as mãos nos bolsos da calça vermelha xadrez, ele usava uma blusa azul clara com capuz e seus típicos allstars pretos.

O dia está muito frio e eu estou arrependida de ter saído de casa de saia e sem casaco. Não está chovendo nem nevando, mas o vento forte jogava meus cabelos em meu rosto com tanta frequência que resolvi os prender em um rabo antes que ficasse com tanta raiva que pedisse a adaga de Andrew emprestada e os cortasse ali mesmo.

– Na Ilíada descreveram o Tártaro como "Tão distante do Hades como a terra é do céu".- Andrew disse olhando para o chão como se desejasse que fosse transparente e que pudesse ver o tártaro e procurar por Nico aqui de cima- Hesíodo especulou que levava nove dias para uma pessoa cair da terra até o Tártaro.

– Nove dias é muita coisa.- Falei fitando o chão junto a Andrew.

Comecei a achar que ele realmente estava enxergando através do chão, vendo Nico cair, Andrew parecia a cada segundo mais preocupado, não sei quantas vezes já falei isso hoje, mas ele realmente se importava com Nico.

Uma pergunta estúpida veio a minha cabeça mas não pude deixar de perguntar:

– Quanto tempo leva para subir? Andrew fez menção de dizer alguma coisa, mas permaneceu em silencio pensando por alguns bons minutos.

– Eu não sei.- Ele disse incrédulo- Como ninguém nunca pensou nisso antes? Se bem que parece tão impossível voltar que ninguém se importou em fazer os cálculos. Desculpe Alice mas tenho que ir para casa.

– Por que? - Tenho que descobrir quanto tempo leva para voltar do Tártaro, vou precisar fazer algumas pesquisas, de mais alguns livros e de subir a parede de escalada do acampamento varias vezes. Quero que me ajude depois ok? - Andrew estava quase pulando de alegria.

O loiro se despediu e foi correndo na direção de sua casa.

Talvez eu deva arranjar alguma coisa para me distrair também, talvez eu devesse pintar alguns daqueles desenhos que fiz, ou talvez seja melhor eu fazer como Andrew fazer alguma coisa relacionada ao Nico, mesmo que não possa o ajudar.

Eu queria poder fazer alguma coisa que pudesse ajuda-lo, mas o que seria? pular lá embaixo e ir atrás dele? Sei que prometi não deixa-lo morrer mas sinto que ele está melhor sozinho, sem ter que se preocupar em salvar alguém, ou ficar se culpando caso alguém morra.

Nico estava certo, vida de semideus é um inferno.

Cheguei a minha casa e fui direto para a cozinha, fiz um jantar rápido e fui para a sala. Coloquei as mãos no fogo, afundando o rosto nelas em seguida, sentindo o fogo tocar minha pele, é estanho mas para mim é como jogar água fria no rosto depois de uma corrida.

Meus pais foram no cinema com meus irmãos enquanto eu estava fora com Andrew, eu não queria ver esse filme por que li o livro antes e não gostei e tinha que avisar Andrew o quanto antes sobre a partida de Nico.

Subi para meu quarto e coloquei os livros novos sobre a mesa, já estava indo deitar na minha cama quando notei algo que não deveria estar lá.

Um bichinho de pelúcia.

Há anos não havia nenhum em meu quarto, não por causa de uma alergia, mas porque meu quarto era cheio deles e depois de algum tempo precisei doa-los para poder abrir espaço para meus livros e cadernos, só sobraram dois bichinhos de pelúcia, um dragão roxo e um urso bege.

Mas esse não era um dragão nem um urso.

Era um cachorro.

Com três cabeças.

Não é algo fácil de achar, mas conheço uma loja perto da escola que vende bichinhos de pelúcia, nos últimos meses eles tem vendido uma coleção especial de animais mitológicos, tinham elfos, anões e pegasus também.

Mas quem o havia colocado ali?

Amarrada a uma das patas da frente havia uma fita preta com um pequeno envelope preso a ela. Tirei a fita do animal de pelúcia e abri o envelope branco, dentro dele havia um pequeno pedaço de papel com letras rabiscadas com pressa que diziam:

"Alice, tenho muito o que te agradecer. Por sua causa sei que posso encontrar meu primo, mas ainda estou preocupado com você, não deveria ter me contado isso. De qualquer jeito, muito obrigado, você e Andrew são meus únicos amigos em muito tempo. Farei o possível para voltar.

Até breve,

Nico"

Joguei o papel sobre a mesa e , abraçando o pequeno cão de três cabeças, me joguei na cama. Se ele se preocupa comigo, imagina como eu e Andrew nos sentimos quanto a ele?

Revirei os olhos. Incrível como um mortal egoísta é diferente de um semideus egoísta. Acho que é porque aprendemos a dar mais valor para quem está vivo, e o nosso egoísmo é que daríamos nossas vidas para proteger alguém, sem nos importarmos se eles se sentiram mal por não terem conseguido nos ajudar.

Acho que todos os semideuses são egoístas assim.

Ou somos só idiotas mesmo.

"Farei o possível para voltar" As palavras se repetiam na minha cabeça.

É claro que você vai voltar, ainda tem muita coisa para fazer aqui no mundo dos vivos.