Jess

É díficil descobrir um lugar onde descontrair. Foi a gota de água. Eu sei que já o conheço há muito e ele sempre foi assim mas ele sempre soube. Nós sempre soubemos que havia ali algo mesmo tendo 9 anos. Ele até agora foi o único rapaz que amei e o que ele fez conseguiu por me em pânico. As lágrimas escorreram-me pela cara enquanto me fechava naquela barraca no meio da floresta perto do campus. Encontrei-a por acaso quando andava a deambular por ai. Está a ajudar-me a superar aquele momento.

flashback on

As aulas tinham sido cansativas. Estava no caminho para o campus quando ele me interceptou puxando-me para um canto onde ninguém nos podia ver e sorriu. Não consegui resistir e sorri também enquanto ele me punha uma madeixa por trás da orelha. O meu coração batia forte. Ambos sabíamos desde pequenos que tínhamos uma ligação forte. Já nos picamos e chateamos desde o dia que nos conhecemos. Apenas o via nas festas de aniversário do Carlos ou às vezes quando eu e o Carlos íamos a casa dele em crianças.

Agora estávamos na mesma universidade. Nunca andamos na mesma escola e já não o via há dois anos. Mas ele nunca tinha saído da minha cabeça. O meu primeiro beijo foi com ele num armário quando tínhamos respectivamente 14 e 15. Um jogo de verdade ou consequência mudou o meu mundo. E agora reencontramo-nos.

Ele encostou as nossas testas uma a outra e pegou na minha mão beijando-a e depois entrelaçando os nossos dedos. Olhei para elas juntas e não evitei sorrir. Eu estava com tantas saudades deste homem. Ele pode ser um parvo mas também é muito romântico. Ele beijou-me a bochecha e sossurou com aquela voz doce de criança grande "Tive saudades Jess". E ele deixou me assim, piscando-me o olho e ainda me deixando ali a recuperar o fogo durante uns minutos.

flashback off

Na última semana ele fez muitos momentos assim. Sempre que me via e os nossos olhares cruzavam o seu olhar era doce e ele sorria para mim. Restaurou-me a esperança de que ele não se tinha esquecido de mim e que eu poderia sempre contar com ele como ele me tinha dito ao agarrar a minha mão no fim da noite do nosso primeiro beijo. Infelizmente numa semana ele mudou. E essa é a razão de eu estar aqui fechada.

Tudo me caiu aos pés quando ao ir para o pavilhão de música para pedir dinheiro emprestado ao Carlos eu vi-o de trás. Ia para surpreendê-lo mas algo se pôs no meu caminho. Aquelas mãos a puxar os cabelos na nuca dele e fazendo-a chegar a uns lábios que eu pensei que um dia reconquistaria. Eu iludo-me demasiado. E sou eu própria que parto o meu coração aos bocados.