A Violinista Cega escrita por LilakeLikie


Capítulo 6
Cordas Arrebentadas


Notas iniciais do capítulo

Olá caros leitores!
Como podem ver, hoje não é quarta-feira, porém, na quarta-feira estive tão desestimulada a escrever que o capítulo acabou ficando pequeno. Foi então que terminei de digitá-lo ontem, enviei para a minha adorável e querida beta reader GabsBooBearJujubaVerde e postei hoje.
Novamente, o título do mesmo será explicado no decorrer.
Caso tenham alguma dúvida, basta perguntar. Espero que gostem.
Boa leitura ;)



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“George desceu as escadarias ainda soluçando quando ouviu Sara gritando dois lances acima para que se apressasse.

Simplesmente não entendia como poderia sofrer tanto em suas mãos e ainda voltar rapidamente para seus braços, prestes a sofrer novamente. Vez ou outra se culpava por pensar em tais coisas, afinal, ela era como uma irmã, e ainda assim, era filha da rainha. Seu serviço era devido à ela, independente do que tivesse de ser feito. Seu amor por Sara seria eterno, se dependesse de George.

Foi correndo até os portões, que abriu com dificuldade, devido à ausência do porteiro. A silhueta de um rapaz com praticamente a mesma idade de Sara aguardando até que a passagem fosse completamente aberta. Entrou e logo atrás de si os portões foram se fechando lentamente.

— Sara está o aguardando em seu quarto. O levarei até lá – disse o lacaio guiando o rapaz que acabara de adentrar o recinto.

Subiram alguns degraus em silêncio, até que Damon resolveu questionar o humor da moça.

— Péssimo, como sempre, só que hoje está furiosa. Acho que você a deixará mais calma conversando com ela. Sara passou o dia à sua espera.

— Trouxe estas flores para ela. – disse mostrando o ramalhete de lírios que carregava consigo – Você sabe se ela gosta de lírios?

Deve gostar – pensou George em silêncio por um instante – já que você traz a cada dia um tipo de flor diferente.
Mas não disse. Apenas suspirou e acenou positivamente com a cabeça, fazendo com que um imenso sorriso emanasse do rosto do jovem ao seu lado.

Sara os aguardava ainda na poltrona e com os papéis nas mãos. Fez sinal para que Damon se acomodasse ao seu lado.

— Retornarei em um segundo, querido. – disse se retirando do quarto com George ao seu lado e entregando-o alguns papéis e nanquim. – Você vai ficar aqui ouvindo tudo o que conversarmos e vai anotar nestas folhas. Não se preocupe, em alguns minutos farei com que ele vá embora e depois que eu disser o código, você entrará novamente no quarto e o levará embora. Faça o que eu disse e tudo estará certo. Não irei puni-lo pelo resto do dia. Algo de duvidoso ainda?

—Sim, senhorita. Qual será o nosso código?

—Cordas arrebentadas. – disse refletindo um pouco a respeito. – De certa forma, tem relação com o que acontecerá em breve se você, nosso pequeno coelho na sala ao lado e a tal da violinista contribuírem. Agora vá até seu posto e não perca mais informações!

[...]

— Oh puxa! Agradeço muitíssimo pelas flores! De que naipe são?

— São lírios... lírios me lembram tanto de você! Seus olhos, sua pele clara, seus cabelos sedosos...

— Incrível – disse mostrando um falso sorriso – E você quem os cultivou?

— Sim – mentiu – e são especialmente para você!

— Que doçura... mas hoje não vou poder passar tanto tempo conversando sobre tantas coisas com você. Estou um tanto cansada depois de tantos ensaios logo pela manhã, portanto, vou dormir cedo.

— Quer que eu me retire, princesa?

— De forma alguma! Sua companhia me faz bem. Hoje eu estou cansada de tanto falar, gostaria de saber mais sobre você.

— O que há de interessante sobre mim?

— Gostaria de saber tudo. O que você faz, se toca algum instrumento, se tem irmãos e irmãs, como seus pais vivem...

— Bom, eu sou Damon Peterson. Moro com meus pais, meus dois irmãos e minha irmã. Todos trabalhamos para ajudar em casa. Ajudo na quitanda da senhora Gertrudes, o que me rende um salário favorável, porém não tão satisfatório quanto o de minha irmã. Não toco nenhum instrumento, quem toca é ela e assim ajuda a família. – Os olhos de Sara brilharam.

— Interessante... ela é apreciadora das artes musicais, assim como eu. Penso que tenhamos algo mais em comum.

— Não creio que isto seja de um todo verdade – disse o rapaz olhando para baixo – Ela tem alguns detalhes que diferem bastante do que você. Seja no modo de pensar como no de agir.

— Está dizendo que eu não sou perfeita? – gritou Sara

— Não! Não é isto o que estou querendo dizer. Você é perfeita. Você me traz alegria. Minha irmã é completamente diferente. É uma boa amiga, mas sempre quis chamar tanta atenção quanto ela. Ela consegue mais dinheiro do que eu indo tocar violino na praça, porém, não há nada que eu possa fazer. Não tenho qualquer habilidade com isso.

— Então, você é bem próximo de sua irmã?

— Sim, de fato.

— Conte-me mais sobre ela.

— Ela toca violino, temos a mesma altura, sempre usa vestidos pretos e seu cabelo é escuro. Oh sim! E seu nome é Lucy.

Sara sentiu uma forte pressão sobre o peito. Mal podia acreditar! Agora que sabia o nome da tal violinista, era apenas questão de tempo até que conseguisse se aproximar dela e então se livrar de Lucy como se a tal violinista cega nunca houvesse tocado um dia sequer na praça. Tudo faria com que as luzes se voltassem à Sara, pianista fracassada, porém admirada por ser uma das poucas – senão a única – pessoas a tocar para um público. Queria a atenção toda para si.

— V-você disse Lucy? – resmungou Sara gaguejando.

— Sim, eu disse. Um nome encantador, não?

Sara virou-se rapidamente para olhar nos olhos de Damon. Estava tão eufórica, tão feliz que mal poderia caber em si mesma para tal. Desejava sair dali, pular e dançar, afinal, em breve se livraria de um de seus maiores pesos.

— Belo nome. Porém não tanto quanto o seu – disse abrindo um sorriso torcido.

— Ora, o que é isto princesa... Sara é o nome mais belo que conheço!

— Muito bem – disse a loira se levantando e esticando os braços graciosamente – agora estou cansada. Necessito de uma boa noite de sono, e não a terei caso não vá para a cama imediatamente. Oh, o que é aquilo? Seriam cordas arrebentadas?

Rapidamente, George abriu a porta, escondendo os papéis dentro de um armário ali próximo. Posicionou-se ao lado de Damon e aguardou novas ordens a serem seguidas.

— Nada vejo, senhorita.

— Pois é, eu posso vê-las. Bem próximo de mim e de você. – deu um bocejo num tom que pudesse ser ouvido por Damon – Se importaria em ser acompanhado por George até os portões? Irei descansar...

— Sem problemas princesa Sara! – disse o jovem já se retirando ao lado do lacaio.

Alguns minutos depois, George voltou ensopado pela chuva que tornava a cair ferozmente. Sentou-se no chão, próximo à porta para não ter tanto o que limpar depois. Sara veio em sua direção com expressão de asco.

— Está molhando toda a tapeçaria.

— Não se preocupe, princesa. A água ainda não chegou nem sequer aos fios.

— Se.Afaste.Da.Tapeçaria.Imediatamente. – o rapaz se levantou e foi ter junto a porta.

— Gostaria que eu pegasse os papéis com as anotações no armário?

— De qualquer forma, você irá ensopar tudo. Deixe que eu mesma pego. – dizia enquanto abria as portas do armário – Já temos o bastante para começarmos uma investigação mais afundo sobre nossa “querida” violinista cega, Lucy.

— Sara! George! – pode-se ouvir uma voz percorrer pelas escadas e escancarar a porta do quarto da moça – O que estão fazendo acordados com essa chuva? George, por que está todo molhado? Sara, vá dormir! Amanhã vocês dois conversam!

— Oh! Rainha! – disse o lacaio fazendo reverência – eu apenas tomei um pouco de chuva, está tudo certo. Sara está indo para a cama imediatamente.

A rainha se retirou, fazendo sinal para que George a acompanhasse. Sara deu meia volta, dirigindo-se para a cama. O jovem a acompanhou, ajudando-a a se deitar e cobrindo-a com as mantas.

— Boa noite, minha princesa. – sussurrou docemente.

— Cante para mim. – disse a megera ríspida. George cantou alguns dos cantos que sua amada mais gostava até se certificar de que ela estava realmente dormindo. Deu-lhe um beijo na testa e retirou-se do quarto, indo conversar com a rainha, que o aguardava pacientemente na porta.

— Você não deveria mimá-la tanto assim.

— Bom, vossa majestade, ela merece um pouco do meu carinho. Se eu pudesse, montaria guarda a noite toda para que os sonhos ruins não a perturbassem.

— Já disse que você não precisa usar tamanha formalidade conosco. Você é como um filho para mim e para o rei. Fico profundamente triste quando vejo Sara tratando-o tão mal.

— Eu não me importo. Sabes que eu a amo.

— É, meu filho, eu sei disso. Lamento que certo dia ela partirá seu coração. Não ousaria dizer, mas... ela passa dos limites muitas vezes e... – George fez sinal para que a rainha prosseguisse – estamos cada vez mais recebendo cartas tentadoras de reis de outros feudos e reinos querendo um acordo de casamento com a nossa filha. Você sabe... não podemos simplesmente ignorar tais propostas, afinal, isto poderia gerar uma guerra local. – o rapaz ficou cabisbaixo – Eu sempre almejo um rapaz doce como você se casando com a minha pequena preciosidade, mas tenho pena do moço que com ela se casar. De certa forma, estou livrando-o de tristezas e arrependimentos futuros, meu anjo.

— Rainha, eu sempre amarei Sara. Seja com ela casada com outro homem, serei capaz de morrer cuidando dela e de sua família. Mas meu desejo é amá-la para sempre.

— Faça o que achar melhor, querido. Se eu pudesse, arranjaria as moças mais dóceis e belas do mundo para alegrarem seu coração. Caso Sara o machuque fortemente, não hesite em me avisar.

— Sim, majestade. – A rainha fez menção de se retirar quando se lembrou de algo.

— Aqui está, meu filho. – falou entregando um tecido grande e macio – Seque-se ou o frio o deixará doente.

— Obrigado, majestade.

— Você pode me chamar de madrinha ou de mãe, sabe disso.

George assentiu com a cabeça e a rainha se virou em retirada, saindo do saguão que dava acesso aos quartos do palácio.

O rapaz foi se secando até uma pequena mesa de canto que se situava ao lado da porta do quarto de sua amada. Abriu a gaveta e retirou algo que do lado de fora se assemelhava bastante com um livro: capa dura e avermelhada, com um S dourado bem no centro. Abriu-o com cuidado na primeira página, onde no topo poderia se ler claramente “Este diário pertence a Sara Husgentargen”


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