Loki: Segredos Sombrios escrita por Tenebris


Capítulo 37
Epílogo: Trapaça & Sombra


Notas iniciais do capítulo

PS: Reviews antigos/sem resposta foram lidos e serão respondidos em breve, juro, juradinho!

Então é assim? Acabou? Hahahaha, sim, esse é o epílogo dessa fic: o último capítulo, finalmente. Já iniciei meus agradecimentos no outro capítulo, mas reforço tudo novamente. Obrigadas infinitos para todos que acompanharam essa fic desde o comecinho, quando eu ainda estava escrevendo “Renascer da Fênix”, inclusive. Obrigada por toda a dedicação que vocês tiveram com essa fic, o cuidado que tiveram em comentá-la, elogiá-la, criticá-la (sim, isso é importante e me ajuda muito!). Enfim, obrigada – acima de tudo – pela paciência e pela emoção que pude perceber que a fic causou em vocês. Eu estava ocupada com zilhões de coisas da faculdade pra fazer, estou (ainda) tirando carta de carro e moto, e vocês não abandonaram a fic. Me orgulha ter leitores e leitoras como vocês. Sei que já falei um pouco sobre isso, mas também gostaria de reforçar. Não gosto de escrever nada sem um propósito, e o que mais me chama atenção são os conflitos internos do ser humano. Tentei abordar várias coisas sobre isso na fic. Com ela, quis mostrar que não somos uma coisa só. Somos várias. Loki pode ser o “irmão do mal”, mas consegue desenvolver a capacidade de se envolver emocionalmente com alguém, ainda que do seu jeito. Não podemos julgar Loki sem conhecer sua história e seus motivos para ser como é e fazer o que faz. E Stella, que consegue romper tudo o que tinha vivido em sua vida, se tornando livre, relativamente independente da família e de suas raízes, para viver sua própria vida, para ampliar-se. Também gostaria de falar sobre meus projetos novos. Como terei mais tempo de férias, porque me matei de estudar para não precisar de provas finais (kkk), poderei realizar os 3 são mesmo tempo!
1) Fic do Capitão América, que está em andamento. Corre lá dar uma olhada!
2) Fic original nova: Lobisomens sempre foi um tema que me chamou a atenção. E tomar banho sempre me deu inspiração. Resultado: Fic novinha, com roteiro quase totalmente finalizado. Foi uma das poucas fics em que eu tive a ideia quase totalmente pronta, com o final já em mente. O que acham?
3) Fic original, já totalmente escrita e finalizada por mim, que pretendo postar para mostrar meu lado “13 anos”, porque foi a segunda fic que escrevi na vida e tem uma temática diferente: Pilotos de corrida rivais que se apaixonam, Madison e Dillon.

É isso! Obrigada novamente! Qualquer coisa, estarei à disposição nas MPs e também pelo twitter, que é @uultron
E lembrem-se: sempre somos mais do que aparentamos e sempre podemos mudar. Ninguém é uma única coisa e todos temos segredos, alguns sombrios, outros nem tanto. Um grande beijo e um até logo! ♥



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Fora uma longa viagem.

Uma mistura de todas as outras que eu já havia experimentado.

No meu íntimo, eu tinha consciência das últimas coisas que aconteceram comigo... Eu sabia que Steve me ajudara, entregando-me um artefato que me faria voltar no tempo. Eu também me lembrava, com certo peso no coração, que eu e Steve nos beijáramos... E não houve tempo para pensar se isso era certo ou errado, injusto ou justo. Houve apenas o momento e o que deveria ter acontecido nele, que de fato aconteceu. Mas Steve nunca teria essa lembrança... Ela estava confinada somente à minha mente confusa e danificada. Como seria eu quem voltaria no tempo, os acontecimentos mais anteriores e posteriores a essa volta só seriam recordados por mim. Steve, como acompanhante nessa viagem, só se lembraria de tudo depois da correção dos fatos, com tudo devidamente arrumado.

Fiquei surpresa que minha mente se recordasse tão bem desses detalhes... Do olho azul de Steve indo da melancolia à felicidade momentânea, do aperto firme de seus braços, da minha cabeça apoiada em seu peito, e das promessas inúteis que nunca poderiam ser feitas por mim.

Lembrei-me também de Loki... O deus da trapaça ouvira-me. Alguns fatos se repetiam e outros estavam prontos para serem modificados. Eu voltara no tempo e explicara a ele que precisava me matar. Mas, antes era necessário que ele nos transportasse para outro lugar, usando seus feitiços.

Ninguém poderia nos ver. Assim foi feito, e a morte nunca me pareceu tão doce e agradável. Na floresta, onde ninguém poderia nos ver, Loki me matou. Mas não sem antes beijar-me levemente, fazendo-me concentrar em seus olhos astutos e confiantes e no seu sorriso misterioso e lateral. Isso me dera a certeza e a tranqüilidade de que a morte poderia ser driblada. Como ele mesmo já fizera, e como agora eu fazia, com certo prazer, até mesmo.

Nós vencêramos.

E eu sentia, pouco a pouco, minha consciência se recobrar, mais sã e saudável. A leve dor de cabeça, talvez pela tensão e complicação do processo, ia também me deixando gradualmente...

Tudo parecia calmo. Porém, uma coisa eu descobrira, depois de tantos meses como Vingadora numa terra como Asgard. A calmaria não existia de verdade. Eram tudo momentos, cada qual recheado de suas pitadas de felicidade e de conflito. A paz e a guerra coexistiam na vida de alguém como eu... Assim como luz e trevas. Viviam separadas, cada um na sua zona, mas aconteciam ora uma, ora outra... Sempre desordenando tudo e fazendo o caos se firmar. Mas as coisas eram assim, e eu teria de aprender a lidar com isso.

Então, por mais que tudo estivesse calmo e aparentemente o labirinto – que era minha vida – estivesse sinalizado e seguro, eu não poderia ter certeza de nada. Era a calmaria que trazia consigo a atmosfera de uma certeza... A certeza de que em breve novos conflitos aconteceriam, acompanhados de outros momentos de alegria e alívio...

Mas havia uma diferença.

Eu não era mais a mesma. Assim como Steve dissera, eu aprendera, sim, muitas coisas. A mais importante delas talvez tenha sido a de que eu me conheci mais. Steve me mostrara que eu poderia ser uma pessoa melhor. Afinal, antes eu costumava pensar apenas em mim mesma e a realizar meu trabalho de mafiosa na família Alessa, sem me preocupar com mais nada. Mas o Capitão me ensinara que há certas coisas na vida – e na morte– pelas quais vale à pena se sacrificar. Havia coisas pelas quais valia à pena lutar. Eu aprendi que eu podia ser um ser humano melhor e mais justo, e aprendi também que todos mereciam uma segunda oportunidade para mudar seu passado. Enfim, era isso... Eu aprendi que poderia mudar para melhor, e deixar o mundo ao meu redor minimamente mais justo.

Obviamente, isso não interferiria totalmente em meu trabalho. Eu continuava sendo a mafiosa de sempre, e não pararia de ser. Mas Steve despertara em mim outro olhar, outro jeito de ver as coisas. Acho que, dentro da injustiça e do caos que eram minha vida, eu aprendi a observar e a praticar a justiça no lugar certo, para quem merecia. Dentro da pessoa ruim e danificada que eu era, eu aprendia que podia ter algo de bom. Então, apesar de não estar totalmente livre do meu trabalho, eu aprendi a enxergá-lo de outra forma. E a fazer as coisas que valiam à pena serem feitas. Steve ensinou-me que sacrifício, esperança e mudança eram coisas que poderiam fazer parte da minha vida, sem mexer total e completamente na minha essência, talhada em sombras e escuridão...

E Loki me ensinara a alcançar o máximo que eu podia. Ele me ensinara a não me conformar com a subordinação. Ele me dissera que eu podia liderar... Que eu podia dominar. Ele me ensinara a buscar poder, glória e prestígio. Ora, na minha vida eu estava acostumada a seguir ordens do meu pai para continuar com os negócios. Eu nunca levava o crédito. Loki ensinara-me a não aceitar ordens de ninguém, porque eu era capaz de controlar a mim mesma. E eu poderia conseguir grandes recompensas com isso. Eu podia me liderar e podia ser o que eu quisesse ser.

Em suma, Steve me ensinara a sacrificar-me pelo que importava e a mudar para ser uma pessoa melhor. E Loki ensinara-me a buscar sempre o melhor pra mim e a nunca conformar-me com o segundo lugar. Ele me fez acreditar que eu sempre poderia mais. Eu não tinha o que Steve me ensinara. E também não tinha o que Loki transmitira a mim. Cada qual me ensinara uma coisa diferente, que eu aprendi do meu jeito, me adaptando a essas novas realidades. Desse modo, estava claro. Eu precisava do que Steve tinha para me ensinar, da mesma forma que eu necessitava do que Loki tinha para me demonstrar. Cada um deles me transformava de um jeito, e eu precisava dessas duas transformações em minha vida...

Foi o momento em que eu decidi que, acontecesse o que acontecesse, eu não me afastaria de nenhum deles. A causa dessa decisão não importava, nem as consequências que isso traria. Era uma verdade presente em minha vida. Eu não me afastaria de nenhum deles, e eu precisava do que cada um podia me oferecer... Talvez fosse egoísta pensar desse jeito, mas era assim que as coisas eram. Eu não queria ficar longe de nenhum deles. Eu lutaria por isso, com a determinação que Steve me ensinara e a insistência de Loki. Independente do que viesse a acontecer e do que o tempo me trouxesse, era uma verdade que deveria permanecer imutável.

E entre esses devaneios, pisquei um olho. Eu estava dormindo calmamente no meu quarto, numa bela manhã de inverno. A luz pálida e a brisa gelada que vinham pela janela confirmavam isso.

Três batidas na porta. Eu arfei. A voz rouca de Natasha dizia:

– Você vai se atrasar... Para a despedida.

E eu entendi o que estava acontecendo. Arrumei-me com pressa e comi o que encontrei na minha bolsa de suprimentos. Olhar para ela foi uma tortura, porque me lembrou de missões que talvez tardassem a acontecer novamente.

Era um mero fato, simples e claro: Os Vingadores iam partir.

••

Todos estavam na frente do Palácio.

O vento frio e cortante atravessava a planície, encobrindo o calor que o sol deveria despertar. Dois pilares metálicos estavam a uns quinhentos metros, bem espaçados um do outro. Era nosso recurso para viajar na ponte do Arco-Íris e retornar à Midgard. Do outro lado, estava o jato dos Vingadores, com suas turbinas zumbindo de leve contra a brisa forte.

Odin estava parado ao lado de Frigga. Ele parecia calmo e realmente agradecido, mas não escondia sua ligeira satisfação com a nossa retirada. Já ela parecia realmente afetada, e um sorriso bondoso de compreensão preenchia o seu rosto em formato de coração.

Natasha estava parada ao lado de Fury, o qual disparava comandos em seu rádio, provavelmente para alguém que já estava no avião. Ela trajava seu uniforme casual e deduzi que iria pilotar o jato. Barton andava em círculos, um pouco afastado de nós. Banner conversava com o representante dos Legionários Asgardianos, parecendo tímido. Stark andava de tempos em tempos, cada hora conversando com uma pessoa diferente. Eu podia ver que havia uma garrafa de uísque em seu bolso direito. Stark sendo Stark. Steve estava postado ao centro, perto de Fury. Parecia aguardar instruções para a partida, mas seu olhar se detinha na magnífica paisagem do nascer do sol. Thor conversava com seus pais em um tom baixo, e não consegui identificar o que exatamente eles discutiam.

– Não vai se despedir do seu querido irmão, sorella? – Indagou Lucca, correndo alegremente até mim. Caramba! Nem parecia que nós estaríamos a mundos de distância dentro de alguns minutos. Ele sorriu e inclinou a sobrancelha numa tentativa falha de seduzir.

– Na verdade, você parece bem feliz para alguém que vai ficar longe da amada irmã, fratello. – Provoquei, dando uma falsa cotovelada em Lucca. É... Eu sentiria falta disso.

– É por que... Eu não vou embora. – Disse ele, dando de ombros, com uma expressão inocente.

Como assim? – Perguntei, surpresa.

– Eu vou ficar em Asgard para aperfeiçoar minha luta corporal... Vou me especializar no ataque Asgardiano. Dá uma olhada em quem vai ser minha professora... – Lucca comentou, apontando por cima do ombro para uma inexpressiva Lady Sif, postada ao lado de Odin aguardando pacientemente.

Eu ri de leve, com um olhar malicioso na direção da guerreira.

– Luta corporal? Ataque asgardiano? Ah, entendi... – Eu falei, piscando para meu irmão. Ele corou levemente, mas não negou o sorriso cafajeste.

– É tipo isso... – Ele riu, franzindo a testa. – E eu não poderia abandonar você.

A expressão de Lucca assumiu um tom sério. Seus olhos amendoados eram plácidos e compreensivos.

– Você não me abandonou em muitos momentos que precisei de você do meu lado. Eu só estou fazendo o que um irmão faria... Como uma família. – Ele continuou, segurando minhas mãos e sorrindo de lado.

Eu sorri, suspirei, e abracei Lucca. Acho que ficamos abraçados durante uns cinco minutos ou mais. Lucca provava que, apesar de todo tratamento sempre favorável a ele, apesar de todas nossas desavenças, a gente ainda permanecia unido. Era como nossa primeira missão juntos, eu com dezesseis anos e ele com vinte... Nós confiávamos um no outro, acima de tudo e apesar dos apesares.

– Acho que sua professora está esperando, Lucca... – Eu comentei, cutucando-o nas costelas. Um sorriso avassalador brotou nos olhos de Lucca. Ele colocou seus óculos escuros no modelo aviador e bagunçou os cabelos, na tentativa de arrumá-los desajeitadamente.

– Assim está bom? – Ele perguntou, levemente aflito.

– Lindo. Como um bom Alessa. – Confirmei, ajeitando sua jaqueta de couro.

Avistei Lucca ir puxar assunto com Sif e cruzei os braços. Não havia porque adiar despedidas. Eu caminhei até Natasha e Clint e dei um abraço prolongado em cada um deles.

– Passamos por muita coisa junto... Espero rever vocês, um dia desses... – Comentei, sorrindo de leve.

– A ação nunca termina, Alessa. Com certeza vamos nos rever. – Completou Barton, dando um tapa amigável em minhas costas.

– Espero que seja em condições favoráveis a nós. – Disse Natasha, olhando incisivamente para mim.

Em seguida, despedi-me de Banner, agradecendo por toda sua paciência e dedicação. Em relação a Fury, apenas apertei suas mãos e acenei-lhe com a cabeça. Acho que ainda não tínhamos uma relação tão informal ao ponto de nos abraçarmos. Mas eu não tinha nada contra ele, pelo menos naquele momento.

– O dinheiro será depositado na sua conta e na do seu irmão, conforme o combinado. E vocês dois ganharão um dispositivo para entrar em contato com a SHIELD a qualquer momento. Ou com qualquer Vingador. Enfim... Sinto que vamos nos reunir em breve.

Fury comentou, entregando-me o que parecia um mini celular ultra tecnológico. Eu agradeci e afastei-me dele aos poucos. Stark correu até mim e me deu um abraço que quase me derrubou.

– Ouvi a palavra “dinheiro” ou é impressão minha? – Ele comentou, finalizando o abraço e envolvendo um braço ao redor da minha cintura. – Brincadeira... Eu só queria dizer que, apesar de você ter um irmão chato pra caralh...

Eu o reprovei com o olhar, mas um ar de brincadeira tomou conta do meu rosto. Eu sentiria falta das piadas e das inconveniências de Anthony Stark.

– Desculpa! – Ele falou, entre nossos risos. – Bom, apesar de você já ter sido presa e ser uma criminosa em potencial... Eu gosto de você. Espero que a gente se veja de novo. E, quando isso acontecer, vou dar uma festa na Torre Stark. Se eu estiver de bom humor, você até pode levar o Lucca.

Stark comentou, e eu não consegui me livrar da áurea de felicidade e de bom humor que ele trazia.

– Prometa fazer um drink exclusivo pra mim então! – Provoquei.

Stark aceitou. Nós nos abraçamos outra vez e ele caminhou até o jato com Natasha, Clint, Bruce e Nick.

– Se cuida, Alessa. – Tony se despediu, acenando.

Lucca ainda continuava a conversar com Sif. Meus olhos invariavelmente procuravam por outro par de olhos... Porém, foi aí que Steve apareceu na minha frente.

– Ah, oi... – O Capitão disse. Eu encarei o chão por um momento, buscando encontrar forças e um pouco de racionalidade em mim mesma. Steve estava me afetando mais do que o normal. Eu precisava me concentrar antes de encará-lo nos olhos, sem vacilar.

Oi? – Perguntei, reunindo coragem para fitá-lo. Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, como uma adolescente estúpida de quinze anos faria no primeiro encontro com o cara mais gato da escola. – Não seria tchau?

Steve riu fraco, segurando uma de minhas mãos. Dessa vez, as suas não estavam trêmulas, como normalmente estariam.

– Não queria começar essa conversa com tom de despedida... – Ele explicou, como quem se desculpa.

– Tem razão. Acho que um até breve resolve. – Comentei, rindo e dando de ombros.

– Sim... Não pense que se livrou do seu guarda costas, Stella... – O Capitão falou, em um tom de falsa advertência. Nós rimos e um silêncio ameaçou preencher o vazio entre nós. Eu disse, rapidamente, na tentativa tola de agradecer tudo o que já tinha agradecido a ele. E que Steve provavelmente não se lembrava.

– É... Você nunca me desapontou, Steve. Nunca me deixou sozinha...

Steve sorriu para mim. Seus olhos azuis tinham as pupilas dilatadas, assumindo um tom de calmaria e mistério. Ele comentou, quase sussurrando:

– Eu sei. Eu faria tudo de novo.

Eu sorri, apertando firme suas mãos. Em seguida, nós nos abraçamos. Eu senti o corpo quente de Steve contra o meu e uma onda de lembranças me invadiu, provocando não só a felicidade, como a dor de uma mágoa da qual eu era a causadora. E o que mais doía era nunca poder contar a Steve o quanto eu gostava dele, o quanto eu era grata... Eu o magoaria de todas as formas e não havia como mudar isso. Assim, eu sofria. Porém, algo me chamara a atenção... Eu fitava os olhos azuis e plácidos de Steve incisivamente... E o modo como ele falara aquilo me intrigara. Eu até poderia dizer que ele se lembrava... Ou quase isso.

No meio do abraço, com minha cabeça enterrada em seu peito, eu disse:

– Até logo, Capitão.

Senti o peito de Steve estufar num suspiro. Ele falara, afastando-se gradualmente de mim:

– Até breve...

Em seguida, deu um beijo em minha festa e se reuniu aos outros que embarcariam. Eu estava apreensiva, quando Steve tornou novamente a olhar-me, com aquela expressão determinada e enigmática de um soldado que se prepara para uma revanche:

Não se esqueça de nada, está bem?

E uma certeza apossou-se de mim, quase em forma de dúvida. Eu não tinha como saber verdadeiramente. Eu não sabia em que proporção, mas sim. Steve Rogers se lembrava.

••

E assim, nessa manhã pálida de inverno, os Vingadores partiram. O jato entrara num só ímpeto pelo portal e se fora. Thor entrara no Palácio com seus pais. Ele já os avisara da minha permanência e de Lucca. Como eu estava livre de qualquer magia, Odin concordara, mas eu sabia que haveria guardas me seguindo o tempo todo. Por sorte, bastava eu me transformar em sombra que eu os driblava facilmente. E Lucca fora treinar com Sif, então eles demorariam.

Depois que o movimento na frente do Palácio cessara, eu me sentei na escadaria. O sol já estava quase nascendo totalmente. Não demorara muito, como eu previra. Logo Loki estava sentado ao meu lado.

– Achei que teria vindo se despedir... – Comentei, fitando o horizonte.

– Eles já me prenderam... Ninguém ali deseja meu bem. Achei melhor não atrapalhar a festinha. – Loki comentou, sentando-se ao meu lado e passando um braço ao redor de mim. Eu assenti, rindo fraco. Em seguida, virei-me para encará-lo.

A expressão do deus lembrou-me muito a primeira vez em que o vi... Os olhos enigmáticos, com a expressão de alguém que tem mil pensamentos. Era como se ele sempre estivesse dois passos à frente...

– E o que faremos? – Indaguei, tomada pela expressão de Loki. Eu estava em busca de uma grande aventura ilícita com o deus. Sabia que era isso que ele iria propor. A adrenalina de cometer um grande crime me invadiu.

– Estava esperando que você perguntasse isso. Agora somos só eu e você, Stella... – Loki comentou, e seus olhos estavam distantes... Em nosso futuro.

Então ele estendeu um mapa. Era grande, mesmo estendido sobre nossas pernas. O papel era pardo e parecia antigo, com desenhos feitos manualmente em marrom e dourado. Diversas relíquias estavam desenhadas em diferentes espaços, entre múltiplas rotas nos mais diversos reinos.

– Está vendo essas duas jóias? – Loki apontou para dois desenhos no mapa. - Elas garantem invisibilidade a quem a usar. De um modo que... Ninguém pode encontrar o portador delas.

Eu sorri, entendo seu plano. Primeiramente, nós sumiríamos das vistas de todos, caso conseguíssemos tais jóias. Era um bom começo para dois criminosos.

Loki falou, os brilhos da malícia e da ambição tomavam conta de sua feição:

– Vamos fugir e recuperar essas jóias. Em seguida, caçaremos outras relíquias para aumentar nosso poder... Quando estivermos abastecidos, nem mesmo o céu será nosso limite. Reinos se dobrarão diante de nossa presença. Nossos poderes, juntos, ameaçarão o mais corajoso dos deuses... Não haverá limites para nossa glória.

– Quando? – Indaguei, referindo-me à nossa fuga.

Quando quiser. – Ele sorriu, franzindo o cenho, animado.

Eu também sorri, igualmente tomada pela ambição que se refulgia nos olhos verdes do deus. Eu queria ficar com Loki. Eu queria fazer o que ele faria. Eu desejava poder, prestígio e dominação... Principalmente ao lado do deus. No entanto, estava claro. Não havia espaço para uma vida tranquila ao lado dele. Viveríamos ao sabor de nossos planos e de nossas caçadas. Fugiríamos de autoridades e viveríamos nas sombras de nossos crimes. Isso me atraía, obviamente. Essa vida movimentada, similar à minha antiga, me atraía de todas as formas, inegavelmente. Mas não havia espaço para os Vingadores nesse plano. Loki fora claro. Éramos eu e ele, apenas.

Eu tentaria me despedir de Lucca, mas não sabia se isso seria possível. Eu poderia encontrá-lo secretamente. Afinal, nós tínhamos várias estratégias de se encontrar em momentos desfavoráveis, já que éramos mafiosos. Estávamos acostumados a ficar distantes e a fazer contato sem ninguém perceber. E nós tínhamos o celular que Fury nos dera. A situação pareceu um pouco menos complicada por esse ângulo. Um problema a menos na minha vida.

Mas outra coisa estava clara. Não havia espaço para os Vingadores nos planos de Loki. No entanto... Eu fizera uma promessa particular para mim mesma. Eu veria novamente os Vingadores. Eu veria novamente Steve Rogers... Era isso o que estava nos meus planos. E nem mesmo Loki me impediria. Nós estávamos juntos, mas isso não era obstáculo para eu fazer o que eu queria. Eu precisava de Loki junto a mim, assim como precisava de Steve. Então, apesar de agora estar ao lado do deus da trapaça, eu não poderia jurar que não veria novamente Steve ou os Vingadores. Eu tentaria conciliar as duas coisas, nem que fosse por meio de segredos. Ou por meio de mentiras.

– Pelo poder e pela glória. – Eu disse, aproximando meu rosto do de Loki.

– Pelo poder e pela gloria... Que serão somente nossos. – Ele repetiu, colocando as mãos em minha nuca e puxando-me para um beijo intenso e perigoso.

Era um beijo voraz e quase hostil, que refletia como seria nossa vida dali para frente. Eu não sabia quando fugiríamos, mas sabia que seria em breve. Minha vida era uma incógnita. Eu viveria ao sabor do vento... Ao sabor do presente... Ao sabor de minhas próprias escolhas. Prever o futuro nunca me interessara. Eu viveria o presente, do jeito que eu queria viver. Cumprindo as promessas que eu desejava cumprir.

E assim eu e Loki ficamos, envolvidos naquele beijo ardente, com a brisa fria nos atingindo e o sol brilhando fraco, com seu calor insuficiente.

Ora, sempre fora assim... Pelo menos por um momento, todo mundo terá de viver nas sombras, todo mundo terá que viver da trapaça... Todo mundo terá – nas profundezas de seu ser – segredos ocultos. Segredos sombrios...


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Notas finais do capítulo

Estou chorando, hahah! E então? O que acharam? Estou mais ansiosa e curisoa do que nunca! Novamente, obrigada por tudo e obrigada por me fazerem escrever cada vez mais e mais, e melhor. Agradeço a todos vocês de coração! Mil beijos e até breve! ♥