Acordei toda molhada de suor, os lençóis finos grudavam no meu corpo. Olhei no relógio, eram quatro da manhã. Senti minha garganta seca, precisava de água. Com dificuldade, me levantei da cama e desci as escadas.

Na cozinha, fui surpreendida pelo meu primo sentado à mesa rodeado de comida. Ele comia feito um porco. Olhei aquilo e balancei a cabeça rindo. Me dirigi até o armário peguei um copo e o enchi com água e tomei rapidamente. Senti a água escorrer pela minha garganta refrescando-a. 

-Sem sono? - Bran perguntou enquanto devorava uma rosca.

-Tive pesadelos. - me sentei na frente dele.

-Por isso está toda suada assim? - falou com a boca cheia. 

-É, por isso. - eu tentei sorrir - Mas e você? Sem sono?

-Não, só fome mesmo.

Eu ri e olhei para ele. 

-Brandom, Brandom, - balancei a cabeça negativamente rindo - isso é uma reação pós uso da Cannabis Sativa, ou maconha. Essa voracidade é mais conhecida como larica, meu caro primo.

-Se achando a espertinha né gatinha? - ele riu - Melhor irmos deitar, amanhã tem aula. 

-Não quero dormir. - falei.

-Por causa dos pesadelos? - ele levantou a sobrancelha e eu assenti - Me conte mais.

-Sim Sr. Psicólogo. - eu ri - Eu estou numa ilha, cercada de lagartos, eles vem de todo lado, do mar, da terra e das pedras. São aqueles lagartos de uma das Ilhas de Galápagos. Ao lado deles, estão meus pais, quando eu vou até eles, um lagarto pula em mim e eu acordo. Tenho tido esse sonho toda noite, desde sábado passado, quando soube da morte deles.

-Entendo, olha, se quiser eu levo meu colchão pro seu quarto, a gente faz como quando éramos pequenos e eu tinha medo de...

-Escuro! - falei rindo e ele levantou as mãos em rendimento rindo também.

Ele sorriu para mim e eu me senti bem. Como se ele fosse me proteger, meu lindo e maconheiro protetor. Me lembrei da nossa infância quando passávamos as férias juntos. A gente brincava e corria da Hemmy, ela é um pouco mais nova que a gente então nos escondíamos dela. Para não ter que ficar de babá, coisa de criança. 

-Vamos? - ele chamou me tirando da minha linha de lembranças.

-Vamos. 

Nos levantamos e seguimos para a porta da cozinha, olhei para trás e perguntei se ele não ia arrumar tudo, ele olhou para mim com cara de "o que você acha". Eu ri e nós subimos.

Bran já estava alojado no meu quarto aos pés da minha cama. Mal me deitei e o sono já me tomara completamente. Não tive mais sonhos com lagartos.

**

-Acorda! - Brandom tacou uma almofada na minha cara.

-Como você pode acordar às sete da manhã com essa energia? - perguntei.

-Na verdade são seis e meia. 

-Ah, mas a pergunta ainda é a mesma. 

-Cala a boca e vai se arrumar, vamos pra aula em meia hora. - ele piscou para mim e saiu do quarto gritando coisas tipo "Bom dia família linda!".