-  Eu estava deitado com a cabeça apoiada nas mãos e o local onde me repousava era extremamente macio, como uma cama de algodão. Estava admirando o céu, completamente azul. Não havia nenhuma nuvem, algo incomum para a época do ano. Foi quando percebi que não via as nuvens por estar acima delas. Eu estava sobre uma! Por isso o céu estava tão azul! Que visão magnífica!
-É lindo, não é?- murmurou em meu ouvido o anjo que se repousava ao meu lado, como se pudesse ler meus pensamentos. Virei minha cabeça  em sua direção para concordar quando deparei com seus olhos, coloridos de um verde escuro lindo, e seu rosto , que possuía um formato inocente , seus cabelos negros, longos e soltos, dançavam com a brisa que passava acima das nuvens. Ela era linda. Como eu nunca havia visto em toda a minha vida.
-Sim, é lindo! Só não é tão lindo quanto você.- me peguei dizendo as palavras contidas em minha mente. A garota pressionou os lábios em um sorriso que derreteu meu coração e foi chegando mais perto de mim e me beijou com delicadeza nos lábios. Uma de suas mãos estavam em minha nuca e ela deslizou seus dedos suavemente sobre o cordão que me prendia a pedra da Lua.

-O que é isso? – Ela interrompeu nosso beijo colocando suas mãos na  pedra antes que eu pudesse avisar o quanto àquilo era perigoso. Ela reagiu queimando-lhe a mão. A garota se afastou rapidamente de mim, como se eu fosse um leproso ou algo do tipo.

-Não! Se afaste de mim, seu monstro! – Ela gritou para mim, a voz doce me chamando de monstro ecoou em meus ouvidos como um horrível despertador...
  Foi aí que meus olhos se abriram. Graças a Deus, havia sido um sonho! Eu ainda estava deitado na minha... Não! Eu não estava deitado na minha cama! O vento que passava por minhas costas nuas delatavam isso.

-Droga!- Eu cuspi as palavras assim que percebi o que estava acontecendo Eu levitei enquanto dormia pela terceira noite seguida! Eu realmente odeio quando a Pedra da Lua desperta contra a minha vontade , mas ela parece ter vida própria! São raras às vezes em que ela me atende corretamente mas as situações como as de agora, são as mais comuns! Como naquela vez, no aniversário de 15 anos da Gyselle, em que eu estava muito irritado com meu pai por ter sido o único obrigado a treinar o dia todo enquanto todos os outros se divertiam e eu tentava conseguir o controle desta maldita pedra para mais uma vez não dar em nada, e, sentindo a minha raiva, o poder da Pedra da Lua explodiu o bolo de minha irmã. Como se eu quisesse aquilo! Não esquecerei nunca o olhar inquisidor que meu pai me lançou me lançou Diabos! Como se aquilo fosse de propósito! Eu realmente não gostava de ver minha irmã chorar, então por que eu faria aquilo por querer? Mas, esqueça! Tenho algo mais importante para pensar, como por exemplo: como voltarei para cama sem me esborrachar no chão, pois estava a uma distância tão grande que eu poderia tocar o teto com a ponta da língua sem o mínimo esforço.
  Fechei os olhos e rezei para que o que estava prestes a fazer desse certo. Eu me concentrei com toda a força que pude na minha imagem levitando suavemente de volta para a cama. A pedra da Lua ouviu meu pensamento. Ela me levou de volta a cama, mas se você pensa que minha queda foi suave como eu queria, se enganou muito! Eu despenquei tão bruscamente do teto que minhas costas bateram na cama com tal força que gerou um barulho consideravelmente alto.

-Pedra maldita!- Resmunguei enquanto sentia a dor dos hematomas que ainda ia ganhar. “nota mental: nunca mais dormirei sem camisa”, foi nesse momento que eu senti o poder da Pedra da Lua entrar em ação e sumir com a dor do meu corpo. Tá, tudo bem, eu admito que mesmo a pedra da Lua sendo um saco às vezes, e é realmente!, tem outras vezes, raras mas existem, que é bom ter o seu poder de cura.
 Suspirei com o alívio da dor, que ela trouxe.

-O que aconteceu aqui? Um trator caiu em cima de você? – A voz de gyselle era pura curiosidade, eu a olhei e encontrei seus olhos da cor do sol e arfei.

-Quem dera! – Eu reclamei

-O que houve? – Ela insistiu.

-A Pedra da Lua! O que mais seria? – Eu esbravejei me sentando na cama

-Ah! Seus tênis estão podres! Você vai querer que eu os lave para você? – Gyselle disse mudando de assunto.

-Não! Eu já falei mais de mil vezes que acho que All Star fica mais bonito sujo! Alem do mais meus tênis são responsabilidade minha!

-Como queira! – Ela disse olhondo para os lados e dando de ombros, eu sabia que ela não tinha me compreendido, afinal ela odiava sujeira e era incapaz de entender porque alguém iria gostar de usar tênis sujos. Ela olhou para mim de um jeito infantil e depois para um relógio que estava em seu pulso, nesse momento seus olhos se escancararam.

-Ryan Crount Monzant! Para a escola agora! – Ela disse tentando imitar uma voz materna que não tinha, essa era Gyselle minha irmã mais velha. Sempre tentando preencher o vazio que falta de uma mãe nos trazia.

-Sim, senhora! – Eu disse pulando da cama e batendo continência.

-Seu bobo! – Ela deu um sorriso enquanto se dirigia a minha cama para arrumá-la, ela sempre fazia isso. Dei um sorriso também e fui na direção do banheiro.
 O corredor estava escuro, mas luz fraca do amanhecer iluminava o meu caminho, eu ainda estava com muito sono e por isso cambaleava ao invés de andar até o banheiro. Eu entrei no banheiro e percebi que já estava tudo lá: minha calça jeans favorita de cintura baixa (daquelas que dão a impressão de estarem caindo), meus tênis All Star pretos, mas que agora pareciam cinzas de tão sujos, meias brancas lado deles e por fim dobrada em cima do vaso sanitário estava a blusa horrível cinza e azul escuro do uniforme, ( aquela blusa feia ao extremo que o governador do estada teve a “brilhante idéia”  de transformar em uniforme!) eu suspirei e sorri ao ver o bilhete dobrado em cima da blusa
  “Para Ryan” estava escrito no papel dobrado e ao pega-lo e abri-lo vi as seguintes frases escritas com a letra da minha irmã Gyselle:
        “Passei sua camisa e suas calças, suas meias estão lavadas, mas seus tênis estão uma tristeza! Tem certeza de que não quer que eu os lave para você? Ah! Feliz primeiro dia, de novo!

                                                 Gyselle”

 De novo! Era agosto, volta às aulas das férias de julho, e lá ia eu novamente entrar em uma escola nova no meio do ano!
 Era sempre a mesma coisa! Era horrível! Mas, segundo meu pai a troca semestral de escola me impedia de fazer amizades. Ele estava certo. Não que eu quisesse ter amigos! Sinceramente eu não queria. Mas a falta de confiança que meu pai constantemente demonstrava ter sobre mim me incomodava.

“Você mesmo que é o culpado, você perdeu a confiança dele” Pensei.
   Eu respirei fundo enquanto a lembrança me tomava. Mas não! Eu não podia me lembrar disso agora! Não enquanto um horrível primeiro dia de aula me aguardava. Eu tinha problemas imediatos e não tinha tempo para me torturar com recordações.

- Feliz primeiro dia. Hum! – Disse ironicamente enquanto me olhava no espelho procurando por algum sinal de mudança no azul claro que coloria a íris de meus olhos. Mas não. Não havia nem uma pista do verde esmeralda que preencheria aquele espaço quando eu obtivesse o controle total da Pedra da Lua. Passei a mão na testa tirando algumas mechas lisas de cabelo de cima dos olhos para poder olhar mais fundo deles, mas não havia nenhum sinal de verde, mesmo! Eu já deveria imaginar depois do showzinho que ela deu ainda há pouco... Tirei o resto de minhas roupas, entrei no Box e abri a torneira do chuveiro, deixando as gotas de água morna que escorriam por o meu corpo, me preencherem com uma paz temporária e levarem a decepção causada pele minha falta de controle pro ralo com elas. Eu já estava atrasado, muito atrasado quando desci correndo as escadas que levavam para sala, meu estomago roncava e eu não podia me dar ao luxa de tomar café, fui até a cozinha e peguei uma maçã, havia 5 reais que imaginei serem para mim, pois Gysele já terminara os estudos e meu outro irmão Renan estudava perto de casa. Sortudo! Ele não precisava ficar mudando de escola, meu pai confiava nele. Eu é que não sou de confiança. Preciso parar de pensar nisso! Afinal porque isso estava me incomodando tanto ultimamente? Já havia mais de ter anos. Eu me afastei dessa memória e saí porta a fora. Meu pai Rafael Monzant, estava parado com os braços cruzados na porta me encarando, ele era sempre quieto, nunca falava conosco mais que o necessário, e sempre que falava era duro e exigente.

-Uma hora em casa! – Disse ele me encarando.

-Eu sei. Tchau, pai! – Ele não me respondeu mas saí andando assim mesmo. Já sabia que ele não me responderia, ele não é amável com o resto dos pais, ele não é como os outros pais, ele é um bruxo, com a responsabilidade de treinar o futuro mago mais poderoso do universo, o portador da pedra da Lua, o guardião de seu poder, um bruxo idiota que não consegue ter controle, ou seja, eu.
O ponto de ônibus não estava tão cheio quanto imaginei, o que era um péssimo sinal; eu estava MUITO atrasado. O ônibus não demorou muito para aparecer, e eu rezei para meu rio card passar, não estava a fim de pagar passagem e a maçã que eu devorei em segundos não havia matado minha fome, eu queria comer com aquele dinheiro! Mas meu rio card não passou. Droga! Pelo visto o dia hoje ia ser ótimo, pra não dizer o contrario! Eu entreguei os 5 reais ao motorista e peguei os 2,50 de troco, sentei em meu lugar, pus meus fones de ouvido e fiquei torcendo pra que na meia hora de viagem o ônibus não enchesse e eu tivesse que dar meu lugar para um idoso. Do jeito que estava minha sorte era bem provável que isso acontecesse, mas inacreditavelmente não aconteceu.
A escola era grande e eu não estava atrasado com eu temia o sinal ainda não havia tocado, então retirei os fones e arfei.
- vamos lá! – Eu disse desanimado enquanto caminhava em direção ao portão da escola.