Eu odeio frases clichês que pessoas iludidas escrevem, parecem que sempre estão deprimidas e em busca de um novo amor que tempos depois acabará e elas automaticamente voltarão a escrever estas malditas frases. Minha mãe quando jovem era, por hobbie, uma poeta, ela sempre me diz frases idiotas e depressivas. Um dia desses, quando ela foi viajar, me disse que mandaria uma carta com uma frase perfeita para mim, nada clichê, nada depressivo e nada que eu odiaria. Certo, a frase escrita foi "Em um dia nublado, talvez, mesmo que, por questão de segundos, pode ser que haja um mísero raio de sol tocando uma pequena flor solitária." eu achei idiota, e pouco interessante, mas no final ela disse que se lembrou de mim ao escrever esta calúnia.

Pois bem, já começaremos com aquele belo clichê. Meu nome é Jade, mas ninguém me chama assim, sou mais conhecida pelo meu apelido, Yumi. Que no entanto, eu gosto. Eu sou uma colegial de 16 anos e estou pouco me fodendo para a maldita escola em que estudo.

Eu tenho um grande amigo, literalmente, ele é muito alto e faz questão de esfregar isto na minha cara. Certo, esta frase foi meio maliciosa, eu sei, eu mesma a maliciei, mas vamos fingir ser pessoas inocentes e ver o real significado de minha frase, certo?

Este meu "amigo" se chama Gustavo e é um ano mais velho do que eu. Nós nos conhecemos no ginásio (ensino fundamental, para os que não sabem), ele era e continua sendo o meu melhor amigo, quer dizer, ele já não pode ser mais considerado apenas meu melhor amigo, já que há um ano atrás nós começamos a sair, ou seja, sim, nós somos namorados, um casal um tanto quanto estranho, já que ambos somos antissociais, geeks e viciados em animes e mangás. Meio ano depois de quando nós começamos a sair..., quer dizer, namorar, como dizem hoje em dia, ele teve que se mudar para outra cidade, mas ainda assim, continuamos nos comunicando, via SMS, ou pela internet mesmo. Frequentemente ele vem me visitar para ver se eu estou bem. Você deve estar se perguntando "como assim, pra ver se ela está bem?", bom, aos 13 anos, eu comecei a sofrer de uma doença muito comum entre os adolescentes de hoje em dia, chamada depressão. Esta maldita doença surgiu após eu perceber que realmente, eu estou sozinha nesta merda de vida e que nama mais fazia sentido para mim e que a única solução seria me matar. Se isto é idiota? É claro que sim, mas eu não posso fazer nada para mudar o que eu penso ou sinto. Nesta época eu comecei a me viciar em álcool e em me automutilar. Sim, meus caros, a automutilação, depois de praticada uma vez, acaba virando um vício, mesmo que por motivo algum, você é obrigado a continuar se cortando frequentemente. É um saco, realmente, tive que ser internada várias vezes por causa desta merda. Mas enfim, o Gustavo sempre me ajudou com isto e me apoiou bastante, tanto nesta época, quanto agora, que estou no auge da minha depressão, pois, para piorar a porra toda, minha mãe foi viajar e me deixou sozinha em casa, apenas com meu gato, e pela maldição dos deuses, meu namorado foi morar em outra cidade. Mas que bela situação, não?

Atualmente, o Gustavo está "morando" aqui na minha casa, para "cuidar" de mim enquanto minha mãe viaja. Eu estou me sentindo como uma criança que não sabe se cuidar sozinha, e isto acaba altamente ferindo a merda do meu orgulho. Mas, vamos parar de falar bobagens e partir para a minha "bela" realidade.

— Ei, Yumi, acorda ai — disse o meu gentil namorado apertando minhas bochechas com bastante força.

— Para, você sabe que eu odeio isso — falei dando um tapa na mão dele.

— Você vai dormir o dia inteiro, é?

— Que horas são? — perguntei me levantando de minha cama, toda descabelada.

— São exatamente cinco horas da tarde — ele respondeu sorrindo.

— Hum? Ainda está cedo, vou voltar a dormir, com licença — falei me deitando novamente em minha cama.

— Sabe, só porque está de férias, não significa que pode acordar muito tarde.

— Significa sim. Minha mãe não está aqui e você não precisa ficar mandando em mim, certo?

— Certo, certo, você pode dormir na sala então — ele disse me pegando no colo.

— Gustavo, você é muito irritante, sabia?

— Pelo tanto de vezes que você já disse isso pra mim, não é novidade de que eu já saiba disso há algum tempo — ele respondeu sorrindo e me colocando deitada no sofá — Não vai acordar, mesmo?

— Não.

— Então tá, vou lá cortar meu cabelo.

— OPA, OPA, OPA, NINGUÉM TE DEU PERMISSÃO NENHUMA PARA PRATICAR ESTÁ AÇÃO! — gritei pulando no sofá e agarrando o pescoço dele.

— Minhas táticas de te acordar são sempre infalíveis — disse ele rindo.

— Como pode ser tão idiota?

— Poxa, assim você me magoa, Yumi.

— Hum, tem algo pra comer? — perguntei olhando para ele.

— Bem, eu estava pensando em sair hoje, que tal? Poderíamos ir até um restaurante de comida japonesa.

— Pode ser...

— Não está afim de sair?

— Bem, a última vez que nós saímos, um grupo de "otomesinhas" ficou no seu pé.

— Isto ocorreu em um evento e eu estava com um cosplay que as garotas gostam. Mas você também não pode falar nada, já que eu notei que vários idiotas ficavam te olhando de cima a baixo.

— Bléh, aqueles eram garotos virgens sem namorada que ficam se masturbando o tempo todo enquanto veem hentais — disse indo para o meu quarto.

— Certo, certo, mas só eu posso te olhar de cima a baixo, ok? — ele falou dando um beijo em minha testa.

— Que viadagem você, Gustavo — ri — Vamos no restaurante do shopping?

— Sim, se quiser podemos ir ao cinema também, estou muito bonzinho hoje, diga ai.

— Não estou afim de ir ao cinema, mas se você quiser fazer sua namorada feliz, comprando algumas coisas para o meu próximo cosplay lá...

— Então tá né, considere isto como o seu presente de aniversário adiantado.

— Poxa... — disse fazendo bico.

— Eu estou brincando — ele rio — Vai, se troque ai, vou me trocar também.

— Ok.

Depois de meia hora nós saímos de casa, a pé mesmo, o shopping não era tão longe. Ah, e deixem-me explicar o porquê de eu ter ficado louca quando o Gustavo disse que iria cortar suas lindas madeixas: eu tenho um certo fetiche por garotos de franja, sabem? Com o cabelo emo, estilo cabelo scene e tal, e o cabelo do Gustavo é tão apaixonante pra mim. Mas enfim, voltando para a vida, chegamos lá às seis horas, horário em que algumas pessoas saem do trabalho e ainda mais que era sábado, aquela porra estava lotada. Após entrarmos, fomos direto para o restaurante, para conseguirmos um lugar. Até que o atendimento foi rápido.

— Por que quis sair hoje? — perguntei.

— Não sei, estava com vontade de sair com a minha namorada, não posso?

— Pode, sei lá, mas isso é meio estranho já que desde que você veio pra cá só ficamos em casa.

— Isso foi porque eu queria ficar um tempo só com você.

— Ai, que garoto romântico, minha gente.

— Sempre — ele respondeu rindo.