Spotlight escrita por Noise Kyouko


Capítulo 17
Cheque...


Notas iniciais do capítulo

Demorei, sim eu sei (rimando) mas saibam que foi porque andei mal esses dias. Mas o importante é que estou aqui com o mais novo capítulo da fic. Parando com toda enrolação, espero que gostem.



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O Dance Room do The Hoax, geralmente cheio de luzes multicoloridas e iluminação bem reduzida, estava muito diferente para o evento de casais. Lycras*1 nas cores vermelhas e brancas estavam por toda parte do ambiente e tudo estava bem mais iluminado. Músicas suaves e românticas estavam sendo tocadas por uma banda, e casais de todos os tipos, até mesmo heterossexuais, conversavam, dançavam ou apenas trocaram pequenos carinhos apaixonados.

Lucy e Aileen estavam sentadas em uma mesa, conversando e rindo de assuntos aleatórios:

– Então, você precisava ter visto a cara da Barbara quando eu contei sobre mim a ela... Ela ficou uns bons minutos muda, acho que processando a nova informação. Mas no fim deu tudo certo, e ela me aceitou sem nenhuma restrição. – Contava com muito bom humor. Lucy ouvia tudo atentamente e com um sorriso.

– Fico feliz que tenha dado tudo certo. – Disse sendo sincera.

– Sim, e fique sabendo que eu não contei sobre nós. Para todos os efeitos somos só amigas, você é hétero e só esta grata pela ajuda que te dei sobre o Haine Day...

– Bom, eu não vejo nenhum problema de você contar. Ela é sua melhor amiga, não deve esconder sua namorada dela... – A loira explicou tranquila.

– Namorada? Quer dizer, você e eu, a gente esta namorando, tipo, sério? – A Calverley estava surpresa.

– Você me convidou para essa noite de casais, Aileen. Não restam dúvidas disso.

– Certo. – Concordou – Mas se vamos fazer isso, que seja do modo correto – E respirou fundo – Lucy, você quer ser minha namorada?

– Mas é claro... – Sorriu e se aproximou da morena, dando um beijo demorado em seus lábios.

– Então... Agora é oficial. – Aileen disse, transbordando de felicidade.

– É... – Lucy apenas conseguiu concordar, meio abobalhada. Ela não sabia bem o que dizer ou fazer perto de Aileen, era como se todas as suas defesas caíssem diante da morena. Ela se sentia boba e estranha, e ao mesmo tempo, muito feliz.

– Olá, amigas e amigos que aqui estão. Curtindo nossa noite especial de casais?

Uma moça de cabelos pretos e corte estilo chanel, vestido salmão e tatuagens nos braços saudou de cima do palco, onde a banda estava. Imediatamente, o local ficou mais silencioso, todos prestando atenção na mulher que falava.

– Sou Olivia Michaels. Alguns devem me conhecer como sócia desse estabelecimento. Hoje é uma noite especial, pois celebremos uma vitória significativa: o direito de amar. Sim, as coisas ainda não são perfeitas para nós, e ainda há muita intolerância lá fora, mas o fato de vocês estarem aqui, com seus parceiros, é uma conquista. Pode não parecer, mas cada vez que um casal homossexual firma um relacionamento, ele mostra ao mundo que todo o ódio irracional que pregam contra nós não vai nos impedir de amar, de sermos felizes. Alguns podem protestar, e tentar nos oprimir, mas a cada dia, a igualdade vai vencendo e ganhamos cada vez mais o respeito e dignidade que merecemos como seres humanos. O ativismo LGBT não se resume apenas a passeatas e protestos, mas também a esses gestos aparentemente irrelevantes que mostram a todos que apesar de tudo, estamos aqui, somos iguais a todos os outros e que o amor é amor independente do gênero. Viva ao amor, aqueles que amam e a todos os casais apaixonados do mundo, sejam eles hétero ou homo.

O salão explodiu numa salva de palmas, Lucy e Brianna inclusas. A mulher no palco agradeceu, muito emocionada, e depois se retirou, ainda sob aplausos.

– Belo discurso o dela, não? – Lucy comentou.

– Uhum... Ai meu deus, esta ouvindo isso? É She Keeps Me Warm! Vem, a gente tem que dançar essa… – E sem esperar uma resposta, puxou a loira pela mão.

Alguns casais dançavam juntos, lentamente. Aileen parou e encarou Lucy bem no fundo dos olhos, e depois entrelaçou uma de suas mãos. A loira, por sua vez, foi chegando mais perto, até o ponto de não haver mais nenhuma distância entre seus corpos. A Calverley soltou a mão da outra, e abraçou sua cintura com os dois braços. Lucy em resposta passou os braços pelos ombros da namorada e encostou a cabeça na curva de seu pescoço. As duas começaram a se movimentar devagar. Ninguém conduzia, e nem era conduzida, naquele momento elas era uma só pessoa.

E como sempre acontecia quando elas estavam juntas, o mundo parou e nada mais parecia importar. Naquele salão, só havia elas e o ritmo suave da música. Lucy podia ouvir o coração da morena batendo, e Aileen sentia o perfume adocicado e envolvente da loira. Estavam entorpecidas, enfeitiçadas uma pela outra. Lucy tirou a cabeça da curva do pescoço de Aileen e a olhou, fascinada. As ações não eram pensadas, elas ocorriam automaticamente. A loira pôs a mão direita sobre o rosto da morena, e foi trazendo para perto, até que o inevitável aconteceu: elas se beijaram.

Não souberam dizer quanto tempo durou o beijo, e sinceramente, elas não se importavam. Após o término deste, elas se encararam mais uma vez e sorriram.

– Eu te amo. – Lucy confessou.

– Eu também te amo, Lucy. Muito. – Respondeu Aileen.

Estavam tão distraídas uma com a outra, que não notaram uma figura de cabelos loiro platina parada a alguns metros delas, com um celular em mãos e um sorriso satisfeito no rosto.

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Kaitlyn seguira Aileen mantendo uma distância razoável durante todo o trajeto, nem tão longe para não perdê-la, nem tão perto para não ser vista. Estava indo tudo bem, e a platinada estava certa de que descobriria o que tão misterioso a vizinha fazia todo dia sem o namorado e a amiga.

Quando a Gylehart parou em uma casa, e Aileen Calverley saiu e entrou no carro dela. Nesse momento Kaitlyn quase perdeu as esperanças, pensou que aquilo só podia ser um passeio das duas ao shopping ou coisa parecida, mas ainda sim se convenceu a continuar com seu objetivo inicial. Seguindo Lucy por mais alguns quilômetros, chegou a um lugar fora dos limites de Hainefield. Uma boate/lounge chamada The Hoax, como indicava o letreiro em neon. A Blake ficou imediatamente desconfiada do local, mas só foi quando entrou que teve sua confirmação: aquele era um ambiente voltado ao público gay.

Um sorriso malicioso se formou em seus lábios. As coisas começavam a ficar interessantes.

Notou que a noite aparentemente era um evento especial, dada a decoração cheia de tons de vermelho e alguns corações espalhados, sem mencionar as músicas românticas. Havia também muitos casais formados por pessoas do mesmo sexo, a alguns de sexos diferentes. Kaitlyn resolveu ignorar todas as demonstrações de afeto por parte dos casais gays, ela sinceramente achava tudo aquilo nojento e ridículo. Seu objetivo era apenas um: conseguir pegar Lucy Gylehart fazendo algo comprometedor. Sabia que só o fato dela estar num lounge gay não era suficiente, muitas garotas héteros preferiam esse tipo de ambiente por não ter o incomodo assédio de homens inconvenientes.

Procurou a loira com os olhos até achá-la em uma mesa, conversando com Aileen. Posicionou-se em um canto estratégico, onde não pudesse ser vista, e aguardou, observando as duas atentamente. Nesse espaço de tempo, uma mulher subiu ao palco e iniciou um discurso que Kaitlyn não fez questão nenhuma de prestar atenção.

Quando estava começando a ficar impaciente de esperar que algo mais fosse acontecer, ela viu Aileen puxar Lucy e as duas irem para a pista de dança. As duas colaram seus corpos e começaram uma dança lenta. A platinada sorriu mais largamente que antes, era visível o clima que estava rolando entre elas. Tirou então o celular da bolsa e ligou a câmera, começando uma nova gravação. Daquela distância ainda dava claramente para reconhecer as duas.

E então veio o beijo, e Kaitlyn quase gritou de êxtase. Finalmente, ela tinha tudo que precisava.

Lucy Gylehart não perdia por esperar.

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A loira acordou na manha seguinte mais disposta do que nunca.

Geralmente, ela não era bem-humorada logo de manha, mas as lembranças do dia anterior estavam frescas em sua mente. Ela tinha vontade de cantar, dançar e fazer um monte de coisas que antes classificaria como “idiotice de gente apaixonada”.

Tentou se lembrar a quanto tempo não se sentia assim, e chegou a conclusão de que talvez nunca tivesse de fato se sentido dessa maneira. Talvez tenha experimentado algo parecido com Brianna, mas definitivamente não era igual. Pegou o celular no criado-mudo e mandou uma mensagem fofa e romântica para Aileen, desejando bom dia. A resposta não demorou a vir e era linda. Sorriu, se jogando de novo na cama e fechando os olhos, extasiada.

Mas então reuniu coragem e se levantou. Ainda tinha que tomar banho, arrumar os cabelos, escovar os dentes e dar um jeito na cara, que provavelmente estava amassada e horrível. Então ela tomaria café e quem sabe depois passaria esse maravilhoso domingo com sua namorada.

Terminou de se arrumar, e estava pronta para descer para tomar café quando ouviu alguém bater à porta. Abriu e deu de cara com Kaitlyn Blake, que sorria de um jeito muito estranho.

– Muito bom dia, Lucy. Vejo que está arrumada. Pretende ir a algum lugar?

A Gylehart estranhou o tom usado pela outra. Era artificial demais, e aquele sorriso esquisito só deixava tudo mais suspeito. Foi então que ela se lembrou do aviso dado por Hanna:

– Não que isso seja da sua conta, mas vou sair sim. E você, o que veio fazer aqui com esse sorriso falso?

Kaitlyn ficou surpresa por uns segundos, mas logo depois voltou a sorrir:

– Isso é tão hipócrita, Lucie... – Falou o nome da loira ironicamente – Você é, provavelmente, a garota mais falsa de toda cidade. Como tem coragem de falar do meu sorriso?

De início, Lucy não soube o que dizer, estava estarrecida. Afinal a que Kaitlyn se referia, afinal?

– Não faça essa cara de surpresa... Devia saber do que estou falando. – Viu que a expressão da outra não sofreu nenhuma alteração – Não? Então me deixe te ajudar com isso:

Destravou o smartphone, e mostrou o vídeo que tinha filmado no The Hoax, junto com mais algumas fotos dela e Aileen se beijando. No mesmo instante, a loira empalideceu e ficou muda, o estômago começou a se revirar e as mãos a soar.

– E já vou avisando que já copiei tudo para outros dispositivos. Isso não é, tipo, a fofoca do século? A Abelha rainha da escola, integrante de uma das famílias mais ricas e influentes e a figura da perfeição, Lucy Charlotte Gylehart, é sapatão. Quem diria, não é?

Lucy ainda não conseguia expressar nada. Em sua cabeça milhares de indagações surgiam: como Kaitlyn havia descoberto? Quem mais sabia? O que ela faria com essa informação?

A resposta veio rápido:

–Aproveite esse último dia como realeza, Lucy. Porque segunda, na escola, todos vão saber a verdade e você vai ser rebaixada a um nível tão baixo que nem os perdedores quererão sua miserável companhia.

– Sua... – Tomou coragem para falar. Estava possessa de raiva – Como pôde fazer isso? Quando chegou aqui era um caipira qualquer, se não fosse por mim seria tratada com escárnio por todo mundo. É graças a mim que as pessoas não saem fazendo piadas de você!

– Ah, não fale assim, machuca... – Pôs a mão no coração, fingindo mágoa – Reconheço que você teve certa influência na minha aceitação no colégio, mas não posso negar que o mérito é meu, no fim. Olhe para mim, Lucy. Eu tenho tudo para estar no seu lugar, e digo que sou até melhor que você. Agora, se me dá licença, tenho que ir. Vou passar o dia em um spa e não posso mais perder tempo. Adeus, Lucy. Nos vemos amanhã, na sua ruína.

Deu meia volta, e abriu a porta. Mas antes de ir, lançou um olhar vitorioso para Lucy.

A garota se jogou na cama, abalada. Ela estava acabada. Em menos de um dia, sua vida toda seria destruída.


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