Existem milhares de pessoas no mundo, parecidos, diferentes, mas nunca iguais. Já parou pra pensar o quão louco isso é; milhares, milhões até mesmo bilhões de pessoas e ninguém é igual, tirando os gêmeos idênticos é claro, mas nesse caso somente na aparência eles possuem semelhança, mas isso não é importante. Toda essa enorme população vive, respira, sente, ouve, fala e mente, sim mente.

Qualquer um por mais santo que seja já contou uma mentirinha seja sem importância como para não magoar alguém, ou uma exatamente para atingir alguém, mas o que realmente importa é que todos são capazes de mentir, certo?

Errado, de bilhões de pessoas que habitam o planeta terra, que usam essa habilidade seja ás vezes, quase que inocentemente, ou como um vício. Eu, exclusivamente sou incapaz de mentir, é isso mesmo, eu não consigo, nem uma mentirinha qualquer, quase como aquele filme do Jim Carrey, o mentiroso só que o meu caso é bem pior, afinal eu não fiquei assim porque meu filho pediu pra eu nunca mais mentir em um pedido de aniversário. Pra começar, eu nem tenho um filho. E segundo, até que seria bem mais fácil, era só desfazer o pedido, se bem que para o Jim Carrey não foi nada fácil convencer o filho a voltar atrás no pedido.

Mas voltando ao assunto, a é o modo como eu me tornei a pessoa mais sincera do mundo. Não, eu não nasci assim. Na verdade, Lívia, ou seja, eu. Nasceu completamente normal, com um cabelo loiro que apesar de ser liso tem seus dias de rebeldia, enormes olhos azuis, e uma tendência pra espinhas inimaginável, bom voltando ao meu raciocínio até os oito anos de idade eu era uma criança comum, que podia mentir sobre quantos doces comeu para a mãe, sem problema nenhum, até aquele fatídico dia.

Eu morava em uma cidade pequena, em uma casa simples com meu pai o contador de uma empresa de confecção de sapatos e minha mãe a confeiteira mais requisitada da cidade, ou seja, modesto e feliz. Naquele fatídico dia cheguei da aula mais cedo, havia recebido carona da mãe da minha melhor amiga Cecília, a tia Lu como carinhosamente eu a chamava. Feliz entrei em casa correndo, sabendo que meu pai estaria em casa de folga, imaginem a cena quando peguei meu pai beijando na boca uma mulher que não era minha mãe, pois é, eu pirei comecei a gritar, chorar tudo ao mesmo tempo, nisso meu pai assustado se separou da mulher e me olhou apavorado, correu pro telefone e eu permaneci completamente fora de mim quem nem vi a mulher ir embora, minutos depois após muita choradeira e meu pai sem saber como me acalmar minha mãe chega.

- O que foi querida – diz ela.

- O pa...pai ta...tava bei...beijando uma outra mulher! – já indignada eu gritei a última parte e caí no choro de novo.

 É eu falei tudo pra minha mãe, mas se você pensa que ela se surpreendeu, gritou, ou bateu no meu pai. Você está muito enganado, minha mãe simplesmente olhou de mim para o meu pai e com aquela habilidade de se comunicar só com um olhar confirmou com ele, o que provavelmente significa “vamos ter que contar para ela” e com a resposta do meu pai que deve ter sido” fala você”, ela soltou a bomba.

E a bomba você deve estar se perguntando? Ah isso, era só que meu pai e minha mãe estavam divorciados desde os meus quatro anos, mas pra não me traumatizar continuaram a morar juntos e fingir que nada tinha acontecido, e ambos minha mãe e meu pai já tinham seus respectivos namorados, assim uma criança de oito anos descobriu que sua vida tinha sido uma verdadeira mentira daquelas cabeludas. E eles acharam que me contar que estavam se divorciando seria mais traumatizante, agora você já sabe como eu fiquei completamente alérgica a mentiras, mas bem as consequências disso ainda me causariam muita dor de cabeça.