Entre Mentiras E Verdades escrita por DiuDiuk


Capítulo 2
O início da sinceridade.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Após esse capítulo, vou contar o outro lado a história sobre o mentiroso Lipe(Felipe).



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Pois é, aí foi só o início, depois de receber a bomba em mãos como um embrulho de presente e com fita de cetim e tudo, eu fiquei completamente paralisada, confusa e muda. Demorou a cair à ficha, aí foi um sentimento atrás do outro, primeiro veio à surpresa, depois a indignação, que foram seguidos por angústia, raiva e tantos outros mais.  Era como um copo prestes a trasbordar, esse era o meu estado, mas ao observar minha mãe e ver a quanto arrependida e preocupada que ela estava, como se toda aquela água do copo fosse congelada, assim meus sentimentos se congelaram e se mantiveram quietinhos no fundo do meu peito apertado.

Depois de minutos de silêncio meus e do meu pai, e lágrimas de minha mãe, embora magoada eu havia decidido que não os culparia nem condenaria, afinal eles fizeram isso pensando no melhor para mim, embora hoje pensando bem, foi a ideia mais louca possível com um objetivo tão fofo e que se eles pensassem bem estava fadada ao fracasso antes mesmo de começar. Mas mesmo com oito anos eu tinha consciência de que só os perdoaria com uma condição, com essa idade eu já tinha bastante personalidade e talvez seja isso que me meteu e me mete em tantos problemas. Então continuando, com essa condição eu quebrei o silêncio quase espectral que rondava a sala de estar.

- Mamãe para de chorar, tá? – assim que eu falei, ela me olhou com a maquiagem borrada, toda descabelada, e um olhar de dar dó.

- Filha, por favor, perdoa o papai e a mamãe, nós só queríamos que você não sofresse, eu juro que nós te contaríamos quando você estivesse maior. – assim aflita ela falou.

- Realmente queríamos te contar princesinha, mas nunca achávamos o momento certo, então resolvemos esperar mais algum tempo, me desculpe- acrescentou meu pai.

 - Eu perdoo vocês – quando eu falei isso eles me olharam cheios de esperança, mas tinha mais então continuei – mas, com uma condição, nunca mais mintam pra mim sobre nada tá bom?

- Claro meu amor, nunca mais mentimos pra você nós prometemos não é mesmo, Ricardo?

- Com certeza Paula, eu prometo.

Assim, selou-se o contrato, naquela casa não habitava mais a mentira. Então há primeira semana passou, meu pai foi morar na casa da namorada e eu fiquei com a mamãe, ainda tentando aceitar toda aquela situação, e eu não prestei atenção em nada diferente, mas nas próximas, algo começava a mudar. Pequenas coisas foram acontecendo e me mostrando que quando eu decidi abolir a mentira da minha vida eu fiz isso literalmente. Mas, eu tive a certeza que tinha algo muito errado comigo quando fui brincar com as crianças do bairro.

Sempre nos reunimos na rua de baixo, onde havia uma pracinha. A pracinha era o lugar mais maravilhoso do mundo, claro para uma criança de oito anos, aquele espaço aberto rodeado de árvores com balanços coloridos de azul e vermelho, duas gangorras localizadas mais ao lado, e acoplado ao balanço, o causador de maior adrenalina o escorregador que de tanto ser disputados entre as crianças do bairro já estava com a pintura toda descascada.

E foi aí através de uma simples brincadeira de esconde-esconde, e uma resposta sincera demais, que eu notei que eu tinha sérios problemas. Tudo começou com o pessoal reunido, o Juca, a Maria-chiquinha (apelido devido ao fato que ela usou este penteado desde os três anos de idade até os doze sem falhar nem um dia, e também por infelicidade de possuir o nome Maria), o Pablo, a Luíza e por fim, mas não menos importante, João.

Então eles decidiram brincar primeiro de pega-pega, aquela correria toda, um cadarço desamarrado e puft, caio eu de cara no chão e esfolo meu joelho até sangrar. Depois do meu desastroso acidente, não brinquei mais e me sentei no vomitador, ah é me esqueci de falar dele! O gira-gira multicolorido da pracinha, que por causa do irmão mais velho do Pablo virou o vomitador. Cinco anos mais velho que Pablo, Pedro levou o irmão para o parque um dia e de brincadeira depois que as crianças do parque terminaram seus lanches, resolveu empurra-los no gira-gira com toda força que seus treze anos de idade permitiram, não deu outra bastou três voltas para as crianças vomitarem umas nas outras, sujando totalmente as roupas que suas mães haviam lavado com tanto amor e carinho, sorte a minha que estava doente nesse dia.

Sentada no vomitador/gira-gira eu observei então meus amigos mudarem de brincadeira e se organizarem com um pedra-papel-tesoura para escolher quem iria contar até dez na tão famosa brincadeira de esconde-esconde. Levando o azar Juca se encostou em um sinamão de porte médio e com folhas bem verdinhas e começou a contar, nesse meio tempo todos se esconderam, João o gordinho mais atrapalhado, demorou pra se esconder até que resolveu se ocultar atrás da árvore  que ficava perto de onde eu estava, os outros se esconderam melhor, Pablo sendo esperto e o mais rápido de nós se escondeu atrás de um tonel de água usado pelos moradores da rua, para regar as flores do parquinho, e que estava localizado perto de onde Juca contava, Maria e Luíza fizeram uma negociação e resolveram se esconder juntas atrás de um ônibus parado na calçada e que estava relativamente perto do sinamão.

Acabando a contagem, Juca foi andado olhando de um lado olhando do outro e como era de se imaginar não viu Pablo se esgueirando por traz do tonel, com isso, só faltou dar alguns passos ate alcançar a árvore e se salvar. Ele então seguiu andando até que chegou perto de onde eu estava então para assustar os outros que estavam escondidos me perguntou:

- Lívia, você sabe onde estão os outros?

- Sim – eu respondi automaticamente.

- O João está atrás da árvore?

 Ele havia pensado que tinha enxergado o João atrás da árvore, e só para deixa-lo mais nervoso ele me perguntou isso. Mas, eu disse pra mim mesma, não diga o lugar, só que quando eu ia falar que ele não estava por perto, comecei a suar frio, fiquei nervosa, e rapidamente e gaguejando respondi:

- Sim, ele está.

Não, não era minha intenção dedurar o João, porém foi mais forte que eu. Surpreendido pela minha resposta, Juca então se pôs a correr até á árvore e derrotado João não teve nem tempo de fazer algo a respeito. Assim o mesmo se repetiu com Maria e Luíza.

Então, isso já fez com que João não gostasse tanto de mim. Tão irritado ficou o João que me ignorou o resto da tarde. É isso não foi nada legal. Mas, acredite poderia ficar bem pior. E ficou, apesar de Cecília ser minha melhor amiga, Maria por ser minha vizinha era uma boa amiga, mas devo acrescentar, ela possuía uma obsessão em ser adulta. Por isso, naquele mesmo dia, pegou escondida a maquiagem de sua mãe e resolveu se produzir em pleno parquinho, com um espelho pink da Barbie, o processo começou batom, lápis, rímel e um pequeno estojo de sombras e tcharam! Depois de minutos na frente do espelho, ela se vira para nós e pergunta:

- E aí eu não parecendo linda e mais velha?

Só que imagine uma criança de oito anos sem nenhuma habilidade na arte da maquiagem, se auto-maquiar. Bem você pode imaginar o resultado, mais acho que devo descrever para você fazer uma avaliação, bom pra começar ela resolveu usar um batom vermelho sangue e com toda sua habilidade conseguiu colocar em tudo menos no contorno exato dos lábios, só isso já deu para dar uma base, acrescentando a sombra azul cor-do-céu espalhada escandalosamente por toda a pálpebra e o lápis pretos que ao invés de estar no contorno dos olhos foi colocado abaixo, fazendo com que suas olheiras parecem como as de um zumbi.

 Bom, depois de sua avaliação você não acha que seria bem melhor pra ela que alguém fosse franco e falasse a verdade, para ela não pagar o ridículo e sair com essa maquiagem por aí, pois é eu também pensei, mas pelo jeito pensei errado. Ela esperava ansiosa a resposta, confiante de seu desempenho. Então, Luíza gentilmente falou:

- Você está linda Maria – eu fiquei indignada, espera aí como assim linda, ela estava obviamente mentindo, mas o comentário fez um sorriso enorme abrir na boca de borrada de batom de Maria. Mas não eu, eu iria ser sincera.

- Na verdade, eu não achei você está parecendo uma palhaça – o silencio depois do que eu disse me mostrou que não havia sido uma boa ideia.

- Como é que é? – retrucou Maria. Aí eu fiquei nervosa eu não queria dizer dessa maneira, e tentei consertar, mas bom só piorou.

- Bem é que você tá toda borrada e o batom me lembrou da boca de um palhaço.

- Tá me chamando de palhaça? – bastou isso e a confusão estava armada.

- Não, imagina! Eu só tô dizendo que você está parecendo uma.

- O que?! – e como eu não sei calar a boca quando deve, fiquei nervosa e fui dizendo tudo que me vinha pela cabeça.

- Desculpa, mas é que a maquiagem tá toda borrada, tá muito esquisito. Serio mesmo.

- Como esquisito, a Luíza acabou de dizer que eu estava linda? Você está louca? – foi aí que eu no desespero de me defender acabei cavando minha própria sepultura quando disse:

- Mas a Luíza mentiu.

- Eu? Eu não menti coisa nenhuma, você que tá mentindo – gritou Luíza completamente indignada.

- Mas eu não estou mentindo, a maquiagem tá ruim se você limpar um pouco vai ficar melhor eu juro.

- Cala boca, a partir de hoje você não é nossa amiga.

- Maria, Luíza desculpem eu não queria falar isso.

Nisso por causa da confusão chega à irmã mais velha de Maria que depois de ouvir a confusão toda fala:

- Maria calma, a Lívia só tava brincando, não é Lívia? – essa era minha chance aproveitar a intervenção da irmã da Maria, era só dizer que você estava brincando Lívia, era o que eu dizia pra mim mesma, mas pensa que adiantou, quando eu ia falar, fiquei nervosa, suando frio, com dor de cabeça, meu coração martelava no peito, fiquei totalmente perdida e as palavras simplesmente jorraram da minha boca.

- Não eu não tava brincando, a maquiagem tá toda borrada, tá ruim mesmo – e em um golpe de mestre eu arruinei a amizade com minhas duas vizinhas, agora era só esperar a sentença e ela veio.

- Eu te odeio! – gritou Maria, praticamente espumando de raiva. Seguido de uma Luíza também muito irritada que falou:

- Nunca mais fale comigo de novo.

E viraram as costas e foram embora, eu fiquei ali chocada com minha própria atitude, afinal por que eu simplesmente não disse que era uma brincadeira? Qual o meu problema?

E assim o tempo foi passando, e eu fui notando que eu não conseguia mentir sobre nada, nem sobre doces que foram comidos antes do horário, nem sobre o dever de casa, muito menos quando alguém me perguntava minha opinião sobre alguma coisa. E essa sinceridade extrema iria me acompanhar e me atrapalhar por muitos anos ainda.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham apreciado,seja comentários, críticas ou sugestões estou aberta a opiniões. Obrigado por lerem ENTRE MENTIRAS E VERDADES. Beijos! DiuDiuK! *__*



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