–Jackson! - a voz soou mais perto,levantei minha cabeça e tirei uma mexa de cabelo que caía sobre o meu olho. Era um garoto, sua pele era branca e seus olhos pretos conseguiam se destacar por causa das olheiras fundas. Ele me deu uma olhada e arqueou as sobrancelhas, então voltou seu olhar para Ashley e por um momento pareceu esquecer o que ia pedir, então balançou a cabeça, fazendo seu cabelo castanho mover-se junto - Ahn.. Ash, você viu o Jackson... por aí?

–Não, Nico. - Ashley deu de ombros - Não mesmo.

Nico, o garoto, deu de ombros também então voltou a olhar para mim:

–Novata? - ele deu uma risadinha, que tenho que admitir, boa de ouvir.

–Novata - concordei sorrindo. Ele sorriu para mim e depois para Ashley, então ele acenou para nós e murmurou um "tchau" e saiu correndo chamando o tal de Jackson, eu e Ashley nos olhamos por um segundo e rimoso novamente, sem entender porque, mas rimos. Então Ashley suspirou e pediu se eu queria conhecer os chalés, eu disse que sim, então nós fomos caminhando.

Ela me mostrou todos os chalés e falou as características de cada semideus e de cada deus. Ela suspirou:

–Chalé 6 - ela acenou para o lugar - Chalé da deusa da sabedoria e estratégias de guerra, Atena.

Suspirei também, e fiquei encantada com o lugar, no qual uma bandeira com uma coruja, o simbolo da Deusa, dançava no ar, me aproximei, indo em direção a porta, mas Ashley me deteve:

–Ei, não é legal - ela advertiu tocando meu ombro, e eu recuei imediatamente - Não entre em um chalé de um Deus sem ser convidado, você pode estar pondo a sua própria vida em risco.

–Ashley -implorei fazendo biquinho, pidona. Com meu pai sempre resolvia, quem sabe com Ashley também... Ela mordeu o lábio e eu insisti - Por favor, por favor, por favor - disse dando saltinhos. Ela deu de ombros e deixou eu avançar

–Eu não me comprometo se você morrer - Ela lançou as mãos para trás, como se não estivesse nem aí, e eu sorri agradecida para ela. Então eu avancei. Pensei que seria mal educado entrar sem bater na porta ou algo assim, inclusive se alguém estivesse ali dentro, eu me sentiria mal, então me aproximei da porta do chalé, tudo parecia muito bem, e relaxei os ombros, já doloridos de tensão, bati com o punho de leve na porta três vezes, ninguém respondeu, nenhum som, nenhum ruído nada. O que me deixou mais nervosa, dei uma olhada para trás e vi que Ashley mordia o lábio nervosa, sua sobrancelha estava arqueada. - Vamos, não tem ninguém aí - ela disse.

–Só mais um momento– pedi.

Bati na porta mais uma vez, só para ter certeza de que ninguém estava, o barulho ecoou para dentro do lugar vazio, a porta entre-aberta,fechei os dedos em volta da maçaneta e empurrei com certa delicadeza a porta. Ela se abriu e revelou um lugar que para mim era perfeito. Eu jurei no instante que podia sentir os brilhos dos meus olhos. Inclinei-me para frente para ver se ninguém estava, e certo, ninguém estava.

Coloquei um pé de cada vez com calma, mas nada aconteceu e pude ouvir o suspiro de alívio de Ashley. Então eu pude ver tudo com mais clareza. As camas estavam estendidas, as cobertas eram finas e fofas num tom de cinza claro. Em cima de uma cama, havia um caderno, um lápis e uma borracha e atrás da mesma, um mural enorme, que pegava quase toda a parede dos fundos do chalé, com papéis, cálculos, algumas fotos de edifícios e monumentos famosos e lindos, eu adentrei o lugar, já quase estendo a mão para tocar em cada coisa. Mas pensei que seria mal educado, então apertei as mãos em punho e as deixei colada no corpo.

O lugar tinha um cheiro de livro novo, um cheiro viciante. Olhei para uma cama vazia, ela não tinha lençóis estendidos, ela estava apenas com um cobertor dobrado nos pés e um travesseiro que parecia não ser usado a um tempo. Ao seu lado, um criado-mudo de madeira com um abajur delicado. Ergui o abajur e notei que em baixo dele, como sua base havia dois livros, não eram muito grandes, mas não muito pequenos, pareciam ser de história e coisas assim, eu pensei em folha-los, mas tive que deter o pensamento lembrando a mim mesma que não estava em casa, e que na verdade, estava invadindo o chalé de outras pessoas.

Levantei-me e olhei em volta, tudo perfeito, fechei os olhos e absorvi o aroma gostoso do lugar, só então notei as pessoas que estavam na porta do chalé, Ashley, um garoto mais ou menos da minha altura que usava um óculos bacana, uma menina muito bonita e cheia de maquiagem, que provavelmente era uma das irmãs de Ashley e mais uma garota parecida com o menino de óculos, esta tinha uma trança longa e loira, tinha os olhos cinzentos como o meu, mas era mais alta, apesar de eu ter certeza que ela tinha no máximo treze anos.

–Atena - Ashley sufocou e todos os outros assentiram, os olhos grudados em mim.

–Olhe desculpa se eu invadi o chalé de vocês e... - Mas o garoto me deteve erguendo a mão, que parecia tremer, então todos inclinaram-se mais, olhando diretamente para mim. Eu não sabia o que tava acontecendo. Socorro! Que constrangedor! - Gente o que... - Comecei a perguntar, mas uma sensação estranha tomou conta de mim, estranha, mas boa, agradável. De repente, as pontas de meu cabelo bateram no ar, trazendo o mesmo cheiro de livro novo do chalé, então uma coisa estranha aconteceu e o símbolo de uma coruja começou a aparecer sobre a minha cabeça, uma coruja cinza bonita e pequena.

Minha respiração estava ofegando e os olhos dos semideuses na porta começaram a cintilar de felicidade, Ashley parecia preste a saltar em mim e me encher de beijos na bochecha, pensei em recuar, eu estava me sentindo estranha, mas nunca senti meus pés tão grudados no chão.

Quando a coruja começou a sumir, lentamente, o garoto de óculos gritou:

–ATENA!

A menina mais nova e mais alta que eu, concordou e veio em minha direção, os braços estendidos, mas ela recuou.

–Posso te abraçar? - pediu. Eu não entendi direito a pergunta, mas disse que sim,por educação e por ela parecer ser tão legal

–Bem-vinda, filha de Atena - ela murmurou, se controlando para não pular e começar a me abraçar que nem uma louca. Então foi a vez de Ashley:

–Ai, que legal! É claro! Como eu não tinha percebido? Você é uma legitima filha de Atena, você é tão bonita e tão esperta também. Uau! Isso nem tinha se passado na minha mente, você acredita? Eu torci tanto para que você fosse uma filha de Afrodite, assim como eu, e a pequena ali da porta, ah, a propósito o nome dela é Nanda. - Ela me abraçou e parou um tempo para buscar ar. - Mas você vai continuar sendo a minha amiga não é? Bom, porque sei-lá, as vezes acham que eu sou irritante e que eu falo demais quando me empolgo, mas é que...

–Não, Ashley, fica tranquila, eu vou continuar sendo sua amiga - interrompi-a e a abracei de novo, mais forte.

Então mais gente começou a chegar na porta, de forma que todos se espremiam tentando me enxergar, inclusive o garoto, Nico. Ele se espremeu no meio de todos, para ficar bem na porta do chalé, então todos os meus irmãos, também filhos de Atena gritaram em comemoração:

–Atena! - Todos me acolheram com "uhuls" e "Aê!" e naquele momento senti uma lágrima escorrer por meu rosto, porque eu podia nunca ter falado com aqueles caras, mas todos eram tão hospitaleiros e gentis que eu sabia que eu havia encontrado o meu lugar. E eu ainda não sabia qual era, mas aquilo tinha um propósito. Ashley deu um espaço para meus irmãos entrarem no chalé e então todos me deram um abraço coletivo, o garoto de óculos me puxou fora do abraço coletivo por minha cintura, então, ele ergueu uma de suas mãos e gritou:

–Deem as boas vindas a mais nova filha de Atena. - nossos olhares se encontraram e então nós rimos

–Melanie Horan! - gritei de volta, me enturmando

E todos gritaram uhuls, vi os que Ashley disse que eram filhos de Dionísio gritarem, tomando frente a nossa pequena festa e de verdade me senti feliz naquele momento, como se pudesse abraçar todos e sentir o calor do corpo de cada um, então eu chamei todos para me abracarem novamente, dessa vez, Ashley veio junto, porque quando olhei novamente em seus olhos azuis embaçados pelas lágrimas, a chamei junto, sabendo que aquele era o incio de uma grande amizade