Quíron me mostrou todo o acampamento, vi os maravilhosos campos com morangos e observei algumas crianças treinarem, Jimmy realmente estava certo, esse lugar era maravilhoso e inexplicavelmente interessante, eu me senti em casa, eu me senti bem, e a maioria das preocupações foram embora.

O centauro me fez vários tipos de perguntas, perguntou de onde eu era, quem era meu pai e como eu havia encontrado Jimmy - Ou Jimmy me encontrado - eu respondi tudo pacientemente, era legal conversar com Quíron, apesar de ele não falar muito, ele apenas ouvia as coisas atentamente e coçava sua barba as vezes pensando no assunto

–Eu tenho 16 anos - murmurei quando ele perguntou minha idade. Isso o surpreendeu. Eu não entendi bem o porque, mas depois Quíron me explicou que os deuses deveriam reconhecer os seus filhos até eles completarem 13 anos, ou seja, a três eu anos atrás eu já deveria saber que era uma semideusa. Ele achou o caso interessante, e tenho que admitir que eu fiquei pensando no porquê também, então quando menos esperávamos, o meu tour pelo acampamento já tinha acabado. Ele já ia embora quando perguntei:

–Quíron? - Chamei, ele virou-se e eu abaixei a cabeça, não tendo certeza do que perguntar.

–Sim?

–Quem é... minha mãe? - sussurrei. Quíron coçou a barba novamente e disse cuidadosamente:

–Eu não sei,Melanie - admitiu. - Veremos hoje a noite na fogueira, provavelmente sua mãe irá lhe reconhecer.

Assenti e observei ele indo embora, trotando. Fiquei parada ali por um instante, um vento leve soprava no acampamento e já devia ser meio-dia, as crianças iam para o refeitório, e Ashley me apartou, segurando meu braço

–Oi - ela sorriu. - Acho que você deve estar com fome.

Meu estômago roncou em resposta e ela deu uma risadinha.

–Venha. - ela me puxou. - Provavelmente você irá ter que ficar na mesa com o chalé de Hermes enquanto ainda não sabemos quem é sua mãe - Ela mordeu os lábios - Eu até queria que você ficasse comigo mas Chloe não iria...

–Ah, não tudo bem. - interrompi num sussurro e fui na direção que Ashley apontou.

Cheguei tímida e uma porção de garotos panacas sorriram pra mim, eu fingi não notar e sentei-me o mais isolada possível.

–Oi - um garoto veio ao meu lado.

–Oi - sussurrei

–Então você é a caloura ? - ele riu.

Não respondi.

A hora do almoço passou rápido, mas foram momentos torturantes e desagradáveis na mesa de Hermes, a maioria dos garotos tentava me cutucar e tentar puxar assunto comigo, mantive a mão na mochila o tempo todo. Hermes é o deus dos ladrões, certo? Então seria obvio que seus filhos teriam essas características também. O garoto que sentou ao meu lado não parava de fazer perguntas, ele me perguntou como andavam as coisas lá fora, em Nova Iorque, porque fazia muito tempo que ele não ia para lá:

–Chatas - respondi num murmuro. Ele perguntou meu nome umas cinco vezes e eu respondi pacientemente. Quando me levantei para ir de encontro a Ashley ele segurou meu pulso e pediu se não queria que ele me mostrasse o acampamento e os chalés, mas eu respondi que não, pois Quíron já havia feito isso, e a imagem do chalé de Atena veio a minha mente, ele era tão... magnífico!

Quando sai de minha mesa, Ashley acenou para mim me aproximar da mesa de Afrodite, onde as garotas bebericavam delicadamente os copos de Diet Coke e tinham mais saladas do que proteína nos pratos. Até mesmo os garotos pareciam manter cuidado com alimentação, todos exceto Ashley. Ela tinha um pedaço gorduroso e suculento de carne no prato, cenoura picada e babata, além do copo de Coca que tomava faminta.

–E aí? - ela respondeu dando um longo gole na coca. Chloe franziu o nariz perfeitinho com isso. Eu sorri em resposta e tamborilei os dedos na mesa, até algumas garotas me lançarem olhares de que isso as estava incomodando, então eu parei. Ashley se levantou rápido da mesa e Chloe resmungou que algumas gotas de coca haviam caído em sua mão - Problema seu. - respondeu Ashley então ela pegou o meu braço e me puxou, não ligando os olhares de nojo que os irmãos lançaram

–O que foi aquilo no refeitório? - perguntei.

– O que? Meus irmãos? - ela deu de ombros - babacas nojentos.

Eu ri

–Não acredito que você seja uma filha de Afrodite.

Ela arqueou as sobrancelhas e indicou com um dedo perfeito o lugar onde iríamos, alegando que queria me mostrar alguma coisa.

–Quer dizer, você é bonita e tal, mas você não é nojenta e exibida que nem as outras garotas do chalé de Afrodite

–Ah, eu posso ser insuportável de exibida - ela garantiu - mas eu não gosto disso, sinceramente? Eu me sinto mal, é meio estranho e...

–Eu sei como se sente - sussurrei.

–Sabe?

–Uma aberração, não é?

–Uma aberração - concordou num suspiro. - Olhe! - ela exclamou e apontou para o celeiro onde vários pégasos estavam, inicialmente eu não acreditei, esfreguei meus olhos para ter certeza, mas eu estava num acampamento, em que todos alegavam serem filhos de deuses, inclusive eu, um acampamento onde almocei com filhos-babacas-exibidos-ladrões de Hermes. Então eu sufoquei

–Perfeitos!

–Divinos! - corrigiu Ashley correndo para um lindo pégaso branco - Eu o considero meu - ela sorriu acariciando ele. - Ele é novo e não tem um nome específico mas eu o chamo de Jack

–Jack?

Ela corou e escondeu o rosto por trás dos cabelos loiros, eu fingi não perceber acariciando um dos pégasos.

–Nunca imaginei que isso tudo fosse verdade - suspirei - Deuses, Pégasos, Centauros...

–Deuses - Ashley grunhiu. - Espere só conhecer o sr. D. Acho que ele não gosta de mim

–Não gosta de você - arquei as sobrancelhas - Quem não gosta de você? Olhe você é uma garota legal, de verdade

–Obrigada - ela sorriu - Acho que o sr. D não gosta de ninguém, aquele gordo rabugento que só pensa na sua bebida.

–sr D. ? - perguntei - Isso quer dizer... Dionísio, o deus do vinho?

–É, parabéns, você pegou rápido, demorei uma semana para descobrir que ele era o deus do vinho.

Eu ri, e ela me acompanhou, era legal conversar com Ashley. Ficamos novamente em silêncio, ela acariciava Jack com os dedos delicados e eu fazia o mesmo com o outro pégaso.

–Quem você acha que é minha mãe? - a pergunta escapou por meus lábios, como um pensamento alto, pensei que de início Ashley não havia escutado, mas depois ela suspirou, pensativa e respondeu:

–Eu espero ansiosamente que sua mãe seja Afrodite - admitiu. - Você é bonita, muito bonita, mas também é muito inteligente para ser uma de nós - ela riu da piada particular - E por outro lado espero que não seja Afrodite pelo fato de não precisar suportar Chloe.

Concordei mentalmente com a resposta de Ashley, e depois ri sozinha, Ashley olhou para mim, como se eu fosse uma doida, então nós ouvimos os gritos:

–Jackson? Ei, idiota! Apareça!

E não sei porque, meu coração martelou forte demais ao ouvir essa voz, como se a conhecesse muito bem, mas ela mal me era familiar. Respirei fundo e olhei a pessoa que estava vindo por entre as mechas do meu cabelo