A Filha Da Capital escrita por Sekhmetpaws


Capítulo 37
Don't Stop The Revolution


Notas iniciais do capítulo

(imagine um comentario legal aqui)



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Dália avançou vacilante pelo corredor escuro ladeada por dois “pacificadares”.O burburinho da multidão ecoava através das paredes.Haviam-na vestido com um vestido simples (pelo menos para os padrões da capital) preto.O busto era decorado com Ônix e minúsculos diamantes negros {n/a: a pedra,não o chocolate}. Nos pés, calçava nada mais nada menos do que um par de ametistas esculpidas em forma de scarpins (pelo menos eu acho que é esse o nome, não entendo muito sobre sapatos).

O corredor terminou em uma grande porta.

–Tenha cuidado!- disse o pacificador mais alto (que nós sabemos muito bem de quem se tratava).- E não faça nenhuma loucura. -continuou.

Ela sorriu e abraçou ambos os amigos. Em seguida avançou a mão para a maçaneta da porta e girou-a. Seria uma longa noite.

Assim que avançou o portal sentiu milhares de olhos e câmeras se voltando em sua direção. Por alguns segundos foi totalmente cegada pela luz dos potentes holofotes. Milhares de pessoas assobiaram e gritou, o dobro aplaudiu vigorosamente.

–Aí esta ela pessoal! A garota de quem todo mundo está falando!-disse Bear Blue, o apresentador enquanto suas costumeiras galochas de patinho faziam um barulhinho irritante provocado com o atrito com o chão conforme ele caminhava.

Vestia-se da forma extravagante normal. Dessa vez seus olhos estavam delineados de rosa choque. Vestia um terno azul-escuro com enchimentos nos ombros, uma meia de cada cor (não pergunte como eu sei sobre isso) e um anel em cada dedo. Na cabeça havia algo como uma cartola que apitava e piscava, com o topo adornado por um imponente patinho de borracha amarelo.

Ele fez algumas perguntas, que a garota respondeu de forma seca e objetiva. Por fim sentou-se num pequeno sofá ornamentado (decorado demais para ser considerado uma poltrona, simples demais para ser um trono) com pedras preciosas. Afundou no acento de veludo vermelho. O sofá parecia grande demais. Na verdade o lugar inteiro parecia ter crescido. Dália não passava de um pontinho insignificante naquele lugar imenso. O idealizador gordo dos jogos e sua assistente ruiva, sentados na primeira fileira da platéia, olhavam-na com maldade.

A insígnia da capital apareceu no centro da tela e o hino começou a tocar alto.

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O presidente avançou pelo corredor. Parou junto á porta e lá permaneceu. Vigiando pacientemente. Como uma cobra prestes dar o bote calcula seus movimentos.

–Se alguma coisa der errado... Qualquer coisa! Não hesitem em atirar. –disse o homem de modo frio. Entendido?

Ambos bateram continência.

–Sim senhor, presidente. Senhor!-disse um deles entusiasmado.

O homem se voltou para trás.

–Tem algo diferente na sua voz Willdrow... -disse o presidente desconfiado ao pacificador mais alto.

–É apenas um resfriado senhor. Por acaso perdeu peso senhor presidente, senhor? –disse o pacificador. Em seguida um ataque de tosse atingiu-o.

O homem de cabelos artificialmente cacheados revirou os olhos (embora tivesse sorrido internamente). Não havia nada de errado afinal. Apenas os bajuladores de costumes.

O único problema que poderia acontecer era sua “filha adorável” estragar tudo. Mas, nada poderia dar errado. Ambos os pacificadores estavam preparados. E caso um erro ocorresse, mesmo que os idealizadores estivessem com suas bundas gordas sentadas nas poltronas da platéia. Havia um deles na sala dos controles para cortar a transmissão caso fosse necessário.

Nada poderia dar errado certo? A capital estaria segura. Assim, pensava o homem enquanto as últimas notas do hino eram tocadas.

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As primeiras imagens surgiram na grande tela. Algumas pessoas na platéia assobiavam ou davam gritinhos agudos de excitação. Primeiro foram mostradas cenas da colheita, seguidas por imagens do treinamento. As três horas que se seguiram foram o resumo daquela patética tentativa de revolução.

Seja lá quem tenha sido o responsável pela confecção daquela reprise estava de parabéns, caso a intenção do mesmo fosse de mostrar os tributos como adolescentes desequilibrados (talvez loucos, quem sabe) cuja vontade era destruir a utópica nação de panem. De qualquer forma essa foi a imagem passada, excluindo qualquer ponto positivo.

A cada morte o publico vibrava com gritos e socos no ar. Já não eram mais vidas sendo tiradas, eram a prova viva (ou morta, sei lá) do imenso poder do governo.

Mas, por outro lado, este poder aparente era (e continua sendo) apenas superficial. A capital com toda sua imponência e força sempre foi tão frágil como um castelo de vidro quebradiço como logo veremos.

Por ultimo (mas não por menor importância) foram mostrados cortes de cenas das entrevistas que ocorreram durante a exibição dos jogos. Dezenas de pessoas, ou pelo menos todos que fossem “alguém na capital davam seus depoimentos, em geral negativos (na verdade, pelo que me lembro nenhum deles foi positivo).

Até que por fim a entrevista de um único homem chamou a atenção. Uma das quais (em minha sincera opinião) não deveria ter sido reproduzida. Talvez você ainda se lembre.

–E como o senhor se sente sabendo que foi a sua filha que está causando tudo isso? - perguntou um senhor baixinho de queixo duplo e um monte de colares.

O sorriso de Snow congelou e seu rosto se tornou nublado.

–Eu não tenho filha. ”

Todos os rostos se voltaram para o canto inferior esquerdo da tela, onde uma pequena janela mostrava a reação da única vencedora (ou seria sobrevivente?) daquela edição. Todos os mesmos rostos se surpreenderam ao perceber que a garota não esboçava nenhuma emoção.

Nem tristeza. Nem remorso ou qualquer tipo de magoa. Nem mesmo raiva. A menina se manteve impassível.

Talvez estivesse triste, talvez não. Talvez estivesse magoada, talvez não. Talvez esse tenha sido o motivo para ter feito o que fez (mantenha calma, logo abordaremos esse ponto).

Talvez realmente não sentisse nada. De qualquer forma não demonstrou, manteve-se fria, fria como o coração do pai (se é que ainda podia chamá-lo de pai).

A reprise acabou e a transmissão foi cortada. O hino tocou mais uma vez enquanto a platéia aplaudia vigorosamente.

–Uma edição simplesmente emocionante, não é mesmo Willbur?- disse Bear Blue passando a mão pelos longos cabelos verdes.

Aparentemente Willbur concordava, pois em seguida mugiu em aprovação (eu acho). Á propósito, acho que não havia comentado antes não é mesmo? Bear possuía um bisão albino cor-de-cereja (o motivo de ele ser cor-de-cereja não tem nenhuma relação com o fato de ser albino, seu pelo era apenas tingido) que geralmente levava aos programas que apresentava.

–Discurso! Discurso! –gritava um cara na platéia com um grande chapéu que mais parecia um abajur.

Ao redor muitos concordaram, um por um. Até que toda a arquibancada estivesse,pedindo,implorando, pelas palavras da vencedora dos jogos.

O apresentador virou se para trás e fez uma pergunta silenciosa a um cameraman, o qual fez um sinal positivo com o polegar. Aparentemente ainda havia tempo. O homem sorriu e virou-se novamente para o publico.

–Dália... -disse finalmente depois de uma pausa dramática de uns cinco segundos- Como você se sente sendo o primeiro tributo do seu distrito a vencer os jogos?

–Sabe Bear? Acho que teria sido muito mais fácil e com certeza menos doloroso para todos, se eu tivesse simplesmente morrido no banho de sangue como todos esperavam que eu fizesse... -começou ela.

O entrevistador tentou dizer alguma coisa, mas, a garota o cortou.

–Mas, eu não seria tão egoísta. -concluiu o pensamento, mas, logo continuou.

“Se eu estivesse morta, não teria feito diferença nenhuma. Pessoas continuariam morrendo nos distritos todos os dias. Todos continuariam trabalhando exaustivamente só para por comida na mesa e mesmo assim milhares de famílias passariam fome. E para que? Mandar seus filhos para uma arena lutar uns contra os outros até a morte, como animais? Pois os jogos continuariam. Ano após ano. Por quanto tempo?

Por quanto tempo deixaremos que a capital nos oprima? Vocês não vêem? Não compreendem? Eles não são nada sem nós!”

Nesse momento ela arrancou o microfone incrustado de jóias da mão de Bear Blue e avançou alguns passos para frente, abandonando a atenção da platéia e dirigindo-se exclusivamente ás câmeras.

– Se nos recusássemos a trabalhar eles nem ao menos conseguiriam arranjar comida sozinhos!- Dália estava praticamente gritando com a camera.- Vocês não sabem o poder que tem.

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–Cortar transmissão!- disse o presidente pressionando um grampo eletrônico em seu ouvido esquerdo.

Não ouve resposta. Algo consistente gotejava perto do microfone.

– Responda!-gritou Snow.

–Incompetentes... -murmurou o pacificador mais alto.

–Cale-se! – ordenou Snow pressionando o grampo com mais força, na tentativa de ouvir algo. E com certeza ouviu.

Uma porta foi aberta violentamente.

–O que está acontecendo aqui? Quem são vocês? –ecoou uma voz no fundo.

Dois disparos foram efetuados. O som abafado e ao mesmo tempo molhado de algum tipo de corpo (ou melhor, dois) se chocando contra o piso se propagou através do aparelho.

O dispositivo ficou mudo.

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Bear Blue começou a se desesperar, trocando o peso de um pé par outro a todo o momento, imaginando os sérios problemas que teria quando ela terminasse de falar.

–Desde o começo eu sempre soube onde estava me metendo. Todos os tributos sabiam, sabíamos que estávamos mortos desde que nossos nomes foram sorteados na colheita. Portando não vou ficar aqui por muito tempo para lhes dar ao luxo de me matarem pelas próprias mãos.

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–Façam algo!-gritou o presidente começando a arrancar os cabelos, nervoso. Seu rosto suava.

Mas, ambos os pacificadores nãos e mexeram. Na verdade acho que não temos mais motivos para chamá-los assim. O homem levou o dedo ao dispositivo eletrônico novamente, para chamar reforços suponho. Mas, foi atingido por um pesado cassetete na lateral da cabeça e perdeu a consciência.

O garoto viu algum tipo de brilho prateado desaparecer por debaixo da saia da garota que terminava seu discurso. Naquele momento algo dentro dele se quebrou. Dave soube que estava na hora.

Levou três dedos aos lábios e em seguida colocou-os para cima em sinal de saudação. Virou-se e correu o mais rápido que suas pernas alcançavam.

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Dália levantou um pouco a saia, deixando a mostra uma liga de renda preta, de onde tirou algo que as câmeras não puderam captar.

“Lembrem-se quem é o verdadeiro inimigo...

...não parem a revolução”

Dizendo isso rasgou o peito a punhal.


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Notas finais do capítulo

me perdoem pela demora :( .acho que o cap ficou bom sla.



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