Laís Lilás escrita por lares humbert


Capítulo 5
A esperança tem que morrer depois de mim.


Notas iniciais do capítulo

Esse é pra amanda.
Porque ela é dramática como eu.



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Já era Abril. Laís podia ter ido à faculdade, mas pra quê? Ela gostava de estudar e de ter aulas. Mas nem sequer conseguiria se concentrar. Até a mãe, que normalmente seria a primeira a fazer questão de que ela fosse, disse-lhe pra ficar em casa.

Bárbara e Laís pegaram a biópsia - sem Bruno, que foi obrigado pela irmã a ir à aula - e levaram ao Dr Ângelo.

– Mãe, você fica do lado de fora. Quero conversar só com o médico.

– NÃO mesmo.

– Mãe, por favor.

– Não.

– É da minha vida que estamos falando.

– Exatamente por isso. Anda.

Laís bufou. Não queria mais ver a cara de infelicidade que antes vira no rosto da mãe. Ora, havia esperança.

Não havia?

Laís cobria a região abdominal com um braço e estava meio curvada quando entrou na sala e recebeu os habituais cumprimentos do médico, que não tinha e jamais teria como "afofar o terreno" pra amenizar o peso do fardo que deveria jogar.

Mais uma vez, a notícia era pesada.

– Eu fico realmente muito triste de ter que dizer isso, mas é o que tem que ser dito. Não sei se você já pesquisou sobre, Laís, mas você tem um tempo de vida estimado de 4 meses, o que pode variar em relação ao tratamento, que deverá diminuir as dores e evitar que o tumor cresça.

Não.

Laís não podia acreditar... A dor quase esmagava seu corpo.

A dor quase esmagava seus pensamentos, seu coração, sua alma.

As lágrimas escorreram docemente quando viu o rosto da mãe, que se contorcia numa força quase sobrehumana pra não se entregar ao choro. Escorreram, uma carícia seu rosto magro, quando pensou nos sentimentos de seu irmão. Nos da irmã. Nos dos amigos. E até nos de Micael e Júlio.

Júlio... Caso ele não tivesse contado à esposa, ninguém estaria passando por esse sofrimento, pensou, com raiva. Mas sua consciência estapeou-lhe com a realidade: caso já não soubesse disso, talvez tivesse perdido ainda mais tempo. Não adiantava culpar Júlio ou quem quer que fosse.

Laís não conversava muito com seu pai biológico. Saía com ele às vezes, quando era mais nova, mas agora raramente se viam porque ele morava no sul. Nas poucas vezes em que eles se falavam, o maior conselho que ele dava a ela era nunca deixar que os outros fizessem as escolhas de sua vida em seu lugar, porque via que a mãe, já com sua história resolvida, tinha a mania de jogar os filhos pro que achava certo e querer resolver a deles.

Claro que ela tinha que interferir. Mas o futuro é consequencias de nossas escolhas. Se vamos pagar o preço, ninguém melhor que a gente pra decidir o que é melhor pra nós, dizia.

Laís pensou nisso e o choro cessou.

Pelo menos por enquanto, tentou parar. Pensar. O que deveria ser feito, então? Ela via as coisas ao seu redor, mas estava cega, mergulhada na própria mente.

Ultimamente, as lágrimas eram o que vinha acompanhando seus dias. Não era isso que queria pra sua vida era?

Nem pra uma vida de 60 ou 70, nem pra uma vida de 17 anos.

Então Laís chegou a uma conclusão, e, saindo do consultório, fez questão de deixar claro pra mãe que não queria que alguém soubesse. Seus amigos estavam lá pra ela sempre, não precisavam de tristeza pra matar a alegria que a amizade proporcionava. E Micael? Micael estava muito bem, obrigada, também não precisava de um a notícia ruim como essa pra se sentir mal, pensou ela, sem qualquer tipo de rancor. Só não queria atrapalhar os outros nesse ponto. Ela precisava ser feliz, não prendê-los ao seu infortúnio. Também pediu pra não falar isso diretamente a Bruno - que, de certa forma, já sabia, mas era melhor evitar maior dor - e a Alice, que era muito jovem pra ser contagiada com isso tudo. Era melhor esperar o desenrolar das coisas, pensou. Talvez houvesse algum jeito...

"A esperança tem que morrer depois de mim."


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